Tenho a certeza absoluta que não tenho certeza nenhuma
Saí do estádio mal o árbitro soou o apito. Com o empate no marcador e mais uma péssima exibição da equipa, o apito final foi simultaneamente o apito inicial da actuação seguinte. A actuação dos adeptos perdidos. Desorientados. Tristes. Frustrados. Uns apupavam a equipa. Outros cantavam os pedidos que lhes iam na alma. Outros ainda resolviam aplaudir não se sabe muito bem o quê, numa tentativa de equilibrar a balança deste Sporting desequilibrado. Em comum, apenas o amor ao mesmo clube (ou pelo menos assim quero acreditar, deixem-me com essa ideia romântica do que é ser adepto de um clube).
Eu saí. Resolvi ir em passos largos e apressados para fora daquele ambiente, daquele filme, e em poucos minutos estava já a caminho de casa.
Até aqui, podia estar a falar de qualquer um dos últimos jogos da era Paulo Bento no Sporting. A mesma exibição, o mesmo resultado. A mesma falta de jeito evidente de alguns jogadores. Só variou a competição em disputa.
Ontem foi um dia triste para o Sporting. Aqui não cedo. Foi um dia triste, e quem disser o contrário é porque está toldado por emoções extra clubísticas, antipatias pessoais ou amores inexplicáveis. O dia em que a estrutura profissional do nosso clube cai como um castelo de cartas é um dia terrível, porque é sinal que as coisas não estão bem. E é difícil aceitar que haja quem se sinta feliz quando as coisas estão mal no clube e não se vista de azul ou vermelho.
Claro que tenho a perfeita noção que alguns preferem ver a direcção cair apenas para poderem dizer que têm razão. É isso o mais importante – seja no Sporting, seja na Assembleia da República, entre o governo e a oposição. Na política, o mais importante não é o futuro do país, do clube ou da associação do bairro. O mais importante é ter-se razão, e ver – de alguma forma – alguém reconhecê-lo!
Para mim, simples sportinguista pouco interessado nos bastidores da política, José Eduardo Bettencourt é o presidente do meu clube e passei a estar com ele a partir da hora em que foi eleito. E desejo o seu sucesso acima de tudo, porque o sucesso dele é o meu e o do Sporting. Quer com isso dizer que concordo com tudo o que ele diz, faz ou escreve, ou que o tenha apoiado desde sempre? Nem por sombras. Mas preferia que hoje o Paulo Bento fosse o treinador do meu clube e que tivesse ganho todos os jogos da época, porque seria sinal de que este pesadelo não tinha acontecido e de que estávamos bem.
E passamos ao homem. Paulo Bento esteve quatro anos no clube. E durante esse tempo, jogou com armas piores que o adversário, conseguiu resultados acima da teoria e abaixo da expectativa. Defendeu o clube muito para além do que devia, fruto da incapacidade dos seus superiores, e desgastou-se com isso. Cometeu um erro enorme, ao aceitar continuar a lutar com as mesmas armas inferiores quando os adversários adquiriam um arsenal cada vez mais poderoso. Deveria ter exigido mais? Deveria ter recusado propor-se a lutar pelos mesmos objectivos quando se estava mesmo a ver o resultado? Não sei. Eu, simples sportinguista, não tenho a resposta para tudo, não acho que a minha resposta é mais válida que a dos outros e nem sequer acho que só há uma resposta certa para estas perguntas. Só sei que estou agradecido ao homem pelo período em que esteve no clube e que lhe desejo o maior sucesso no futuro.
Foi um dia triste, porque foi o culminar de um processo que, a partir de dado momento, se tornou inevitável. Quando começou esse processo? No início da época, mal preparada e orçamentada? Ou terá sido há quatro anos, quando Paulo Bento começou a ficar à frente do Benfica ano após ano (umas vezes com mais mérito dele, outras com menos mérito do adversário), de tal forma que se criou a ilusão de palmatória de que seríamos capazes de vencer sempre com menos recursos?
Na realidade, o que importa agora é aprender com os erros, olhar em frente e trabalhar. O Marquês de Pombal também não desejou o terramoto, mas resolveu reestruturar o centro da cidade depois da sua devastação. Por agora eu, simples sportinguista, espero que o presidente do meu clube tenha a capacidade e a astúcia para aproveitar este terramoto e reestruturar o centro do meu clube.
© wild_oscar 2009