Não concordo mesmo nada que a prioridade seja o reforço da equipa com melhores defesas-laterais nesta pausa de Inverno de 2009/10. O Sporting tem um número de golos sofrido absolutamente normal para um grande e, oh espanto dos espantos, até agora são tantos quantos o Porto (11) e apenas mais dois que o Benfica (9). Se extrapolarmos para o final da época ficamos com cerca de 21, 22, 23 golos sofridos… será isto muito? Vamos ver o registo de 3 épocas passadas onde ficámos em segundo lugar:
2008/09: 20 (campeão: 18)
2007/08: 28 (campeão: 13)
2006/07: 15 (campeão: 20)
Daqui concluo eu que a nossa defesa não está a comportar-se assim tão mal e que o problema não reside na fraca qualidade dos defesas-laterais (que admito não serem grandes espingardas) nem nas dificuldades no jogo aéreo dos nossos centrais (que é decididamente um ponto fraco da nossa defesa), mas sim na dependência que o modelo de jogo implementado por Paulo Bento tinha dos defesas-laterais.
Vejamos: após a saída de Nani, Paulo Bento substituiu um meio-campo de mescla de carregadores de piano e desequilibradores por um puramente musculado, onde o ataque era feito de modo posicional, com pouca velocidade, sem rupturas pelas alas nem troca de bola a meio-campo (se o fez meramente por falta de opções à semelhança do losango forçado de Fernando Santos aquando da saída de Quaresma e Ronaldo, isso é outra questão). Esta transformação fez com que as oportunidades de golo, essas coisas actualmente contra-natura no Sporting que são absolutamente indispensáveis para se marcar golos e que decorrem da criação de desequilíbrios na equipa adversária, passassem a surgir de 2 formas apenas: ou despejando a bola para o meio dos 2 avançados (o célebre chutão) e eles que resolvessem a questão ou então fazendo avançar os defesas-laterais para criar superioridade numérica em determinados momentos e conseguir assim provocar um desequilíbrio.
É fácil perceber que para aquela última opção funcionar é preciso ter jogadores para tal, nomeadamente os defesas-laterais têm de ter excelente stamina (resistência), inteligência táctica suficiente para entrarem em velocidade num “sistema” que à partida está parado (o tal ataque posicional) e ajudarem a provocar o tal desequilíbrio e depois ainda têm de recuar para a defesa e reposicionarem-se muito mais depressa que os colegas quando o adversário recupera a bola. Se olharmos para os defesas-laterais do Sporting, acho que não é preciso ser um génio para perceber que eles não estão talhados para este modelo de jogo e que, ao não conseguir executar com mestria as funções que era suposto desempenharem, acabam por não constituir o tal extra no ataque indispensável à criação do desequilíbrio e obrigam a compensações defensivas várias por parte dos médios-ala e dos defesas-centrais para os “dobrar” vezes sem conta.
Ora bem, então se estes defesas não servem, toca a arranjar melhores defesas-laterais… :think:… mas será que é isso mesmo que queremos? Não será antes o modelo de jogo, assente na bola despejada para os avançados e/ou nos desequilíbrios causados pelos laterais, que devemos tentar alterar?
Eu não sou perito em futebol, mas confesso que não conheço grandes do futebol europeu que baseiem todo o seu jogo atacante nas duas situações atrás referidas. Em quase todas as equipas costuma haver um ou mais desequilibradores natos (os chamados criativos) que tentam fazer exactamente isso, forçando o um para um, explorando os espaços vazios, provocando rupturas fazendo uso da sua velocidade e capacidade de drible. O meio-campo costuma ser usado com frequência para a organização de jogo e como ponto de origem dos desequilíbrios e não apenas para lá estar porque sim.
No Sporting nada disso acontece. Porquê, não sei (mas suspeito)… mas não me parece normal nem sequer saudável. Porque aquilo que constato é que, ao abdicar desta forma de jogar, o Sporting oferece algum domínio de jogo ao adversário, permite que ele se posicione mais à frente, facilita-lhe o controlo e gestão das operações, do ritmo de jogo. E como a esmagadora maioria dos adversários do Sporting joga na expectativa então acabamos por lhes oferecer as condições ideais para o resultado que sempre quiseram à partida - um empate ou pelo menos um jogo com o menor número de golos possível (porque isso também tende para um empate). Mesmo quando os defesas-laterais jogam bem e a equipa funciona razoavelmente, a verdade é que o jogo é muito mais repartido e muito mais monótono, inseguro e “difícil” para o Sporting. A equipa tem de se “esforçar” muito mais para marcar golos do que é normal, tem de ser muito mais paciente e isso faz com que fique sempre a sensação que o Sporting não consegue vencer seja que adversário for de forma categórica e sem margem para dúvidas. Infelizmente, não é só sensação, essa dificuldade é tão real que os golos não acontecem e arriscamo-nos a ver qualquer erro da defesa ou golo fortuito do adversário como uma autêntica hecatombe… porque na verdade é.
Na minha opinião existem muitas outras coisas a resolver por parte de Carvalhal (a começar pela mentalidadezinha de alguns dos nossos atletas), mas no que respeita a reforços, eu estou plenamente convencido de que o treinador deveria começar por arranjá-los do meio-campo para a frente e em simultâneo encaixá-los numa filosofia em que tenham muito mais bola, em que privilegiem uma mistura de troca da mesma e duelos de um-para-um com o objectivo de criar desequilíbrios nas alas e meio-campo ofensivo. No plantel actual não temos muitos desequilibradores, os médios não têm uma boa cultura de troca de bola, de correr com ela ou sequer de assistir correctamente os avançados (porque abdicou-se dessa filosofia há imenso tempo) e os próprios homens que estão na frente já se desabituaram de se comportar como avançados e agora “caem nas alas” (essa nuance táctica fabulosa que arranjaram para desculpar a inépcia nas transições ofensivas).
Deixem lá os defesas-laterais sossegadinhos a cumprir a sua função de defesas (apesar de medianos já os vi no pleno das capacidades e são razoáveis para as nossas aspirações) e apostem tudo em nome dos golos: este Sporting para ganhar os jogos tem de marcar mais golos e para o fazer tem de criar mais oportunidades de golo. E só o vai conseguir quando diversificar as suas acções ofensivas, arranjando assim alternativas ao chutão e aos defesas-laterais que desequilibram. O Sporting tem neste momento um ataque com 15 golos. Se fizermos nova extrapolação, somos capazes de atingir cerca de 30 golos no final da temporada. Ora, 30 golos é o que faz geralmente o sexto classificado da Liga portuguesa (nos últimos 3 anos e por ordem do mais recente para omais antigo, o sexto classificado marcou: 30, 37, 31 golos). :o Portanto, se o Sporting não melhorar este índice é precisamente nesse lugar que vai terminar este ano. E daqui concluo que, não querendo que isso aconteça, o melhor que o Sporting tem a fazer é arranjar forma de melhorar o jogo ofensivo, criar mais oportunidades e fazer mais golos… dê por onde der, custe o que custar, no sentido mais literal do termo ;).
© Paracelsus 2009