Bem, como hoje é domingo e apetece-me levantar polémicas, vou comentar o que aqui li, mas vou limitar-me ao texto inicial, um texto que considero extraordinariamente estúpido e ridículo. Não tenho tempo para comentar o resto, só esta frase do forista Atlantian que me deixou bastante perplexo : “Eles vêm para cá e ocupam terrenos largos onde constroem os seus bairros de lata.” E ? Onde é que podiam ir ? A culpa será deles ? Mas vamos ao texto.
Quantas pessoas estão actualmente a prestar atenção a isto? Existem Afro-Americanos, Americanos Hispânicos, Americanos Asiáticos, Americanos Árabes, etc.
E depois há os apenas Americanos.
Desculpe lá, Sr. Richards, mas se sou Americano de origem africana ou hispânica, tenho o direito de me considerar como Afro-Americano ou Americano-Hispânico, e seria descabido chamar-lhe Americano Branco, que é que o adjectivo Branco traria como informação complementar ? Confunde a legítima expressão das origens e a legítima informação complementar com um racismo que consistiria em ocultar a cor branca da pele.
Vocês passam por mim na rua e mostram arrogância. Chamam-me 'White boy,' 'Cracker,' 'Honkey,' 'Whitey,' 'Caveman' ...e está tudo bem. Mas quando eu vos chamo Nigger, Kike, Towel head, Sand-nigger, Camel Jockey, Beaner, Gook, or Chink, vocês chamam-me racista.
Neste caso, simplesmente, qualquer atitude é estúpida e existe nos dois sentidos. Não defendo nem uns nem outros.
Quando vocês dizem que os Brancos cometem muita violência contra vocês, então por que razão os ghettos são os sítios mais perigosos para se viver?
Acha, Sr. Richards, que fica explicado grau de perigo dos ghettos pelo factor "cor da pele" ? Rica reflexão... Aliás não é preciso invocar os ghettos para falar da violência urbana, ela encontra-se em toda a extensão das cidades.
Vocês têm o Martin Luther King Day.
Vocês têm Black History Month.
Vocês têm o Cesar Chavez Day.
Vocês têm o Yom Hashoah.
São comemorações ligadas a feitos dramáticos ou lutas sociais que têm toda a legitimidade. Os Americanos comemoram outras lutas sociais, com a mesma legitimidade.
Vocês têm o Ma'uled Al-Nabi.
Os Americanos têm o Natal, ou não têm ?
Vocês têm o NAACP.
Organização que tem outra vez a ver com lutas sociais. Da mesma forma que existem outras tantas ligadas a outros direitos civis.
Vocês têm o BET [Black Entertainment Television] (tradução: Televisão de Entretenimento para pretos)
Canal de Televisão que não é de acesso proibido para os Brancos e que é vocacionado para um público específico. Tal como existem a CLP Tv para Portugueses em França e no Luxemburgo. Tal como existem programas, rádios e afins, que servem para criar um elo de ligação no seio das comunidades estrangeiras no mundo inteiro. Aliás o BET é um canal privado que pertence à Viacom, conglomerado de que fazem parte... Paramount Pictures... MTV Network... Quem o criou foi alguém que sentiu o sopro da rentabilidade, e não uma pessoa que procurou excluir os maus Brancos.
Se nós tivéssemos o WET [White Entertainment Television] seriamos racistas.
Seriam, sim, por uma razão simples : serviços (audiovisuais e quaisquer outros) para as comunidades (i.e. que pretendam criar ligações no seio das mesmas) têm de ser percebidos como tal se quiserem ter audiência. Vou criar um canal português para os Portugueses que residem em França, não vou chamá-lo "TV Não-sei-Quê", mas sim "Canal de Língua Portuguesa" (CLP TV) : sou racista ? Sou anti-Francês ? Não : dirijo-me aos Portugueses. Ao contrário desses serviços, os serviços de um país de acolhimento/imigração são supostos dirigir-se ao conjunto da Nação sem distinção, não por razões de humanismo mas sim porque não interessa : os canais de um determinado país focam a sua actividade num ramo específico ou generalista (entertainment, informação, desporto, séries, etc.) que pode interessar a qualquer tipo de etnia/origem, e não numa etnia/origem.
(E ninguém impede na Africa ou na Asia, excepto em países profundamente xenófobos, que existam e se desenvolvam redes de ligações [associações por exemplo] entre Franceses, entre Americanos, ou seja, entre Brancos.)
Se nós tivéssemos o Dia do Orgulho Branco, vocês chamar-nos-iam racistas. Se tivéssemos o mês da História Branca, éramos logo taxados de racistas.
Se tivéssemos alguma organização para ajudar apenas Brancos a andarem com a sua vida para frente, éramos logo racistas.
Existem actualmente a Hispanic Chamber of Commerce, a Black Chamber of Commerce e nós apenas temos a Chamber of Commerce.
Que ideias tão disparatadas. Primeiro, o homem mistura dias de comemorações de lutas sociais e de acontecimentos históricos com o simples orgulho. Segundo, a) as Hispanic e Black Chambers of Commerce servem entre outras coisas os interesses comerciais dos EUA, não se podendo portanto simplificar as coisas e reduzí-las a uma espécie de racismo, b) o que queria o homem, uma White Chamber of Commerce ? Acha realmente que seria benéfico para o negócio ? Haja bom-senso...
Quem paga por isto?
Não faço ideia. Mas não me digam que os EUA no seu conjunto não beneficiam.
Uma mulher Branca não pode ser a Miss Black American, mas qualquer mulher de outra cor pode ser a Miss America.
Se nós tivéssemos bolsas direccionadas apenas para estudantes Brancos, éramos logo chamados de racistas.
Existem por todos os EUA cerca de 60 colégios para Negros. Se nós tivéssemos colégios para Brancos seria considerado um colégio racista.
Comunitarismos, nem sempre no sentido pejorativo. Mais uma vez, o homem confunde as ligações comunitárias (permitidas naquele país [b]e que seriam muito mal vistas na Europa continental[/b]) e a missão de integração da Nação que é suposta dirigir-se a todos. Obviamente, não fala das centenas de colégios para ricos. Porque a oposição negros/brancos é fácil, a oposição ricos/pobres é mais complicada de se medir : mas a lógica segregativa é maior neste último caso.
Os pretos têm marchas pela sua raça e pelos seus direitos civis, como a Million Man March. Se nós fizéssemos uma marcha pela nossa Raça e pelos nossos direitos seriamos logo apelidados de racistas.
Mas, ó Sr. Richards, acha que os Brancos precisam de uma marcha pelos seus direitos civis, uma marcha especificamente para eles ? Vá lá, tenhamos juízo...
Vocês têm orgulho em ser pretos, castanhos, amarelos ou laranja, e não têm medo de o demonstrar publicamente. Mas se nós dissermos que temos 'Orgulho Branco', vocês chamam-nos racistas.
Mais do mesmo : reduz as coisas à simples oposição negros/brancos, quando a verdadeira oposição é origem estrangeira/origem americana. Vejo exactamente a mesma coisa em França : os Portugueses são disso exemplos, exibindo a sua nacionalidade às vezes de uma forma quase disparatada. A expressão das origens muitas vezes negada - sei muito bem do que falo - contra a banalização ou banalidade de ser mesmo de cá, cuja expressão não tem muito sentido.
Vocês roubam-nos, fazem-nos carjack, disparam sobre nós. Mas, quando um oficial da policia Branco dispara contra um preto de um gang ou pára um traficante de droga preto que era um fora-da-lei e um perigo para a sociedade, vocês chamam-no racista.
Vamos lá ver, Sr. Richards, depois na Justiça, quantos são os Brancos condenados e quantos são os Pretos, e diga-me, sff, quem é mais prejudicado e quem é mais racista.
Eu tenho orgulho.
E tem razão, pelo menos tem legitimidade para isso. Diga-o, afirme-o, mas também pode fazê-lo sem criar oposições.