Como hoje trabalhei de noite e agora que cheguei a casa ainda não me apetece dormir dou-te uma chance.
Em primeiro lugar, parece que não tiveste muita paciência para ler a página da wiki, pois algumas das respostas às tuas dúvidas estão lá. Mas eu dou-te a minha perspectiva:
- Estado:
Anarquia significa ausência de coerção e não ausência de ordem (isso é anomia). O termo anarquia, no aspecto politico nunca vive sózinho. Anarquia, no espectro politico posiciona-se verticalmente, e perpendicularmente ao eixo económico, estando no extremo oposto desse eixo vertical, sendo que no outro extremo está o Autoritarismo. Este eixo define o grau de coerção a que uma sociedade pode estar exposta. Vulgarmente os Anarquistas - sejam eles Socialistas Libertários, Anarco-comunistas, anarco-sindicalistas, etc entendem que a existência do Estado é nefasta para a liberdade individual e colectiva da sociedade. Entendem o Estado como sendo um instrumento de governo de minorias priviligeadas sobre maiorias de desfavorecidos, que por sua vez tem mecanismos próprios de coerção, controlo, opressão e contra-informação, tudo pela manutenção da ordem pública do Estado. Entende-se o Estado como uma entidade centralizadora, burocrática, facilmente corruptivel, opressora, e como tal nefasta. Entendem ainda que as sociedades humanas não precisam de uma entidade que as represente, sendo elas próprias capazes de se governarem. Assumem portanto a abolição do Estado, mas nunca a abolição da Ordem e da organização social, politica e económica.
2)Economia:
Abolição da propriedade privada dos meios de produção. Colectivização de todos os meios de produção, isto é, todos os meios necessários à produção estarem ao dispor da comunidade. Ao abolir a propriedade privada dos meios de produção, suprimem-se toda e qualquer vantagem competitiva de alguns individuos sobre uma maioria que não tendo mais do que a força do seu trabalho, mais não podem fazer do que aceitar um salário, vendendo a sua força de trabalho a quem detém os meios de produção e que assim se torna o Capitalista. Capitalista esse que mais não faz do que explorar a força do trabalho de outros, para gerar capital, do qual irá usufruir.
A organização económica poderá ser mutualista, colectivista, comunista ou algo híbrido. O Mutualismo era defendido por Proudhon e pressupunha que cada pessoa poderia ter um pedaço de terra (por exemplo), trabalhá-lo individualmente e usufruir desse trabalho ou então trocá-lo por bens que exigissem trabalho semelhante. O colectivismo afirma que o trabalho de todos deverá ser distribuido equitativamente por todos os membros da comunidade. Já o comunismo libertário afirma que sendo os meios de produção colectivos, cada um deveria trabalhar aquilo que entendesse necessário, e que cada qual deveria aquirir aquilo que de necessitasse: “De cada um segundo a sua capacidade, a cada um segundo a sua necessidade”. Basicamente com este ultimo sistema era abolido o salário, a moeda, o valor de troca e o valor do trabalho. Os mercados eram uma espécie de armazéns gigantes onde cada um retiraria o que necessitasse. O açambarcamento seria minimo pois deixaria de existir capital acumulado e todo o tipo de vantagens daí inerentes: de que valia portanto eu ter mais do que o vizinho?! No fundo, este sistema permitiria acabar com todo o tipo de conflitos entre individuos por motivos económicos. A unica objecção a este sistema, seria devido àqueles que não quisessem contribuir para o aparelho produtivo (e poderia ser através de bens ou serviços).
A regulação destas relações económicas estaria na esfera, claro, de algum tipo de assembleia comunal baseada em algum tipo de democracia directa.
Como se vê, o anarquismo tem várias vertentes económicas, sendo que o ponto comum a todas e que é transversal a todo o pensamento socialista é: abolição do Capitalismo, isto é, de toda e qualquer forma de exploração do trabalho assalariado como forma de acumular capital.
- Religiões:
Liberdade de culto. Supressão de qualquer instituição religiosa de caracter coercivo e hierarquizado. Isto não implica a supressão do direito de associação com caracter religioso.
4)Eleições:
Rejeitando o Anarquismo, o Estado, rejeita logicamente todos os sistemas politicos na sua esfera. No caso especifico da democracia representativa e parlamentar dos estados burgueses liberais contemporâneos, onde as Eleições são mecanismos de escolha daqueles que no Parlamento “nos representam”, o Anarquismo rejeita o conceito de Eleição. Rejeita porque nega totalmente a necessidade das sociedades se fazerem representar por minorias priviligeadas. Rejeita totalmente o conceito de Partido Politico e assume claramente a rejeição da Democracia Representativa em detrimento da Democracia Directa.
Ainda assim, o Anarquismo tem como pilar o voto individual em sistema de Democracia Directa dentro de orgãos especificamente designados para atender às especificidades, necessidades e anseios de toda a comunidade. Orgãos estes que não passarão de Assembleias.
Por curiosidade, a Democracia Directa é hoje, com o advendo nas novas TI, uma realidade bem mais exequível do que antes (era antes uma Utopia, veja-se bem)! Como exemplo deixo esta experiência sueca: http://pt.wikipedia.org/wiki/Demoex.