Acabaram as eleições. Quase sete anos depois da primeira grande oposição ao projecto Roquete - através da candidatura de Sérgio Abrantes Mendes - um novo paradigma instalou-se no Sporting. Roquete prometeu modernizar o Sporting, tornando-o num clube ganhador e independente das bolas na trave. Infelizmente, a realidade foi outra: durante quase vinte anos assistimos a uma completa alienação de património, ao afastamento dos sócios através da criação de um clube/empresa, ao aumento exponencial do passivo e ao definhamento das modalidades. Ou seja, o projecto falhou. Mas o mais grave não foi ter falhado - há projectos bem pensados que não resultam, faz parte da vida de qualquer instituição - mas antes o lento prolongar desse mesmo erro através de constantes jogadas para perpetuar uma visão que ia destruindo o clube.
Surgiram então várias tentativas para eleger democraticamente pessoas com um novo rumo. A primeira, como já referi, foi a de Abrantes Mendes. Seguiu-se o projecto Ser Sporting e a primeira candidatura de Bruno de Carvalho. As batalhas foram sendo perdidas mas, lentamente, era possível perceber que no seio dos sportinguistas se ia instalando um sentimento de incómodo relativamente aos principais actores do elenco “roquetista”. O vernáculo terrorista começou a ser usado amiúde: corja, continuidade, croquetes, roquetismo, entre outros. O projecto Roquete começou a ser encarado como o verdadeiro responsável pelo estado actual do Sporting e todos os que tinham participado na sua composição tinham que sair do clube para existir uma verdadeira ruptura, capaz de colocar o Sporting na rota dos seus fundadores.
A comunicação social, avessa a ideias que representam uma injecção menor de capital, ia também contribuindo para a desgraça do Sporting. Os velhos tubarões, solidários com as anteriores direcções, foram sempre tendo mais tempo de antena que os jovens com novas ideias. Os notáveis - que na sua maioria de notável só têm a acefalia - apareciam constantemente metamorfoseando a opinião popular e moldando-a na direcção do poder vigente. Era praticamente impossível discutir com objectividade ideias novas ou encontrar um espaço verdadeiramente independente onde existissem pessoas com diferentes visões que pudessem falar entre si.
Foi neste contexto que o FórumSCP começou a assumir uma importância extrema. Não sendo um histórico do Fórum, nem tão pouco um profundo conhecedor da sua génese, penso que posso afirmar - ainda que seja polémico - que o Bruno de Carvalho e a Lista Independente não teriam obtidos os resultados que tiveram se não existisse este espaço. Vários membros da Lista Independente emanam do movimento Ser Sporting que, por sua vez, tem como origem o movimento Leão de Verdade. É sabido que o Fórum funcionou como plataforma agregadora para este movimento, ou seja, sem se posicionar relativamente aos conteúdos permitiu que pessoas com opiniões similares se juntassem. Por outro lado, também foi aqui que se começou a propagar a informação de diferentes listas sem qualquer tipo de limitações como ia acontecendo na imprensa. O próprio jargão contra o projecto Roquete, que depois se tornou viral pela Internet e começou a influenciar os sportinguistas, começou aqui. E mesmo o movimento Dar Rumo ao Sporting, o principal responsável por se dar voz aos sócios neste momento conturbado, também usou os recursos do fórum para angariar colaboradores que acabaram por prestar um auxílio vital na angariação de assinaturas.
E é natural esta sequência de fenómenos. Esta comunidade nunca se deixou influenciar, em termos administrativos, por qualquer tipo de pressões oriundas de facções. A continuidade e a linha de ruptura sabia - ou percebeu, com o decorrer do tempo - que a liberdade de opinião e a independência eram os nossos maiores estandartes. E nunca nos demovemos desse rumo, nem por um milímetro mesmo debaixo de pressão. Desde que respeitadas as mínimas regras de cortesia e educação, todas as pessoas sempre tiveram espaço para falar, para expor as suas ideias e até para apresentar os objectivos das suas listas no caso de haver eleições. Sempre se respirou por aqui uma liberdade e independência não encontradas noutros espaços, que levaram as pessoas a seguir-nos atentamente mesmo sem participar, na procura de novidades ou de informação não condicionada pela comunicação social. E, na última noite de eleições, conseguimos ter 1600 utilizadores de uma só vez. Uma prova da nossa importância no mundo leonino.
Por isso, considero que existiram três grandes intervenientes no resultado das últimas eleições e neste novo respeito pela vontade associativa: Bruno de Carvalho, o Movimento dar Rumo ao Sporting e o FórumSCP. O novo presidente conseguiu, através de uma estratégia inteligente, criar uma grande expectativa à volta da sua candidatura e das suas ideias. Não sei se irá cumprir tudo o que prometeu e isso apenas o futuro poderá dizer (mas acredito que haverá alguma desilusão, o que é natural dado não ser um Messias), no entanto foi a primeira figura da oposição que os sportinguistas sentiram que poderia ganhar uma guerra que já se prolongava há alguns anos. O Movimento dar Rumo ao Sporting, por outro lado, marcou mesmo um novo rumo: a fuga do modelo clube/empresa para a génese do Sporting que consiste no associativismo. Em vez de se manifestarem, de escreverem palavras de violência contra o presidente ou outro tipo de medidas sem qualquer tipo de resultado prático, usaram a cabeça. Leram os estatutos. E perceberam que há regras que nem os grandes tubarões podem fugir. Com isto, deram a voz aos sócios e conseguiram parar a pior direcção de sempre do Sporting Clube de Portugal. Por fim, o FórumSCP não pode fugir da sua importância. Não por estar associado a alguma candidatura (nunca esteve) mas por ser um espaço de referência e liberdade. Um espaço onde a opinião de um simples sportinguista consegue ser lida por milhares de outros sportinguistas.
O FórumSCP é, por isso e na sua essência, uma espécie de núcleo virtual independente onde todos se podem fazer ouvir. E a sua unidade mais importante é o forista: quer seja de ruptura, moderado ou apoiante da continuidade, quer seja homem ou mulher, quer seja velho ou novo, quer seja notável ou desconhecido, quer tenha mil mensagens ou uma ou quer seja parte integrante do staff ou não. Aqui, a opinião de cada um vale o mesmo. Não há notáveis. Somos todos iguais. E é, por isso, que me orgulho cada vez mais de pertencer a esta comunidade. É por isso que foristas como o Paracelsus, o Rui Sampaio, o Angel Lion, o skygod e o SCP Fan (desculpem todos os outros) já perderam meses de vida a manter esta comunidade viva e ordeira. É por isso que, para muitos, mais do que qualquer jornal desportivo, o fórum é o espaço preferido para saber novidades sobre o clube.
É por isso que somos todos o FórumSCP. Todos, sem excepção, ajudámos a que este espaço se tornasse a referência que hoje é. E não há vergonha em sentir orgulho. Porque, neste momento, é a coisa mais honesta que podemos sentir.