Levei uma pessoa comigo para ver o Sporting-Barcelona. Foi a primeira vez que entrou no estádio novo. Fomos relativamente cedo, para não ficarmos esmagados pelas filas intermináveis e desorganizadas que se formam a 10 minutos do início dos jogos grandes e que estragam, mesmo antes do jogo começar, toda a experiência que é ir assistir a um jogo de futebol ao vivo.
Por isso, antes do jogo começar, deliciei-me com aquele sorriso genuíno da primeira vez. Senti-me feliz pela felicidade do outro, reconheci naquele brilho dos olhos o meu próprio brilho nos olhos quando entrei no estádio pela primeira vez. E fiquei ali, em silêncio, a apreciar aquele absorver de sensações e de cores, aquela fase em que olhamos a toda a volta, em que tudo é novidade para nós.
E depois, veio o jogo.
Embora todos tivessemos esperança de que poderíamos fazer história, a verdade é que termos perdido o jogo não é uma grande surpresa dada a diferença de qualidade das duas equipas.
Entrámos bem e a coisa até correu bem nos primeiros 5-10 minutos, mas depois a qualidade da equipa do Barcelona - muito bem montada pelo “Paulo Bento lá da Catalunha” - sobrepôs-se.
O primeiro golo é a conjugação de dois factores: um dos melhores do Mundo frente a um central que se estreava num jogo “a sério”. O puto-Carriço parece ter tudo para ser extraordinário, mas há coisas que só se aprendem com a experiência e o Messi fez o que quis antes de oferecer o golo ao Henry.
Fica um amargo de boca no segundo golo, marcado de forma atabalhoada. Passe de costas/rabo, muita confusão e a bola entra caprichosamente.
O Sporting perdeu-se, andou às aranhas e foi sem surpresa que sofremos o terceiro, numa fase em que já só se pedia um intervalo para se fazer “qualquer coisa”.
Na segunda parte, marcámos dois golos de rajada e o estádio quase veio abaixo no segundo golo. Ouviu-se naquele grito de GOLO a esperança em cada um dos presentes no estádio. Viu-se a esperança no brilho dos olhos das pessoas. “Vamos, tira-lhe a bola”, gritavam para o Veloso quando estava frente-a-frente ao Xavi. Esquecemos por momentos o peso das camisolas, dos orçamentos, dos nomes feitos. Estavam ali onze contra onze e acreditámos que era possível. Como deveria sempre ser. Como não acreditámos mesmo quando estava 0-0 e o árbitro iniciava a partida.
O auto-golo do Caneira foi um balde de água fria. Foi o momento chave do jogo. Culpa de quem? Não sei dizer, nem quero saber. Foi golo, foi um golo que senti como injusto e que gelou as bancadas.
A esperança escondeu-se novamente. Estava lá, encolhida, à espera de outro momento de raiva da equipa que culminasse num golo para despertar. Infelizmente, fora-de-jogo, mão na bola, o que seja, não foram assinalados, mas antes uma grande penalidade e inferioridade numérica.
A marcação do castigo foi o espelho do jogo: quase defendida pelo Tiago, acabou a balançar as redes. E um 2-5 duríssimo de ver nos ecrãs do estádio.
Reduzidos a 10, o resto do jogo foi um pro-forma. O Barcelona não acelerou, poupando-se para o próximo jogo ou sentindo que já chegava. Nós ainda tentámos lá ir, timidamente, sempre em ataques em inferioridade numérica, e o Derlei (foi ele?) ainda viu negado um golo certo com uma defesa do outro Mundo do Valdés.
Foi um jogo que teve tudo. Começou muito mal, sonhámos e acabámos em pesadelo. Percebemos que o “quase” que nos faltou é o “muito” que separa a qualidade das equipas. E que isso pesou em toda a gente que esteve no estádio - jogadores e adeptos incluídos.
Não saí do estádio zangado, com vontade de rasgar o cartão de sócio (agora é de plástico, fica mais difícil…) ou envergonhado. Foi um jogo emocionante, com muitos golos e que, para mim, teve ainda o bónus de ver aquele “brilhozinho nos olhos” do adepto sportinguista que visita pela primeira vez o palco que é a sua casa.
“With great power comes great responsibility”. Estamos nos oitavos-de-final. E a equipa tem rapidamente de aprender a jogar contra este tipo de adversários. Temos de saber jogar com os nossos argumentos. Temos de saber defender bem, entrar mais concentrados que os outros, correr mais que o adversário. Temos de perceber que a fase a eliminar se joga a dois jogos. Que tudo se pode decidir numa desconcentração que culmine com um golo-marcado-fora. E temos de fazer tudo para que esse golo seja nosso.
Quanto a nós? Só nos resta apoiar, nos bons jogos e nos maus. “Até morrer, Sporting”. Não é o que diz o cântico?