Jogadores de futebol noruegueses expõem viciação de resultados das equipas russas no futebol nacional e internacional
2 de Abril de 2014

CULTURA DA PODRIDÃO: Erik “Panzer” Haen e Jorgen Jalland falam sobre como a cultura da viciação de resultados faz parte do futebol de elite russo e como conviveram com isso.
Dois jogadores de futebol noruegueses alegam que a viciação de resultados era abundante na Premier League russa quando lá jogaram entre 2005 e 2008. O ex-membro da selecção nacional Erik “Panzer” Hagen admitiu que ele e outros jogadores do Zenit São Petersburgo pagaram pessoalmente a um árbitro durante uma partida da Taça UEFA.
Jørgen Jalland, que é agora jogador-treinador no clube norueguês Ørn-Horten, jogou no topo da liga de futebol na Rússia em 2005 e 2006. Hagen trabalha para recuperar uma lesão antiga. Ambos alegaram que a viciação de resultados é prática comum na Rússia, com Hagen a admitir que, pessoalmente, tinha de dar o seu próprio prémio de jogo ao árbitro.
Erik Hagen e Jørgen Jalland tornaram-se nos primeiros noruegueses a jogar futebol de alto nível na Rússia, após a sua temporada de sucesso com o clube norueguês Vålerenga em 2004. Hagen juntou-se ao Zenit, enquanto Jalland foi para o Rubin Kazan. O par disse ao jornal VG nesta quarta-feira que correspondem repara era tão difundida, em alguns casos era possível saber quem iria ganhar ou perder um jogo nos primeiros 10 minutos de jogo.
Hagen diz que numa partida da Taça UEFA ficou preocupado quando descobriu que um companheiro de equipa conhecia o árbitro pessoalmente e ficou furioso quando os jogadores concordaram em comprar o jogo. “Tínhamos uns prémios de jogo malucos na Europa, 12’000 dólares”, disse ele. “Antes do jogo esse jogador disse que todos nós tínhamos de dar 3’000 dólares ao árbitro.”
Hagen disse que a equipe de oposição foi roubada em quatro golos após decisões de fora-de-jogo bizarras. “Uma maldição tinha-se abatido sobre os jogadores adversários, e sobre mim também”, disse ele. “Passei-me completamente, e parti espelhos e portas”. Mas disse que pagou a sua parte da soma do suborno. “Sim, dei 3.000 dólares do meu prémio de jogo e para o árbitro. Depois disso um companheiro de equipa chegou-se ao pé de mim e disse que isto não podia voltar a acontecer”.
Rejeição de acusações
O árbitro disse-ao jornal VG que se lembra do jogo mas negou conhecer qualquer um dos jogadores do Zenit ou que tivesse sido pago para roubar o jogo. “Não, isso é um absurdo”, disse ele. “Absurdo! Basta! Eu não recebi qualquer oferta. Algo assim nunca chegou a mi-m”. O jornal VG relatou que a chamada caiu e que nunca mais conseguiram contactar o árbitro.
O assessor de imprensa do Zenit, Jevhenij Gusev, disse que o clube ficou profundamente chocado com as alegações de Hagen. “Deixe-me garantir-vos que o Zenit sempre seguiu os princípios do fairplay e sempre declarou que os resultados das partidas devem ser decididos dentro de campo”, disse ele.
Inquérito corrobora acusações
A UEFA disse que não comenta jogos, a menos que hajam protestos. No entanto, uma averiguação efectuada em 2012 pela organização internacional, a FIFPro, encontrou resultados que aparentemente dão razão às alegações de Hagen e de Jalland. Dos 177 jogadores Campeonato Russo entrevistados, mais de 10 por cento disseram que tinha sido contactados para manipular os resultados dos jogos, e 43,5 por cento disseram que sabiam de jogos manipulados.
Hagen disse ainda que não fôra apenas esse jogo da Taça UEFA que tinha sido corrompido, e ri-se quando se lembra da temporada vitoriosa do Zenit em 2007. “Os nossos últimos 10 jogos… Meu Deus”, disse ao VG. “Todas as decisões do árbitro foram a nosso favor. Era totalmente embaraçoso”. Hagen disse que a viciação de resultados estava tão disseminada que, antes do jogo para o campeonato, ambos os presidentes das equipas do Zenit e do CSKA vieram à comunicação social prometer que este jogo não seria manipulado.
Mas cedo se tornou óbvio que o jogo estava mesmo viciado quando um jogador do Zenit se desmarca para a baliza depois de receber um passe 6 metros em jogo e a acção é interrompida por fora-de-jogo. “Mais tarde o CSKA ganha um canto, ninguém fez o raio de coisa alguma, e mesmo assim deram uma grande penalidade ao CSKA”, disse Hagen. “Obviamente o CSKA ganhou o jogo e o campeonato”. A Federação de Futebol Russa admitiu mais tarde que o juiz tinha errado ao anular por fora-de-jogo dois golos ao Zenit e dado ao CSKA uma grande penalidade inexistente. Os políticos exigiram um inquérito e o Zenit pediu a repetição do jogo mas o CSKA negou que tivesse feito mal algum e manteve o título de campeão.
“Havia muitos episódios”, concordou Jalland. "Era normal entrares em campo e sentires que o resultado já estava determinado, independentemente do que fizesses".
Há 2 episódios que marcaram Jalland em especial. “Num jogo fora, a equipa adversária estava acima do Rubin Kazan na tabela classificativa e basicamente deveria ter sido uma partida equilibrada. Em vez disso ofereceram-nos um golo duvidoso no início do jogo e de seguida uma grande penalidade duvidosa e ficámos logo 2-0. No final, vencemos por 5-1. Depois disso o ambiente nos balneários ficou completamente estranho. Normalmente, estaríamos eufóricos, mas estávamos em silêncio e toda a gente se perguntava o que teria acontecido.”
Garantidamente não é possível ser campeão sem ter uma grande equipa mas seres primeiro classificado em vez de terceiro tens de fazer como todos os outros: Tens de subornar.
Ambos sublinham que nunca foram avisados de antemão que o jogo já estava garantido mas a ideia que fica é que isto acontecia regularmente.
Incentivos
Ambos os jogadores disseram que não gostavam da viciação de resultados mas que era parte do jogo na Rússia.
Ao contrário de Hagen, Jalland nunca aceitou usar o seu prémio de jogo para viciar resultados mas admite que recebeu dinheiro para “corrigir resultados”.
“Jogámos uma partida no Cáucaso e estávamos num hotel. Subitamente batem à nossa porta, era o nosso captião de equipa. Trazia na mão um molho de dólares novinhos em folha. Era de uma equipa que precisava muito da nossa vitória no jogo. Nós ganhámos. Todos os que começaram o jogo receberam 7000 dólares, os que ficaram no banco receberam 4000 cada”.
Apesar desta experiência diferente, ambos os jogadores estavam contentes por ter jogado na liga Russa. “Nunca pensei dusa vezes. O nível competitivo é muito maior que na Noruega, e eu acho que no seu todo foi positivo”, disse Jalland.
«Panzer»: - Ga bort 3000 dollar av seiersbonusen min til dommeren
Ex-Zenit St Petersburg defender Erik Hagen makes match-fixing allegations - ESPN