Desculpem a linguagem menos fervorosa, mas tive de escrever com rigor jornalístico ;p
O Sporting venceu ontem o AC Horsens por 5 bolas a 0 e terá, aparentemente, descansado um pouco as hostes verde e brancas no que tange à falta de eficácia do ataque leonino neste início de temporada.
Contudo, há que ter o cuidado de não entrar em excessos, situação pródiga em Alvalade. Afinal, há já algum tempo que, no Sporting, a massa associativa se habituou a passar demasiado rápido do inferno para o céu. Assim, depois da extrema desilusão da passada segunda-feira na derrota com o Rio Ave em casa, Alvalade tornou a encher-se de esperança e confiança após a mão cheia de golos marcada pela equipa e, principalmente, após o regresso de van Wolfswinkel aos tentos.
Só que, se é verdade que o Sporting melhorou em termos de resultado, importa analisar a exibição e tentar perceber se o Sporting se transformou, de facto, numa força imparável da noite para o dia e se, como diz Sá Pinto, o Sporting está mesmo muito forte.
O segredo do sucesso leonino nesta partida passou, parece-me claro, pela inversão do triângulo do meio-campo. Adrien não teve em cima dos seus ombros a pressão de ser o único responsável pela criatividade no meio do terreno, jogando sim na posição 8, ao lado de Elias. Assim, o brasileiro teve mais liberdade para jogar (apareceu mesmo em zona de finalização, marcando um dos 5 golos), tendo responsabilidade para desequilibrar no meio-campo verde e branco. Assim, Carrillo e Capel também puderam aparecer melhor na partida, quer a ganhar a linha final quer a protagonizar diagonais como a que deu o monumental golo de Carrillo. Aliado a uma boa exibição dos laterais (de Cedric já vai sendo hábito, já Pranjic mostrou-se bem melhor que Insúa tem estado), os extremos conseguiram levar perigo amiúde à defensiva dinamarquesa.
Com tudo isto, Wolfswinkel cumpriu também, finalmente, o seu papel, e facturou por 2 vezes. Assim, tudo parece ter corrido bem, com o Sporting a dominar e jogar bom futebol e a marcar por várias vezes.
Mas será bem assim? Há que ver as coisas por outro prisma. O Sporting não era muito mau na segunda à noite, nem hoje é muito bom. Como disse Sá Pinto, o percurso é duro, e o Marítimo (próximo adversário dos leões) não é frágil como o Horsens. E ainda há vários aspectos a mudar. O Sporting mostrou, de novo, pouca velocidade na construção interior de jogo. O primeiro golo sai de um grande passe longo de Boulahrouz para Wolfswinkel, o que acaba por mostrar bem a falta de soluções do Sporting para construir jogo no meio. Se é verdade que o jogo flanqueado do Sporting é muito satisfatório, o abuso do mesmo torna-o previsível e facilmente anulável. Carrillo acaba por ser o elemento mais, sendo muito difícil de marcar e de prever o que fará quando tem a bola nos pés. Mas face a equipas mais coesas, isso não chega.
Para “jogar à Sporting”, a inversão do triângulo do meio-campo foi o primeiro passo dado por Sá Pinto na direcção certa, mas não certamente o único. Agora, há que criar dinâmicas e rotinas, para que tanto os extremos como os laterais saibam aparecer bem no meio a desequilibrar, para que o trinco saiba descer a permitir uma linha de 3 centrais quando os laterais subirem, e para que os dois interiores saibam subir de forma adequada (um deles a aparecer na área e o outro a ficar cá fora à espera da segunda bola) para manter a pressão e o ataque continuado.
Em alternativa, Sá Pinto deverá trabalhar um sistema em que os dois alas joguem mais atrás, fazendo uma linha de 4 com os dois interiores, com Wolfswinkel a fixar-se ao lado de um outro avançado mais “vagabundo” e desequilibrador, papel que apenas me parece ser passível de ser desempenhado por Labyad ou Viola, no plantel actual. Seria interessante, porém, testar Carrillo nesse cargo, com Jeffrén a jogar na ala. O espanhol tem qualidade mas precisa de muito tempo de jogo e muita confiança para chegar ao melhor nível. Seja como for, o futebol português precisa do Sporting “à Sporting”, a jogar ao ataque e sem medo de ninguém.
A finalizar, um alerta: o Sporting dominou e marcou, mas frente ao Horsens, este resultado é o mero cumprimento de uma obrigação. Não há, ainda, motivos para os fiéis adeptos leoninos se convencerem de que “este ano é que é”, até porque os leões estão longe de ser imbatíveis apenas porque venceram por 5-0 um jogo. Há que ter realismo, para não permitir extremos que também são maus para a equipa. Até porque, sejamos honestos, em condições normais a derrota com o Rio Ave não era motivo para fazer soar tantos alarmes. Mas num Sporting há tanto tempo arredado dos títulos, torna-se fácil chegar a um estado de exasperação extrema e depois vaguear para a ilusão tremenda. Assim, calma. É, de momento, o melhor a fazer.
O texto está publicado no meu site: http://www.livredireto.com/cronica-sporting-faz-as-pazes-com-o-golo-mas-atencao-ao-excesso-de-ilusao/, por favor divulguem e sintam-se livres para iniciar discussão tanto cá como no livredireto, responderei sempre.
SL