A Assembleia Geral do Sport Clube Lusitânia de Angra do Heroísmo aprovou este sábado "o início do processo legal de encerramento" do clube, uma das mais emblemáticas associações desportivas açorianas.
Uma fonte do Lusitânia disse à agência Lusa que a decisão, aprovada depois de um debate que se prolongou pela madrugada, teve por base a constatação da “inviabilidade financeira do clube”.
Ao longo de toda a semana, a Comissão Executiva do Lusitânia procurou estabelecer um acordo com os credores que permitisse resolver os problema financeiros do clube decorrentes de uma dívida superior a três milhões de euros, mas viu essa possibilidade recusada.
O clube está envolvido na Liga profissional de basquetebol e na Série Açores da III Divisão de futebol e a decisão de propôr a sua insolvência visa garantir o acesso dos trabalhadores do Lusitânia ao subsídio de desemprego, disse fonte do clube.
Apesar de ter baixado nos últimos dois anos de 4,5 para cerca de três milhões de euros, a dívida do Lusitânia supera em muito o seu património, avaliado em 1,5 milhões de euros, e os credores do clube pretendem proceder à execução de penhoras.
Finanças, Segurança Social, uma agência de viagens e uma empresa de construção civil concentram a quase totalidade das dívidas do clube.
Fundado em junho de 1922, o Lusitânia agrega um total de cerca de 500 atletas e foi a primeira equipa açoriana a ingressar nos campeonatos nacionais de futebol (época 1978/79).
Antigo rival do Santa Clara, atual segundo classificado da Liga de Honra, conquistou por 21 vezes o campeonato açoriano de futebol e obteve 38 títulos de Campeão da Ilha Terceira na mesma modalidade.
Muito triste. E não digo isto apenas por ser uma filial do Sporting; eu sou jogador de futebol nos juvenis do clube. Infelizmente, as dívidas eram já muitas e já se prolongavam há muito tempo. Penso que não havia mesmo outra solução.
Bastava fazer um jogo com as reservas do nosso clube para os tentar ajudar, afinal sao uma das mais antigas filiais.
Os grandes clubes veem-se nestas coisas!
Não tenho sabido de mais nada sobre o destino do Lusitânia nem sobre qualquer iniciativa de solidariedade do SCP para com uma das suas filiais mais antigas, o que me entristece bastante.
Para não deixar morrer o tema, deixo uma crónica de um autores dos que melhor escreve sobre o que é ser sportinguista - por acaso, açoreano e natural da Terceira.
[quote author=Joel Neto]
Adeus, Lusitânia
06 Fevereiro 2010
O primeiro jogo de futebol a que eu assisti ao vivo foi um Lusitânia-Angrense, decorria talvez o ano de 1981 e sentiam-se ainda, um pouco por toda a ilha, os ecos do terramoto que nos dizimara no ano anterior. Não tenho na memória todos os pormenores desse acontecimento épico, mas sei que comi amendoins, que me passeei entre a bancada, o peão e a cabeceira Poente do Campo de Jogos de Angra do Heroísmo, onde os automóveis eram estacionados mesmo atrás da baliza para as senhoras poderem espreitar a festa enquanto faziam renda – e que o Lusitânia venceu, depois um guedelhudo do meio campo do Angrense ter tentado expulsar o árbitro (não me peçam para explicar), acabando ele próprio expulso, com dramáticas consequências para a resistência da sua equipa.
De maneira que os meus primeiros heróis futebolísticos (que digo eu, os meus primeiros heróis, ponto) não foram Meszaros, Manuel Fernandes ou Jordão, os ídolos do Sporting nesses idos de 80: foram Álvaro, Dionísio, Teves, Carlos Alberto, Aristides ou João Medeiros, os esteios daquela simultaneamente humilde e gloriosa equipa que me introduziu ao verde e branco, à atmosfera do peão e à poeira que se erguia da terra batida quando a Providência, distraída, nos brindava com um dia de sol. Fiz deles um hábito, claro. Filho do chefe do policiamento, sob a asa do qual podia assistir de graça à bola, tomei duas decisões: ver tantas jogos do Sport Clube Lusitânia quanto pudesse e, quando enfim tivesse idade, envergar eu próprio a sua camisola linda.
À segunda experiência , redundada nuns quantos jogos, em outros tantos frangos monumentais e numa certa dificuldade em lidar com a intestineira durante os pontapés de canto, já a sublimei por aí, em crónicas de jornal e em contos, em rodas de amigos e em conversas de alcova. À primeira também – mas quero voltar a fazê-lo. Porque, durante anos, eu vi. Vi, comendo amendoins, o Lusitânia vencer o E. Amadora por 3-0, no ano (se bem me lembro) em que mais perto estivemos de chegar à primeira divisão. Vi, vestido de verde e branco, o Lusitânia empatar 0-0 com o Boavista, com João Alves de luvas pretas no meio-campo adversário, num jogo após o qual Álvaro e João Medeiros rumariam ao Bessa. E vi, com o emblema que comprara na Casa Stuart ao peito, o Lusitânia esmagar várias vezes o Angrense, naquilo que era então o meu Benfica-Sporting – e que eu próprio viria a disputar mais tarde, embora sempre com frangos e intestineira.
Pois esse clube, símbolo de um povo, vai acabar, depois do fracasso da enésima assembleia geral destinada a engendrar uma solução para o passivo de três milhões de euros que acumulou enquanto andou a brincar ao basquetebol. Esse clube quase centenário, contemporâneo do Belenenses e do Sp. Braga, mais antigo do que o Rio Ave ou a U. Leiria; esse clube onde jogaram Mário Lino, Moisés (que podia ter sido Rui Barros) e o malogrado Marroco; esse clube que foi 21 vezes campeão dos Açores, 38 vezes campeão da Terceira e o primeiro do arquipélago a chegar aos nacionais; esse clube que encantou a minha geração, que encantou outras quatro ou cinco gerações antes da minha e que ainda hoje tinha mais de 500 atletas em acção; esse clube que era o maior clube dos Açores até o poder socialista perceber que o futebol podia render votos e que, sendo na ilha de São Miguel que os votos mais contavam, mais valia investir no Santa Clara – esse clube a que chamávamos “Lusitana”, ou mesmo “Sténia”, consoante a freguesia de que vínhamos ou as aspirações que cultivávamos, vai acabar. Não vai acabar com o futebol, note-se: vai acabar.
E eu, em vez de limitar-me a perguntar onde estávamos todos enquanto isto acontecia, lamento a vergonha. A vergonha dos lusitanistas, dos terceirenses e dos açorianos. A minha própria vergonha, no papel de cidadão de cada uma dessas três identidades. A vergonha de um povo que se acomodou aos subsídios e perdeu o brio nas suas instituições. A vergonha de um poder político para o qual, se nem tudo são votos, nada interessa mais do que eles. A vergonha de uma modalidade que se centrou nas ligas de campeões, nas selecções nacionais feitas de estrangeiros e nas sociedades desportivas, esquecendo quase tudo o que lhe era essencial – e que agora, um pouco por todo o país, um pouco por todo o mundo vai perdendo aqueles que foram os seus primeiros, mais abnegados e mais agregadores agentes. A vergonha, sim. Que ao menos nos pese a vergonha.
Tenho acompanhado esta novela já de há uns tempos para cá. Também o primeiro jogo de futebol que vi deve ter sido um Lusitânia-Angrense por volta de 1971...
O que quero ver é se, há última da hora, o Governo Regional vai ou não injectar o nosso dinheiro lá, tal como já fez com o grande clube do coração do micaelenses, o Santa Clara.
Por mim, apesar do saudosismo, digo: afunde-se! Já está na hora de um clube de futebol ir à vida por incompetência e devaneio de sucessivas direcções. Para que sirva de exemplo para os outros e para que também o poder político se sinta impedido de prestar futuros auxílios em situações idênticas, com as parcas finanças portuguesas.
Pessoalmente, já estou farto de andar a perder poder de compra para compensar os gastos faraónicos e imbecis de quem consegue chegar ao poder.
Calma…
Olha que segundo depoimentos de membros deste fórum, foram mesmo verdadeiras loucuras de dirigentes do Lusitânia que o levaram à actual situação.
Além disso, é importante o que ele disse sobre os apoios ao Santa Clara.
Isto do Santa Clara ser o clube do coração dos micaelenses, só por falta de conhecimento local é que se pode fazer uma afirmação dessas. O Santa Clara sempre foi um clube de bairro, aliás suplantado em adeptos pelo União Micaelense e mesmo pelo Micaelense que já extinguiu o futebol.
O fenómeno Santa Clara é o fenómeno de vitórias, porque se ao Santa calha descer de divisão, restarão meia dúzia de gatos pingados a apoiar o clube, e eu serei um deles.
Gerou-se um fenómeno de massas, muito naturalmente, mas que desaparecerá caso o Santa Clara entre em queda livre.
Muitos dos que vão ao estádio apoiar, vão porque é um clube açoreano que joga nas divisões profissionais com algum sucesso, podiam ser os amarelos de São Roque ou os Pretos da Vila que eles iam lá na mesma, e basta o Santa perder 1 ou 2 jogos que vê-se o estádio às moscas.
Todos cá sabem que os maiores clubes de S. Miguel eram o Micaelense, o União Micaelense e a União Sportiva (filial SCP).
Aliás a simpatia clubistica era correspondida por sede de concelho. Ribeira Grande, Sporting Ideal e Benfica Águia, Lagoa, Operário, Vila Franca do Campo, Desportivo (Pretos), Povoação, Miramar, Nordeste, União Nordeste.
As pessoas cá acompanham o Santa porque é um clube vencedor.
Quanto aos apoios do governo, é normal, visto que na altura em que se decidiu que o desporto podia ser um veículo de promoção da Região, apostou-se nos clubes com mais visibilidade, não foi só o Santa que beneficiou, foi também o Antigos Alunos no vólei masculino, o Volei Clube em femininos que ficaram em 2º no campeonato nacional, como agora beneficiam o Candelária em hóquei e o Sporting da Horta em andebol. Como aliás beneficiou o Lusitânia em basquetebol.
Claro que como é o futebol que tem mais visibilidade os apoios são naturalmente maiores.
Mas foi o Santa Clara como podia ter sido o Operário ou mesmo o Lusitãnia a beneficiar desses apoios. Só que naquela altura quem ganhou a Série Açores foi o Santa Clara e no ano a seguir ganhou a 2ª B e subiu à honra e passados 2 anos estava na 1ª divisão, tudo com poucos apoios. Foi a partir daí que a torneira abriu muito ao jeito do Sporting pós campeonato 2000.
O Santa foi buscar uma série de jogadores pagos a peso de ouro e foi aí que começaram os problemas financeiros e que se tornou imperiosa a ajuda do Governo.
Essa falácia de associar o Santa Clara a São Miguel e Açores é cometer o mesmo erro que cometem os lamps quando se referem ao benfas.
O Santa Clara actualmente atrai alguns milhares, mas muito poucos são sócios efectivos e verdadeiros apoiantes, se bem que a juventude de hoje já segue mais a bola e já se começam a tornar verdadeiros adeptos.
Lembro-me quando o santa Clara andava na 2ª divisão a jogar com Estoril e Elvas entre outros que ia mais o meu pai à noite ver os treinos do Santa, éramos para aí uma dezena ou duas de verdadeiros apoiantes, não havia aquele “hype” sobre o Santa.
Quando se criou a Série Açores, enchia-se o Estádio das Laranjeiras para ver um Santa Clara X Operário ou um Santa Clara X Lusitânia, nos tempos do Sadjó, verdadeiro craque de 2ª divisão que acabou no Gil Vicente.
Foi apenas pela força das circunstâncias que o Santa Clara se tornou no clube bandeira dos Açores, nada mais.
Acho que desvalorizaste o aspecto temporal.
Qual é a popularidade actual desse União Micaelense?
Eu vi (e pasmei-me) a popularidade do Lusitânia na Terceira. Deve ter sido uma coisa extraordinária (o palmarés não deixa duvidar).
Mas acabas por concordar que efectivamente o governo apoiou (e apoia, ao que parece) o Santa Clara. Achas que apoiaria um clube da Terceira?
Não que interesse muito, mas as coincidências aconteceram. Se foi por fruto das circunstâncias, ou por paixão clubística ou regionalística, o facto é que só o Santa Clara terá sido alegadamente ajudado (em matéria de futebol).
E tudo isso coincide com o que ouvi no Congresso Leonino, onde me disseram que S. Miguel é maioritariamente orc, ao contrário da Terceira. Don’t get me wrong, penso compreender a tua posição, mas também compreendo a dos outros.
Se vires os jogos do Santa Clara, reparas que têm na camisola a palavra Açores. É assim que o Governo apoia o Santa Clara, através de publicidade institucional que como é lógico, é paga. O Governo não dá € a seu belo prazer, nem dá ajudas financeiras. Apoia ao publicitar nas camisolas dos clubes, sem para isso estar obrigado.
Quanto ao União Micaelense, é um clube ainda muito popular, que consegue por sempre largas centenas de adeptos todos os fds nos seus jogos, que ainda tem hóquei e basket fem., esses na 1ª divisão e com boas hipóteses de serem campeãs.
De facto, o S.C.Lusitânia será provavelmente o clube com mais palmarés a nivel da Região Autonoma dos Açores. A ascenção do Santa Clara deu-se, quando o Manuel Fernandes lá esteve, levando o clube da 2ª (nem sei se foi da 3ª) até à primeira divisão, porque até ai, de facto o Lusitânia era (e não sei se ainda não será), o maior clube regional.
Quanto aos subsidios do governo regional, eles são dados a todas as equipas, e não só ao futebol, variam conforme a divisão que o respectivo clube está.
O mal do Lusitânia, foi ter tido uma direcção, que em determinada epoca, e estanto em 2ºlugar no campeonato, e com os ordenados em dia, resolveu apostar “forte e feio” para a 2ªvolta do campeonato, indo buscar entre outros, por exemplo o Bilro a ganhar 5000 euros mês, o “palhaço” do Antonio Simões a ganhar, dizem as “más linguas”, 15000 euros mês para Directoir Desportivo, etc, fazendo com que o clube mergulhasse numa situação insustentável. Certo, porém, é que deve ter havido muita boa gente que se aproveitou da situação, fazendo com que a divida atingisse esses valores que se fala (perto de 5 milhões de euros), bem como esta mesma direcção durante quase dez anos nunca ter apresentado resultados financeiros nem ter feito assembleias gerais (ai, e assumindo tb um bocadinho de culpa, os sócios estiveram mal). Certo é que a actual Comissão Administrativa, ainda essa semana, referiu que não conseguia entender muitas das dividas que são reclamadas.
Certo, é que a minha “doença” pelo Sporting se deve em grande parte ao S.C.Lusitânia, pois desde a minha infância que acompanhava sempre a equipa, e não sendo de idolatrar ninguem, muitos dos jogadores de finais dos anos 70 e durante a década de 80, batiam com qualquer adversário que viesse cá jogar (lembro-me por exemplo, de 1 vitória sobre o Farense, não perdendo com o Boavista e Varzim, entre outros). Deve tb ter sido o clube regional, que mais jogadores “vendeu” para equipas mais conceituadas, como por exemplo o Mario Lino para o Sporting, o Fontes para o S.C.Braga, o Alvaro e o João Medeiros para o Boavista, enfim outros tempos, onde no velhinho Municipal de Angra se viam grandes jogos de futebol (o aparecimento do Estádio João Paulo II, tb retirou muita gente ao futebol, porque as bancadas estão muito desviadas do rectangulo de jogo).
Quando a mim, e dentro das minhas possibilidades, e apedido de um amigo que se encontra na Comissão Administrativa, contribui o mês passado para o Clube poder continuar de portas abertas, mas a situação está mesmo muito negra.