Reflexões sobre o Scouting do Fórum SCP

Uma das aréas que mais fascina qualquer fórum de clube é a área dos tópicos onde se acaba por fazer scouting.
Ou seja, onde se acaba por analisar e propor jogadores que se considera que seriam interessantes para vir para o SCP.

Vê-se as mais diversas abordagens.
Desde a mais básica e grosseira em que um forista viu um jogo ou um resumo de um jogador e gostou, vindo propô-lo a seguir, até às mais elaboradas em que alguém apenas faz essa proposta depois de já ter acumulado um grande conhecimento sobre o jogador em causa, quer a nível de observações vídeo ou in loco, quer a nível da análise de material estatístico.
É tudo uma questão de sensibilidade, tempo e acesso a informação.

Crio este tópico para que possamos reflectir sobre a forma como nós, foristas, agimos na nossa pele de scouters amadores.

O desafio que lanço é a resposta às seguintes questões:
Como podemos nós, com o tempo e com os recursos de que dispomos, ser mais capazes na nossa atividade de scouting?
Em que é que nos costumamos basear quando propomos um jogador?
O que avaliamos?
Quais são as nossas fontes de informação e o que é que valorizamos mais?

Considero que este fórum tem scouters de alto nível.
Às vezes até fico parvo com o que vejo.
Tomara muitos clubes terem esta capacidade de deteção de valores.

Se da discussão neste tópico conseguirmos aprender uns com os outros a elevar a nossa capacidade de avaliar jogadores, o nível do fórum subirá bastante no que ao scouting diz respeito.
Se isso acontecer, ficarei muito satisfeito!

Venham de lá esses feedbacks.
Mostrem os vossos truques! :idea:

Apesar de achar que estes tópicos são uma extensão do Sugestões, acho a temática interessante. Já fui um “scouter de bancada” mais assíduo e atento. Hoje, por afazeres profissionais e falta de disponibilidade, nem tanto.

Acho o assunto interessante na medida em que, surpreendentemente, vejo muita malta neste fórum que se julgam grandes olheiros mas cometem para mim erros básicos quando se trata de apreciar e recomendar um jogador. Longe vai o tempo em que, por exemplo, um vídeo cheio de fintas 1-para-1 seguida de cruzamentos teleguiados me entusiasmavam.

Não só comecei a perceber que isso não é o mais importante, como também percebi que o próprio futebol evoluiu. Inevitavelmente, hoje o futebol assenta muito na vertente física. E esse é um dos aspectos que não pode ser descurado, isto quando vejo sistematicamente recomendações de vários futebolistas que medem menos de 1.70 m ou 1.75 m…

Psoto isto, os meus três critérios para avaliar um jogador ou eventual reforço assentam primeiramente nestes três factores (por odem):

  • Mentalidade.
  • Capacidade física.
  • Qualidade técnica.

Claro que depois entram outros factores como a inteligência táctica, a velocidade etc etc etc, mas considero aquelas 3 vertentes essenciais e piramidais na forma como se interligam (um bom jogador tecnicamente - Messis são a excepção e não a regra - por norma não vingam se não possuírem capacidade e envergadura física suficiente e nenhum deles será um craque se não tiver a mentalidade correcta).

Tecnicamente, para mim, é relativamente fácil avaliar um jogador. Quando vejo um vídeo ou um jogo, a mim basta-me estar atento á recepção, ao 1º toque, principalmente em situações sob pressão. Isso mais a velocidade de reacção e execução, a visão de jogo mais o acerto no passe curto/longo são suficientes para avaliar a qualidade técnica do jogador.

O problema é avaliar o resto que hoje em dia é muito mais importante. Será que aquele prodígio técnico tem a capacidade de aguentar a maior parte dos 90 minutos e da época em determinado registo? Quão irregular é? É propenso a lesões? Num avançado, tem potencial para ser concretizador? Aqui a análise das estatísticas ajudam, ainda que nem sempre sirvam para dar sentenças. Depois: num jogo de maior responsabilidade a bola queima-o? Disputa os lances com capacidade vencedora? etc Isto são coisas que não se veem apenas num jogo, muito menos num resumo de youtube.

Eu dei uma ideia para reformular a área das sugestões, que era subdividir o tópico por vários tópicos, cada um por posição. Parece-me que o tópico é suficientemente movimentado para que isso fosse uma boa ideia.

Criei por exemplo estes tópicos:

http://www.forumscp.com/index.php?topic=61215.msg3122102#msg3122102

http://www.forumscp.com/index.php?topic=61213.msg3122093#msg3122093

Acho que com isto dava para organizar melhor as sugestões, era bom tanto em termos de acesso (quem quisesse, olheiro ou não, membro do fórum ou não, whatever, aceder às sugestões para uma dada posição podia ir lá directamente, em vez de andar à procura no meio de imensas sugestões) como para gerir as discussões das sugestões mais em torno do que cada a maioria considerasse ser as reais necessidades da equipa (esses tópicos ficariam mais movimentados que os outros).

Tópico bastante útil.

Quanto às perguntas, e numa resposta conjunta:

Fazendo um primeiro rastreio inicial. Actualmente, é impossível seguir todos os campeonatos passíveis de acompanhamento. Há demasiada informação para isso. Podemos acompanhar praticamente qualquer liga do mundo. Mas ninguém tem tempo para isso. Muito menos “nós”, que não fazemos vida do scouting.

Portanto, primeiro que tudo, é importante ir começando a dar uma vista de olhos pelos resultados e pelas equipas que vão tendo sucesso ou que vão surpreendendo em determinada época, em vários campeonatos. Normalmente (não é certo, claro, porque no futebol não há certezas), são essas as equipas com as melhores ideias de jogo e com os melhores jogadores. Procurar sites e fóruns sobre o tema, procurar ir lendo notícias sobre este e aquele campeonato ou dar uma vista de olhos em alguns canais do Youtube, que possuem vídeos específicos sobre alguns jogadores ou vídeos de resumos de determinado campeonato. Esse é o primeiro passo.

Depois, mais avançado, é a altura de ir definindo, por posição (ou por sector), alguns jogadores que vão saltando à vista, daqui e dali. Procurar mais vídeos ou resumos deles. Procurar ver jogos completos (e já há uma quantidade absurda de jogos completos para download em HD, em vários fóruns espalhados pela net) em que esses jogadores participem. Procurar outro tipo de informações sobre eles (além das informações gerais, que encontram num transfermarkt qualquer), como análises específicas sobre o jogador, estatísticas (aqui o Squawka é capaz de ajudar bastante, em alguns casos), eventuais casos anteriores envolvendo o jogador (falta de profissionalismo, propensão a lesões, lesões que já teve na carreira) e declarações/entrevistas do jogador.

A partir daí, formam uma lista, e vão acompanhando o percurso deles. Mais ao pormenor ou mais ao de leve, conforme o interesse que têm no jogador. Entretanto, mantém-se o processo para os novos jogadores. É algo que consome algum tempo, mas se forem bem organizados e criarem um processo e uma rotina que facilite o trabalho mais chato, é algo perfeitamente possível de se fazer nos tempos livres e que não precisa de consumir mais do que meia dúzia de horas por semana.

Agora, como avalio um jogador? Em primeiro lugar, pela qualidade técnica. Essa é inevitável e indispensável. O futebol joga-se com a bola nos pés. Se o jogador não for bom com a bola nos pés, não dá. Além disso, é a primeira impressão em qualquer caso. Quando se liga a TV e está a dar um jogo qualquer, os jogadores que saltam primeiro à vista são aqueles que tocam melhor a bola.

Em segundo lugar, pela percepção que tem do jogo. É o aspecto mais complicado de avaliar para mim, e aquele que mais precisa de diferentes recursos. A menos que quem o faça perceba um pouco do assunto e saiba o que destacar, não é assim tão fácil encontrar bons vídeos de jogadores. E não é porque normalmente esses vídeos só destacam os golos, as assistências e as fintas ou habilidades do jogador. Muitas vezes, eu estou a ver vídeos desses e fico chateado, porque quero saber como começou, por exemplo, determinada jogada que deu em golo e não posso, porque essa parte não interessa a quem faz o vídeo. Ou saber qual foi toda a movimentação do jogador para ir finalizar uma jogada…e também não posso, porque só aparece lá a parte final, em que ele marca. É por isso que, sobretudo neste aspecto, é importante encontrar vídeos mais alargados (os melhores vídeos são aqueles em que se compilam todas as acções do jogador num só jogo, por exemplo, porque dá para ver um pouco de tudo) e ver alguns jogos completos. Porque há coisas muito importantes que não saltam à vista nos vídeos de highlights.

Continuando. Quanto à percepção do jogo, também depende das características e da posição do jogador. Não pretendo ver a mesma percepção do jogo num central e num avançado, por exemplo. Mas pretendo ver alguns princípios comuns, isso sim. Por exemplo, a capacidade de manter o jogo sempre junto à relva. É importante para mim. Ainda mais importante, é perceber se o jogador tem a mentalidade de procurar tomar sempre a melhor decisão para a equipa (não para si próprio) em todas as suas acções. Estes dois aspectos, para mim, são essenciais em qualquer jogador. Depois há outros que também são muito importantes (como a criatividade do jogador, a sua capacidade de ler o jogo e antecipar o que vai acontecer, a sua visão do jogo e a noção de onde estão os seus colegas ou a sua imprevisibilidade), mas que derivam dos dois principais que referi.

Em terceiro lugar, as características físicas. Gosto de saber a altura e o peso do jogador, mas isso não tem grande importância para mim. O que valorizo mesmo é a forma como o jogador consegue utilizar as capacidades físicas que tem para potenciar as qualidades técnicas e cognitivas que apresenta. Por exemplo, sendo eu um adepto de jogadores com grande qualidade técnica e de passe, interessa-me perceber a agilidade do jogador, a sua velocidade de execução ou a forma como consegue utilizar o corpo para proteger e manter a bola. Estas são as principais. Depois, depende da posição do jogador. No caso de um central, por exemplo, interessar-me-á a sua capacidade de impulsão, a capacidade de choque e a sua velocidade sem bola. Mas no caso de um extremo, já terei mais interesse nos aspectos que referi como principais, e em aspectos como a sua capacidade de mudar de direcção em velocidade, a sua velocidade com bola ou a sua potência de remate, por exemplo.

Depois há a parte extra-jogo, que é a de tentar perceber a forma como o jogador encara a profissão, aquilo que o motiva e aquilo que o deita abaixo, aquilo que é enquanto pessoa (se é sociável, se tem facilidade em estabelecer relações com os colegas, se é mais introvertido, se contribui para o bom ambiente do balneário) e por aí fora, mas essa parte, para “nós”, que somos amadores, já é mais complicada de analisar, porque temos acesso a poucos dados desse tipo.

Basicamente é isto.

Parabéns pelo tópico [member=3466]Strikerr, é um tema muito interessante de debate e que me suscita grande interesse :great:

Admito já aqui, como aliás é evidente para quem lê os meus posts, que eu valorizo coisas diferentes da generalidade das pessoas na avaliação que faço de cada jogador. Não digo que seja melhor ou pior, mas a minha maneira de ver o jogo, mais focada nas relações entre as acções de cada um dos jogadores do que propriamente as acções por si só, incide sobre certos aspectos que vão influir na maneira como avalio individualmente cada jogador.

Para começar, dizer que, a meu ver, deve ser uma análise muito mais qualitativa do que quantitativa. Claro que a utilização de algum material estatístico pode ajudar a perceber certas coisas, mas mais importante que ele é a observação. Porque o futebol é um jogo de circunstâncias, e é absolutamente fulcral perceber se a acção de um determinado jogador foi a mais adequada à circunstância em questão. Dando um exemplo rápido, imaginemos um defesa-central com bola, sem espaço para progredir e com duas opções: devolver ao central ou fazer um passe vertical ao médio-interior, que aparecera a pedir a bola entre a linha avançada e a linha média adversária. Obviamente que a melhor solução seria o passe vertical, visto que com esse passe a equipa ultrapassaria, de forma segura, pelo menos dois adversários, enquanto que ao devolver ao seu parceiro de defesa a equipa não vai ter ganhos significativos com essa acção. Ora, considerando que em ambas as opções a execução era a correta, estatisticamente, apesar de uma ser claramente melhor que outra, seriam tidas como iguais(passe acertado). E muitos outros exemplos destes existem, só na vertente da decisão com bola. Mas não se esgota aí. Para percebermos se um jogador se posiciona correctamente em cada situação sem bola, ou se dá a melhor solução possível ao portador da bola, dificilmente a estatística nos resolverá por si só o problema. Porque, lá está, não é algo quantitativo. O que é uma solução óptima para um determinado contexto, pode ser uma solução péssima para outro. Considero eventuais falhas no posicionamento sem bola menos graves num âmbito de scouting, porque é algo que pode ser trabalhado com alguma facilidade se houver competência por parte da nossa equipa técnica. A decisão com bola, pelo contrário, é bastante difícil de alterar substancialmente. Porque o jogador tem tendência a decidir consoante a experiência anterior, isto é, da sua idade de formação(até aos 18 anos, sensivelmente), é algo muito difícil de trabalhar.

Depois deste parágrafo um pouco mais de contextualização, vou falar mais concretamente do meu processo de avaliação dos jogadores que vejo. Tenho o meu perfil de jogador de posição para posição, com um conjunto de competências gerais, comuns a todas as posições(com a excepção dos GR, talvez) e um conjunto de competências particulares a cada posição. Nas gerais, claramente a capacidade de decisão e a técnica.

A decisão defino-a como a capacidade de interpretar rapidamente os problemas que o jogo põe e encontrar a melhor forma de os resolver. Um dos mitos que se cria acerca disto é a ideia de que se pede sempre o passe ao jogador. Falso. Numa situação de 2x0+GR, com o GR a tapar a linha de passe, o passe é uma decisão péssima. Aí há que rematar ou aproveitar para progredir, tirando o GR do lance, a tal solução individualista. Que não deixa de, por isso, ser uma decisão maravilhosa. Aqui é preciso ver o jogador jogar e num número relativamente elevado de vezes, porque é algo relativamente complexo de se observar e necessita de uma grande atenção aos detalhes. Só assim se pode perceber o perfil de decisão, e eu próprio caio, por vezes, no erro de ser demasiado prematuro nos juízos que faço a esse respeito, vindo depois, com um maior conhecimento, a mudar a minha opinião. Ver se o jogador levanta a cabeça para pensar, ver se ele vai com decisões pré-definidas para um lance ou se procura analisar o contexto e decidir em função dele, se descobre soluções interessantes e criativas ainda que pressionado, etc. É a vertente que eu mais valorizo porque, dando, como disse mais acima, mais importância à relação entre as acções de um jogador com o colectivo do que propriamente à acção isolada, é importante analisá-lo por tudo o que faz e não apenas pelo que lhe dá notoriedade.

Depois, a qualidade técnica. Num futebol com cada vez menos espaço para jogar, é importante que a execução seja o mais perfeita possível. Não só a condução, como o passe, a recepção, o drible, o remate, entre outras. Esta considero mais fácil de avaliar. É estar atento ao toque do jogador, a maneira como domina a bola(se cola no pé ou não) , a sua velocidade em condução com a bola colada ao pé, a precisão no passe, etc. Para além disso, a capacidade técnica influencia a de decisão em vários aspectos. Por exemplo, um jogador vai ter muito mais tempo para analisar o contexto e tomar a decisão certa se receber a bola colada ao pé do que se precisar de 4 toques para a dominar. É com a bola que o jogo se joga, e tem, como tal, de ser bem tratada.

Estes dois são fundamentais, e jogador que seja insuficiente a este nível em uma delas tem de compensar bastante em outros aspectos, a meu ver, para ser útil como opção(Slimani, por exemplo). Para ser titular, tem de ser um fenómeno nesses outros aspectos. São estas capacidades que lhes serão exigidas para a maioria dos problemas que terão de resolver em jogo, pelo que são as que mais valorizo.

As competências particulares já dependem das especificidades de cada posição e das situações mais frequentes em cada uma delas. Para um central, é fundamental saber dar respostas positivas em termos posicionais e é-lhe útil ser forte fisicamente(embora não ache que o facto de ter 1m80, por exemplo, o impeça de ser central se o resto estiver lá), ou seja, alto, capaz no choque, rápido e ágil, num médio-interior valorizo imenso a sua imaginação/criatividade e agilidade em espaços curtos, porque joga em terrenos ainda mais exigentes em termos de decisão do que os demais e porque está frequentemente em zonas de criação, pelo que a capacidade para descobrir soluções boas e criativas deve ser ainda maior do que a dos colegas, um avançado deve ser um elemento capaz de criar superioridades no corredor central sendo sempre uma linha de passe segura e com a inteligência na movimentação para perceber quando é necessário na área para finalizar e quando a melhor solução é outra, boa qualidade de remate e alguma capacidade para resolver individualmente, quando é a melhor solução, etc.

Quanto ao que eles apresentam em campo, é isto. Idealmente, ver o máximo de jogos completos, porque os vídeos muitas vezes enganam(subscrevo totalmente o que o [member=17947]Poeira disse a esse respeito) e, se se vir os tais vídeos, perceber se são completos nas informações que nos permitem retirar ou se se limitam aos momentos de notoriedade(finalização ou assistência), que, embora importantes, são apenas uma parte de tudo o que é feito em campo. Depois há os factores extra-jogo, e ai é perceber a motivação do jogador e se, caso esteja a ter problemas no seu actual clube, estes se devem a ele ou não. Muitas vezes é mesmo a falta de compreensão dos seus treinadores sobre as suas qualidades/personalidade que criam esses problemas, e esses casos são sempre interessantes para conseguir jogadores de qualidade a bons preços.

Excelentes intervenções até agora pessoal! :great:

Fica aqui a minha abordagem:

O meu processo de identificação e proposta de jogadores para o SCP passa, basicamente, pelas seguintes fases:

Identificação de lacunas no plantel do SCP tendo em conta o objetivo de o aproximar daquilo que considero a minha referência de plantel ideal.

O plantel ideal é um referência dinâmica, vai pois variando com o tempo, com a minha própria aprendizagem e com a evolução do próprio mundo do futebol, e tem como orientação fundamental a capacidade de incluir um conjunto, o mais alargado possível, de soluções ofensivas e defensivas para a maior diversidade de desafios possível.

Deve pois incluir um conjunto de competências de ordem técnica, tática, física-morfológica e mental que nos permitam ter sempre trunfos para responder com sucesso a todas as dificuldades que o universo de jogos que temos que enfrentar, cada um com a sua história, nos colocam.

A uma equipa, para ter sucesso, não basta ter um conjunto de bons jogadores.
Não chega… É preciso ter a inteligência de perceber isto!

Para se ter sucesso, é preciso ter um conjunto de atletas que, para além de qualidade, no seu todo, resultam num plantel completo e equilibrado nas seguintes 4 dimensões:

Técnica
Trata de aspetos relacionados com a técnica individual (condução de bola, capacidade de passe/receção, drible, …) e com skills específicos como, por exemplo, remate (incluindo média-distância), marcação de lances de bolas parada, etc…

Táctica / Estratégica
Trata de aspetos relacionados com a capacidade que o jogador tem de desempenhar com rigor tático os diversos papéis que lhe podem ser destinados. Aqui é também importante a capacidade de aprendizagem que o jogador possa ou não ter. Isto está também relacionado com aquilo que muitos chamam de entendimento do jogo.

Física-morfológica
Trata de aspetos relacionados com resistência física e com a morfologia do atleta(altura e peso corporal).

A resistência física é um aspeto absolutamente fundamental. Um jogador com pouca resistência, só joga 50 ou 60% do tempo na plenitude das suas faculdades, não só físicas, mas também técnicas e mentais.

A altura e o peso corporal, desde que sem prejuízo dos aspetos técnicos médios do plantel, deve contribuir para garantir à equipa capacidade de choque e contundência em todas as zonas do terreno.
Um aspeto também fundamental no futebol moderno.

Mental
Trata de aspetos relacionados com a própria personalidade dos jogadores mas que é afetada também pela capacidade do treinador em motivar a equipa e com os resultados que vão aparecendo.
Uma coisa é certa, tal como nas outras vertentes, tem que se tentar contratar jogadores fortes a este nível logo à partida.

Ou seja, não basta contratar bons jogadores.
É preciso ver a construção da equipa como a construção de um todo harmónico que tem nota alta em todas estas vertentes nas contas finais.
Quem entra, preferencialmente, deve vir preencher lacunas, deve vir somar competências ao plantel e não vir ser meramente redundante!

Com as lacunas identificadas, procura e identificação de jogadores que possam ser uma mais-valia para o plantel na lógica referida no ponto anterior.

É precisamente aqui que surge o problema para um forista.
Um forista não dispõe dos recursos de tempo e de informação que um scouter profissional de um clube.
É-lhe, muitas vezes, muito difícil, endereçar, em relação a jogadores mais desconhecidos (que, ainda por cima, são aqueles que podemos pagar), aspetos como o rigor tático do jogador ou mesmo com o seu entendimento do jogo. Não deixam obviamente de ser aspetos muitos importantes sobre o jogador mas só a observação de muitos jogos completos em vídeo e in loco permitem tirar conclusões finais.

Confesso que, no meu caso, não tenho condições para endereçar esta vertente com o grau de detalhe que gostaria. Deixo isso para os scouters profissionais e para quem dispõe de mais tempo do que eu.

Aquilo que eu faço para avaliar um jogador é o seguinte:

Vou identificando os jogadores que se parecem enquadrar com as necessidades do plantel.
Tenho várias vias:

  • Recorrendo ao meu próprio conhecimento dos campeonatos e dos jogadores que resulta dos jogos que vejo, incluindo os que derivam da minha atividade nas apostas.
  • Fazendo análise estatística de algumas posições em sites de referência
  • Analisando os jogadores propostos por outros foristas (ajuda preciosa)

Pós-identificação, gosto de ver todos os vídeos possíveis sobre os jogadores em causa.
Sou fã do youtube. Não concordo nada com quem desvaloriza esse tipo de vídeos.
Por esses vídeos pode-se perceber muita coisa desde que se tenha cuidado.
Já se sabe que ali só aparecem os bons momentos e, por outro lado, é preciso estar atento ao tipo de adversários com que as skills são apresentadas.
Uma coisa é certa, nesses vídeos percebe-se logo a qualidade técnica do jogador.
Até com um minuto isso se percebe e, para mim, em certas posições, isso é verdadeiramente fundamental.

Depois, como não quero ser enganado com as skills que o jogador apresentou nesses vídeos, eu quero confirmar se elas são regulares e sustentáveis no tempo. Isso só é possível fazer com uma análise detalhada dos seus números ao longo do tempo e tendo em conta a idade.
Por exemplo, ver um vídeo de um ponta de lança em que se mostra 15 golos fabulosos só tem muito valor se, por trás, estatisticamente, o jogador apresentar métricas de concretização fiáveis.
Se aquilo que eu vejo no vídeo está de acordo com aquilo que eu vejo nos números, então considero que existe alta probabilidade de estar perante um jogador de interesse. Se não estiver, então é muito provável que o jogador não seja fiável e o vídeo não passou de uma habilidade de quem o fez para iludir quem o vai ver.

Isto é o que eu faço!

Resumidamente:

  1. Identificação de lacunas do plantel
  2. Pesquisa de jogadores que podem resolver essas lacunas.
  3. Análise mais detalhada desses jogadores em vídeos e em estatísticas.
  4. Caso o jogador passe na avaliação de vídeos e estatísticas, falo dele como uma possibilidade interessante.

Acho que, para um mero forista, já é muito bom.
Afinal, não sou pago né? :wink:

Bom, esta é, certamente, a área em que mais participo e que mais me interessa, como saberão.

Não me irei alongar muito pois as vossas exposições são bastante interessantes e acho que abrangem aquilo que será normal a toda a gente. Acredito, apenas, que faltou referir algo que, quer queiramos, quer não, terá sempre uma importância vital nisto e, sendo algo incomensurável, acaba por ter uma importância enorme na qualidade de quem avalia: a intuição.

Por vezes, um atleta pode apresentar mundos e fundos quando comparado com um segundo mas… sabem como é, há algo que nos poderá chamar para o segundo, algo que até poderemos nem conseguir explicar logicamente mas sentimo-lo.

Claro que isto é a parte emocional do futebol, a qual existirá sempre em comunhão com tudo o que disseram: análise macro (clube, necessidades, capacidade financeira) e micro (todas as características técnicas, tácticas e psicológicas do jogador).

Para terminar… tenho esperança e forte convicção de que ainda farei disto a minha vida profissional. É esse o meu sonho, desde sempre, e é por isso que lutarei. E, claro, se possível, no meu Sporting. :slight_smile:

Spot on.

Do meu ponto de vista, só teria sentido numa área restrita, e se possível com alguma ligação ao clube.

Os empresários são cada vez mais influentes nisto, tendo algumas empresas de agênciamento o próprio sistema de scouting.

Há jogadores que os empresários descobrem e “oferecem” aos clubes

Cada vez têm mais peso

[member=3605]VeDrIx

Tens curso?

Curso de ? Treinador ? Não, ainda não tirei. Treinei alguns anos miúdos no Estrela da Amadora mas sempre como adjunto e depois deixei-me disso.

No ano passado tirei uma formação em Scouting no Futebol, através da Quest.

Sim era de Scouting

Já me tinha informado sobre onde se tirava formação de Scouting e fui parar à Quest

Encontro-me neste momento a tirar licenciatura em Treino Desportivo e vejo-me no futuro a trabalhar nesta área do Scouting. O meu curso (Escola Superior de Desporto de Rio Maior) apesar de estar diretamente ligado ao treino ainda tem muitos conteúdos sobre análise de jogo, com trabalhos e formações constantes. Aliás, tenho alguns documentos que podem interessar, com mais tempo passo aqui pelo tópico.

:great:

Aquilo que referes, no fundo, é algo que todos consideramos importante que é a ponderação da análise qualitativa na avaliação do jogador. No entanto, considero que deves evitar chamar a isso de intuição. Deves antes tentar identificar muito claramente e de forma o mais objetiva possível o porquê de preferires um jogador a outro, mesmo que tenhas dados que apontem no contrário. Certamente que o conseguirás fazer mesmo que, à partida, até pareça que não.
No fundo, não estarás a fazer mais do que tentar compreender e reverificar a enorme quantidade de informação que o teu cérebro, na verdade, já tinha processado à posteriori, para te dar a tal sensação a que chamaste de intuição.

Deves analisar isso. Deve inclusivamente aprender com isso.
Isto para além de que saberes justificar as tuas opções é sempre algo fundamental seja em que área for.

Por outro lado, esta reverificação previne que não estejas mesmo a cometer um erro de análise.
As nossas sensações, às vezes, podem mesmo enganar-nos.
É preciso estar sempre alerta.

Quanto às tuas aspirações, muito sinceramente, espero que tenhas sorte e que atingas o teu objetivo. :great:
Esta área é realmente interessantíssima.
A chave do sucesso de qualquer clube é a sua área de scouting.
O SCP não é exceção.

Aqui para nós que somos amadores, deixo algumas referências estatísticas sobre jogadores que passaram por Portugal e que considero que são de referência nas posições de ponta de lança, extremo e médio-ofensivo.
Podemos usá-las para fazer algumas comparações no futuro.

A estatística reporta-se ao grau de perigosidade do jogador que estou a medir em golos e assistências, penalties excluídos, por tempo de jogo (neste caso, por cada 90 minutos de jogo).
Apresento os números em tabela e em gráfico a variar com a idade em que o jogador produziu os resultados.

Pontas de Lança

Inclui aqui os seguintes jogadores:
Falcao, Cardozo, Liedson, Lisandro Lopez, Jackson Martinez e Wolswinkel (este só por curiosidade).

Aparentemente, quando um PL começa a conseguir rates anuais a rondar o 0,8, à partida, garante o seu selo de qualidade.

Extremos

Inclui aqui os seguintes jogadores:
Gaitan, Sálvio, Quaresma, Di Maria, Nani e Hulk.

Aparentemente, quando um extremo começa a conseguir rates anuais a rondar o 0,7, à partida, garante o seu selo de qualidade.

Médios-Ofensivos

Inclui aqui os seguintes jogadores:
Aimar, James Rodriguez, Matias Fernandez e Rui Costa.

Aparentemente, quando um médio-ofensivo começa a conseguir rates anuais a rondar o 0,6, à partida, garante o seu selo de qualidade.

Naturalmente que as conclusões que retirei são subjetivas e resultam de muito poucos dados ainda.
Não passam de indicações a rever.

Já não digo mais nada, está na citação tudo escrito :slight_smile: