Não sei se é por ter andado a ver jogos internacionais ou demasiado futebol de má qualidade nos últimos tempos. Mas sinto que falta qualquer coisa nos momentos que antecedem os jogos do Sporting. Algo que acalme os nervos, que congregue energia de todos, que instile coragem e responsabilidade nos nossos e arrepie os cabelos dos adversários. Falta um verdadeiro hino do Sporting para ser tocado e cantado por todos – do adepto ao massagista - antes dos jogos, quando as equipas se alinham. Um bom hino dá aquele toque de ocasião especial. Não é por acaso que a UEFA criou um hino para a sua maior competição - pode ser a letra mais estúpida da história, mas funciona!
Já se fez um sem número de tentativas de um hino mas nunca nenhuma pegou. O “Viva o Sporting” de Maria José Valério tem um significado afectivo e foi talvez o mais popular desde que vou Alvalade, mas tem um ar demasiado “marcheiro” para ser levado a sério tanto por nós como pelos adversários. O “Alvalade XXI” (que tocou nos dois primeiros anos do novo estádio) depende demasiado de produção em estúdio e tem uma letra incompreensível. A música do centenário “Fogo do Leão” não é má. Mas a letra é ainda demasiado comprida. O “Só eu sei”, “És a nossa fé” e o “Até morrer” são excelentes, mas são cânticos para durante o jogo, não hinos.
Por isso decidi lançar a minha proposta. A primeira coisa a fazer era clarificar os requisitos do que seria um bom hino.
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Tem de ter uma poética muito simples. Letras complicadas e adjectivos gongóricos são difíceis de decorar e fazem-nos sentir ridículos quando estamos a cantar.
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Tem de conter alusões à história do clube – grandes momentos ou atletas exemplares – para criar a sensação de que estamos a convocar algo de muito, muito profundo.
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Tem que aludir a um adversário em concreto. Todos os grandes hinos o fazem: a Marselhesa aos inimigos da Revolução, a Internacional aos Senhores. Até a Portuguesa era, na sua versão director’s cut, “contra os Bretões, marchar, marchar”. Visualizar um arqui-rival é a melhor maneira de focar energias.
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Tem que ter uma melodia ao mesmo tempo serena (sem ser soporífica) e determinada (sem ser histriónica) para dar a entender ao adversário que estamos dispostos a tudo mas que sabemos muito bem o que estamos a fazer.
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Tem de evitar linguagem ofensiva, senão nunca poderá congregar todos os adeptos e será sempre, por muito divertido que seja, de uma minoria e não de um estádio em peso.
Para melodia, peguei no hino não-oficial da Escócia, “Flower of Scotland”. Ao contrário da maior parte dos hinos nacionais não é uma música sinfónica ou filarmónica. É muito recente para hino - uma canção folk, dos anos 60, com um forte cunho nostálgico que foi adoptada primeiro pelos adeptos do rugby, depois pelos do futebol e finalmente pelas Federações das duas modalidades. Ouvi-la em Hampden é de ficar com pele-de-galinha.
Uma versão em Hampden com legendas
http://www.youtube.com/watch?v=ybxfZoT6VHQ#noexternalembed (gostava de ver Alvalade a cantar assim)
Mudei completamente a letra e tentei respeitar a métrica original. O resultado? Aqui está, lado a lado:
[table][tr][td]O Flower of Scotland,
When will we see
Yer like again,
That fought and died for,
Yer wee bit Hill and Glen!
And stood
Against him,
Proud Edward’s Army,
And sent him homeward,
Tae think again.
[/td]
[td]Oh, verde-e-branca
Que te vestiram
Os maiores
Travassos e Damas
Manel, Jordão, Balakov!
Que por ti
Mandaram
Os encarnados
De volta p’rá Luz
De olhos no chão
[/td][/tr]
[tr][td]Those days are past now,
And in the past
they must remain,
But we can still rise now,
And be the nation again!
That stood
Against him,
Proud Edward’s Army,
And sent him homeward,
Tae think again.
[/td]
[td]Os que jogam hoje
Acreditam que
Merecem ser
Travassos e Damas
Manel, Jordão, Balakov!
Que por ti
Mandaram
Os encarnados
De volta p’rá Luz
De olhos no chão
[/td][/tr][/table]
Experimentem encaixá-la na melodia do video do youtube. O que acham?