Sim, poderias. Não me peças detalhes, mas poderias. A entrevista e as médias são os principais critérios na admissão. Não terias que recorrer a subornos nominais ou através de outros meios, não te preocupes. As contas da LSE são públicas. Não sei estão no site da universidade, mas todos os alunos recebem um panfleto onde as mesmas são detalhadamente explicadas.
Sobre a questão da educação, a mesma é essencial. O Estado deve garantir o mérito nas suas universidades. A Nova, o ISEG, o ISCTE, são exemplos onde qualquer um pode entrar se o merecer. E parece-me que o mesmo terá boas possibilidades de garantir um bom emprego.
O mérito é uma certeza nas universidades públicas, ao contrário da universidade privada, onde qualquer um pode entrar. O interessante é ver o que se faz depois de lá chegar.
Estás a pessoalizar a questão. Em primeiro lugar, ninguém te está a acusar de seres pouco empático nem a dizer que TODOS os ricos são menos empáticos que os pobres. O que os dados empíricos (sim, a ciência trabalha com dados empíricos) nos dizem é que, em termos percentuais, as pessoas de classes superiores são menos empáticas que as de classes inferiores. Isto é um facto. Os resultados desta e de outras experiências demonstram-no inequivocamente - neste campo, podes ter a certeza que não vais encontrar grandes contradições.
Depois, como o Majestade disse e bem, quem tem dinheiro permanece na classe social respectiva, tal como quem não tem. A ideia do mérito é uma falácia, especialmente em Portugal que é um país onde não existe praticamente mobilidade social nenhuma. Quem é pobre permanece pobre e quem é rico permanece rico. Se tivesses nascido na Cova da Moura, decerto que não estarias a frequentar a Universidade que referes.
Aliás, vou mais longe: a pobreza deixa marcas ao nível neurológico, o que vai impossibilitar a pessoa de atingir o mesmo patamar de alguém que nasce numa família com dinheiro. Vais-me dizer que aqui também existe mérito? O mérito, como já disse, é uma quimera.
Deixo também mais um artigo, sobre as repercussões a nível neurológico da pobreza. Peço desculpa por não ter link, mas fiz copy-paste de um jornal online e guardei-o no meu computador. Aqui vai:
Primeiros cinco anos de vida são decisivos para o desenvolvimento cerebral e a carência extrema produz sequelas irreversíveis
A teoria política já o disse e a psicologia mostrou-o: a pobreza que afecta as crianças tem efeitos negativos e duradouros no seu de-senvolvimento. Mas agora um ambicioso estudo de cientistas norte-americanos conseguiu ir mais além, ao demonstrar que essa condição se repercute a nível neurobiológico e na saúde para o resto da vida.
Os resultados foram apresentados na conferência da American Association for the Advacement of Science, na Califórnia, e os autores apontam a necessidade de novas estratégias sociais para prevenir o problema.
“A pobreza pode modificar profundamente a neurobiologia da criança muito pequena, porque ela está em desenvolvimento”, afectando todo o percurso da sua vida, afirmou o sociólogo Greg Duncan, da Universidade da Califórnia, um dos autores do estudo.
O pediatra e investigador Thomas Boyce, da Universidade de British Columbia, no Canadá, e co-autor, explicita: “Descobrimos que as crianças que crescem em ambientes desfavorecidos reagem ao stress de forma desproporciada, e conseguimos medir isso através de avaliações hormonais e neurológicas, utilizando scaners cerebrais, e mais recentemente com análises genéticas.”
São múltiplos os níveis de complexidade e a dimensão que estes efeitos da pobreza podem atingir, segundo os autores. Eles podem repercutir-se nas principais funções biológicas, ou em circuitos específicos do cérebro e até no mecanismo molecular que activa e desactiva as funções dos genes, adiantam.
Para medir o impacto sócio-económico daquelas sequelas biológicas - a “biologia da miséria”, como lhe chamou Jack Shonkoff, especialista em desenvolvimento infantil da Universidade de Harvard - Greg Duncan analisou os rendimentos médios e a duração do emprego de 1589 adultos nascidos entre 1968 e 1975, nos EUA. E avaliou também os rendimentos das famílias de cada um deles durante os cinco primeiros da sua vida, um período decisivo para o desenvolvimento cerebral. Isso envolveu a observação de vários parâmetros, desde a educação escolar ao número de horas de trabalho, tipo de alimentação, apoios sociais, estado de saúde e história judicial.
Segundo os autores, este foi o primeiro estudo com medições sistemáticas deste tipo nos EUA, o que permitiu quantificar conclusões. Exemplo: um aumento de três mil dólares anuais nos rendimentos de uma família pobre, através de um apoio social, quando há filhos com menos de cinco anos, traduz-se mais tarde num aumento de 17 por cento nos rendimentos destes filhos quando já são adultos trabalhadores. Estes tendem a uma maior estabilidade laboral também.
Referindo-se à realidade dos EUA, os autores sublinham que as suas conclusões “mostram que as políticas de apoio social a famílias desfavorecidas com crianças pequenas produzem resultados tangíveis”. Esta conclusão não será difícil de generalizar.
Os ricos têm menos empatia do que os pobres, acredito. É difícil compreender uma realidade que não se conhece. A inexistência dessa consciência não é resultado do dinheiro em si, da sua quantidade, mas da realidade em que um foi educado. Tal como nunca tive falta de comida, não sei o que é passar fome. Mas, devido à educação que os meus pais me deram, tento compreender tal infeliz realidade. O primeiro passo está dado: reconhecer essa realidade, reconhecer que eu tenho mais do que os outros, tenho mais sorte do que muita gente deste mundo, nem que seja pelo facto de viver em Portugal e não em África.
“A ideia do mérito é uma falácia, especialmente em Portugal que é um país onde não existe praticamente mobilidade social nenhuma.”
Essa é uma generalização grotesca, desculpa lá.
Sobre a questão da Cova da Moura, é mais ou menos verdade, mas qual a razão? Porque as condições sociais no bairro impedem que um tenha sucesso, possivelmente desviando a pessoa em questão para outros hábitos, ou porque a universidade em si rejeita a ideia? Para que serve o Estado-Social, então? Se a universidade rejeitasse a entrada de um rapaz por este ser oriundo de um bairro social, a conversa encontra-se noutro plano. Mas tal não é verdade.
O Estado deve garantir que a pessoa tenha todas as condições para o sucesso. Garanto-te que a melhor universidade do mundo não rejeitaria qualquer pessoa por esta ter nascido num bairro social.
Toda esta questão do rico e do pobre, do acesso a esta ou àquela universidade, remete-nos para a função essencial do Estado. Dizes que em Portugal não há mérito, eu digo que é mentira, e é, mas não o digo porque me apetece, mas porque já vi o contrário. Quando eu ingressei na universidade, esta não me pediu, primeiramente, a minha morada ou a declaração de IRS dos meus pais. Pediu-me o documento que comprova as minhas notas no secundário. Determinadas bolsas universitárias contemplam gratuitidade total. No caso da Universidade Católica, uma de 18 valores garante-te 0€ de propina.
Queres uma história de mérito, de esforço? Belmiro de Azevedo. Atenção que não estou a julgar o Belmiro de Azevedo que tu conheces, o milionário, estou, sim, a falar do Belmiro de Azevedo que se licenciou na Universidade do Porto, filho de mãe e pai humildes, e que foi trabalhar para a Sonae (sim, porque quase todos parecem desconhecer o facto de que Belmiro de Azevedo não fundou a empresa Sonae), tendo depois ido para Harvard. Não estamos perante um caso onde a pessoa tenha nascido na Cova da Moura, mas é um pouco parecido.
E sobre o Estado-Social, digo-te mais: a questão cultural nem é a pior, por acaso. Se tiveres prestado atenção aos noticiários dos últimos meses, verás que Portugal é perito em gastar dinheiro em tudo menos naquilo que é realmente preciso. Em vez de afundarmos dinheiro em empresas públicas cronicamente deficitárias, por que não financiar famílias desfavorecidas, planos para uma educação verdadeiramente gratuita, principalmente no plano universitário?
Não tens que pedir desculpa, porque não é uma generalização grotesca. Respondo-te com um artigo interessante sobre isto, provindo do Diário de Notícias:
A problema na criação de uma sociedade baseada no mérito é o mérito em si. Não incide na identificação do mérito nem na capacidade de o valorizar, mas em deixar de lado quem não cumpre tais requisitos. Esse grupo, no contexto português, seria gigante.
E sobre a questão da inexistência do mérito no presente, não posso aceitar que digas que ele não existe, porque existe. Existe na minha família, não só agora, mas desde sempre, principalmente no momento em que um homem vindo dos confins de Portugal cria a sua própria empresa. Isso é mérito. Quando afirmas que não existe mérito em Portugal, cometes dois erros: primeiro, no que me diz respeito, avalias o trabalho de alguém que não conheces; segundo, cometes uma afirmação absoluta, ou seja, escreves que não existe mérito em Portugal. Nem sequer induzes selectividade, escreves que o mérito, pura e simplesmente, não existe. Se o mérito não estivesse presente desde sempre na vida empresarial dos meus parentes, eu não me daria ao trabalho de defender aqui o meu ponto de vista, defender o trabalho realizado por outros; lia o teu post e continuaria alegremente com a minha vida. Mas como “quem não se sente não é filho de boa gente”, senti a necessidade de dar o meu ponto de vista. Repara, eu não me coloco neste post como defensor de um nível de vida, mas, sim, do esforço que foi necessário para o alcançar.
Se afirmares que existe muito pouco mérito em Portugal, aceito, diria até que tal convicção não é um mal exclusivo de Portugal, embora aceite que tal ocorra mais vezes aqui, mas do mundo.
E o mérito não pode ser somente identificado em casos onde uma pessoa é inicialmente pobre e consegue enriquecer. E negar intransigentemente a existência de mérito num país que foi um exportador, literalmente, de pessoas, na década de 60, principalmente, é errado e é injusto. Milhares de portugueses singraram lá fora.
Claro que é relativo…Relativo ao mais baixo que consegues pagar os salários, relativo a quanto dinheiro tens que investir do teu bolso vezes aquele que o banco gentilmente se dispõe a emprestar etc etc.
Nesse aspecto concordamos…É sempre relativo.
Agora não tenho tempo, mas diz lá ao Majestade quem foi dos primeiros (pelo menos publicamente) a dar-te os parabéns e a desejar-te tudo de melhor no teu ingresso na LSE.
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Nao vale a pena é levarem aquilo que eu digo como um ataque ao Daniel ou a família dele, porque não o é. Nem ele nem ninguem tem culpa de onde nasceu, e ao menos o Daniel está aqui a trocar ideias com pessoas de origens e situacoes variadas, algo que abona (e de que maneira) em seu favor.
Coisa que nao tenho nem de que nunca sofri foi de inveja e de ciumes…Há maneiras muito melhores de passar o tempo.
Sempre as ordens!
Mas vê-la como nem o Daniel nem o Majestade quiseram falar sobre tema da canção.
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@Majestade.
Fico muito feliz pelo teu avo ter conseguido uma vida melhor para si e para os seus.
e sem intenção alguma de querer ofender, não é a esse tipo de pessoas nem de ofícios que me refiro.
Quanto ao Sousa Cintra, sabes como é…Eu quando contar a historia da minha vida aos repórteres também invento o que me apetecer.
Mas também digo-te já: Muito bem estaríamos se todos os ricos fossem como o Sousa Cintra.
Amanha trabalho, vou dormir senão não me aguento quando aquilo começa aquecer!
Fiquem bem! (nao é cerveja nem Compal pêssego, é chazinho Tetley )
Da minha parte não vi escritos teus como um ataque ao Daniel. Como é óbvio e concordando com ele, não se pode é generalizar, o que não falta aí é bons patrões e patrões fdp’s. E também já vi pobres e mal agradecidos, que quanto a mim são piores que os ricos que não passam cartão! :mrgreen:
Também estou contente por ele andar na LSE, também eu um dia hei-de me candidatar ao curso de pintura na Royal Academy of Arts, este sim um curso de 3 anos, cujo único pré-requisito desde 1768 é o mérito artístico dos candidatos. Mas estava apenas a constatar um facto de que não é para todos esse privilégio que o Daniel felizmente está a aproveitar!
Força nesse Tetley, branco, o melhor, mas jamais prepará-lo em água a ferver! 8)
Yazalde, eu não sei como é que interpretaste o que te disse. Concordamos em muitas coisas, mas contigo discordo de algumas coisas, principalmente em algo que aplicas muito: “You’re either with us, or against us”. Não sei em que é a letra de Dropkick Murphies poderá ser um “rebuke” para mim, pois concordo com ela e gosto muito de Dropkick Murphies.
Não concordo que só possa existir um tipo de inconformado ou revolucionário e que todos os outros não seja elegíveis para tal.
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Voltando ao assunto, a minha opinião.
Os ricos não são todos maus e os pobres não são todos bons.
1. Os ricos, é certo, maioritariamente ficaram-no porque o sistema permite que uma pessoa esperta canalize para si dramaticamente os recursos e benefícios, graças a um sistema de economia de casino que governa o mundo. Ou porque são ricos hereditariamente. Mas há muita gente que singrou porque tem capacidades para fazer mais e melhor. Sinceramente tenho dúvidas em relação ao Sousa Cintra, que para mim é um chico-esperto.
2. Os pobres, também é certo, são-no porque o sistema em que vivemos é um ciclo muito restrito, desenhado pelos oligarcas que se fecharam nele e só permitem entrar quem tenha alguma coisa que contribua para o engordar e fortalecer. Mas também há pobres que o são porque querem enriquecer sem trabalhar.
3. E onde fica a classe média? O que é? deve continuar a ser discriminada pelos ricos e pobres?
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Quanto à inveja só comentei porque o Daniel falou nela e dei uma visão muito modificada da dele pois acho que a inveja em Portugal é transversal e que o “olho-gordo” faz parte da nossa cultura. O bota-abaixo é a coisa que o portuga mais aprecia e quando vê o vizinho conseguir alguma coisa tenta mandá-lo abaixo sem quaisquer escrúpulos. Foi só isso que referi, não estou a tomar partido nenhum, e acho que até contrariei a opinião do Daniel. :inde:
Os meus pais nasceram pobres e trabalharam muito no campo para juntarem dinheiro e terem a sua casinha. Conseguiram estabilidade? conseguiram, apesar de muitas dificuldades, conseguiram. Sacrificando em todo o tipo de luxos, férias que nunca fizeram. Mesmo assim, o meu pai foi e é invejado e desprezado pelos irmãos.
O Portugal profundo é assim.
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Quanto ao estudo em si, compreendo e concordo bastante, mas não o tomo como dogma. Convivi com colegas muito ricos, especialmente na faculdade, e a impressão que me causaram coincide com o estudo. Tive também por vizinhos pessoas ricas que me olhavam de alto abaixo e desprezavam-me com uma frieza que sempre soube ultrapassar. Mas não são todos assim.
Também não concordo que os pobres sejam todos umas almas caridosas e uns pobres coitados. Há gente muito vil em toda a parte, e volto a referir que este país está recheado de hipocrisia. Toda esta afabilidade portuguesa e arte de bem saber receber de que nos orgulhamos é para mim uma grande falsidade. De alto a baixo somos um país de gananciosos, mentirosos, cheios de fantasmas “keep it in the familiy”.
À maior parte das lojas a que vou só vejo ganância e mal-estar, nos restaurantes servem-te como se te estivessem a fazer um favor, os polícias tratam-nos como bestas, os técnicos são incompetentes e aldrabões. Quando começas a observar a parte de cima, em vez de se lidar com estas contingências menores, lida-se com nações, exércitos e fortunas mirabolantes conseguidas à custa do trabalho escravo dos gentios, offshores, assassinatos políticos…
…mas o problema continua a ser um só: o ser humano mal-formado.
Essa do teu pai e dos irmãos dele faz-me lembrar o meu avô e os seus 18 irmãos e irmãs, sendo que maioria não se encontra entre nós. Não que o fórum seja um local de humilde biografia da família de cada um, mas resumirei a relação entre parte substancial: virtualmente nenhuma.
Como diz o meu avô, a minha bisavó não tinha filhos, cagava-os. Viveu até aos 90, salvo o erro. Se não aprendermos nada com quem sofreu para ter algo na vida, a conclusão é muito fácil, realista e, dependendo do valor que cada um atribuí ao ciclo da vida, triste: somos apenas uns seres com duas pernas, espero, que vagueiam por esse mundo fora.
Se pararmos e pensarmos um pouco na quantidade de ferramentas, entre os mais variados âmbitos (educativos, sociais, financeiros), que hoje temos ao nosso dispor, um não pode deixar de ficar surpreendido e defraudado com determinados comportamentos que emanam por esse país fora.
Pois, eu já tenho dito que o café deveria estar escondido do público. Qualquer um pode ler informações que aqui escrevemos nesta área.
Não é ao acaso que o benfiquismo serôdio e labrego (redundância) domina o país em geral; que o portismo intelectualmente desonesto é algo que muita gente ostenta com orgulho. Reflexos de um país.
Em primeiro lugar, precisamos de definir o que é o mérito. Será uma característica-traço de quem tem muito dinheiro? Ou de quem faz avançar a sociedade? Ou de quem é competente na sua área profissional? Há aqui uma série de lacunas que é importante discorrer sobre.
O mérito não é proporcional à competência. Analisemos as artes: Van Gogh morreu sem ter vendido um único quadro, numa penúria e miséria extremas. Actualmente, olhamos para os artistas do mundo da música com mais sucesso e podemos perceber que, em termos qualitativos, são menos competentes que muitos outros que compõem de forma criativa. O caso da Jennifer Lopez é um dos mais paradigmáticos: não é boa actriz, canta mal e dança medianamente. O único mérito que tem é o traseiro e a cara. No entanto, é das actrizes mais bem pagas de Hollywood, teve um sucesso tremendo no mundo da música e tem uma conta choruda no banco. No caso nacional, temos o Tony Carreira. Piroso, compositor medíocre e move milhares de pessoas em cada concerto. Depois olhamos para o outro lado e vemos nomes como os Clã, Linda Martini, Manel Cruz, que são infinitamente melhores que a pimbalhada e ganham menos. Assim sendo, a competência não é a melhor forma de definir o mérito. Pelo menos nas Artes. Claro que existem casos onde há sucesso e competência, os Radiohead são um desses exemplos. No entanto, essa não é a regra.
Poderás dizer que as artes são um contexto específico e que, no mundo empresarial, as coisas são diferentes. Certamente serão. Mas assim tão diferentes? Será que todas as pessoas que tiveram boas ideias e as quiseram implementar tiveram sucesso? Obviamente que não. No caso das empresas, muitas vezes a sorte tem um papel mais importante do que o mérito. E a partir do momento em que se atinge um determinado patamar, é muito mais fácil realizar investimentos com retorno. Cito aqui um artigo, do “Journal of Economic Theory” sobre isto (não o posso pôr todo devido aos direitos de autor, deixo somente o abstract):
Parece-me claro, por tudo aquilo que disse atrás, que o mérito não está necessariamente ligado à competência. E também não está ligado à capacidade de fazer avançar o mundo. Basta ver que os cientistas que fazem grandes descobertas não se tornam, na maioria dos casos, multi-milionários. Nem tão pouco os artistas que descobrem uma forma de discurso, imagética ou sonoridade original. Nem os filósofos que apresentam uma teoria sobre o Homem que dá azo a novas descobertas nos vários campos do saber humano. Porque são eles, e não os empresários que depois aproveitam as ideias para ganhar dinheiro, que fazem avançar o mundo. No caso da ciência, a situação é “sui generis”: actualmente a investigação está profundamente ligada ao financiamento e ao “status quo”. Há uma série de assuntos que podem ser investigados porque estão na “moda” e outros que não. Quem quiser abordar novas áreas tem duas hipóteses: ou é de facto um nome muito conhecido e pode decidir o caminho de cada investigação (uma espécie de oligarquia) ou então terá que dispor dos recursos financeiros para o fazer - o que na maioria dos casos é impossível.
Em suma, se o mérito não está ligado ao avanço do mundo nem à competência na área profissional, então a única forma de o abordarmos nos moldes actuais é relacioná-lo com a capacidade de fazer dinheiro. O mérito é, então, definido por quem consegue facturar mais. Eu aceito essa definição, apesar de a achar escabrosa. E porquê? Porque não é o dinheiro que ajuda à construção de um futuro melhor. Nem são os empresários que vão tornar a sociedade mais justa e eficiente, não é por acaso que vivemos tempos bastante conturbados. Quem detém o poder para mudar as coisas é quem tem dinheiro. Mas quem tem dinheiro não é quem tem melhores ideias para fazer avançar a sociedade nem para resolver os vários problemas que a sociedade enfrenta. Quem tem dinheiro está preocupado maioritariamente com a manutenção da sua classe social e com a possibilidade de facturar mais. Este estudo da falta de empatia demonstra justamente isso mesmo: a falta de capacidade das classes mais altas de se “sentirem” os outros e as suas necessidades. E é precisamente por vivermos numa sociedade onde o mérito é definido pelo dinheiro e não pela competência que as coisas se estão a desmoronar. E é também por isso que eu digo que o mérito é uma quimera, um conceito inventado para quem tem mais justificar a riqueza acumulada ao longo dos anos.
Por fim, deixa-me outra vez referir que não estou a pessoalizar a questão. Estou a falar em termos gerais, porque não me interessam muito casos particulares. Aliás, até poderia referir algumas coisas interessantes, como o facto de eu nunca ter passado dificuldades na vida, ter pessoas com muito dinheiro na família e ter, inclusivamente, uma parte da família que pertence à nobreza e está cheia de propriedades. Tal como não estou a atacar a minha família, também não o faço com a tua. Não foi essa a intenção por detrás da criação deste tópico.
Por acaso discordo green.beast. Percebo onde queres chegar, mas acho que tanto o Danielw e o Majestade são duas pessoas inteligentes que se preocupam com este tipo de assuntos. Aliás, é um privilégio para todos nós podermos ler aquilo que escrevem. Mesmo que discorde das suas opiniões - com o Majestade é mais sobre futebol - não posso deixar de referir o prazer que me dá argumentar com ambos.
Sim, Winston, longe de mim prestar considerações negativas sobre estes dois foristas, que igualmente aprecio.
O que quis dizer, e é essa a minha opinião,
é que eles não estando ou não querendo estar dentro desse circulo de ricos, dão a sensação de querer estar, mesmo de uma forma involuntária. São na minha opinião, estes alunos alvo do estudo. O estudo não revela que eles repudiam as classes sociais inferiores, mas sim que se mostram indiferentes. E isto porquê? Porque apesar de terem que lidar com essas mesmas classes não têm que conviver com as mesmas.
Vejamos, e não querendo pôr em causa os relatos destes dois foristas, eles invocam heroicamente os longíncuos tempos dos respectivos avós, que lutaram como muitos dos nossos, para que hoje fossemos o que somos. Logo aí, dão-me a entender, que os avós pertenciam a uma classe social mais baixa, tal como os meus avós devendo isso também á conjectura e evolução social dos tempos. Agora, quando dizem que se fazem transportar em Mercedes e que estudam numas das melhores faculdades do mundo, graças ao que os avós fizeram (sacrificaram-se), e que até já andaram de Metro durante um ano, (vejam lá!) têm a empatia pelas classes inferiores. Acredito. Mas também gostam de ser vistos com alguma distância, porque a vida lhes deu esse estatuto. Nada mais certo.
Estes dois parágrafos são para guardar e enviar aos pseudo-candidatos a PR! Era bom que o engenheiro-ao-domingo também os recebesse.
Quanto às frases que sublinhei, elas dizem tudo. O que é no fundo uma Bolsa de Valores (Stock Exchange)? Não é uma grande Betfair? O que é que lá se faz para além da arte de o esperto roubar ao ingénuo?
Especulação, ágio, onzeneirismo. A máquina financeira iniciado pelos Medici e pelos mercantilistas de Amsterdão, sempre com a ajuda dos mesmos.
Por fim o monstro criado pelos Warburg, Rothschild e co-religionários selaram o sistema que transformou o trabalho em fichas de poker para poderem jogar com elas numa mesa.
É esta a tal Economia de Mercado que os políticos exigem que aceitemos para se entrar no círculo do poder tal como os Dogmas que a Igreja exige para sermos sacerdotes.
Nao posso deixar de ficar estupefacto pela conclusao a que green beast chegou. Com 100 anos de vida, sem duvida um feito de fenomenal vivacidade, o green beast, ao contrario dos muitos velhotes deste mundo que hoje se encontram totalmente ultrapassados, nao por culpa dos mesmos, pelo avanco brutal e veloz da tecnologia, domina muito bem toda esta corrente das novas comunicacoes, pena que o seu dominio da nossa lingua nao se encontre em tao agradavel nivel. Se a minha participacao neste topico, no teu entender, se resume a um jovem com posses que teve a audacia de andar de metro durante um ano, estamos mal, infelizmente. Eu mencionei tal facto para desacreditar quem cre que os ricos vivem numa cupula, noutro planeta, talvez numa sociedade subterranea. Dou por concluida a minha participacao neste topico.
Dá para compreender o que este estudo revela, embora não se aplique a todos os ‘ricos’. Pois as pessoas com objectivos traçados, por vezes ficam quase ou mesmo obcecadas pelo sucesso e, talvez não olhem a desculpas (típicas), talvez fiquem mais frias (sem agressão ou exploração) com os seus colaboradores na hora que é para trabalhar/ produzir. Porque chegar lá a cima também custa. Exige estudo, investimento e muitas horas dispendidas. Ser patrão não é fácil, também custa! Há gente com dinheiro porque fez pela vida, porque não foi um pai sempre presente para poder dar o melhor aos filhos, porque não foi um marido muito presente, com o objectivo de meter em casa aquilo que qualquer família deseja e se possível algo mais.
Assim, compreendo os resultados do estudo. Filhos de pais ricos vivem com os pais e assim herdam algumas características deles, têm as coisas mais facilmente, normalmente lidam com pessoas da mesma elite e, não tendo elas dificuldades economicas e tendo uma qualidade de vida superior, sem preocupações, nem se preocupam em compreender os outros ou nunca tiveram de compreender… A vida é fácil, para esta nova geração de filhos de pais ricos… Acredito que os impérios que existem não vão ser substituídos por nenhum império que nasça no Sec. XXI do 0 (a não ser casos pontuais, como as tecnologias e energias renováveis), daí o trabalhinho duro estar quase todo feito e agora é só ter um bocado de cabeça e gerir por parte desses jovens que participaram no estudo.
Eu não quis apontar nenhum defeito no teu discurso, muito menos á tua pessoa. O que eu quis dizer foi, e de uma forma directa, é que um rapaz da tua idade faz-se andar em Mercedes Benz, frequenta uma das melhores faculdades do mundo, sente a inveja dos outros e faz de uma altura da vida (1 ano a andar de metro) quase um acto corajoso;
1-Quer queiras queres não, pertences a uma classe superior, e ainda bem que assim é. Não deixa de ser um orgulho para mim como português, frequentares uma das melhores faculdades do mundo.
2-A ausência de empatia notória, ao mencionares alguns hábitos mundanos como se pertencessem á plebe :mrgreen:
3-Na minha opinião portanto, julgo que se esse estudo se tivesse sido realizado no LSE, farias parte daqueles que se sentiriam alheios ás emoções alheias, porque felizmente, nunca tiveste as dificuldades que uma classe inferior á tua tem, daí a falta de sensibilidade a esses problemas.
Eu de alguma modo também tenho falta de empatia (alheamento pelos problemas sociais) pela comunidade cigana e outras diferenças étnicas, pensando eu, ser do choque cultural.
Agora vais pensar: Este gajo está com inveja de mim… :exclaim: