O istmo

Hà algum tempo que não tenho o prazer de escrever neste espaço, pelo menos de um modo tão efectivo como já o fiz noutros tempos.
A verdade é que a minha relação com o Sporting está numa fase menos calorosa, fria até… continuo a querer que o Sporting ganhe mas não com o receio desesperante que isso não aconteça. Este Sporting perder é normal e já nem me chateia.

Não me identifico com os dirigentes, com a equipa técnica, com os jogadores (os últimos com quem me identifiquei foram o liedson, o miguel veloso e o moutinho… já não está lá nenhum deles), com a estratégia para o futuro, com a mentalidade do “rugir para dentro e miar para fora”, com a vaidade estéril numa academia que não devia ser motivo de orgulho mas sim ferramenta de trabalho, com a incompetencia, a falta de visão (pelo menos no meu entender).

pior, penso que se neste momento o Sporting não tomar as medidas certas se arrisca a ter umas próximas décadas ainda mais sombrias.

mas quais são essas “medidas certas”?

cada um há-de ter a sua ideia mas duma coisa tenho eu quase 100% de certeza: se o godinho lopes trouxer os jogadores que prometeu arrisca-se a ganhar alguma coisa no próximo par de anos mas a comprometer o futuro do Sporting nas próximas duas décadas.

a minha análise à situação do Sporting.

A) os pressupostos

1- o Sporting não tem tido viabilidade financeira na sua gestão corrente. se não tiver receitas extraordinárias (venda de jogadores ou champions) tem um saldo negativo face às diversas despesas correntes.

2- o campeonato português é, dos principais campeonatos europeus, aquele que apresenta maior saldo positivo entre vendas e compras de jogadores. no entanto os clubes portugueses vivem com grandes dificuldades financeiras. a venda de jogadores é indispensável para que as equipas portuguesas mantenham a competitividade na Europa.

3- a academia do Sporting é um local onde se formam jogadores. o aparecimento de grandes talentos é algo aleatório e que depende de diversos factores alguns deles dificilmente controláveis.

4- o Sporting tem falta de referencias, os adeptos não têm herois.

5 - o Sporting tem apresentado uma postura pouco ambiciosa, subserviente e nada influente no futebol português, sendo achincalhado e maltratado por qualquer clube de vão de escada.

6 - os adeptos sportinguistas estão afastados do clube, não existe união nem motivação.

7 - existe no Sporting uma cultura onde impera a falta de exigência, rigor, responsabilidade, disciplina e dedicação ao clube (li por aí uma noticia que dava conta da ida do grimi para o braga. eu, que acho o grimi uma das piores contratações do SPorting de sempre e sobre o qual não tenho nenhuma esperança de vir a tornar-se útil à nossa equipa, dei por mim a pensar: se o grimi vai para o braga ainda se faz jogador).

B) as minhas soluções:

1 -ter um plantel constituído por pelo menos 60% de jogadores formados no Sporting e mudança de mentalidade nesses mesmos jogadores. a ideia é manter esses jogadores no plantel até aos 25 ou 26 anos deixando-os sair depois para o estrangeiro mesmo que por valores relativamente baixos. é óbvio que jogadores como cristiano ronaldo ou nani são impossiveis de segurar até essa idade mas nesses casos a venda só seria feita pelo valor da clausula de rescisão. esses jogadores da formação é que deviam ser as referencias do clube…

por exemplo, neste momento o miguel veloso e o joão moutinho estão com 24 anos e são já jogadores com experiência. não são precisos maniches, nem pedros mendes ou zapaters (jogadores com salários elevados e pouco rentabilizáveis), basta ver o porto desta época que não necessitou de jogadores “experientes” para fazer um passeio pela liga.

o Sporting não precisa de comprar experiência, precisa é de qualidade e essa para mim está em duas simples caracteristicas: velocidade e inteligencia.

a ideia seria ter jogadores como o miguel veloso e o moutinho mais duas épocas e depois deixá-los sair mesmo que por um valor baixo, e nessa altura despontarem como referencias o carriço, o adrien silva ou o andré santos.

objectivos:

  • baixar despesas com salários
  • criar referencias no clube

2- apostar claramente em activos para valorizar e vender. a política de aquisições deve ser vista como um investimento: o Sporting tem de apostar em jogadores jovens, valorizáveis e que façam a diferença . o mercado português é interessante e tem facilidade em valorizar jogadores. para isso é indispensável um fundo como aquele que o bruno de carvalho apresentou mas não podia ser para trazer jogadores como o vagner love (salário alto e pouco valorizável- exactamente o oposto do que o Sporting deve procurar).

objectivos:

  • reforçar a equipa com jogadores que façam a diferença
  • criar mais valias de modo a ir abatendo o passivo

3 - assumir uma posição de força no futebol português. uma atitude que consideraria positiva seria a proibição da entrada de dirigentes de clubes rivais na tribuna do nosso estadio ou mesmo cortar relações, acusando-os mesmo que indirectamente de não seguirem valores éticos que devem reger uma competição saudável. no fundo, abrir guerra a benfica e porto.

objectivos:

  • unir sócios e adeptos na luta a um inimigo externo
  • impedir a bipolarização benfica-porto ao nível dos media
  • passar uma imagem de força para os clubes pequenos

4 - aumentar nível de exigência, profissionalismo e união em toda a estrutura. controlar informações que saem para os orgãos de comunicação social, controlar profissionais do Sporting, avaliar evolução e comportamento dos jogadores, criar um grupo forte, ambicioso, guerreiro e trabalhador para que qualquer jogador novo que entre sinta a responsabilidade de representar o Sporting.

penso muitas vezes na situação do Sporting e não consegui melhor que isto. as outras soluções deram um resultado único: o abismo.

Concordo contigo.

O Sporting precisa urgentemente de uma estratégia.

Precisamos com urgência de ter um pool de jogadores da formação a rodar, bem alargado, idealmente uma equipa B, que sirvam para completar o plantel. Tem de ser um trabalho metódico, baseado em grandes números (precisamos de uns 40 jogadores com baixo salário a jogar) pois todos os anos desses será sempre possível ir buscar alguns que sejam de nível aceitável. Se todos os anos o sporting for buscar 3 jogadores, em 4 anos são 12 jogadores no plantel. Esta deve ser a base do Sporting, se bem que é um projecto hercúleo que preciso de ser excepcionalmente estruturado, a começar pelas captações na academia, modelo de desenvolvimento e transição para o futebol sénior. Esta é a base de um clube competitivo.

Depois, o que fará realmente a diferença é um grupo de 8-10 jogadores contratados, de maior salário, inegáveis mais valias, que têm de surgir de uma política de contratação externa de extremo rigor.

Tudo isto, em conversa, é muito bonito. Na prática depende totalmente da competência de quem lá está.