Esta decisão parece-me um completo absurdo, e reforça a minha ideia de que a maior pecha do Peseiro é a sua incapacidade para gerir convenientemente o balneário.
Não tinha conhecimento, até ontem, de qualquer acordo com os jogadores para que o Tiago jogasse a taça e o Ricardo o campeonato. Admiti que a utilização do Tiago contra a Naval e o Pampilhosa se devesse apenas a uma lógica de gestão de plantel, utilizando jogadores de menor qualidade (há que não escamotear este facto) contra adversários também eles mais fracos.
Uma vez que aparentemente o acordo existe, então até consigo compreender que se levantem razões para que o Tiago jogue hoje. Não por uma questão de coerência (que considero um atributo largamente sobrevalorizado e que não raras vezes rima com casmurrice), mas apenas por um imperativo de lealdade entre o chefe e o seu subordinado.
Acontece que o facto de se constatar a existência deste acordo não resolve coisa nenhuma, apenas desloca o problema para montante. E é então que pergunto:
Cabe na cabeça de alguém, no seu perfeito juízo, fazer um acordo desta natureza?!
Será legítimo contratualizar com um jogador o interesse desportivo de toda uma equipa?!
Eu até consigo alcançar que se faça uma distribuição de tarefas deste género quando num plantel coexistam dois GR de valor muito semelhante, como sucede no benfica, ou mesmo como era o caso do Sporting pré-Ricardo, equipado com duas aventesmas igualmente más. Nestes casos até percebo. Acho mal, mas percebo.
Agora, no caso do Sporting?! O Nélson e o Tiago têm quase 10 épocas de Sporting cada um, sem nunca se terem conseguido afirmar. Só na nossa presente situação de penúria financeira e abaixamento de standards se pode explicar que qualquer deles ainda cá esteja.
O Ricardo, com as mãos atadas e os olhos vendados, continua a ser melhor que os dois juntos. Esta flagrante superioridade do Ricardo face aos outros dois é sentida aliás na própria SAD, que em tempo de vacas magras gastou 2 milhões de € para trazer um GR em condições.
O que um acordo destes significa é que a cada momento, independentemente da qualidade em abstracto ou da forma em concreto, independentemente do mérito do jogador ou das necessidades da equipa, jogará sempre o jogador pré-determinado, sem que o treinador possa fazer escolhas.
E atenção ao seguinte: este compromisso não garante só o “direito” do Tiago jogar a taça- também o Ricardo se sentirá no mesmo “direito” de jogar todos os jogos do campeonato. E então, mesmo que dê 10 frangos em cada jogo, uma vez mais o treinador estará manietado pelo compromisso.
Tudo isto é tão ridículo que me abstenho de prosseguir, constatando apenas a situação de facto que o Peseiro nos arranjou: o Sporting Clube de Portugal, já privado de pelo menos dois jogadores fulcrais e dotado de uma defesa de bradar aos céus, decide desfalcar-se a si próprio e vai a casa do seu eterno rival disputar uma eliminatória da taça deixando em casa o seu GR titular, que por sinal é também o titular da selecção nacional.
Faço votos de que tudo corra bem, que o Sporting ganhe e o Tiago defenda dez penalties. Mas se perdermos por um desentendimento entre o GR e os centrais, ou porque o Tiago se lança a um remate sem esticar os braços, como é seu hábito, cá estarei para que alguém me explique qual é exactamente o tipo de coerência pelo qual vale a pena perder com os lamps.