No fundo, são questões cíclicas ou sazonais, relativamente aos emigrantes e turistas.
Mas concordo que não são só eles que ostentam, não é preciso eles virem para cá para lidar com alguns problemas semelhantes todo o ano, mesmo que eles os acentuem ou desequilibrem bastante.
Quantas “largueironas” a estacionar os seus popós? Quantas “vaidosas” de andar com a carrinha Mercedes do namorado ou na Vito do compadre? Algumas nem dos filhos querem saber, para andar na boa vai ela a mostrar o pernil e estar na curtição. Não são só os turistas. O que não falta são pessoas fúteis que vivem das aparências, porque são vazias de conteúdo ou se comportam com arrogância e sobranceria vãs, ou como autómatos da moda.
Este topico dava pano para mangas, mas vou referir apenas um aspecto: o assassinato do mercado de arrendamento.
O fenomeno Airbnb tem implicacoes profundas no funcionamento normal das sociedades citadinas. Vou usar um exemplo referente a Praga.
Praga e’ uma cidade que tem turismo todo o ano, por isso e’ especialmente apetecivel para o negocio do alojamento privado. Um amigo meu gere um negocio de 27 apartamentos adquiridos no espaco de 3 anos por um ricalhaco chines apenas para o arrendamento Airbnb. Grande parte desses apartamentos estava no mercado de arrendamento a longo prazo. Um outro russo que conheco tem 9 apartamentos e continua a aumentar o patrimonio. O negocio e’ o mesmo.
Resultado? O eclipse substancial de grande parte das ofertas de arrendamento a longo prazo, com o subsequente aumento medio de 200 a 300 euros das rendas. Ou seja, pelo preco que se alugava um T2 ha 5 anos, agora aluga-se apenas um estudio. (dos poucos que ainda restam no mercado).
Outro aspecto que o meu amigo refere, tem a ver com o uso dos apartamentos. Segundo o pessoal que faz a limpeza dos mesmos, normalmente encontram caixas de pizzas congeladas ou pacotes de noodles. Os produtos sao sempre dos mais baratos que existem nos supermercados. Isto indicia que o Airbnb tornou as viagens ainda mais acessiveis, mas or orcamento para o resto e’ extremamente limitado, contribuindo pouco para a economia local.
Em resumo: algumas cidades turisticas estao a transformar-se em plataformas giratorias de visitantes, perdendo populacoes fixas. Isto e’ grave e precisa de ser invertido. Fenomenos como o Airbnb precisam de ser fortemente regulamentados e limitados na sua extensao. Como fazer isso? Tenho algumas ideias, mas ficam para uma outra discussao.
As cidades, sobretudo as grandes cidades, estão pensadas para determinado número de habitantes e conseguem ir adaptando-se aos aumentos que fomos vendo, aposta em apartamentos foi uma forma de dar resposta ao aumento de habitantes que fomos registando. O Turismo aumenta em muito o número de pessoas a circular, a dormitar, a consumir, a visitar os espaços que temos disponíveis e de um dia para o outro. Ora, as entidades oficiais enfrentam problemas a este nível, pois, exige-se uma acção rápida, coordenada e estratégia para lidar com o fenómeno. A Airbnb chegou cá, lançou o seu produto e foi uma correria ao mesmo, sem qualquer regulamentação, sem qualquer controlo, algo que só agora começa a existir e, mesmo assim, é tudo ainda muito confuso e cheio de situações pouco claras. Mas, o arrendamento é apenas um dos problemas, há muitos outros. Os transportes públicos. O aumento substancial de visitas ao património. O maior consumo de produtos por um mercado que é suposto terem maior poder de comprar, o que é falso, mas aumentando a procura, se a oferta demorar adaptar-se, os preços aumentam logo. A formação das pessoas. A língua. Cuidados de saúde. Enfim, um infindável mundo de situações que é necessário ir dando resposta, de forma a controlar o fluxo turístico e poder tornar o destino de qualidade, mas também garantir a qualidade de vida dos seus habitantes.
Obrigado @JSabino, já o tinha abordado. Esse é um problema real e preocupante.
Outro são os hotéis e todos os tipos de alojamento do género a nascerem como cogumelos, uma bolha prestes a rebentar.
E por falar em rebentar, basta que ocorra por cá uma das tragédias modernas e o boom turístico vai pelo cano, e no fim sobram uma infindável quantidade de elefantes brancos.
Ninguém está contra o turismo, mas há que pensar bem o que se anda a fazer. Infelizmente ninguém o faz e no fim, vêm todos dizer que tinham avisado.
Nao tinha lido as paginas iniciais. De qualquer forma, esta e’ apenas uma faceta do problema. Quando referes os hoteis, lembro-me logo da epidemia de hostels que afecta Praga. Um deles, de franchising alemao, comprou mesmo um edificio de 30 andares da era comunista, tal a procura que tem (e nem sequer fica perto do centro). Sao unidades hoteleiras atras de unidades hoteleiras, muitas delas em edificios que antes eram residenciais.
Outras duas notas nao relacionadas:
Praga recentemente teve de proibir a utilizacao de segways em grande parte da cidade. Isto porque eram tantas as empresas a explora-los, que se tornava um perigo caminhar nos passeios, nomeadamente no centro. Varios acidentes resultaram na proibicao.
A falta de habitacao em Praga leva muitas pessoas a ter de viver em localidades perifericas. O resultado e’ que as entradas de Praga estao todas entupidas de manha e o excelente servico de transportes publicos da cidade perde eficiencia e utilidade. Outra das consequencias sao os dias de smog que agora acontecem com alguma regularidade, devido ao uso de automoveis pelas pessoas que se deslocam para o trabalho.
O turismo civilizado e economicamente vantajoso? Sim
O turismo selvagem e desproporcionado? Nao.
Em Lisboa também já se assiste à necessidade de recorrer a zonas periféricas para habitação. Tal fenómeno já era visível há alguns anos, mas nos últimos tempos tem conhecido maior expressividade. O trânsito entupido nas entradas também se vai notando, com a agravante dos transportes públicos, cujo serviço está cada vez mais degradado.
Uma das coisas que não percebo em Lisboa é a aparente falta de vontade em expandir e melhorar os serviços de transporte. Utilizo regularmente metro, carris e CP e o serviço tem vindo a decrescer de qualidade de ano para ano. Aliás, o decréscimo de qualidade é inversamente proporcional ao preço, que tem aumentado bastante.
É verdade que nos últimos tempos a rede de metropolitano tem conhecido uma expansão, designadamente com a ligação ao Aeroporto e à Reboleira. Mas com a migração para as periferias fazia todo o sentido levar a expansão do metro mais além, designadamente a linha amarela que depois de Odivelas tem Loures, uma zona com algum potencial de construção. Da mesma maneira que fazia sentido ter nestas zonas periféricas parques de estacionamento grandes o suficiente para albergar uma imensidão de veículos. Não têm. Têm alguns parques de estacionamento os quais ficam rapidamente lotados.
Não me parece que exista, de momento, uma atitude preventiva. O que, acrescente-se, não espanta, uma vez que o português é, tendencialmente, reactivo.
Os políticos é que são reactivos , só eles têm o poder para mudar as coisas , mas eles só se preocupam em manter o tacho nas próximas eleições , as previsões deles se as têm só embarcam ciclos eleitorais.
Por muito que compreenda os receios com o aumento explosivo de turistas, penso que haverá que reflectir bem e não entrar por caminhos de intervenção estatal ou municipal precipitados que normalmente levam apenas a aumento da carga fiscal e burocratização dos negócios sem qualquer vantagem significativa.
Há que distinguir o problema de acesso a habitação a preços razoáveis da questão do turismo. Tirando os centros históricos, a falta de oferta de habitação para arrendamento não tem nada a ver com o turismo. O problema da falta de oferta no mercado de arrendamento já vem de trás e tem a ver essencialmente com a ineficácia da justiça (vamos sempre dar ao mesmo …) e com a voracidade da política fiscal.
Há também que ter em conta que, nos referidos centros históricos, só há oferta de habitação porque houve investimento nos últimos anos, e este só ocorreu por causa da oferta turística. Caso contrário continuariam ao abandono como dantes.
Não podemos nem devemos proibir estrangeiros de virem cá quantas vezes quiserem e não se resolve o problema da habitação através do condicionamento de investimentos ou aumento da carga fiscal sobre o arrendamento temporário.
Deixem o investimento continuar, baixem a tributação das rendas e aumentem a eficácia da justiça. Se assim fizerem, aposto que logo surgirá uma oferta sustentada de habitação a preços de mercado.
Na minha opinião o problema vai muito para além disso. É certo que o turismo contribui, mas o facto de termos cada vez mais um país assimétrico potencia isso cada vez mais.
Todos nós percebemos que Lisboa precisa de turismo, e que o turismo gera dinheiro para as empresas e emprego para as pessoas. No entanto, o aumento do turismo, trouxe duas coisas, um aumento da necessidade hoteleira em Lisboa e um aumento da procura de habitações por parte de estrangeiros para fazer dinheiro tanto na hotelaria, como restauração das habitações e revenda. Este na minha opinião é um problema menor.
O problema maior está assimetria cada vez maior do país. Lisboa como capital portuguesa, sempre teve a maioria das ofertas de trabalho e da média salarial mais elevada do país.
Mas nos últimos 10/15 anos isso tem vindo a agravar-se cada vez mais irreversivelmente, pois cada vez mais jovens abandonaram cidades históricas como o Porto, Braga, Coimbra, Évora para virem trabalhar para a capital. Tal como muitas empresas e serviços públicos deslocalizaram para Lisboa.
Aliado a este problema, vem o facto destes jovens cada vez juntarem-se com outra pessoa cada vez mais tarde ou não se juntarem sequer.
Tudo isto fez com que a média de pessoas por habitação tenha sido reduzida substancialmente.
É este o verdadeiro problema, o número de habitações em Lisboa não estar a acompanhar a média de pessoas por habitação. Isto é uma tendência que vem já desde os anos 70, mas tem vindo a agravar-se substancialmente desde o inicio do século.
Daí, que na minha opinião tanto a CML como o governo estão a fazer um trabalho muito mau na resolução deste problema, para o qual existem soluções. Que têm que passar por :
Aumentar o número de licenças para a construção por forma a serem construidas muito mais habitações e aumentar o número de andares nessas habitações. ( Por raio é que areas entre Sta Apolonia, Olaias, Chelas, Olivais estão praticamente ao abandono. Só nessa área daria para construir habitações para umas 100000 pessoas )
Aumentar os impostos sobre o turismo e canalizar esse dinheiro, para a ampliação da rede de transportes entre Lisboa e os concelhos vizinhos. Transportes de 30m em 30m não é efeciente de todo e leva a que as pessoas prefiram viver em Lisboa que em concelhos vizinhos.
Acabar com os apoios sociais tanto em relação ao arrendamento, como em relação aos juros bancários, como em relação ao IMI. O dinheiro gerado por esta poupança teria que ser canalizado para mais uma vez para o licenciamento de novas urbanizações e infrastruturas de apoio nessas urbanizações.
Retirar gradualmente serviços públicos não essenciais da capital. Falo sobretudo de ministérios, de sedes de policia/força armadas, de direcções gerais, de gabinetes de desenvolvimento, de gabinetes de bases de dados, etc…
Mais uma vez, penso que é um problema politico que tarda em acompanhar as mudanças da sociedade. Faz-se politica com quase 100 anos, para uma sociedade muito moderna.
P.S. Ando à procura de casa para arrendar há 6 meses e tudo o que encontro com nível decente é por valores superiores ao ordenado médio de Lisboa, de 850€.
Turismofobia, a reação das cidades de aluguel
O turismo deixou de ser uma atividade incontestável. Na Espanha, turistas se transformaram em incômodas espécies invasoras ‘culpadas’ pelos preços abusivos