SPORTING TV BEM
O canal do Clube não serve, nem deve servir, para dar voz a movimentos oposicionistas fora do período eleitoral
José Ribeiro
Texto
13 de Julho 2020, 09:10

Terminou na passada semana uma ação de sportinguistas denominada “Sporting Com Rumo”. Passando ao lado dos temas que por lá foram discutidos, vou centrar-me na única opinião que vi ser partilhada por todos aqueles que estiveram nos painéis de debate: uns assumiram-no de viva voz, outros revelaram concordância, e não me lembro de alguém ter discordado (caso tal tenha acontecido, fica já aqui o meu pedido de desculpas pela omissão). Refiro-me ao facto de a Sporting TV não ter estado presente para fazer a cobertura em direto ou diferido das referidas jornadas. E fez a Sporting TV muito bem.
Um canal de clube (já agora, como qualquer órgão de comunicação ligado a um partido político) não serve, nem deve servir, para dar voz a movimentos oposicionistas fora do período eleitoral. Defender que a Sporting TV seja a voz de todos os sportinguistas não faz qualquer sentido. O canal nunca pode ser um alimentador de divisões, menos ainda um palco de crítica permanente ao rumo traçado pelo Conselho Diretivo; deve isso sim ser um meio de disseminação da visão estratégica do CD. Dito de outra forma: é um meio de propaganda, com todas as vantagens e desvantagens inerentes ao modelo. Isso sucede com a Sporting TV, como com qualquer outro canal de clube por esse Mundo fora. No mandato de Bruno de Carvalho, o canal recebia convidados que tivessem uma posição permanentemente hostil em relação ao caminho traçado pelo CD? Claro que não. Cobria acontecimentos que de alguma forma pudessem instigar os Sócios e adeptos contra o próprio CD? Claro que não. E não fazia qualquer sentido atuar de forma contrária. Então, porque exigir um comportamento diferente ao atual CD? No início, este CD quis mostrar que era diferente e deu a Rui Calafate e Samuel Almeida a possibilidade de estarem num programa de debate semanal. Em menos de nada começaram a surgir nesse programa críticas a Varandas e ao desempenho da equipa de futebol. Inventou-se uma desculpa e o programa saiu da grelha. Óbvio. As regras do jogo são estas e não foram inventadas agora. Nasceram com os clubes, com os partidos. Como oposicionista às políticas de Frederico Varandas desde o dia em que permitiu que a auditoria ‘forense’ às contas de Clube e SAD fossem devassadas na praça pública, sem prévio conhecimento do Sócios, era para mim muito fácil juntar-me a este coro de críticos à ação da Sporting TV, seria apenas mais um hipócrita entre tantos outros. Mas, para mim, existem os factos, as opiniões, as críticas e o bom senso. Não gosto que se deturpem factos e sempre que possível procuro clarificar as coisas; tento compreender as opiniões apesar de poder discordar delas; entendo que as críticas devem ser seguidas da apresentação de soluções; e não compreendo como falta tanto bom senso em imensas discussões entre sportinguistas.
Deu-se como exemplo a transmissão em direto, por parte da Sporting TV, de uma jornada semelhante, o “Sporting Talks”, organizado por Miguel Poiares Maduro em julho de 2018. Ora, faltou sublinhar o essencial: a Sporting TV estava sob a orientação de uma Comissão de Gestão, o mandato de Bruno de Carvalho terminara três semanas antes; nesse momento, a CG encontrava-se a sete semanas de fazer as malas e até agradecia a existência de eventos que servissem para amachucar o ex-Presidente. Mais, o Sporting estava em período eleitoral. Este “Sporting Com Rumo” ocorreu a 20 meses (!) do próximo ato eleitoral e, sim, serviu de plataforma para algumas pessoas se posicionarem em relação a março de 2022. Assim que tomei conhecimento de quais os organizadores e participantes no evento, percebi o propósito do mesmo. Apesar de ter ouvido por lá muitos a dizer que não tinham qualquer interesse ou plano para encabeçar ou integrar futuras listas eleitorais, sei muito bem que pelo menos uma mão cheia daqueles participantes está a trabalhar para suceder a Frederico Varandas. Nada contra, bem pelo contrário, agora não nos façam de parvos ao exigir que fosse a própria Sporting TV a dar-lhes o palco para se colocarem na corrida. Tal como não deu esse mesmo palco à jornada de Coimbra “O que farias pelo teu Sporting”, em novembro de 2019, quando Nuno Sousa quis criar a sua ‘onda’ de lançamento para uma candidatura assumida seis meses depois.
A Sporting TV tem de cobrir, sim, o Congresso Leonino e garantir entrevistas e debates com os candidatos à liderança do Clube, quando o momento chegar. Mas quem escolhe o momento são os Estatutos e não as pessoas.
Leonino