Quando o JEB disse que o Sporting estava a ser alvo de “actos terroristas” eu fiquei logo exaltado, porque achei que, mais uma vez, a “situação” estava a insultar gratuitamente a “oposição”. Afinal enganei-me e tenho que dar a mão à palmatória. Há mesmo terroristas infiltrados no Sporting e ainda por cima pertencentes à Al-Qaeda!
Estava eu ontem a lavar a loiça depois do jantar quando me entrou um tijolo pela janela da cozinha, estilhaçando o vidro e pregando-me um valente susto. Amarrado ao tijolo estava um envelope, que continha o texto que reproduzo abaixo, uma nota de 50 euros e um vale que me dá direito a comprar até cinco exemplares do Corão com desconto de 20% (pague 4, leve 5) em qualquer filial, sucursal ou franchising da “Al Hamid Islamic Publishers, Inc.”, aparentemente para me indemnizar dos prejuízos causados com a quebra da minha janela, e ainda um curto recado a ordenar-me que divulgasse o texto, sob pena de me acontecerem coisas desagradáveis.
Como não me lembrei de outros meios de divulgar o texto, decidi publicá-lo aqui no Fórum. Espero que seja suficiente para satisfazer a Al-Qaeda…
Al-Qaeda – Terrorismo Internacional, Lda. 3ª Caverna a Contar da Esquerda 8881-303 Tora Bora AfeganistãoExcelentíssimo Senhor J.E. Bettencourt
Presidente do Sporting Clube de PortugalEm nome de Alá, o Clemente e Misericordioso
A semana passada a nossa organização recebeu um rude golpe na sua auto-estima, desferido por V.Ex.ª. Desde há muito que nos orgulhamos da nossa capacidade de nos infiltrarmos em qualquer lugar ou em qualquer entidade sem sermos detectados. As nossas “células adormecidas” tornaram-se o terror do Ocidente infiel e conseguem permanecer em território inimigo durante anos sem levantar suspeitas, até serem chamadas a alcançar a glória do martírio.
Porém, V.Ex.ª revelou-se mais sagaz que os governos e serviços secretos da maioria dos países, incluindo os do Grande Satã (EUA) e detectou de imediato a nossa intervenção na contestação que se tem vindo a fazer sentir no seio do Sporting. Quando chegou aos nossos ouvidos que V.Ex.ª alertara para o facto do Sporting estar a ser alvo de “actos de terrorismo”, compreendemos imediatamente que se tratava de uma referência codificada aos nossos operacionais que, infiltrados, desde há muito comandam e orientam a actuação da “minoria de bloqueio”.
Os votos contrários às pretensões da Direcção em AG? Fomos nós! Os 25% que votaram no Dr. Sérgio Abrantes Mendes (aliás Mahmoud Ibn-Rashid Abd-el-Rahman)? Fomos nós! Os 10% do Paulo Pereira Cristóvão (aliás Iussuf Ben-Barek Al-Mokawloon)? Fomos nós! As tarjas da “vassourada” e outras que tais? Fomos nós! Os cânticos “Bento, ■■■■■■, pede a demissão”? Nada mais que a tradução de uma antiga maldição árabe.
E, dirá V.Ex.ª, porquê tudo isto? Porquê esta contínua intromissão nos assuntos do clube a que V.Ex.ª preside? Porque, na verdade, não podemos negar que sempre tivemos uma grande simpatia pelo Sporting. Afinal de contas o verde é a cor do Profeta (que a Oração e as Bênçãos estejam com ele) e não poderíamos ser indiferentes a isso. Para mais, não gostamos de águias, desde sempre símbolo da ditadura e da opressão, de César a Napoleão e de Hitler ao Grande Satã, e o F.C.P. tem por símbolo o próprio diabo.
Saiba V.Ex.ª que o Afeganistão pára nos dias em que o Sporting joga. Um DVD pirateado de um jogo do Sporting, mesmo da Taça da Liga, vale uma dúzia de carneiros em Spin Boldak. Um cachecol comemorativo do jogo da Liga Europa contra o Ventspils foi vendido a semana passada por três fardos de papoilas do ópio no desfiladeiro de Khyber. Devido ao nosso isolamento, tudo o que vem à rede é peixe. De vez em quando conseguimos encomendar material na loja on-line do clube, que depois é mandado para uma morada em Islamabad, de onde segue para os nossos esconderijos em caravanas de burros que atravessam o Waziristão e a fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão sob escolta de esquadrões armados de talibãs. O dia em que um dos nossos três exemplares do Almanaque do Sporting se perdeu num bombardeamento aéreo promovido pelo Grande Satã foi um dia de luto.
E por sermos adeptos do Sporting, estamos cada vez mais insatisfeitos com o rumo que o clube está a levar. V.Ex.ª está, com efeito, a testar a nossa paciência que, como deve calcular, não é infinita.
Primeiro há a questão do orçamento e das dívidas. V.Ex.ª e Direcções anteriores escudam-se no passivo para justificar a pequenez do orçamento e nesta para justificar a falta de competitividade da equipa.
Primeira pergunta: o orçamento do Belém é maior do que o do Sporting? E o do Nacional, o clube do odioso e pestilento infiel Rui Alves? E o do Braga? E o do Marítimo? E o do Guimarães? É que o Sporting já perdeu pontos contra todas estas equipas na temporada em curso. Estaremos reduzidos a tal insignificância? É certo que estamos longe de Portugal, mas até nos conseguimos ver que qualquer daquelas equipas joga com mais garra, determinação e organização do que o Sporting.
Segunda pergunta: de quem é a culpa do orçamento do Sporting ser tão pequeno? É da oposição? É nossa, da Al-Quaeda? Não! Como V.Ex.ª sabe, a mesma facção está no poder no Sporting desde 1995, sendo sucessivamente reconduzida no poder com votações esmagadoras – Santana Lopes, Roquette e Dias da Cunha eleitos sem oposição, Soares Franco eleito com 75%, V.Ex.ª eleito com 90%. E, a despeito dos nossos esforços, sempre que uma proposta é derrotada em AG acaba por ser aprovada numa segunda votação realizada uns tempos mais tarde. A verdade é esta: V.Ex.ª pertence à dinastia de cães infiéis que governam o Sporting ininterruptamente e com plenos poderes há catorze anos.
O orçamento é reduzido, o passivo é o que é, porque a linha que se perpetua no poder desde 1995 fracassou rotundamente. A sua gestão económica foi desastrosa. Os elementos que a integram não seriam capazes de gerir uma barraca de aluguer de camelos nos arrabaldes de Kabul, quanto mais um clube profissional. Deve ser por isso que V.Ex.ª diz que não quer aborrecer os sócios com números. Pudera…
Há muitos anos que V.Ex.ª e os seus antecessores andam a “vender os anéis”, como se diz aí em Portugal, prometendo aos sócios que “desta é que é”, garantindo que com este ou com aquele acto se conseguirão estabilizar as finanças do Clube. No entanto isso nunca sucede, nem com os 80 milhões que encaixámos com a venda do património não desportivo e do Nani para os lacaios do Grande Satã do Manchester United (se ainda tivesse ido para o Arsenal, que, como V.Ex.ª saberá, é o clube do nosso líder…). E o património e o dinheiro lá vão sendo sorvidos sem dó nem piedade, sem que haja melhorias na condição do Clube ou da SAD.
Sabemos que no país de V.Ex.ª a culpa costuma morrer solteira. Mas o caso do Sporting é ainda assim excepcional. V.Ex.ª e os seus antecessores devem possuir fortíssimos poderes hipnóticos, possivelmente derivados de magias pagãs, com os quais conseguem convencer a maioria dos sócios do Sporting de que está tudo bem e que podem confiar em vocês para, afinal de contas, limpar a porcaria que têm vindo a fazer há catorze anos e pela qual não existem outros responsáveis senão vós próprios.
É extraordinário que existam pessoas (ainda que se trate de infiéis) que entendem que a Direcção não tem culpa da situação actual do Sporting. Não? Então quem é que tem? Esta Direcção não foi eleita como sendo a da “continuidade”? Não se revê nas políticas das suas antecessoras? Não as subscreve? V.Ex.ª não participou pessoalmente em Direcções anteriores? Não aceitou candidatar-se como o homem da continuidade, da situação?
V.Ex.ª diz que há falta de solidariedade nos órgãos sociais, que há incompetência “a todos os níveis”. V.Ex.ª não é o presidente eleito com 90% dos votos (para grande pesar nosso)? Então faça qualquer coisa, que tem mandato para isso! Permitimo-nos um aparte: como as coisas estão pensamos que o candidato da continuidade teria sempre ganho as eleições com larga maioria, mesmo que fosse o inexplicável José Castelo Branco ou o pestilento e raivoso cão infiel Simão Sabrosa, talvez nesses casos não chegassem aos 90%, mas certamente que nunca baixariam dos 75-80%.
Pare de atirar as culpas para os outros. V.Ex.ª quando não parece um adolescente de 14 anos (“forever”? Imperialismo cultural do Grande Satã no nosso Sporting?) parece uma criancinha de três que partiu um cachimbo de água e atira as culpas para um camelo tresmalhado. A culpa não é da oposição. A oposição não manda nada no Sporting há 14 anos (e nos primeiros anos do “Projecto” do infiel Roquette se calhar nem havia oposição). A culpa é de quem dirige o clube. Assuma isso, Sr. Presidente. E os seus antecessores também o devem assumir. Foram vocês, Roquette, Dias da Cunha, Soares Franco, V.Ex.ª e demais pessoal do “Projecto” – e mais ninguém – quem falhou e quem conduziu o Sporting à ruína iminente.E pare de falar em terrorismo. De terrorismo sabemos nós. Criticar a Direcção ou o treinador ou ambos não é terrorismo. V.Ex.ª não admite críticas, dizemos nós, por estar consciente da fragilidade da sua posição. O que V.Ex.ª quer é um clube cujos sócios sejam autómatos, que aplaudam nos momentos certos e que, quanto ao mais, fiquem calados. Não suporta críticas. Quer que os críticos desapareçam. Mas isso não é assim tão fácil. Escusa de apelar à “união”. A “união” que V.Ex.ª deseja sabemos nós qual é. É todos ficarem calados e aceitarem de modo acéfalo o que for decidido pela Direcção. Ora, nós os da Al-Qaeda não somos adeptos da Direcção do S.C.P., nem da sua, nem de qualquer outra. Somos, isso sim, adeptos do S.C.P. E se os interesses deste não forem servidos pela Direcção, tanto pior para a Direcção.
Em segundo lugar, não percebemos porque continua a endeusar o treinador, atribuindo-lhe qualidades que só a Alá, o Clemente e Misericordioso, pertencem de direito. Saiba V.Ex.ª que o Sporting conseguiu (sabe-se lá como) sobreviver 99 anos sem o Paulo Bento. Saiba que, a menos que V.Ex.ª consiga levá-lo à ruína, o Sporting conseguirá sobrevir e florescer sem o Paulo Bento. Vai para duas épocas que a equipa não funciona. Vai para duas épocas que parece que os jogadores não se conhecem, que não treinam, em que não se nota a “mão” do treinador. Vai para duas épocas que até a maioria das vitórias são horríveis, alcançadas sempre com muito sofrimento e com a equipa “de calças na mão” nos últimos minutos.
Vai para duas épocas que o Paulo Bento não consegue pôr a equipa a jogar.
Isto é notório, mesmo para nós aqui enfiados nas cavernas de Tora Bora e reduzidos a ver os jogos em DVDs e VHSs manhosos comprados no mercado negro em Kandahar. Este treinador já deu o que tinha a dar. E se ainda simpatizamos com ele é porque ele acaba por suprir as insuficiências da Direcção e da estrutura que tem a seu cargo o futebol profissional. Gostamos do Paulo Bento como pessoa. Gostamos do modo como defende o Sporting. Mas não é para isso que ele está lá. Ele está lá para pôr a equipa a jogar e isso, Sr. Presidente, ele já não é capaz de fazer. Mostre os vídeos dos jogos do Sporting a qualquer observador neutro e pergunte-lhe se ele considera que a equipa é bem treinada. Faça isso, Sr. Presidente, a ver a resposta que lhe dão.
A defesa do treinador não pode tornar-se um acto de fé nem uma condição sine qua non para se ser considerado um “bom” adepto. Ou o treinador treina bem, ou não treina bem. E se não treina bem, vá-se embora, que a equipa está a marcar passo. O Sporting está em sétimo! Sétimo, Sr. Presidente! Só venceu três jogos dos nove que disputou. Na Liga Europa vê-se aflito para derrotar equipas que não valem nada e terá realizado duas exibições boas em toda a época, na pré-eliminatória da Liga dos Campeões contra a Fiorentina, as quais ainda assim não deram em nada. Duas boas exibições, em dezassete jogos oficiais.
E pare de dizer que o Sporting está a atravessar uma época de grandes êxitos desportivos. Um dos nossos exemplares do Almanaque foi à vida, mas ainda temos outros dois. O Sporting está a amargar o segundo maior jejum de títulos de campeão de toda a história do clube. V.Ex.ª disse que esta era a segunda melhor década da história do clube quanto a títulos. Recordamos V.Ex.ª que nos anos 40 o Sporting foi campeão em 1940/41, 1943/44, 1946/47, 1947/48 e 1948/49 e que nos anos 50 o título foi nosso em 1950/51, 1951/52, 1952/53, 1953/54 e 1957/58. Queira V.Ex.ª explicar qual destas duas décadas, em que ganhámos cinco títulos de campeão, é inferior à actual em termos de conquistas da equipa de futebol. Ou será que as Supertaças e os torneios de pré-época já valem o mesmo que os títulos de campeão nacional? A que mediocridade chegámos!
E isto sem falar da década de 60. Quantas Supertaças é que vale o único troféu europeu da história do Sporting, aliado aos campeonatos de 1961/62, 1965/66 e 1969/70 e a Taça de 1962/63? Ou os três Campeonatos de Portugal de 1933/34, 1935/36 e 1937/38, a que se juntaram, na mesma década, os títulos de campeão de Lisboa de 1931/32, 1933/34, 1934/35, 1935/36, 1936/37, 1937/38 e 1938/39?
E ficámos em segundo quatro vezes seguidas? E então? Isso é motivo de orgulho desde quando? Ou melhor, é motivo de orgulho para um clube que se quer grande desde quando?
Será que para V.Ex.ª a história do Sporting se divide em dois períodos – antes e depois do Paulo Bento? Será que para V.Ex.ª a história do Sporting se conta assim: em 1906 o clube foi fundado pelos antepassados do Zé Roquette, depois ganharam-se uns títulos e tal, parece que houve uns gajos com cagança, um tal Tromba, ou Stromba, um assim com um nome esquisito, um Salazar Correia, ou lá o que era, um Pereira Teu, que fazia parte dos seis violoncelos, que foi uma grande equipa de vólei, uns corredores de ciclismo, um guarda redes com nome de jogo, tipo Xadrez ou Gamão ou Trivial Pursuit, etc. etc., DEPOIS, NA ÉPOCA DE 2005/2006 O INSIGNE PAULO BENTO FOI NOMEADO TREINADOR E O CLUBE DESPERTOU FINALMENTE PARA O SEU GLORIOSO DESTINO DE GANHAR SUPERTAÇAS EM SÉRIE E SER FINALISTA DA TAÇA DA LIGA – Ó ERA IMORTAL? Sabemos que não é assim. Sabemos que V.Ex.ª conhece bem a história do Sporting.
Por isso, concluímos que não é por ignorância que disse o que disse. É por desonestidade intelectual. A mesma desonestidade intelectual que há anos campeia nas sucessivas Direcções do Sporting, que leva a que os coveiros do Clube se apresentem como inocentes e limpos de toda a mácula e que ponham sempre as culpas em outras pessoas, reais ou imaginárias, como se não fossem eles quem manda desde 1995.
Isto não pode ficar assim. Gostamos demais do Sporting para permitir que V.Ex.ª o continue a arruinar impunemente.
Por isso, declaramos uma Fatwa. Uma Fatwa contra a Direcção, contra a equipa técnica, contra a estrutura do futebol profissional. Uma Fatwa que deve ser cumprida por todos os adeptos e sócios do Sporting, em nome de Alá, o Clemente e Misericordioso.
Que todos os fiéis adeptos do Sporting e que todos os infiéis de boa vontade não deixem passar em claro os atentados ao Clube que diariamente se praticam.
Que exerçam os seus direitos de sócios, os que o forem, que protestem, que apontem cada declaração, cada decisão, cada asneira. Que exijam responsabilidades. Que não deixem passar em claro as contradições, as artimanhas, as desonestidades intelectuais. Que não permitam que a culpa continue a morrer solteira. Que demonstrem o seu amor ao Clube por uma vigilância incansável, por uma militância incessável. Que, finalmente, abram os olhos.
E que V.Ex.ª desempenhe o seu cargo de modo recto e condigno, de acordo com os pergaminhos do Sporting. Basta de ilusionismo, de argumentações falaciosas, de tentar culpar outrem por erros próprios. Ainda vai a tempo de arrepiar caminho.
O Clube atravessa um momento conturbado. É nesta altura que os adeptos, que se querem adeptos do Clube e não da Direcção, do “Projecto” ou da equipa técnica mostrarem o que valem. Porque pelo rumo que as coisas levam, como diria o cão sionista Primo Levi, “se não for agora, quando”?
Em nome de Alá, o Clemente e Misericordioso.
Tora Bora, 14 de Dhu’l-Qa’da de 1430.