Hoje em dia assistimos a um fenomeno social intrigante: os valores e princípios estão invertidos ou então deturpados. Isto passa-se na sociedade em geral e, sobretudo, no futebol em particular. A moral e a ética parecem ter definitivamente dado lugar ao “chico-espertismo” e à prostituição da honra e da dignidade em troca de ganhos imediatos. Paralelamente, desenvolveu-se também a teoria de que, aqueles que se recusam a alinhar nos novos parametros de comportamento, são os “calimeros” de quem se deve gozar e vilipendiar, sempre que a ocasião o proporcione.
Ora, como é que os padrões do mundo futebolístico actual definem o “calimero”:
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Aquele que se queixa quando é sistematicamente prejudicado pela arbitragem;
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O que denuncia o tráfico de influências e os arranjinhos que dominam os bastidores do futebol;
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Aquele que, perante a continua deturpação da verdade desportiva, exige medidas que a restabeleçam;
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O que se recusa a usar “quinhentinhos”, “colinhos” e empresas multinacionais para influenciar resultados desportivos;
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O que se bate pela redução da influência que a arbitragem pode ter no desenrolar das partidas, solicitando o uso de novas tecnologias;
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Aquele que, perante o roubo permanente e descarado, se indigna e revolta;
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Aquele que, por fim, deseja apenas ganhar por ser o melhor dentro das quatro linhas.
A honorabilidade que estas posições teriam num passado longínquo, está agora invertida. Quem pensa e age assim são os “totós”, os “chorões”, as eternas vitimas de um destino programado. Hoje em dia passa-se a mensagem de que, para vencer, tem de se jogar sujo, corromper e influenciar, praticar o compadrio e o agiotismo, jogar desleal como a maioria. Como chegámos a este ponto?
No futebol (como na vida) não devia valer tudo. Os meios não justificam os fins. A honra e a dignidade não são conceitos vãos. Se ser “calimero” é sinônimo de lutar pelos valores e princípios em que se acredita, então ser apelidado dessa “alcunha” é somente um motivo de orgulho. Isto porque qualquer pessoa ou clube que vence através do roubo e da promiscuidade, quem quer que seja que se vende para ganhar vantagem competitiva, festeja as vitorias coberto pelo manto da vergonha e da desonra. E isso não abafa a consciência.
O “calimero” Sportinguista foi mais uma vez humilhado pelas instituições que regem o futebol. A historia vai apenas recordar uma derrota em Moscovo. Mas a razão e a virtude estão do nosso lado e não tenho duvida de que vão imperar sobre todo o lodo em que nos movimentamos. A certeza é tal que não pode haver duvidas em nenhum Sportinguista de que, mais cedo do que mais tarde, um capitão do nosso clube vai erguer o troféu da Liga dos Campeões. Contra tudo e contra todos.
Nesse dia, com a superioridade moral dos justos, diremos com convicção, a todos os nossos rivais e inimigos “Os calimeros são vocês!”.