A ciência da sorte e do azar é complexa e sobre este assunto o filósofo americano Ralph Waldo Emerson dizia o seguinte: “Shallow men believe in luck. Strong men believe in cause and effect.”. Será?
O jogo Twente - Sporting de 4 de Agosto de 2009 foi sem dúvida nenhuma uma brilhante ode à sorte e ao azar. De que outra forma se explica que uma equipa derrotada nas probabilidades, derrotada no resultado e derrotada na exibição consiga ressurgir no mísero minuto final de uns longos 180 minutos de jogo através do papel mais que improvável desempenhado pelo seu guarda-redes e envie o seu adversário directamente do céu para o inferno? Uns quantos irão argumentar que é a consequência natural da diferença de valor entre as duas equipas, alguns quererão sublinhar o demérito do adversário que as pediu ao remeter-se à defesa, outros justificarão com o querer e a força psicológica dos jogadores, e outros ainda com o mérito do treinador ao ter guardado cinicamente a jogada genial treinada em segredo para as últimas quando o relógio já dava as badaladas… eu justifico-o da seguinte forma: foi SORTE em dose cavalar. ;D
O Sporting da era Paulo Bento tem sido 4 anos de uma curva em sentido descendente. Sempre que se pensa que não dava para descer mais baixo, Paulo Bento encarrega-nos de nos mostrar que ainda não foi desta que batemos no fundo e que “A Viagem ao Centro da Terra” do Júlio Verne deveria ser reescrita para se usar, em vez de um vulcão, o buraco em que o Sporting se enterra cada vez mais. A exibição com o Twente na Holanda só comprova isso, já que foi uma das piores de sempre desta equipa e não acredito que exista um Sportinguista que consiga afirmar convictamente que a partir daqui só podemos é melhorar, uma vez que este Sporting é a antítese de uma equipa de futebol: não tem princípios de jogo, não tem jogadas-tipo, não tem coordenação entre sectores, não faz correcta e eficazmente as transições defesa-ataque, não sabe usar a velocidade e a agressividade de forma adequada, não sabe adaptar-se às circunstâncias do desafio e do adversário, não sabe quando deve alternar o jogo em equipa e o trabalho individual, não tem estratégia e táctica planeadas e definidas, não tem intensidade de jogo, não tem uma preparação mental exigente, não tem o controlo emocional necessário, não tem níveis de concentração adequados às competições que disputa… em suma, este Sporting não é uma equipa de futebol não é nada, apenas um amontoado de jogadores, alguns deles bons, que mercê da sua qualidade individual (e não colectiva) consegue ultrapassar alguns obstáculos, mas fraqueja invariavelmente no essencial.
Achar que este Sporting tem capacidade de vencer o Campeonato (o objectivo número um todos os anos) ou ir longe numa qualquer competição que dispute é um exercício de wishful-thinking puro e duro. Esta sensação já a tivemos anteriormente com muitos outros treinadores, jogadores e equipas directivas, mas não me recordo, mesmo consultando os registos históricos de tempos que infelizmente não pude presenciar, de um período tão longo em que a evolução tenha sido para uma conjunção perdedora com futebol absolutamente decrépito e “carunchoso”, tão coartador da esperança que ficou famosa por ser verde. O Sol nasce de novo amanhã, mas pelos vistos isso é válido para toda a gente menos para o Sporting.
Portanto, pela lógica o Sporting não tem razões para sorrir… o que é que nos resta? Ora pois está claro, a nossa amiga Sorte! A sorte tem uma forma de funcionar muito peculiar e faz a sua entrada triunfal de rompante exactamente quando menos se espera. Já Carl Jung, um dos pais da Psicologia Analítica, dizia que a sorte (ou o azar consoante o ponto de vista) era uma “sincronicidade”, ou num registo mais técnico, uma “coincidência significativa”. Revendo toda esta eliminatória da Liga dos Campeões só posso dizer: “Ó Carl Jung, para além de génio tinhas de certeza uma costela Sportinguista, não?” Neste caso concreto a sorte tem um efeito ainda mais engraçado, é que para além de não se compadecer com a lógica, consegue meter até o mais descrente dos Sportinguistas a berrar que nem um doido e com um sorriso de orelha a orelha por ter consciência de que lhe saiu o jackpot quando as probabilidades eram até capazes de rivalizar com as de cair um relâmpago neste preciso momento exactamente onde me encontro.
A sorte é pois incerta, imprevisível e desconcertante, mas também nos alimenta o espírito e torna invencíveis, nem que seja apenas por uma fracção de segundo e é por isso que todos gostamos de a ter e aos montes, mesmo que cheire mal da boca, tenha bicho e seja ainda mais feia que o galinheiro. Este pequeno texto sem grande sentido e escrito apenas para fazer passar o tempo é-lhe dedicado porque hoje dei comigo a pensar que, algures num universo paralelo, existe um planeta Terra perfeito e ideal onde a Holanda trocou geograficamente de lugar com a Portugal… Que nesse mundo o Sporting joga todos os seus jogos na Holanda (que é neste caso Portugal)… E que, à falta de arte e engenho, lá têm os Sportinguistas de confiar na sorte, o que em si não é chatice nenhuma, porque já toda a gente percebeu que as vacas são verdes na Holanda. :mrgreen:
© Paracelsus 2009