Cada um terá a sua opinião sobre esta figura, mas é importante que a baseiem em factos. Para os que não conhecem os factos:
1- Foi figura proeminente no 25 de Abril, que terminou um longo período de regime autoritário em Portugal;
2- Nos anos quentes de Abr 74 a Nov75, foi Comandante do COPCON, entidade que foi responsabilizada por detenções arbitrárias sem mandato judicial durante meses (com mandados de captura em branco), roubo, extorsão e tortura - vale muito a pena ler o relatório da “Comissão de Averiguação de Violência sobre Presos sujeitos às Autoridades Militares”, nomeada pelo Conselho de Revolução em 1976, relatório esse que esteve classificado como “secreto” até ao presente ano, altura em que foi divulgado pela Presidência da República. É importar ler, até para se perceber a história de Portugal no pós–revolução: Digitalização - Relatório da Comissão de Averiguação de violências sobre presos sujeitos às autoridades militares (julho 1976) - Arquivo Histórico da Presidência da República - Archeevo ;
3- Em 1976 foi candidato à presidência da república (teve 16% dos votos; perdeu para Eanes);
4 -Na década de 1980 foi líder de uma organização denominada “FP25”, responsável por dezenas de assaltos a bancos e a empresas (nomeadamente às carrinhas de transporte do salário de trabalhadores), ataques bombistas e execuções sumárias. Morreram 18 pessoas (entre militares da GNR, transeuntes, clientes dos bancos que estavam nas dependências bancárias no momento dos assaltos, uma criança de 4 meses que estava com a avó “no local errado à hora errada”, etc.) e ficaram inválidas dezenas de outras;
5 - Foi condenado em 1987 a 18 anos de prisão, mas em 1991 Mário Soares concedeu-lhe um indulto, vindo depois o parlamento (com votos de PCP-PEV e PS) a conceder-lhe um amnistia. Saiu em liberdade após 5 anos de prisão.
Julguem-no pelos factos.
Olhando para os factos, eu digo teve um papel importante a derrubar um regime totalitário (a história deve-lhe isso e deve saudá-lo por isso ) e depois tentou, por todos os meios (fazendo o que antes mais condenava), implementar um novo regime de matriz semelhante, ainda que na outra ponta do espectro político, o que a história também tem forçosamente que repudiar e condenar.
Olhem para ele como entenderem mas, só porque morreu, não façam dele um herói que só queria a liberdade e não lhe chamem democrata. Acho que isso até o ofenderia.
O Eanes que se vá deitar. Se tivesse sido um gajo a derrubar o estado novo para implementar um regime de inspiração nazi tambem andava a fazer figuras tristes com cartas dessas?
A Pide eram uns meninos e não queriam fazer mal a ninguém.
O Silva Pais era um menino bem comportado.
Santa paciência.
Ao Otelo agradeço-lhe o que fez na preparação e do dia do Golpe de Estado, foi dos poucos que teve “tomates” para enfrentar o sistema instalado até então.
Estrategicamente e sem politiquices pelo meio, foi provavelmente o mais “perfeito” golpe estratégico militar feito neste país.
Depois disso fez muita merda.
Tirando os fachos, devemos-lhe gratidão pelo contributo fundamental no derrube do Estado-Novo.
Não é graças a ele que estás em liberdade, aliás é apesar dele que estás em liberdade. Nem todas as revoluções procuram a liberdade , a maior parte só mesmo mudanças de Poder. Mas dando isso de barato, não fosse ele e restante movimento parado depois…e não vivias em democracia.
É uma figura histórica e que ficará para a história, dito isso, poucas causas justificam mortes , e a do Otelo no pós 25 de Abril não é certamente uma dessas.
Contar mortos é sempre mau caminho, mas classificas a I República como? É que entre perseguição política e os soldados que morreram em África e na Flandres na famosa guerra dos Democráticos, é facilmente o regime que provocou directamente mais vítimas.
E acabaste também por ir por um mau caminho, porque ao recorreres a esse tipo de argumentos omites as vítimas mortais (civis e militares) da Guerra Colonial, cujas estimativas apontam para cerca de 150.000.
Caro, não fui, continuei. E não é nada meu hábito, mas confesso que ao ler o tom por onde isto estava a ir não resisti.
E não percebo onde é que “omito”. Já que quiseste puxar de números, há cálculos que apontam a que nos vários teatros africanos durante a I Guerra Mundial podem ter a chegado a existir 100.000 vítimas civis (até se chegou a atirar o número de 273.547 civis africanos mortos, com o objectivo de sacar mais guito em Versalhes). Estas estimativas são sempre dificílimas de calcular, e infelizmente esta matéria não tem sido estudada com o detalhe e atenção que mereciam, pouco se tendo aproveitado da efeméride do centenário do conflito.
Vivemos num país lívre, estão no direito de serem de direita. Nada contra, atenção.
Mas fazer das FP25 a pior coisa que aconteceu em Portugal no século XX, é só um pretexto de fachos ressabiados com o 25 de Abril. É passar por cima de tudo o que aconteceu em Portugal durante quase 50 anos de ditadura e fascismo. É aproveitarem-se do sofrimentos dessas familias vitimadas pelo terrorismo das FP25 para outra coisa. Aliás, na boca dessas pessoas, parece que Portugal viveu 50 anos sob a ditadura de comunistas e não de um regime conservador de direita. Isso é tentar reescrever a história para o lado que lhes dá mais jeito e não tem nada a ver com o Otelo.
Ser de direita não significa idolaterar salazar por mais que a esquerda goste de passar a narrativa
Lembrar também depois de 25 de abril houve um 25 de novembro
Vou ser polemico, mas é a verdade: Otelo dirigiu a COPCON, ou seja, a PIDE do PREC!
Ele cometeu crimes como ajudou a cometer torturas e capturas sem mandatos nem nada.
Depois esteve implicado nas FP’s 25. Na guerra colonial ele ficou atras sem fazer nada enquanto os outros combatiam. Ele ajudou no 25 de Abril? Sim! Mas o objectivo dele não era a democracia.
Este país ainda não ultrapassou o ‘trauma’ da esquerda vs direita. Vivem a política como vivem o futebol. “Eu até acho o Sócrates um escroque, mas sou do PS, tenho de dizer que ele é inocente porque os outros fazem pior”. Ou “eu até acho que o Cavaco fez parte de um sistema bafiento que funcionava à base de cunhas e influências, mas sou do PSD, tenho de omitir isso e criticar os maus do outro lado”. E já nem vou falar dos extremistas…
No fim do dia, dá-se um fenómeno engraçado. Tanto a esquerda como a direita, vêm benesses e elogiam o pragmatismo político que leva os países nórdicos, bem como outros, mas essencialmente esses, a desenvolverem-se tanto, mesmo em alturas de crise. Mas o consenso termina logo que a discussão começa: Aquilo é direita ou esquerda? Na minha visão, que não percebo nada de política, não é direita nem esquerda. É em frente! Quando o país precisa de políticas de direita, adoptam-se políticas de direita. Quando o país precisa de políticas de esquerda, adoptam-se políticas de esquerda. Sempre dentro de um limite de bom senso e de respeito pelos cidadãos e pelos seus vizinhos, e independentemente da força política que está no poder. Tudo o resto são intrigas estúpidas que lá não têm lugar…
Sem tirar nem por, excelente intervenção
Enquanto se votar por ser de “esquerda” ou de “direita” não se vai a lado nenhum. Não interessam as propostas, não interessam as pessoas…
E depois há sempre o fenómeno engraçado do liberalismo que ainda deixa 75% da população à nora. Uns dizem que são de esquerda, outros dizem que são de direita… então anda se nesta luta para tentar colocar rótulos em ideias e propostas
