Vivemos no Sporting (e diria mesmo, na sociedade em geral) um ambiente propicio a posições extremadas. Quem quer que tente manter uma posição equilibrada, escutando opiniões de ambos os lados da contenda, tem dificuldades em formar uma opinião, tal a virulência dos argumentos usados por ambas as partes. A questão inevitável tem de ser colocada: estará o Sporting dividido em facções irreconciliáveis, de tal forma que uma ruptura definitiva da sua massa associativa é apenas uma questão de tempo?
Sem entrar em generalizações, usemos o exemplo especifico da próxima assembleia geral do clube, onde os sócios vão decidir a manutenção (ou não ) dos processos de suspensão da condição de associado do anterior presidente e outros sportinguistas a ele ligados. E’ espantoso verificar um muito maior apelo à participação nesta AG do que aquele que foi feito, por exemplo, para a ultima assembleia geral de aprovação do orçamento e relatório de contas. Ou seja, a uma parte substancial de sportinguistas parece interessar mais processos de defesa - ou de vingança - referentes a anteriores dirigentes do que algo fundamental para a o bom funcionamento do clube, como é o caso da aprovação do orçamento. O Sporting parece cada vez mais ser algo que fica em segundo plano, qual actor secundário que sucumbe a ódios ou paixões pessoais.
Na próxima assembleia de 15 de Dezembro corre-se o risco de se criar uma cisão mais profunda entre os adeptos do clube. Pior: corre-se o risco de se criar uma ruptura definitiva entre facções de adeptos que têm visões radicalmente opostas sobre o que é o melhor para o Sporting. Eu pertenço a uma dessas facções e reconheço que, bastas vezes, tenho asco de partilhar o clube com alguns dos adeptos que, nesta altura, apoiam a solução de poder que está no Sporting. Mas olhando para aquilo que pode ainda salvar um Sporting de verdadeira dimensão nacional, verifica-se que basta bom-senso e um par de decisões simples para estabelecer algumas pontes que permitam uma possível convivência futura:
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A actual direcção providenciar toda a informação que for requerida relativamente à AG de 23 de Junho, incluindo a leitura da acta e a aprovação da mesma;
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Cancelar de imediato todas as acções disciplinares impostas a um numero de ex-dirigentes, iniciadas pela comissão Monteiro;
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Auditar e dar conhecimento aos sócios das actividades relacionadas com a Comissão interina de gestão e a presidência da SAD, durante a pré-temporada;
Isto são passos simples, de bom-senso e promotores da transparência, que certamente pacificariam o ambiente actual e tornavam o futuro trabalho desta direcção em algo muito mais fácil de executar. Isto, partindo do principio que a actual direcção não tem nada a esconder e que tem os interesses do Sporting como algo de prioritário.
Continuar com esta autentica perseguição às bruxas, de forma implacável e cega, destruindo qualquer possibilidade de um Sporting unido num futuro próximo, é algo que nem sequer deveria ser equacionado. Ao insistir numa agenda de vingança ou mesmo, em certos sectores mais radicais, de expurgação total de quem apoia ou apoiou o anterior presidente, apenas se contribui para o fim definitivo do clube como o conhecemos.
O que está em questão é muito mais do que uma frustração passageira ou um mero arrufo oposicionista. Para muitos sócios e adeptos o que se está a fazer é literalmente matar a paixão pelo clube e a enveredar por processos de intenção que tornam esses adeptos em “objectos” estranhos ao clube que sempre amaram. Por isso, mais do que apelos de um lado e do outro para que as pessoas se mobilizem para a próxima AG, devia prevalecer o bom-senso e a referida assembleia ser cancelada, pelo simples facto de que a mesma não traz qualquer beneficio ao clube. Assim como os processos que nela vão ser discutidos.
Assim se faça algo que tem sido sucessivamente esquecido nos últimos meses: colocar os interesses do Sporting acima de quaisquer outros.