Escrevia eu há umas semanas:
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Terminou o Campeonato do Mundo. Acabaram as maratonas televisivas em que, ao contrário do que normalmente acontece, o futebol é mesmo o actor principal. Não há tempo a perder com casos, com amuos de jogadores ou com declarações de dirigentes, porque logo a seguir ao Almanha-Inglaterra há o Argentina-México, e quando este acaba já estamos a pensar no Brasil-Chile do dia seguinte. Três jogos por dia – às vezes dois – e o maior dilema é saber se acreditamos nos nossos palpites ou confiamos o nosso dinheiro no 6º sentido do povo Paul.
Terminou o Mundial. A Itália está morta, viva a Espanha! Arrumados os guias, terminadas as cadernetas que fazem lembrar os tempos de infância, voltamo-nos para o campeonato nacional e para a dança das transferências.[/i]
O que aconteceu entretanto? Dançámos. Digo eu, para ser simpático, porque aquilo que mais me parece é que iniciámos um trambolhão por ter tropeçado numa maçã e estatelámo-nos ao comprido quando cedemos aos euros com ar de liras com que nos acenaram.
O Sporting não sabe vender. O problema não é de hoje, tem já para cima de uma década. Quaresma, Veloso e Moutinho são a face mais mediática deste problema, mas é importante não esquecer os Romagnoli, Pedro Silva, Beto e outros que rescindiram contrato e prosseguiram as suas carreiras sem que o Sporting tivesse recebido retorno financeiro do investimento (de retorno desportivo, com 2 campeonatos ganhos nos últimos 20 anos, estamos falados).
Convém também não esquecer as “atenuantes das vendas”. O Moutinho era fruta bichosa, o Ronaldo terminava o contrato e teve de ser vendido à pressa para não sair a custo zero. Quando não é isso é o jogador que quer evoluir na carreira e não podemos cortar-lhe as pernas. Quando não são as pernas, alguma outra coisa há-de ser. E quem é que defende as pernas do nosso clube?
É que, no meio de compras, vendas e referências hortícolas, não nos podemos esquecer dos factos. E os factos são estes: o Sporting vendeu, em pouco mais de duas semanas, os seus dois jogadores de maior mercado por um valor de 19 milhões de euros + dois jogadores de créditos não firmados (a julgar pelas referências da cada vez mais vulgar imprensa desportiva). Por outras palavras: o Sporting vendeu as 2 jóias da sua coroa por um valor combinado que não chega ao valor da cláusula de rescisão de nenhum deles. Mais: o Sporting vendeu esses jogadores na sua pior época da década. Haveria pior altura para vender do que agora? É o mesmo que vender a casa no pico da crise imobiliária.
Chamem-me lírico, irrealista ou sonhador: para mim não chega! Custa-me ver estes negócios. Custa-me perder duas das referências do clube por valores que não são irrecusáveis. Custa-me ver os adversários fazer bons negócios, ano após ano, e verificar que no meu clube o tempo passa e os erros do passado não são corrigidos. Custa-me somar estes dois factos e chegar à inevitável conclusão de que, se fazemos menos dinheiro que os rivais, estamos a cavar um fosso de qualidade entre nós e eles. Custa-me querer sonhar com “um clube grande, tão grande como os maiores da Europa”, e acordar para um clube que me parece falido de ambição e auto-estima. Até quando?