Apito mutante
JOÃO SANCHES
Quem não se prender aos conteúdos técnico-tácticos das equipas ou, noutra perspectiva, apenas tiver olhos para a actualização semanal da classificação da SuperLiga, ainda é capaz de pensar - pelos exemplos recentes e, por isso, bem vivos na memória - que o Sporting cozinha lentamente uma qualquer conspiração maquiavélica, insistindo no prolongamento do “suspense” na apertada luta pelo título nacional. Em Leiria, a equipa de José Peseiro “esqueceu-se” da sua identidade na primeira parte do jogo e, não fosse a competência de Ricardo entre os postes, poderia estar nesta altura a lamentar um deslize chocante como o de há duas semanas, na Madeira, e, simultaneamente, a engendrar já um esquema de revolta para dar uma resposta concludente e amenizadora de novo “lapso”. Após o período de intervalo, a subida de rendimento do colectivo sportinguista foi efectiva, mas insuficiente para a criação de oportunidades de golo flagrantes. Numa fase de definições como esta - na qual as equipas “topo de gama” enfrentam condicionantes como lesões e também fadiga decorrente das prestações nas provas europeias -, quem quer ser campeão não se pode dar ao pequeno luxo de “entrar” em jogo somente nos segundos 45 minutos. Nestes casos, as probabilidades de perder ou de empatar serão sempre elevadas. Contabilizados os “votos” da 22.ª jornada - que hoje se encerra, na Luz, com o Benfica-Guimarães -, conclui-se que o Sporting perdeu em quase toda a linha para o FC Porto, senão vejamos: 1) a equipa de Couceiro produziu uma exibição pouco menos do que mediana, mas, com um valente golpe na eficácia, arrebatou três pontos em Belém; os “leões” penaram no primeiro tempo, indignaram-se na etapa complementar, mas não acertaram na baliza e descolaram do ponto mais alto da classificação; 2) os “dragões” beneficiaram da “condescendência” de Carlos Xistra, que fez vista grossa a um penálti - e consequente expulsão de Ricardo Costa - favorável ao Belenenses nos derradeiros minutos do jogo; os de Alvalade tinham direito a uma grande penalidade - aos 89’ - por falta de Gabriel sobre Hugo, mas Bruno Paixão teve uma leitura diferente do lance e sancionou uma falsa carga sobre o guarda-redes Helton; 3) os azuis e brancos introduziram a bola uma vez na baliza de Marco Aurélio e a acção foi validada; os lisboetas agitaram as redes, por obra e graça de uma excelente combinação entre Sá Pinto, Carlos Martins e Niculae (88’), mas um dos árbitros assistentes “obrigou” Paixão a anular o lance por inexistente fora-de-jogo; 4) equilíbrio… só mesmo na qualidade das exibições dos guardiães Baía e Ricardo, ambos eleitos por O JOGO como os melhores em campo nos respectivos desafios. Neste fim-de-semana desportivo - até ver… -, o apito foi, de facto, “azul-dragão”.
JÁ VALE EMPURRAR PELAS COSTAS?
“Penálti” vira anedota
Do banco de suplentes, Carlos Carvalhal, treinador do Belenenses, conseguiu ver a falta - para grande penalidade - do portista Ricardo Costa sobre Lourenço. Mais perto do lance, o árbitro Carlos Xistra - bem como o auxiliar que acompanhava a jogada e cujo ângulo de visão era privilegiado - não detectou a infracção do central azul e branco. No campo de análise, podemos dizer: “OK, o árbitro falhou, acontece aos melhores - e ele foi pontuado como o melhor na época passada! -, não percebeu exactamente o que se passou à entrada da pequena área dos ‘dragões’…” Se o erro da equipa de arbitragem é admissível, já a discussão em torno de um penálti insuspeito e límpido como água de nascente é de bradar aos céus - e motivo para anedota.
21-02-2005
De facto, da para pensar…