[b]O homem que libertou o iPhone.
Com o «software» ZiPhone, um «hacker» italiano desfez o código imposto pela Apple. Doravante, cada um é livre utilizar o seu telemóvel da maneira que entender[/b].
O seu verdadeiro nome é Piergiorgio, mas na Internet todos o conhecem por Zibri. Este «hacker» italiano conseguiu tirar o sono (e um monte de dólares) ao proprietário da Apple, Steve Jobs. O seu «software» ZiPhone, cuja transferência gratuita é possível a partir do «site» ziphone.org, permite desbloquear em quatro minutos o iPhone, o telemóvel da famosa marca da maçã, que serve também o iPod e que foi qualificado em 2007, como «objecto do ano» pela revista americana «Time».
Antes do «software» de Zibri, o iPhone não podia ser utilizado a não ser pelos operadores com que a Apple tivesse assinado um acordo bastante chorudo (dez por cento dos rendimentos do tráfego). Doravante, o «software» descarregado por 4,2 milhões de pessoas, segundo Zibri, permite utilizar o aparelho em qualquer operador.
Zibri conseguiu pôr em xeque a Apple e os operadores do mundo inteiro, a partir do seu apartamento em Roma e de um computador com três anos. Ao vê-lo, é o oposto do estereótipo do «hackers». Não é um jovem de «T-shirt» com capuz, mas um homem de 37 anos, vestido de forma clássica. «Sou teimoso. Nunca baixo os olhos, nada me pára e vou direito ao objectivo», desabafa. Apresenta-se como «perito em segurança informática e criador de sistemas informáticos».
Zibri trabalhou para várias grandes empresas, das quais não tenciona revelar os nomes. Em criança, «em vez ir brincar com os amigos, passava horas no centro de investigações nucleares de Casaccia, perto de Roma, onde trabalhava o meu pai», prossegue. Zibri assemelha-se vagamente ao jogador de futebol Mauro German Camoranesi, da Juventus de Turim, mas não gosta de bola. Fala em voz baixa, com um débito mais rápido do que o normal.
Os olhos brilham-lhe quando lhe perguntam porque violou a protecção do iPhone. «Comprei um nos Estados Unidos e queria utilizá-lo em Itália. Considerei aquilo um desafio e o facto de estar bloqueado levou-me a fazer um pouco de retroengenharia, ou seja, estudar a concepção para determinar o funcionamento interno e o método de fabrico. Levou-me três meses de trabalho, dia e noite; tornou-se uma questão pessoal. Até que um dia, consegui extrair de um dos ‘chips’ a chave que permitia desbloquear o iPhone», recorda. A descoberta permitiu-lhe não apenas contornar o «simlock» (o bloqueio introduzido pelo operador), mas também abrir o iPhone a milhares de personalizações.»
«O iPhone de série é vendido com apenas 13 pequenas aplicações», explica Zibri. «Permite ir ao YouTube, ao GoogleMaps, enviar ‘sms’, usar o correio electrónico ou tirar fotografias. São programas úteis e bem concebidos, mas nada mais. Num iPhone desbloqueado, pode-se instalar tudo o que se quiser. E há já milhares de aplicações em circulação. Decidi desbloquear o iPhone, porque queria torná-lo livre», prossegue o «hacker» italiano.
A iniciativa de Zibri é ainda mais surpreendente quando se conhece o seu percurso de informático autodidacta. «Como Steve Jobs, fui adoptado quando era muito pequeno e, como ele, não andei na universidade», acrescenta. Falando de Jobs, a sua proeza trouxe-lhe problemas com a Apple? «Nada. Ninguém me telefonou, sobretudo advogados. De qualquer modo, não fiz nada ilegal. O meu ‘software’ é gratuito e aberto e o código está disponível para todos os que o queiram melhorar. Depois, o que querem que a Apple me diga? Venderam 4,7 milhões de iPhones e o meu ‘software’ foi transferido por 4,2 milhões de pessoas. Isso quer dizer que a maior parte dos que o compraram me dá razão. Todos querem um portátil aberto e livre».
O que protege Zibri é uma subtileza jurídica. O Digital Millennium Copyright Act, uma lei americana de 1998 que proíbe a produção e divulgação de tecnologias que violem aparelhos protegidos por direitos de propriedade intelectual, prevê apenas uma excepção… os telemóveis. «O seu bloqueio é considerado como uma operação comercial contra os clientes», recorda. Em 2001, a União Europeia adoptou uma lei semelhante.
Jobs ganha dinheiro vendendo computadores e iPods, mas também com a música do «site» iTunes. «Uma estratégia que tentou repetir com o iPhone, exigindo uma percentagem sobre as chamadas feitas». Desta vez, porém, a comunidade dos fãs da Apple voltou-se contra ele. E a empresa, um pouco como aconteceu várias vezes com a Microsoft, entrou na mira dos que sonham com um mundo sem monopólios. Do que acusa Jobs? «De nada. Não tenho nada contra a Apple e, se fosse o Jobs, teria feito provavelmente o mesmo, mas eu tenho outro ponto de vista porque não produzo tecnologia. Sou apenas um utilizador e quero poder fazer o que me agrada com o que compro. Não quero fazer unicamente o que os outros decidirem por mim. É um pouco como se comprasse um Ferrari, mas só pudesse circular em algumas estradas. Absurdo».
in Revista Panorama Milão
Autor: Guido Castellano