Todos os anos surgem estudos que se contradizem. Todos os anos. Por acaso, vocês conhecem pessoas “ricas”? Convivem diariamente com pessoas de elevado rendimento? Eu convivo diariamente com todo o tipo de pessoas, na óptica do rendimento, o caso deste tópico. Ambos os lados possuem os seus podres. No que diz respeito a inveja, sinto-a todos os dias, quando ando no meu carro, um Mercedes-Benz. As pessoas acham estranho, certamente tratam de produzir “estudos individuais” sobre a razão que leva um jovem a poder ter um carro bom. Por outro lado, digo eu, não sabem - nem devotam 2 míseros segundos - que este jovem que anda de Mercedes é licenciado numa boa universidade, a melhor de Portugal no curso em questão, e também aluno de uma das melhores universidades do Mundo. Sem cunhas, o mais importante.
O problema é mesmo esse, no fundo, é o rápido julgamento sem ter provas ou conhecimento empírico.
E sobre a relação entre pessoas de classe social diferente, também eu sou um bom exemplo desse aspecto. Tendo sido expulso de dois colégios privados, tornei-me aluno do ensino público. De forma a poder andar com os meus colegas da dita escola, comprei o meu passe. Andava de autocarro. Não me custava nada. Não, até me custava, porque prefiro o conforto de uns bons estofos de pele e de um carro que vai dos 0 aos 100 em cerca de 4 segundos. Mas apreciei a experiência, não tenham dúvidas, tal como apreciei a experiência de andar de metro durante 1 ano inteiro. Não que tal seja um fenómeno ou um sacrifício da minha parte, mas trata-se de vos dar um exemplo de um “rico” - quero acreditar que também do ponto de vista social e humano - que se relaciona com todas as pessoas, de todas as cores, de todos os partidos, de todas as crenças. E não é uma obrigação, um sacrilégio, mas um dever meu enquanto cidadão, enquanto elemento de uma sociedade toda ela composta por pessoas diferentes. E penso que conseguiria escrever um livro sobre as detalhadas impressões das várias pessoas que frequentavam o comboio que funciona na Linha de Sintra. Conversas muito profundas e importantes, como as obras que a vizinha faz no prédio, as visitas que tem, entre outros detalhes muito importantes da vida de terceiros. Frases pré-concebidas tais como, e tal fez-se ouvir várias vezes nos últimos dias, “ainda dizem que não há dinheiro”, entre outras de similar intenção, são generalizações e apreciações de gente sem valor intelectual. Detesto esse tipo de merdas, a sério.
Vivemos num planeta com 6 mil milhões de pessoas, e certamente não será um estudo que me dirá como são os ricos ou os pobres. Poderá, é certo, dar-me uma ideia geral, mas só isso. E como sei aquilo que tenho, e como me comporto na sociedade, não admito que venham aqui colocar rótulos seja a quem for, seja rico, seja pobre, seja branco, seja preto, seja católico, seja comunista, seja o que for. Penso que sabem que não tenho sentimentos muito agradáveis por comunistas ou pelo sistema comunista, mas não afirmo que todos os comunistas querem gulags, que todos os comunistas querem roubar quem mais tem. É esse tipo de generalizações que fomenta ódios, por exemplo contra quem não é natural de um país. As queixas registadas no SOS Racismo informar-nos-ão que todos os brancos são racistas, que todos os africanos são vítimas? A conclusão de um estudo efectuado aos relatórios da associação revelarão essa conclusão, parece-me. Gostaria até de saber se a associação estaria disposta a aceitar uma queixa de um caucasiano. Não sei, admito.
Curiosamente, no outro dia li um estudo sobre aquele que é o maior custo das pequenas e médias empresas norte-americanas - custos que não decorrem da actividade da empresa. Não me alongando sobre a sua conclusão, certamente não virei aqui afirmar que todos os funcionários são ladrões, ou que a maioria o é ou pretende sê-lo.
Já agora, qual é o valor desse estudo? Utilizarão o dito para vos guiar na sociedade? O vosso comportamento será diferente porque o estudo defende que os ricos são isto, são aquilo, ou irão moldar o vosso comportamento à pessoa em questão? A última opção é a mais sensata. Digo eu.
Existem ricos que são uns merdas da pior espécie? Sim, certamente. Existem ricos humildes? Sim, certamente. Quem me dera que parte maioritária da população portuguesa pagasse 46,5% de IRS. Ou, como eu defendo em tempos de crise, 60%. Mas isso sou eu, um “rico” de um outro planeta, de uma estirpe minoritária. Comparativamente aos verdadeiramente ricos, como o Amorim, eu sou um mendigo. Toda a minha família o é, já agora. Orgulhoso me sinto em saber que toda a riqueza dos meus familiares adveio do trabalho árduo, do esforço, da vontade de ter um pouco mais. Muito orgulhoso! É um elã familiar de valor inestimável. A minha riqueza não é imaterial, não depende da flutuação da bolsa de valores, é uma riqueza que advém do trabalho regular, do dia-a-dia.
Alguém daqui que não queira ser rico? Sim, com certeza aparecerão muitas Madré Teresas Calcutá. “Não quero ter muito, quero ter o suficiente”. Está bem. Não fosse o Euromilhões tão conhecido e participado…
O problema não é o dinheiro, é aquilo que se faz, ou não, com ele.
O meu avô português dizia-me, quando eu era pequeno, que em Portugal não se pode levar anéis nem carros bons quando se planeia comprar algo cujo preço é negociável. Sapiência de um velhote que não acabou a 4ª classe.
Ou, para quem prefere analisar a questão através de um aspecto mais técnico, é unicamente o balanço entre a procura e a oferta.
Poderei estar a cometer um erro grotesco, uma generalização demasiado insipiente, mas não é este o país do facilitismo e da cunha?
Alguém daqui viu o documentário da RTP sobre a economia portuguesa? O facilitismo transbordava em todas as imagens, em todas as palavras, em todos actos. A cultura da cunha é transversal a toda a sociedade, do funcionário de limpeza ao presidente. Daí que Portugal se vagueie por esse mundo armado em pedinte.
Ah, felicidade e riqueza pessoal e financeira para todos vós!
(não é cerveja, é Compal Pêssego).
Divaguei um bocadito, mas não faz mal.