Os Sportinguistas sofrem de um trauma: tivemos um presidente tão mau, mas tão mau (Godinho Lopes, obviamente) que qualquer um que lhe sucedesse teria de ser nada menos do que perfeito. É esse o estigma que persegue Bruno de Carvalho. O seu antecessor esgotou todos os limites imagináveis da tolerância, do beneficio da duvida e da margem de erro. Por isso, desde o inicio e em circunstancias muito difíceis, exige-se que o actual presidente do Sporting seja exemplar em todas as suas acções. Como é natural, tal não é possível. Bruno de Carvalho comete erros e tem pontos fracos… como qualquer outro ser humano. Mas o Sportinguista continua, quase inconscientemente, a exigir-lhe que seja perfeito. Não o é.
Um dos muitos problemas do legado de Godinho Lopes foi o instinto natural das massas de querer substituir um completo inapto por alguém que representasse o oposto de tudo aquilo que o Godinho simbolizava: o ser subserviente, a incompetência, o laxismo, a incapacidade negocial, a gestão ruinosa, etc, etc, etc. Para fazer esquecer alguém com tantos defeitos, elegemos um candidato que parecia ter todas as qualidades. As expectativas para com a gestão e o perfil de Bruno de Carvalho foram sempre muito elevadas. Eu diria mesmo, exageradamente elevadas, especialmente no que diz respeito a um perfil “imaculado” que ele deveria representar.
Como os resultados da gestão competente do nosso presidente foram visíveis desde muito cedo, ainda maior se tornou a ilusão de que Bruno de Carvalho seria sempre muito bom em tudo o que fazia. Pequenos lapsos eram consideradas excepções à regra e nada mais do que isso. Contudo, o tempo tem vindo a mostrar que, obviamente, o presidente tem defeitos e que algumas dessas imperfeições se vão tornando mais notórias à medida que o tempo passa. Porquê?
Porque os nossos inimigos (e são muitos) perceberam que, através de ataques continuados e difamatórios, conseguem explorar alguns dos pontos fracos de Bruno de Carvalho. Ou seja, os nosso inimigos já conhecem o homem e tendem a atacá-lo por forma a explorar as suas potenciais fraquezas. Ele próprio tende, ocasionalmente, a dar o flanco, proporcionando oportunidades para que os ataques se multipliquem. No entanto, o pano de fundo que serve como cenário a estas campanhas nunca se deve perder de vista: a proporção dos ataques está directamente ligada à qualidade da sua gestão. Ou seja, quanto melhor ele dirigir o Sporting, maiores serão os ataques que lhe serão desferidos.
Evidentemente que não podemos cair em extremismos de qualquer espécie: se por um lado temos de contribuir para a defesa do presidente desta autentica barragem de investidas inusitadas patrocinadas pelo Estado Lampianico (e não só), também temos de ter a clarividência para lhe apontar os erros e esperar que os mesmos sejam corrigidos num futuro próximo. A defesa incondicional dos interesses do Sporting também se faz (eu diria mesmo, faz-se essencialmente) pela capacidade de escolher as guerras que se combatem e pela eficácia (ou falta dela) das estratégias de contra-ataque escolhidas.
Por isso, resta-nos ajustar as nossas expectativas relativamente à pessoa que temos como presidente do clube: Bruno de Carvalho não é um presidente perfeito mas, digo eu, é o presidente perfeito para este período de transformação que o Sporting atravessa. Estamos a tentar reavivar o Cronico e para esse enorme desafio Bruno de Carvalho já demonstrou ser a pessoa indicada para conduzir os destinos do clube. Assim saibamos aceitá-lo, com todas as suas virtudes e, sobretudo, com os seus defeitos.