As 5 maiores exibições
Há dias assim, em que tudo corre bem. Dias em que cada corte é feito com bisturi, cada passe vai ter ao destino, cada desmarcação é aproveitada e cada remate parece ter um terminal de GPS com as coordenadas da baliza. Dias em que os nossos jogadores parecem multiplicar-se e os jogadores adversários dividir-se. Dias em que ficamos com a impressão de que nem o Milão nem o Real Madrid, se tivessem o azar de ali passar, escapavam com um empate que fosse.
3-1 vs. Benfica, campeonato, Luz, 2006
A multidão vermelha veio para assistir ao massacre dos leões. De um lado um Benfica eufórico, que vinha de eliminar o Liverpool na Liga dos Campeões. Do outro, um Sporting aos trambolhões no campeonato, humilhado na Taça UEFA e que só havia evitado a derrota no jogo com Marítimo na semana anterior graças a um penalty falhado pelos madeirenses. Para variar, o resultado no campo virou o mundo ao contrário. O Sporting pegou no jogo desde o minuto 1 e começou a ameaçar a baliza do inseguro Moretto com Carlos Martins, Liedson e Sá Pinto a liderar vagas atrás de vagas de ataque. Claro que, também para variar, o Benfica marca na primeira (e única) oportunidade de jeito que tem no jogo, graças a uma mão estúpida de Custódio na área. Todos enterramos a cara nas mãos e pensámos que íamos assistir a mais uma crueldade dos deuses. Oh ye of little faith! Numa segunda parte ainda mais demolidora que a primeira, o Sporting ficou a dever a si próprio uma goleada história, com um penalty de Sá Pinto e dois contra-ataques mortíferos de Liedson a darem apenas um vislumbre da superioridade completa dos verde-e-brancos. O Sporting entrava na corrida pelo título e as expressões de estupefacção e ultraje na cara dos adeptos benfiquistas nos momentos finais do jogo valem ouro!
3-1 vs. Boavista, Campeonato, Alvalade, 1994
Poucos jogos resumem o génio da equipa de Balakov, Figo & Cia. como este. É capaz de ter sido a melhor primeira parte que já vi uma equipa do Sporting fazer e foi certamente o melhor trio de golos num mesmo jogo. Era a primeira vez em quase uma década que o Sporting chegava a Março na luta pelo título. Num estádio a abarrotar, Figo abriu a contagem com um remate forte de fora da área, Juskowiak fez o segundo numa bicicleta assombrosa e Balakov matou o jogo à meia-hora com um chapéu primoroso a Alfredo. Não me lembro de o Boavista – então nos quartos-de-final da Taça UEFA - ter tocado na bola para além da marcação de pontapés de baliza e de lançamentos de linha lateral no primeiro tempo. A equipa descansou na segunda parte; mas quem viu este jogo tinha de acreditar que aquele campeonato nos estava destinado.
3-0 vs. Mónaco, Liga dos Campeões, 1997
Um relvado arruinado pelos concertos de Verão (parece familiar?) e os golos do capitão Oceano, de Hadji e de Leandro arrumaram um decepcionante Mónaco. Tínhamos entrado - e sairíamos - na Liga dos Campões pela porta do cavalo. Mas, por uma noite, Leandro pareceu mesmo “the real thing” e Octávio Machado o homem que nos iria liderar na conquista da Europa.
7-1 vs. Benfica, Alvalade, 1986
O jogo da lenda e do canto do cisne de dois mitos do Sporting - Manuel Fernandes e Jordão - foi também um dos mais estranhos que me lembro. Uma partida fechada e equilibrada até que Manuel Fernandes faz o 3-1. De repente, a equipa do Benfica desmoronou-se e aqueles 25 minutos finais foram um autêntico tiro ao Silvino que só acabou com o apito final do árbitro. O Manel marcou mais três e, dessem-nos mais 10 minutos, chegávamos aos dois dígitos. Melhor do que isto, só a visão dos adeptos lamps, numa típica demonstração de lealdade, a acenderem fogueiras na Superior Norte com os seus cartões de sócio. O Benfica acabaria por fazer a dobradinha nesse ano. Mas o resultado, esse, ficaria para a história e seria um dos poucos pontos luminosos que nos guiaria durante a longa noite do final da década de 80.
4-0 vs. Boavista, Campeonato, Bessa, 2005
O futebol romântico de Peseiro e da sua equipa que jogava sob a bandeira “Golear ou perder!” teve aqui um dos seus expoentes máximos. Posta entre a espada e a parede após uma derrota caseira frente ao Penafiel, a equipa embarcou numa série notável em que arrasou tudo à sua passagem até à fatídica penúltima jornada. Uma das vítimas foi o Boavista. Numa noite memorável, o ataque Sportinguista liderado por Liedson fez em postas a defesa do Bessa, com dois golos do brasileiro a juntarem-se a outros dois de Beto e de Carlos Martins. As provocações e agressões aos nossos jogadores no túnel pareciam um atestado de impotência dos nossos adversários. Face a um Benfica chegado ao primeiro lugar por acaso, espremido até ao tutano pelo velho Trap e a tremer em cada jogo, a luta pelo título parecia naquele momento uma corrida entre um TGV e uma velha locomotiva diesel.