“A turbulência no cenário político-institucional aumenta a percepção de risco dos agentes econômicos, que exigem mais juros para financiar a dívida pública vincenda. Tanto é assim que as projeções para 2022 estão sendo revisadas para baixo"
"As falas antidemocráticas são de uma gravidade institucional muito grande. Isso empobrece o Brasil de todas as formas. Não se investe em educação, crescimento do país e produtividade. Ao mesmo tempo, gera mais inflação, juros e desvalorização do câmbio. E as pessoas continuam desempregadas, vivendo uma pobreza crescente”
Com o acirramento da tensão política, as empresas de capital aberto na bolsa de valores brasileira (a B3) perderam R$ 195,3 bilhões em valor de mercado na quarta-feira (8/9). As companhias mais prejudicadas foram Petrobras (queda de R$ 19,6 bilhões), Ambev (R$ 15,4 bilhões), Itaú (14,3 bilhões), Bradesco (R$ 12,2 bilhões) e Vale (R$ 10,1 bilhões).
No início da semana, as ações somavam R$ 5,257 trilhões. Na quarta, já valiam R$ 5,061 trilhões. A tempestade começou quando Bolsonaro declarou que passaria a não cumprir decisões proferidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
“Juramos respeitar a nossa Constituição. O ministro específico do STF perdeu as condições mínimas de continuar dentro daquele tribunal. Não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica continue paralisando a nossa nação. Não podemos aceitar. Ou esse poder [Judiciário] pode sofrer aquilo que nós não queremos. Sabemos o valor de cada Poder da República”, assinalou Bolsonaro durante o protesto.
Ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério de Planejamento do governo de José Sarney, o economista Raul Velloso fala sobre as consequências de declarações do tipo.
“A fala introduz incerteza no meio econômico, porque joga a sensação de que podem acontecer várias coisas ruins para o país. Vem na cabeça das pessoas a sensação de que ele pode estar cometendo crime de responsabilidade, o que pode culminar num impeachment”, explicou.
“Quem tem aplicação financeira no Brasil percebe esse movimento, e a primeira reação é transferir suas ações daqui para o exterior”, ponderou Velloso.
“O comportamento de Bolsonaro está sendo acompanhado cada vez com mais atenção por investidores—que temem, sobretudo, uma ruptura institucional. Discursos democráticos vão ao encontro do que espera o mercado. Assim que o presidente divulgou uma nota pacificadora escrita em conjunto com o ex-presidente Michel Temer, por exemplo, a bolsa de valores teve uma alta de 2,6%.”
É para continuar a fingir que o que o Bolsonaro fala não se reflete na economia? E que a mesma está uma maravilha?