[size=14pt][b]“Isto não é turismo, é uma invasão”. Benditos turistas, malditos turistas[/b][/size]
Um pouco pela Europa fora, e não só, cidades reagem contra os excessos de um fenómeno social cada vez mais intenso
O que tem em comum um ato de vandalismo e uma proibição de circular em zonas históricas? Em ambos os casos, o alvo foram autocarros de turismo. E em ambos, o objetivo último é combater os efeitos negativos do turismo sobre a qualidade de vida em cidades antigas. No primeiro caso a cidade foi Barcelona, no segundo Lisboa.
A proibição imposta aos autocarros turísticos de circular em certas zonas históricas da nossa capital, que entrou esta terça-feira em vigor, irritou os industriais do sector, que dizem ter sido apanhados de surpresa. Mas as razões não são difíceis de entender. Poluição, estrangulamentos de circulação e o desconforto de ter veículos enormes a circular em ruas estreitas, por vezes criando situações perigosas, são factores que qualquer morador reconhece. Em contraponto, a Antrop, uma associação de transportadores, notou os vários tipos de negócio que serão afetados pelas limitações, desde restaurantes e alojamentos até associações e guias turísticos.
Em Barcelona o evento foi mais dramático. No dia 29, quatro homens encapuzados entraram num autocarro turístico de topo aberto que se encontrava parado junto ao Camp Nou, o estádio do Barcelona. Entre os passageiros havia mulheres e crianças, e houve quem pensasse tratar-se de um ataque terrorista. Mas a intenção era outra. Os invasores pintaram nas janelas do veículo a frase “El Turisme Mata Els Barris” (“o turismo mata os bairros”) e cortaram os pneus do veículo, antes de se irem embora.
UMA AUTARCA ANTITURISMO
Não foi a primeira vez que Barcelona se manifestou contra o turismo. Há anos que os residentes contestam a escala que esse fenómeno atingiu na cidade, e a atual presidente da Câmara, Ada Colau, foi eleita largamente com base numa campanha antiturismo.
As queixas têm a ver com dois aspetos essenciais. Por um lado, a reduções de qualidade de vida, até devido ao modo como alguns turistas se comportam. Por outro, o facto de o seu influxo em massa levar a um incremento de preços que obriga muitos residentes de longa data a abandonar a cidade - por causa do aumento de rendas que daí resulta, e não só.
Também é mencionado o facto de muitos dos visitantes serem pessoas que gastam pouco dinheiro, embora no seu conjunto provoquem um incómodo substancial aos locais. Colau resume a questão com uma frase: ”Não queremos que a cidade se torne uma loja de souvenirs barata.” Além de congelar as licenças para novos hotéis, ela impôs multas aos alojamentos de curto prazo tipo AirBnb.
Em tempos uma cidade descontraída e confortável, Barcelona mudou bastante após os Jogos Olímpicos de 1992. Se em 1990 tinha 1,7 milhões de turistas, em 2014 já eram 7,87 milhões, e o número terá continuado a aumentar. Colau diz que a sua esperança é conseguir evitar que a sua cidade se torne uma nova Veneza.
O (MAU) EXEMPLO DE VENEZA
Se os problemas com o turismo se agravaram nas últimas décadas em Barcelona, em Veneza existem há muito mais tempo. A “pérola do Adriático”, uma das cidades verdadeiramente únicas do mundo, tem características que a tornam especialmente vulnerável. Por um lado, toda ela é um museu, e as pessoas que lá acorrem enchem completamente as suas ruas e praças. Por outro lado, a sua dimensão relativamente reduzida faz com que o número de turista seja frequentemente superior ao de habitantes da cidade.
Acresce que a maioria desses turistas vão lá apenas passar o dia, levando a sua própria comida e não gastando praticamente dinheiro. Ou seja, sobrecarregando as infraestruturas locais sem contribuir nada para as manter. Se se pensar na situação física relativamente precária da cidade, e no facto de os visitantes chegarem quase aos 30 mil todos os anos, percebe-se a dimensão do problema.
Um das propostas discutidas é limitar o número de entradas na cidade, mas os responsáveis notam que tanto a Constituição italiana como a lei europeia proíbem isso. Quando muito, poder-se-ia restringir os acessos à famosa praça de São Marcos, mas ainda nenhuma decisão foi tomada nesse sentido.
CAMPANHA CONTRA OS COMPORTAMENTOS IMPRÓPRIOS
Para já, a cidade limita-se a tentar controlar aspetos de comportamento dos turistas que irritam particularmente os residentes, tais como deitar lixo ao chão, andar de bicicleta na cidade e mesmo nadar nos canais.
Também é pedido aos visitantes que não escrevam coisas nas árvores, nos edifícios e nos passeios, e que não andem pelas ruas de fato de banho, nem demorem demasiado tempo nas pontes que atravessam os canais, a fim de facilitar a circulação dos outros pedestres.
Uma campanha pública apresentada em 10 línguas e acompanhada pela ameaça de multas talvez ajude a fazer com que a cidade deixe de ser vista “como uma praia”, nas palavras de um responsável. Mas as medidas ainda ficam bastante longe das tomadas por outros lugares do mundo contra os excessos do turismo. Um exemplo é o Butão, um país junto aos Himalaias que limita o número de visitantes e lhes cobra cerca de 300 euros por dia.
Veneza jamais fará isso, e há dias escapou a ser considerada pela UNESCO como cidade em perigo. Mas a sua diretora de turismo, Paola Mar, diz que em julho e agosto “é como a guerra” na cidade. Pelo menos lá não há italianos bêbados a passear nus pelas ruas, como parece ter-se tornado hábito em zonas populares de Barcelona.
Uma das coisas mais negativas do turismo é o aumento de preços no comercio local. So de me lembrar que há uns anos se implementou uma taxa de acesso ao bom Jesus, em braga, no período de verão (ainda se encontra em efeito).
O pior de tudo e que tem implicações muito graves é o estado em que ficou o mercado de arrendamento de longa duração. Para além de ser praticamente inexistente, o que existe obviamente está a preços absurdos. E não me refiro apenas a Lisboa, qualquer local que seja destino turístico caminha para deixar de ser habitável sem ser para férias. É importante que se resolva esta situação (impostos mais pesados no arrendamento curto por exemplo) sob pena de virmos a ter graves problemas sociais a longo prazo.
As autoridades competentes têm de arranjar forma de isto ser equilibrado e sustentável mas custa me ver esta diabolizacao do turismo porque basta ver as receitas e os empregos que traz ao País.
Olhando para Lisboa entre esta invasão de turistas e a desertificação que estava em crescendo desde a década de 90 também me parece um escolha óbvia.
O Estado está mais preocupado em criar novas taxas sobre o Turismo para garantir receita, ao invés de pensar em estratégias para gerir tudo o que o Turismo tem a capacidade de criar, os seus benefícios e as suas consequências. Faz-se tudo muito em cima do joelho e obviamente que isso dá para o torto. O mercado de arrendamento é um desses exemplos, apressa-se andar a criar nova legislação, aprovar novos diplomas, mas a verdade é que continua a ser um mercado selvagem. O Turismo é essencial para a economia do País, mas como qualquer outra área económica, precisa de existir regras, regulamentação, caso contrário será um mercado desperdiçado.
Pois , a criação de taxas para o turismo , deve ser mesmo com o objectivo de gerir o mesmo e de procurar limitar ou anular os aspectos mais nefastos da massificação.
O turismo como sabemos é uma actividade incerta depende muito de modas , hoje pode estar muito bem e amanhã mudar completamente e a massificação certamente mata o turismo.
Para salvaguardar esta actividade cada vez mais importante em termos economicos para o país e para que os bairros históricos não fiquem esvaziados de habitantes locais é preciso impôr limites a essa massificação através de taxas específicas , nomeadamente a alojamentos tipo AirBnb , e em bairros historicos como Alfama , simplesmente não deixar abrir mais hostels.
[size=14pt][b]Turismo em Lisboa. “Qualquer dia até a marcha de Alfama é em inglês”[/b][/size]
Os moradores e comerciantes da zona histórica da capital vivem uma relação de amor-ódio com os turistas. Se por um lado há mais trabalho e mais dinheiro a circular, por outro, faltam-lhes vizinhos portugueses, o sossego a que estavam habituados e espaço para os lisboetas viverem
Ainda faltam um par de horas para que o grupo se junte, mas Luana sai de casa já trajada para a marcha dessa noite. Para os vizinhos, ela é a Luana, a neta da Teresa que vende ginjinha na rua de São Miguel. Para os turistas que passam, ela é sinal de postal de férias perfeito. Não mentimos quando dizemos que são pelo menos trinta os franceses que a rodeiam entre flashes e aplausos. “Vá filha, tira só mais esta que o senhor ‘tá a pedir”, insiste Teresa, perante o revirar de olhos da neta.
Em vésperas de Santo António, não faltam momentos dignos de fotografia. Teresa quer que sejam aproveitados, até porque como moradora do bairro, acredita que não falta muito para que os turistas venham só fotografar as paredes das casas degradadas. “Qualquer dia já não há a dona Lita, a Carminda ou o dono do café ali da frente”, comenta, lembrando uma Alfama que sempre teve gente na rua, confusão e vozes a falar alto. “As pessoas vinham para a rua passar a ferro, descascar batatas, fazer renda”, conta. Agora só se houve falar inglês e o prédio onde nasceu – “foi mesmo, que a minha mãe nem teve tempo de ir à maternidade” – é mais um dos hostels que servem de albergue a quem vem de fora para viver uma Lisboa por dentro.
Nem de propósito, “Não toquem na minha Alfama” é o tema que o bairro, campeão do ano passado levou este ano a concurso na Avenida da Liberdade. “Não temos nada contra os turistas atenção”, avisa Maria do Carmo enquanto descansa junto à banca pronta para mais logo vender sardinhas assadas, “mas tem que haver um limite”. Com o coração – e a carteira – dividido, Maria sente falta de ver o bairro cheio de “pessoas das nossas” e tem pena que aos 48 anos não consiga ter os filhos como vizinhos. “Com T1 a 790 euros, quem é que consegue viver aqui?”. A pergunta é retórica e inevitável é o encolher de ombros assim que se fala naquilo que o turismo trouxe de bom. “A mim trouxe-me emprego”, garante. Atualmente, Maria do Carmo faz limpezas em 30 casas destinadas ao arrendamento turístico em Alfama e Castelo.
Colinas do turismo
E é exatamente no bairro vizinho que encontramos Hermínio e Natividade, os donos da única mercearia do Castelo. “Quando há 48 anos abri este negócio, éramos seis lojas do género”, lembra Hermínio. Agora, tudo fechou para dar lugar a hotéis e casas destinadas a Airbnb e até a própria Mercearia da Estrela apenas se mantém aberta por teimosia dos donos, que vão adiando a saída como podem.
Mas à semelhança do que acontece em Alfama, também aqui há um antes e depois deste boom vindo do exterior. “Sem o turismo, o Castelo já não existia, tínhamos ido todos à falência”, admite Natividade, mesmo que as compras que façam não vão muito além de garrafas de água e peças de fruta. Mas a verdade é que este dinheiro estrangeiro representa já 70% das vendas deste espaço. Ainda recorrendo a percentagens, Hermínio garante que só 10% do bairro é dos moradores. “Isso sim deixa-me triste, até porque eu não trabalho para os turistas, a minha vida é a de bairro”.
E é seguindo precisamente as indicações de quem se mantém fiel a essa vida de bairro, que somos direcionados novamente para Alfama. “Se quer ver gente daqui, é no Galego”, há quem aponte. E assim vamos, até chegar ao único café onde o pessoal de Alfama se reúne.
Fugiu dos ovos com bacon servidos ao pequeno-almoço, às panquecas para o brunch, ou à moda dos enlatados acompanhados por um copo de vinho. “Se fosse mais novo tinha-me metido nisso, que eu bem os vejo a vender uma lata de sardinhas, duas fatias de pão e um copo de vinho a vinte euros”, refere António. Mas longe das modas, aqui serve-se cerveja a um euro e croquetes a 90 cêntimos. “E assim nos vamos aguentando”, admite o proprietário, que juntamente com a mulher há 25 anos gere os poucos metros quadrados onde atualmente cabe todo um bairro. “São eles que me dão negócio”, garante, enquanto passa o pano molhado pelo balcão. “E nós não queremos outra coisa”, grita Jorge, que se junta ao grupo que se encontrou à porta, até porque os poucos metros quadrados comuns a todos os negócios da zona fazem com que a rua seja o prolongamento deste café.
O hábito de todos os dias dispensa palavras. Jorge levanta a garrafa vazia e António passa-lhe uma cheia. “É só mais uma, afinal é Santo António”, justifica. Nasceu e cresceu em Alfama e, aos 60 anos, ‘turista’ é palavra que serve de rastilho a um rol de queixas. “O meu prédio está cheio deles”, conta, “e o pior é que vão todas as noites aos fados, chegam de madrugada e é pumba com a porta a toda a hora. Não há respeito nenhum”, salienta. Sente o seu espaço invadido e, por isso, até recorre à história para prever uma revolução. “Já expulsámos os espanhóis uma vez, os franceses outra vez, queres ver que vamos ter que voltar a fazer o mesmo?”. Mais uma rodada, mais um desabafo. “Qualquer dia temos a marcha de Alfama cantada em inglês, alemão ou espanhol. Vão ser precisos mais treinos”, brinca.
A ironia de Jorge ainda não se aplica, mas a verdade é que não há restaurante em Alfama que não tenha à porta o menu em inglês e, quem nos tenta aliciar a experimentar uma noite de fado e comida, arrisca primeiro uma abordagem em estrangeiro.
Na verdade, e para bem da tradição, Maria Arminda, é a exceção. “Eu, quanto muito, falo mais alto. Cá nos entendemos”, conta, enquanto dá um retoque a mais uma flor de papel que tem à venda no Largo do Chafariz de Dentro, onde monta banca há 49 anos.
Os turistas passam, comentam entre si e são poucos os que arriscam. Mas há um casal que avança. “Podemos cheirar?” Maria Arminda quase salta da cadeira: “Aqui cheira-se com a mão, não meta lá o nariz!”. A ordem é acatada, outra coisa não se esperava. “É sempre assim, vão logo com o nariz espetado. É preciso explicar tudo”, lamenta.
Já Dina Corvelo, vizinha de banca e de bairro, tem mais paciência com quem vem de fora. “Eles não fazem mal a ninguém, coitados”, admite, mesmo que tenha já perdido à vontade de vir à janela de casa. “A rua é estreita e à frente tenho um prédio alugado a turistas. O que é que acontece? Todos os dias é gente nova, uma pessoa nem se habitua às caras”. Mas não é por isso que não tenta uma aproximação. “Olhe, outro dia até atirei para a janela da frente um paninho feito por mim em croché. A rapariga, que me parecia chinesa, perguntou-me quanto era e eu só disse: não é nada, leva para a tua terra. Não sei se ela percebeu”.
Os turistas acabaram por dar outra cor, outra língua e outros costumes às janelas de Alfama, que neste bairro nunca se habituaram a estar fechadas. “Mas olhe que agora vejo-me obrigada a fechar mesmo, sabe?”. Ana Cunha já deu por si a ser fotografada só por estar a estender roupa. “Eu não percebo a admiração. Ou eles têm todos máquinas de secar em casa, ou então não sei qual é a piada disto”, confessa.
Assim por alto, “mas à confiança”, Ana arrisca em 70% de turistas, face a uns 30% que já não chegam para fazer de Alfama o bairro onde cresceu. “Quase que me sinto num jardim zoológico. Eles acham piada até quando venho apanhar as cuecas da corda de estender ou estou a varrer a rua em frente a minha casa”, conta.
Tivéssemos nós tempo e Ana não tivesse à espera uma travessa de sardinhas para assar e a lista de queixas continuava, até porque à sua volta reuniu-se um grupo de apoio, que vai lançando para a conversa mais histórias de vizinhos expulsos de casa e filhos que não têm dinheiro para voltar a viver no bairro onde nasceram.
Despedimo-nos com desejos de uma boa noite de negócio e de festa para quem tem no mês de junho o ganha pão para o resto do ano. Voltamos atrás, de bloco na mão, porque ficou a faltar perguntar à Ana, qual a sua idade e profissão. “Tenho 29 anos e faço limpezas em casas do bairro alugadas a turistas”. Pois.
O turismo é umas maiores fontes de rendimento que Portugal tem. Concordo em absoluto que os turistas têm que ser controlados para garantir que os mesmos se comportam e não têm comportamentos maus, especialmente quando estão com as bebedeiras. No entanto, chamar ao turismo de invasão é absolutamente ridículo, sem turismo Portugal era muito mais pobre daquilo que actualmente é. Usem o cérebro a tratar dos assuntos importantes por favor, Portugal é altamente dependente do turismo e com isso não se pode brincar.
Isto é capaz de encaixar aqui: não é que antes nunca me tinha apercebido, presencialmente, do ódio que muitos nativos portugueses nutrem pelos emigrantes portugueses que, e agora vou servir-me do vocabulário dos nativos visados que tive oportunidade de escutar recentemente, “invadem Portugal e destroem as estradas com os seus carros lá de fora e ocupam todos os lugares de estacionamento”?
Os choques culturais são naturais, e devem ser abordados como tal. Não podemos simplesmente considerar que essa “resistência” é analfabeta\ignorante. Temos que tentar compreender essas perspectivas e responder a esses problemas tentando suavizar os impactos até existir uma integração, equilíbrio.
Quanto ao mercado de arrendamento de longa duração teve imensas mudanças de facto. No Grande Porto, tinha um apartamento alugado perto da Casa da Musica por 500 euros, óptimas condições, até que não houve continuidade ao contrato e me foi proposta outra solução, pelo mesmo preço, noutra zona, perto de cedofeita…até aí tudo bem, não fosse aquilo uma espelunca. O que se pagava para se viver em condições médias no centro do Porto, paga-se agora para se viver em condições médias em Rio Tinto, Gondomar…etc etc etc. Zonas periféricas. Claro que isto vai desagradar muito boa gente, principalmente quem trabalha no centro e tinha boas soluções antigamente. É uma questão de adaptação também, promoveu a recuperação de muitos prédios em condições de merda, revitalizou parte da noite no centro e até parte da pequena economia que ainda vai subsistindo por lá. É tudo uma questão de adaptação e reequilíbrio, não se pode é esperar que isso se faça do dia para a noite sem as naturais resistências. O atendimento ao “português” é cada vez pior, já sabem que não vão receber aquela grande gorjeta (ou qualquer gorjeta já agora) e isto multiplicando-se pode criar situações de absoluto desconforto.
Os portugueses que conheço que não gostam dos portugueses que “vêm lá de fora” nutrem esse “ódio” pelos célebres avecs que vão a Portugal para falar francês e passear o rent-a-car. Não acho que isso se aplique a todos os emigrantes.
Nas últimas semanas tem-se visto um ataque sucessivo ao turismos e, em especial, ao turista em Portugal. Deixa-me desgostoso que assim seja. Apesar de ser uma fonte de rendimento extremamente volátil, é uma das maiores fontes de rendimento do Estado português e há que saber tirar partido da mesma.
Acrescento ainda que o problema não está no aumento massificado do turismo. Está na inacção do poder político e legislativo português que ainda não perceberam como reagir a este aumento desmesurado do turismo - digo desmesurado, porque isto nos últimos 3 ou 4 anos tem crescido exponencialmente, uma vez que Portugal se está a tornar um país extremamente célebre.
Ora disseste tudo.
Primeiro chega cá e acham que o tuga não sabe identificar esses tristes, só porque vêm a falar francês.
Depois de cair a mascara do “sou francês”, em bom português criticam Portugal e os portugueses, e a França e os franceses é que são bons.
Após deixarem isso claro chamam-te de pobretanas e o c******, quando passam o ano inteiro fechados em casa a amealhar todos os tostões, para chegarem a Portugal e darem uma de ricaços.
E depois têm carros alugados, que têm que dar nas vistas, e não podem estacionar de outra maneira a não ser ocupando dois lugares na maior (ainda ontem tive para f**** o carro a um, mas lá chegou a tempo de tirar o carro), não vá alguém dar um toquezinho e lá se tenha de ir a aparência de rico.
Depois a única coisa que te sabem dizer, é “olha tenho o novo iphone 253 xpto, paguei 1000€, coisa pouca, sabes que um gajo lá fora ganha fortunas”, “este bmw aqui em portugal estava a 40k€ e nos quintos comprei um deste ano por 20k€ carro para a vida” e vais a ver tá todo f***** e vêm cá buscar peças por ser mais barato.
Metem me nojo, mas nojo mesmo, mentem com todos os dentes, quando dizem que é fixe e tal. O c****** que é fixe!!!
Longe dos amigos, tesos como um carapau, materialistas porque só isso os permite afastar da tristeza.
Tornam-se ocos, vazios, completamente diferentes de quando foram para lá!
Se há coisa que me irrita é isso.
E só te digo mais uma coisa, todos os meus amigos que foram e eram assim, já só querem é voltar!!!
Porque coisas não te dão aquilo que uma pessoa em Portugal mais aprende a valorizar, que é a família, os amigos, aquele copo no fim de jantar, aquele bilharzinho, enquanto se fumam uns cigarros e se mandam umas c*********.
Isto pode ser o país mais corrupto, mais f*****, mais pobre que pode haver, mas nunca no resto do mundo se vai encontrar um canto como o nosso, e por muitos defeitos que tenhamos, “calor”, ternura e educação nunca nos faltou, se bem que agora a malta, com a mania de imitar os estrangeiros, começa a perder muito isso.
Portugal está a “perder” portugueses, e a “ganhar” estrangeirices, e isso é que nos f***!!!
Mas todo e qualquer emigra é assim, pois cede ao materialismo lá de fora e vem uma pessoa completamente diferente.
Aqui dizem não há trabalho…
Não querem é trabalhar pelo ordenado mínimo e ir subindo!
“Aqui não se faz nada com o que se ganha”, eu e os meus amigos daqui ganhamos pouco, mas chega para tudo, se não vivermos para mostrar que temos mais que os outros!!
Podemos não ter um BMW XPTO, mas temos um carro que tem 4 rodas e anda para todo lado como um BMW por menos, e como não podemos andar a 300 km/h podemos ter senso e escolher um carro que possamos suportar com o nosso ordenado, enquanto dividimos a renda, ou com os pais, ou com amigos.
E ainda sobra dinheiro para cafe, tabaco, um jantarzinho fora com a cachopa/pais/malta.
Pomos o que sobra de lado e chegamos ao fim do mês sem tusto no bolso, mas vivemos como podemos e aproveitamos o que conseguimos, não andamos de cu apertado o ano todo para sermos ricos durante 1 mês.
Isso é uma generalização e pêras. O que não falta em Portugal são pessoas materialistas - e cada vez mais. Estamos carregados de indivíduos que passam a vida a ostentar o que têm sem capacidade para o ter: compram o belo do BMW, mas depois não têm dinheiro para as coisas de casa; compram uma casa, mas não têm dinheiro para os móveis.
Os avecs não são mais do que uma expressão do próprio povo que deixaram para trás. Tal como há muitos portugueses materialistas que emigraram e agora regressam no Verão para ostentar, também há muitos portugueses materialistas que não emigraram e andam a ostentar o ano todo.
O que me causa admiração é existir quem se sinta profundamente incomodado com isso. O que mais me estou a ■■■■■ é se o gajo que vem 15 dias de França traz um Mercedes ou um Peugeot ou se o carro dele é alugado ou é de facto dele. Por mim, tanto quanto sei, até pode andar num carro como o dos flinstones, isso não contribui mais nem menos para a minha felicidade.
O gajo diz mal de Portugal? Eu também. Aliás, grande parte dos portugueses passa a vida a denegrir o país. Ele goza com os portugueses? Eu também. Tal qual gozo com os avecs que vêm para cá no Verão.
No final do dia o que interessa é que ele cá tenha deixado uns €€€€€ todos. Aliás, idealmente que andem a chular o Estado deles para depois virem cá deixar os €€€€€ que chularam.
Quanto aos que não sabem estacionar, chamem a polícia.
Vou por partes, generalização volta a ler e verás que se calhar nem é tão geral quanto isso.
1º Bold- estrangeirices.
Se fores ver pelos mais velhos eles vivem como? vão ao tasco de bicicleta, bebem o seu copo/garrafa de vinho, e vêm de bicicleta embora.
Os mais velhos conseguiram, mas a malta mais nova não consegue viver com as suas possibilidades porque foi uma estrangeirice que se importou.
Vai falar com os mais velhotes, a minha avó(que Deus a tenha) sempre me disse que no tempo dela não havia ostentações, trabalhava-se para comer e para a casa, e pouco mais, mas de onde comiam 2 ou 3, comiam 10 ou 20, chegava para todos, e tinha de chegar para tudo, não podias comprar fazias, estava estragado reparavas, e por aí fora… a malta de hoje é que não se dá a esse trabalho porque leva algum tempo (são impacientes, coisa que os antigos não eram).
Esses costumes foram importados, não serve, está estragado, “bota fora”!
E isto perpetuou-se.
2º -parte imediatamente abaixo do primeiro bold:
Não te causa comichão porque não tens de estar incessantemente a levar com eles, senão provavelmente não dirias isso, e fico me por aqui para não fazer mais “generalizações”.
Se têm altos carros e BM’s, é como dizes também, não me causa comichão se são deles ou alugados, o que me causa comichão é pensarem que por isso, são superiores aos outros e tudo podem.
Dizes mal de Portugal(quem cá está sabe sempre melhor o que se passa), mas e o que fazes para melhorar? a primeira alteração que se podia fazer é ao nosso comodismo, ao “se não faço, o outro há-de fazer”.
No sitio onde trabalho, quando cheguei era assim. Agora passados 3 meses a levarem comigo a reclamar, mudou-se, e a situação melhorou imenso, desde o trabalho em si, ao relacionamento entre os colegas, e não foi preciso muita coisa, bastou a gerente fazer aquilo para que lhe pagam!
3º ultimo bold
Vives numa zona com muitos? é que parece que não… Senão perdias a conta as chamadas para a policia em que eles te dizem que já vão e nunca chegam, que têm o reboque ocupado com outra ocorrência.
Perdias a conta ao dinheiro gasto para não acontecer nada, e não é porque não querem, mas sim porque não podem.
Generalizar, se calhar até sou injusto com 1 ou outro, mas 90% deles são assim.
E perdias a paciência com os mesmos, já cheguei ao ponto de ter de arrancar um retrovisor fora à marretada, porque o avô do meu tio queria sair de casa e durante o dia chamou-se policia e o diabo a 7 e nicles, e para ele sair por causa da idade tinha de ter espaço mais que o mínimo para um jovem magrinho, só para ele poder ir dar a voltinha (só à noite!), o gajo ainda veio pedir satisfações(admira-te, estava numa casa uns passos mais ao lado), e levou uns valentes calduços antes de se pirar de onde nunca deveria ter estado em primeiro lugar, e admire-se ainda ameaçou com a policia mas só não levou com chumbeira no cu porque o meu tio lá se acalmou.
Isto não é generalizar, pode haver quem se safe, mas repito 90% ou mais são assim.
Se não achas ou não passas por “n” situações destas, tens sorte, muita sorte!
Não foi nenhuma estrangeirice, foi uma evolução da mentalidade, do aumento do poder de compra e de uma alteração da perceção.
Felizmente não vivo numa época em que tenho de partilhar um carapau com mais 2 ou 3 pessoas. Posso comer 2 ou 3 e ficar satisfeito.
Isto não é negativo, é, pura e simplesmente, evolução. Acrescento eu: estou muito satisfeito com essa evolução; felizmente não tive de conviver com esse tempo de escassez e pobreza extrema com que tiveram de conviver os meus pais e avós!
Posso dizer-te que, maioritariamente, divido o meu tempo entre duas zonas de Portugal: Leiria, de onde sou natural, tendo residido numa vila costeira de Leiria até à minha maioridade; depois disso, mudei-me para Lisboa para estudar onde ainda estou – a trabalhar.
Ainda visito regularmente a zona de Leiria e posso dizer-te que na primeira quinzena de Agosto, na tal vila costeira, a população, no mínimo, duplica. Por outro lado, resido em Lisboa, o que significa que levo constantemente com os turistas. Ou seja, conheço as duas realidades: a dos emigrantes e a dos turistas.
Quanto ao dizer mal de Portugal, sim, digo. Em especial digo mal da população portuguesa. Acrescento ainda que faço o que acho que devo fazer quando tenho de fazer.
Como te disse, sim, vivo numa zona com muitos. Mais do que viver com muitos, tenho muitos na família. Posso dizer-te que o meu pai tem 3 irmãs, estiveram/estão as 3 emigradas em França. A minha mãe tem 2 irmãos, está um emigrado na Alemanha/Brasil. A minha namorada é natural da Suíça, os pais emigraram para lá e regressaram. A tia dela continua lá.
Destes, ninguém anda cá a ostentar coisa nenhuma. Vivem com o que tem e, com isso, fazem o melhor que podem dentro das limitações deles. Quando vêm cá são tão simpáticos como qualquer português. Sim, às vezes saem-se com francesismos, o que é normal uma vez que falam francês durante 11 meses por ano – bem, nem todos, há alguns que falam alemão. Poderia estar a defender familiares, mas nem sequer é o caso, uma vez que não me dou particularmente bem com nenhum.
E sim, também conheço uns quantos que vêm cá mostrar o seu Ford Mustang que só conduzem em Portugal. Da mesma maneira que conheço os que trabalham 16 horas por dia e vêm cá a Portugal e gastam o dinheiro todo que pouparam.
Não me causa qualquer confusão. Porquê? Porque não quero saber. O que não faltam por aí são portugueses mal educados, maus condutores, que deixam o carro mal estacionado, que dizem mal do país que contribuem negativamente para a situação em que o país se encontra, etc.
E sim, passo por situações destas. Mas tanto passo por situações destas com emigrantes, como passo com os portugueses que estão cá todo o ano. Da mesma maneira que tanto vejo um emigrante a ostentar, como vejo um português a ostentar.
Sim aqui achas que não é estrangeirice e percebo.
Mas a evolução não foi tão boa quanto isso, mas também temos opiniões diferentes sobre o assunto e percebo e respeito, embora não concorde na totalidade.
Contra isso nada contra, mais uma vez pessoas diferentes, opiniões diferentes :great:
O que discuto aqui contigo não é a ostentação, é a maioria das acções de quem encontro(derivadas da mesma), lido e, na maior parte das vezes, infelizmente me cruzo.
Também tenho familiares emigrantes, tenho inclusive pessoas queridas da minha família que estão à mais tempo noutro país que em Portugal, e fora uma ou outra situação nunca recorrem a estrangeirismos, só se não se recordarem do termo em português que ás vezes nem existe. E acredita que estão pelos 4 cantos desde a Austrália até ao Canadá(a minha familia é grande como o caraças ;D).
O que discuto aqui é que, infelizmente, a maior parte das pessoas emigras que tenho a infelicidade de me cruzar são horríveis… para não dizer mais.
Aqui no norte tem-se assistido a uma melhoria em relação aos portugueses, embora a malta nova destoe um bocado dessa evolução.
As pessoas foram ganhando vergonha, mas há sempre aquele desenvergonhado.
Mas na maior parte a merda que há é nesta época do ano.
Como disse e mantenho, metem me nojo.
Não concebo, a ideia sequer de fazer igual, mas isso tem a haver um pouco da maneira como fomos criados, em miudo e enquanto tive os meus avós vivos e de boa saúde, aprendi muito com eles, e se calhar por isso me faz comichão.
Aprendi a ficar contente com pouco, aprendi que não preciso de muito na vida.
Á certas coisas que podia abdicar, mas não o faço, mas também é um processo evolutivo como tudo na vida.
P.s: Também sou duma zona costeira, das melhores de Portugal :D, mas continuo, os emigras conseguem ser piores que turistas, mas são opiniões, cada um com a sua