Excerto de uma entrevista a um dos poucos anti-LFV que não foi corrompido pro tacho. Bruno costa carvalho:
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Sei bem que o Benfica não é um partido político e que todos os Benfiquistas fazem falta, mas num clube tão grande não seria possível encontrar pessoas com valor que nunca tivessem sido opositores do Presidente?
Nem sequer quero fazer julgamentos de carácter das pessoas que se opunham firmemente ao Presidente e que não hesitaram em juntar-se ao poder assim que tiveram oportunidade para isso…
A verdade é que me parece caricato que, por exemplo, alguém que foi chamado de mentiroso compulsivo pelo próprio Vieira, nos ecrãs da SIC, depois regresse ao clube. Não está em causa o valor das pessoas, mas o seu carácter.
Neste momento, sou o único que nunca quis integrar a estrutura de Vieira e que tento sempre ser coerente nas minhas oposições, não poupando os elogios quando os considero dever fazer, mas também não calando as críticas quando vejo motivos para as tecer. E motivos não faltam, pelo que considero que é bom que no Benfica existam alternativas ao actual Presidente e que não se deixem inebriar perante a luz do poder.
Como dizia, razões não faltam para que eu não me reveja na actual liderança e que me preocupam seriamente.
Se desportivamente tudo corre pelo melhor e o Benfica parece estar no rumo certo, já em termos económico-financeiros caminhamos, sorridentes e de uma forma quase inconsciente, para o abismo.
[b]Luís Filipe Vieira é responsável pelo aumento do endividamento do Benfica em mais de 400 milhões de euros. Só entre empréstimos bancários e obrigacionistas devemos mais de 300 milhões enquanto, por exemplo, o Real Madrid deve 80 milhões.
O estádio já devia estar pago há muito. Foi inaugurado em Outubro de 2003, há precisamente 13 anos, e teve um custo líquido abaixo dos 100 milhões. Não é o estádio que explica a subida do Passivo, como não é o Seixal que foi pago com o “naming” da CGD e muito menos o museu que custou perto de 10 milhões de euros.
O Passivo subiu devido a um despesismo sem precedentes que nem o reforço da equipa principal explica pois as excelentes vendas milionárias tudo deveriam ter compensado.[/b]
A sensação do dinheiro fácil de grandes vendas tende a dar péssimos resultados a longo prazo.
Na sua vida pessoal, Vieira é um milionário totalmente endividado e que não hesitou em se alavancar de uma forma brutal. Temo que o mesmo modelo, a mesma lógica, tenha sido trazida para o Benfica. Isso não é aceitável e é extremamente perigoso.
Finalmente, há uma série de princípios morais, e da forma de ver o clube, que me impedem de algum dia ser apoiante do actual Presidente. Luís Filipe Vieira não consegue explicar uma coisa tão simples como o seu número de sócio. A verdade é que nunca houve um único jornalistas que se interessasse seriamente pelo assunto. Parece insipiente, mas não o é. Se o número não for legítimo toda a credibilidade e honra do Presidente se desmoronam.
Depois o Benfica tem uns estatutos tenebrosos, desenhados a perpetuar no poder o actual Presidente (que já nem disso precisa) e muito pouco democráticos, nada condizentes com a sua história.
E temos, ainda, a questão de um esdrúxulo voto electrónico sem um suporte físico que o comprove e que permita recontagens. Ninguém poderá dizer que qualquer votação no Benfica tenha sido adulterada por o uso deste sistema, mas, e em bom rigor, também ninguém poderá pôr a mão no fogo pela sua autenticidade.
Mais grave é a teia de negócios mal explicados e que muito me desagradam.
Em tempos de vitória não se olha com o devido cuidado para esses negócios, mas eles existem, são muito duvidosos e não percebo como não são investigados com mais profundidade.
Num cômputo geral, não posso, em consciência, apoiar ou votar em Vieira, mas admito que a sua continuidade é legítima.
O maior desafio de Vieira será o de, mantendo a competitividade da equipa, melhorar significativamente a situação financeira do Benfica, acabar com o despesismo e com os negócios dúbios.
Uma revisão estatutária que devolva a normalidade e a transparência ao clube é algo que, também, se impõe.
Aconselho, finalmente, Vieira a não ceder à tentação de se perpetuar indefinidamente no poder e a estabelecer um limite máximo para a sua saída.
Eu não quero ver um Benfica com enormes problemas de sucessão ou um clube à beira da falência cheio de milionários.
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