Hip-hop/Rap e derivados

Desculparás, mas tenho de rebater alguns pontos que trouxeste à discussão.
É que o rap, é-me demasiado caro e particular, para eu recusar dissecar com maior propriedade alguns pontos.
Tenho mesmo de o fazer.
O estigma não foi criado ou alicerçado por capricho, por simples espontaneidade, ou porque “sim”.
Foram muitos dos jovens que participaram na LKO (nem todos, é certo. Mas muitos) que contribuíram significativamente para que esse estigma fosse alimentado.
É um chavão clássico, mas que importa relembrar: O justo paga pelo pecador.
E se é verdade, que compete aos ouvintes separarem o trigo do joio, não é menos verdade, e desculparás mas não me conseguirás convencer do contrário (não por teimosia ou relutância da minha parte) que uma fatia significativa dos participantes da liga estavam claramente mal preparados.
E o caso ganha contornos escandalosos (ou pelo menos pisca o olho ao embaraço) se atentarmos ao próprio formato da Liga (exportado de lá fora, como sabes). O que é que eu quero dizer com isto? Eu explico.
Não se trata de uma battle rap em jeito de freestyle.
Porque se o fosse, eu daria perfeitamente de barato um dia de menor inspiração.
Porque seria um formato altamente condicionado pela capacidade de improvisação de um rapper.
Agora mesmo admitindo o natural nervosismo, tenhamos a noção que se trata de um formato que legitima/permite uma preparação prévia das rimas.
As rimas podem ser pensadas, estruturadas, analisadas, ponderadas.
Os tropas de qualquer rapper podem dar o seu parecer/feedback positivo ou negativo, permitindo inclusivamente que o mesmo lime algumas “arestas”.
Permite um trabalho prévio, permite maturação, permite complexidade, permite todo o tipo de wordplay que possamos imaginar.
O pessoal pode perfeitamente optar por um estilo mais irónico, mais chillin’, mais “thug”, podem recorrer a todo o tipo de metáforas, a todo o tipo de jogos enigmáticos.
Tudo.
Podem seguir uma linha mais agressiva, podem aprofundar a estratégia que bem entenderem (uma que remexa questões de natureza pessoal, ou uma estratégia que vise essencialmente humilhar o próprio skill do adversário). O que bem entenderem!
Por isso, amigo, não existem desculpas para que baixemos o nível de exigência.
E antes que alguém abrace ou me devolva a ideia preconizada pelo Sam (“estigar é fácil, fazer melhor é que é f.o.d.i.d.o”) ressalvo o óbvio: eu não sou rapper. Sou um hip-hop listener.
E estou disposto a dar oportunidades a novos valores.
Mas é fundamental não baixar o nível de exigência.
O nível do rap game de vários rappers da LKO (não apenas um aqui ou outro acolá. Vários mesmo!) roçou a mediocridade.
Admitamos isso, de uma forma inequívoca.
Antes de um rapper entrar na LKO, na minha opinião deve questionar que tipo de rumo pretende dar ao seu percurso no rap.
Naturalmente que, até mesmo os gajos que se destaquem, correm o risco de ficarem eternamente associados a um formato onde passa/passou pessoal sem níveis mínimos de preparação.
Sem skill.
Como é que eu posso aceitar um nível tão fraco, tão “sem sumo”, por exemplo de um Sillybang, se supostamente (segundo ele próprio) rima desde 2004?!
10 anos.
E eu pego no exemplo do Silly, porque foi um que me lembrei agora. Existem muitos outros.
O nível da LKO, e acredita que não digo isto com prazer ou satisfação pessoal, é infelizmente nivelado por baixo.
Claro que há pessoal com talento, com manifesta qualidade.
Mas o nível médio, é fraco.
Não preciso de dizer " Isto é a minha opinião". Logicamente que é. Sou eu que estou a escrever.

Falando do Young particularmente, ele já rimava [b]muito antes[/b] de participar na LKO, eu acompanhei o trabalho dele desde o inicio embora ele seja muito jovem já rima a cerca de 5/6 anos
O próprio Young assumiu publicamente, e está documentado em vídeo, que antes de participar na LKO (basta reveres o vídeo com o Prof) rimava há cerca de 2 anos e meio. Não existem fórmulas, ou tempo concreto/ideal. Mas foram apenas 2 anos e meio. Na altura (e isto foi há coisa de 1 ano e tal. Não foi propriamente há 5, 7, 8, 9 anos) o Young tinha 18 anos e rimava apenas há um par de anos. Se leste o que escrevi inicialmente, eu próprio tive o cuidado de ressalvar que noto uma clara vontade do Young em elevar o seu rap. Nota-se uma evolução, nota-se trabalho. Contudo, e isto é um mero exemplo, até porque não vou perder muito tempo a falar do Young (ele terá que trilhar o seu caminho primeiro), se reparares na transição de versos, do final de uma rima para o início de outra, o Young frequentemente não "respeita" os timings da sua própria respiração, acabando por originar um barulho inacreditável (para quem ouve com phones sobretudo) sempre que ele necessita de "caixa". Sempre que ele precisa de mais ar, porque se prepara para atacar barras num estilo de fast-rap. Ora, estas questões podem ser controladas no próprio processo de masterização de uma track. Os próprios decibéis naqueles exactos centésimos de segundo que antecedem uma rima em fast-rap, são claros em qualquer editor de áudio. Eu sei que isto é um "pormenor" de m.e.r.d.a para muitos. Mas faz toda a diferença para quem ouve. E são estes pormenores, estas pequenas pedras, são os rappers/artistas que têm cuidado com estes preciosismos, que conseguem ameaçar a perfeição. Porque a procuram. Conheço alguns putos de 17, 18, 19 anos que desde sempre que têm essa preocupação.
Por outro lado também existem (na esmagada maioria) rappers que são sobrevalorizado na LKO, quando a maior parte de deles nem tem grande qualidade.

Concordo. Já o disse. Mas aí a responsabilidade é de “todos”.
Existe uma masturbação colectiva que é em muitos casos precoce, e depois origina o endeusamento de simples…mortais.

[b] muito dos ouvintes não percebem as técnicas de escrita que os rappers utilizam[/b], o que torna ainda mais difícil perceber de rap. [b]É o mesmo que estar a ler Fernando Pessoa e não saber o que são recursos estilísticos, obviamente nunca vais conseguir valorizar a obra do autor na totalidade.[/b]
É uma observação pertinente. Mas apenas ofereceste a cara da moeda. Falta a coroa. Não são apenas muitos ouvintes que não percebem as técnicas de escrita que os rappers utilizam, ou não percebem de recursos estilísticos. Os próprios rappers, têm de se instruir. E quando digo instruir, não estou a dizer que têm de tirar um curso superior. Se reparares, quase todos os rappers que têm um jogo inteligente de palavras, complexidade, profundidade, são rappers que mergulharam durante anos em livros. Mesmo aqueles que vêm/vieram de ambientes pesados, como é o caso do Kool G Rap, Big Daddy Kane, KRS-One. O facto de um rapper ser oriundo de bairros problemáticos, de não querer ou não ter possibilidade para estudar, não impede que cultive o gosto pelo domínio das palavras, dos sons, dos significados. Estás a atentar à dificuldade que os ouvintes têm em perceber algumas técnicas de rap, e o que não falta na tuga, são gajos que utilizam o "mais boas" no lugar de "melhores". E sim, muitos desses gajos, têm um mic na mão. Qualquer rapper pode recorrer ao [i]slang[/i], sem perder a noção de uma contínua evolução. Ou num exemplo conhecido, se quiseres, a "thug life" e eterna mentalidade "F.u.c.k the Police" do 2pac, nunca impediu que ele próprio buscasse um conhecimento progressivo.
[b]O Valete não lança nada ha bastante tempo, está a quase 10 anos pra lançar um album lol,[/b] os ultimos sons que lançou, excepto "Mulheres da minha vida", são de baixa/razoável qualidade,[b] e mesmo assim está sempre a dar concertos[/b], é esse tipo de sobrevalorização e monopolização do raptuga que eu critico.

Até sou capaz de concordar com esta ideia. Não exactamente da maneira como dizes, até porque o teu “lol” já soa a estiga ao próprio Valete, mas pelo menos o sentido que pretendes dar, consigo entendê-lo.
Mas atenção! Esta tua observação denuncia o outro lado do rap. Do rap, da ciência, do futebol. De tudo.
Se há quem valoriza de imediato alguém que ainda não o fez por merecer, também há quem transforme um peão num rei, e um rei num peão, num abrir e fechar de olhos.
Repara que momentos antes, enfatizaste o cuidado que o Young tem tido em não lançar coisas “à toa”.
Mas agora questionas a maturação do Valete.
Questionas o facto dele não lançar nada.
Como se ele fosse obrigado a lançar algo de 2 em 2 anos. Ou de 4 em 4. Ou de 7 em 7.
Mais do que isso, até: elogias imenso o Young, e questionas a qualidade dos mais recentes trabalhos do Valete.
Como se os mais recentes trabalhos do Young, fossem superiores aos mais recentes trabalhos/colaborações do Keidje.
Se me permites, e pensando no contexto nacional (transportando a realidade actual do rap nacional e do futebol nacional. E neste exemplo, porventura, até já estarei a ser excessivamente simpático) uma boa exibição do Licá, não significa que seja melhor ou mais produtiva do que uma exibição cinzenta ou pouco conseguida do Nani ou do Cristiano.
Não te podes deixar trair pelas inacreditáveis expectativas e margens de erro que, inconscientemente, atribuis a cada um.
O Valete atingiu um estatuto em que já não pode correr o risco de lançar apenas uma coisa “fixe” ou “interessantezinha”.
O mesmo se aplica ao Sam The Kid.
É um paralelismo perigoso, mas estabeleço-o na mesma: Toma o exemplo do Dr Dre.
Que sempre o considerarei mais como beatmaker/producer do que rapper.
Até porque na parte da escrita sempre teve um arsenal de ghost writers.
Achas que o Dre, se quisesse, ao longo destes anos, não tinha material de suficiente qualidade, para “f.o.d.e.r” por completo os tops dos States e do Reino unido?
Nem que, no limite, lançasse um cd tendo como base fundamentalmente colaborações.
Que rapper é que recusaria (o Eazy-E. Mas já não está entre nós) participar num projecto do Dre?
Só que o Dre não quis.
Padronizou uma fasquia para si próprio, com proporções colossais, que acabou sempre por ficar eternamente insatisfeito consigo mesmo.
O Valete corre esse sério risco.
Repara que o Valete não dá concertos…apenas “porque sim”.
Dá concertos porque tem público. Porque há pessoas que querem ouvir.
É algo “deprimente” percebermos que um universo de “groupies” se contenta sempre com os mesmos clássicos do Educação Visual ou de um par de músicas do Serviço Público?
É. Sou capaz de concordar contigo.
Mas o Valete dá concertos…porque enche discotecas, pequenas festas, ou espectáculos promovidos por uma determinada Camara municipal, ou associação de estudantes de uma qualquer faculdade.
Isto não tem a ver exclusivamente, como pretendes fazer crer, com monopolização.
Valete teve que começar do zero. Repara no caminho que o Valete teve de percorrer, para ganhar o “estatuto” que agora tem.
Não esqueçamos que o Valete terá os seus 30 e tal anos.
É algo redutor, ou limitador, construíres uma narrativa que aponte para uma espécie de fabricação e respectiva manutenção de um suposto elitismo no rap nacional, quando Sam, Valete (apenas para dar alguns exemplos) tiveram que “partir pedra” para alcançarem o posto que agora têm.

[b]Infelizmente os ouvintes de HH tuga ainda não tem maturidade suficiente para ouvir rap pouco convencional, um rap mais complexo e mais pensativo[/b], [b]em que tens que repetir a track 5/6 vezes para perceberes o sentido da musica, o pessoal quer é cenas mais simples e básicas em que se entende tudo á primeira[/b].
Cá está. É crónico. Já o disse. Tens de contrariar isso. Na minha opinião, estás demasiado refém da mentalidade " eu é que procuro cenas com complexidade. Com profundidade". "Os outros só querem mainstream. Só ouvem o rap da moda. Só ouvem pop. Eu é que privilegio o brilhantismo". "Na tuga, só se aplaude o fácil". Repito as vezes que forem necessárias. É uma mentalidade que impede o total crescimento do rap. Cada um de "nós" julga sempre que sabe mais do que o outro. Já tive mais essa mania. Não caias nesse exercício falível. O de pensares que percebes mais do que o X ou Y. Eu sinto-me absolutamente confortável para falar de rap. Seja ele nacional, norte-americano etc etc. Dentro do rap norte-americano, até me sentirei confortável para me debruçar sobre os diferentes estados. Não os 50, claro. Mas já perdi um pouco essa mania de achar que os outros só gostam de "Souldjaboy" e "eu é que escuto rimas estruturadas e inteligentes". Repara no perigo de uma análise superficial: A partir do momento que tu elogias/elogiaste imenso um rapper em quem eu não revejo grande potencial, eu podia facilmente precipitar-me e retirar conclusões erradas sobre os teus gostos, ou sobre o teu nível de exigência no mundo do rap. Mas não farei isso. Cada um ouve o que bem entender. E dentro do espectro do rap, há espaço para tudo. Não sou hipócrita: tanto posso ouvir num dia rap mais consciente, como no dia imediatamente a seguir incorporar um espírito "Bitches will be bitches". Tento não me tornar refém de "etiquetas". Aliás, nesse aspecto, sou muito open minded. Hoje posso escutar rap, amanhã rock, depois de amanhã uma banda sonora do Hans Zimmer, no dia seguinte uma sinfonia clássica e por aí fora. Um pouco isto.

P.S: Conflito Israelo-Palestiniano, promiscuidade da banca à escala mundial, assimetrias sociais. Nunca os rappers da tuga tiveram tanto material para dissertar.
Não me f.o.d.a.m.
Esforcem-se.

Warup! I’m out. Quase 4.

“Os próprios rappers, têm de se instruir. E quando digo instruir, não estou a dizer que têm de tirar um curso superior.
Se reparares, quase todos os rappers que têm um jogo inteligente de palavras, complexidade, profundidade, são rappers que mergulharam durante anos em livros.”

Não concordo lá muito com isso, e nem acredito que exista muito rappers que leem livros com frequência (pelo menos os rapper que eu escuto). Até porque para dominares técnicas de escrita não precisas de andar agarrado aos livros, talvez o uso do dicionario, mas mesmo assim, é algo que não tem muito haver com teoria , é uma cena prática, um exercício mental e escrito, e obviamente é preciso talento.
Alias, tu citaste o Kool G Rap e o Big Daddy Kane, que são rappers que são conhecidos pelo uso de rimas multissilabicas, e isso não vem em livros, é prática e talento.

[b]“Mais do que isso, até: elogias imenso o Young, e questionas a qualidade dos mais recentes TRABALHOS do Valete.

Como se os mais recentes trabalhos do Young, fossem superiores aos mais recentes trabalhos/colaborações do Keidje.[/b]

Por acaso até acho que alguns trabalhos (1 ou 2) do Young, assim como de outros tantos rappers, melhores que a recentes trabalhos/colaborações do Keidje.

O Valete atingiu um estatuto em que já não pode correr o risco de lançar apenas uma coisa “fixe” ou “interessantezinha”.

O Valete não tem obrigação de nada, nem sequer de ser rapper, mas desde o momento que anuncia que album vai sair em determinado ano, é normal que os seus ouvintes comecem a cobrar isso.Agora, essa justificação do estatuto nao me convence, se o Valete tem que ficar quase 10 anos para lançar um álbum (álbum esse que ele disse em 2009 que está praticamente terminado) porque quer lançar um álbum supa dupa perfeito por causa do seu status, o que dizer de rappers como Eminem que têm 10x mais buzz que Keidje e que já fazem parte da historia do rap mundial mas continuam a lançar projetos constantemente.
Obviamente que cada pessoa é diferente e não existe nenhum intervalo de tempo definido para lançar um álbum, cada um demora o tempo que achar melhor para o seu projecto. Eu quando falei disso nem foi nesse sentido, foi para reforçar a ideia de que mesmo ficando tanto sem lançar nada continua a ser solicitado para concertos.

Achas que o Dre, se quisesse, ao longo destes anos, não tinha material de suficiente qualidade, para “f.o.d.e.r” por completo os tops dos States e do Reino unido?
Não, não acho. O Dre é o boss dos beats mas eu nem sequer considero ele rapper, por causa do uso de ghostwritters e tu referiste e bem. O gajo que faz a carreira com skill emprestado ou comprado de outros, eu não posso considerar rapper, até posso gostar da musica dele mas não lhe vou dar mérito. Obviamente que o pessoal papa isso, porque lá está, é o Dr.Dre, tem estatuto e é americano. Gostaria mesmo de saber se o pessoal descobrisse por exemplo, que o Xeg utiliza um ghostwritter, teria a mesma atitude que tem com Dre. Duvido muito disso!

“Na minha opinião, estás demasiado refém da mentalidade " eu é que procuro cenas com complexidade. Com profundidade”.
“Os outros só querem mainstream. Só ouvem o rap da moda. Só ouvem pop. Eu é que privilegio o brilhantismo”.
“Na tuga, só se aplaude o fácil”.
Repito as vezes que forem necessárias.
É uma mentalidade que impede o total crescimento do rap."

Não vejo onde isso impeça o crescimento do rap, tu dizes que és exigente mas estas me a criticar por procurar cenas mais complexas, não percebo. Eu procuro o que ha de melhor no HH tuga, e recuso-me a acreditar que o rap tuga tem apenas 4/5 rappers de qualidade, sei que Portugal é um país pequeno mas existe qualidade, são poucos mas eu tenho encontrado.E É uma enorme satisfação quando se descobre rappers com potencial mesmo sendo completamente desconhecidos.
O que impede o crescimento do rap é ouvirem sempre os mesmo rappers, não se importarem de passar os próximos anos á ouvir Valete e STK, é não se importarem de ir a concertos onde o cartaz é sempre o mesmo, só muda a cor e o local, é caírem na crença que o raptuga é como a Liga Portuguesa: 3 clubes importantes, o resto é resto. Isto sim, impede o crescimento do rap.

“E dentro do espectro do rap, há espaço para tudo.
Não sou hipócrita: tanto posso ouvir num dia rap mais consciente, como no dia imediatamente a seguir incorporar um espírito “Bitches will be bitches”.
Tento não me tornar refém de “etiquetas”.
Aliás, nesse aspecto, sou muito open minded.”

Mas qual é o problema de ouvir musica sobre bitches e bling Bling? Eu quando digo que procuro cenas mais complexas, estou a falar em relação a técnica e não a mensagem. Sempre ouvi dizer que Rap era liberdade de expressão e portanto os rappers falam do que quiserem, não serás melhor rapper por falares do bairro e nem serás pior por falar de drogas, eu não avalio um rapper pelo que diz mas pela forma que ele diz. Se um rapper tiver a cuspir com alto flow e skill e tiver a falar de cenas fúteis, eu até posso não gostar da mensagem (que é algo subjectivo) mas vou reconhecer o seu potencial porque demostrou ser capaz de dominar habilidade liricas e vocais (que é algo objectivo).

Bem despeço-me com este brinde

[youtube=640,360]http://www.youtube.com/watch?v=psENd3Z34IQ[/youtube]

Nada mais longe da verdade, amigo.
Explico melhor.
O que eu digo é que as pessoas em geral, não apenas tu em particular, (também eu me tenho esforçado em mudar nesse sentido. Ou seja, estamos juntos nesta “pseudo-arrogância”. Não direi que sou muito diferente de ti neste aspecto) têm de começar a perder o “hábito” de se julgarem catedráticas no domínio do rap, e de pensarem que os outros procuram algo mais fácil, elementar, menos profundo.

Repara nesta tua frase e que acaba camufladamente por entroncar na arrogância que eu sublinhei.

Eu procuro o que ha de melhor no HH tuga.

Nem te critico por preferires ouvir algo complexo, como também nunca irei criticar se preferires ouvir algo que eu considere mais básico.
Até porque cada um tem os seus gostos, e os meus no que diz respeito aos géneros dentro do rap, são inesgotáveis.
Variam de dia para dia. Consoante o meu estado de espírito pontual.
O que eu critico é o facto de tu pensares que “os outros” é que têm culpa do estado a que isto chegou.
Que “os outros” é que não ajudam a inverter o rumo.
Aquilo que eu critico, é a tua aparente postura de ciclicamente construíres uma narrativa que aponta para:
“O pessoal quer sempre ouvir a mesma m.e.r.d.a. Como é que isto anda para a frente?”
“O pessoal limita-se a ouvir sempre o mesmo. O pessoal contenta-se com produtos tão vazios” etc etc
Repara que o mais curioso até, e conheço N casos assim, (não estou a falar do teu caso!) é que muitos que criticam até nem costumam apoiar o movimento.
Não aparecem em concertos, não compram um álbum aqui e/ou acolá.
Já falei com vários artistas, vários produtores, e com algumas pessoas que trabalham em algumas editoras, e a verdade é que o “love”, os “props” que invadem os youtubes, e os “fóruns especializados” que esta vida pariu, não condizem com o fraco volume de vendas.
Nem tão pouco com alguns concertos ou showcases (não me refiro, evidentemente aos cartazes mais sonantes. Esses estão quase sempre lotados).

Por Mera Curiosidade.
Para te dar um exemplo, cheguei a estabelecer contactos no sentido de garantir o Dillaz para uma festa na minha antiga faculdade, a associação de estudantes pediu-me porque eu e o Dillaz temos alguns conhecidos comuns e o gajo estava a pedir valores “pornográficos” para a realidade da associação.
Valores inacreditáveis, mesmo.
Que nem o Quim Barreiros (não que eu aprecie. Mas tem uma carreira feita. Tem nome) que também chegou a actuar, pediu.
Não entrarei em detalhes financeiros, porque seria indelicado.
Ora, o Dillaz está no seu perfeito direito de pedir aquilo que bem entender.
É ele quem determina o valor da prestação dos seus serviços.
Agora, na festa da faculdade, estariam seguramente umas 2 mil ou 3 mil pessoas.
E não estou a falar de crianças de 15, 16, ou 17 anos, como deves calcular.
Estou a falar de pessoal entre os seus 18- 24 anos, já com a sua “carteira” e com a possibilidade de (para aqueles que ainda não conheciam/conhecem) ouvirem o artista, curtirem do trabalho, e eventualmente comprarem projectos futuros.

Nota suplementar:
Na minha opinião, tens/temos/têm de pensar até que ponto vale a pena reforçar sempre críticas aos ouvintes da tuga, e culpar exclusivamente o público por um aparente retrocesso, ou por uma crónica e eterna dificuldade em se evoluir para novos caminhos, novos projectos.

Repara uma coisa:

Apesar da boa gastronomia, dos vinhos, das mulheres lindíssimas, da boa investigação científica que se faz por cá, nunca me esqueço que, com todas estas virtudes, o meu país também é:

a) O país onde a casa dos segredos é líder de audiências.
b) Filhos do Tony Carreira invadem os top’s nacionais.
c) Livros da Maya e do Nuno Eiró tornam-se best-sellers.
Etc etc

Portugal é muita coisa. Mas também é isto.
Vazio ou não, cinzento ou não, básico ou não, complexo ou não. É livre.

Alias, tu citaste o Kool G Rap e o Big Daddy Kane, que são rappers que são conhecidos pelo uso de rimas multissilabicas, e isso não vem em livros, é prática e talento.
Certo. Mas não utilizei estes dois exemplos em abstracto. Trouxe-os à discussão, porque conheço os dois percursos, e ambos (cada um com o seu background) desde sempre que revelaram um fascínio incontornável por literatura. Se leste com atenção tudo aquilo que escrevi, repararás que se encontram por lá as devidas ressalvas. Fui muito claro nisso. Um rapper não tem de ser o próximo Saramago. E evidentemente que questões de natureza técnica (flow, speed, rhyme techniques) não se aprendem nos livros. Mas como o próprio Nas, uma vez disse: " Ler não mata". No fundo, é isto.

“Ler não mata”.
E durante o processo, de vez em quando, até se aprende alguma coisa.

O Main Event do apocalipse 2 foi divulgado. El Sayed VS Jotta R.

Interessante discussão, a vossa :great:

No meio disto já descobri o João Tamura, de quem nunca tinha ouvido falar. Não querem sugerir uns albuns, tugas ou não, porreiros? Conheço pouco disto.

Gostaste de João Tamura? Eu acho que tem um enorme talento.

Bem, em relação a albuns, isso depende do que procuras, podes ouvir a discografia inteira do Valete, STK (incluindo beats), ou Xeg…mas vou deixar umas cenas desconhecidas mas de qualidade:

Nota: Ouve primeiro as musicas que meti, se gostares ouve o album, se não gostares não vale apena ouvires o album porque o conteudo é semelhante.

No Pity (Xizini e Geny) - Passeio nas nuvens - É mais jazz do que rap mas está muito bom
https://www.youtube.com/watch?v=TaSrkpIIFyw

Nerve - ENPTO (Eu não das palavras troco a ordem) - Album mais criativo que ouvi no HH tuga
https://www.youtube.com/watch?v=4ISPRH1Mv04

WACK (Tanb e Dikas) - Contra Fracos Não Há Argumentos
https://www.youtube.com/watch?v=6ex_3pN8PFo
https://www.youtube.com/watch?v=e4xkTacr6tw

M.A.C (Kulpado e TNT) - "Muito A Contar
https://www.youtube.com/watch?v=Bhv4kFMdWfI

Diabolic - Liar and Thief - Se apreciares gajos com alto skill, tens aqui um boa opção.
https://www.youtube.com/watch?v=Zu9UlZvx4eQ

Até te poderia sugerir mais, e fosse sugerir mais cenas internacionais nunca mais sai daqui lol.

Sim, gostei de João Tamura.

STK para mim é top. Acho que tem tudo. Valete ouve-se, mas não curto tanto como STK. Xeg já tentei algumas vezes, mas não funciona.

Acho que o primeiro álbum que ouvi foi o Visão Periférica do Royalistic. Na altura, por influência de um primo meu, ainda eu era bem puto. Gosto do trabalho dele.

Obrigado pelas sugestões :great:

Este gajo é genial…
[youtube=640,360]http://www.youtube.com/watch?v=guzX42tPp7k[/youtube]

Já está aí o novo som do Jimmy P com Valete e DJ Ride. :great:

Gênio!

[youtube=640,360]http://www.youtube.com/watch?v=olVPXpGohII[/youtube]

[youtube=640,360]/watch?v=svYLjD998Hw&hd=1[/youtube]
Estão a falar deste João Tamura ? Olivais na casa :mrgreen:

Acho que oiço esta música pelo menos 1 vez por dia desde que o @Zé Alguem falou do João aqui no tópico. Muito bom.

O ENPTO do Nerve também é excelente :great:

João Tamura? Conheço pessoalmente.

Se quiserem alguma informação dele, é só falarem. :mrgreen:

Epa, fez-me lembrar aquele sketch de comédia sobre o hip-hop do #Bilhar Grande em que os rappers têm de ter uma história de vida marcada pelo sofrimento.

A letra da musica sobre Olivais/Moscavide fez-me sorrir, serão assim tão maus esses bairros para uma letra tão melodramática? :mrgreen:

Então os artistas que vivem no Vale da Amoreira, Miratejo, Pica Pau e nas localidades da linha de Sintra têm de emular Bagdad para o seu reportório lírico.

Vamos lá falar de coisas sérias então: Um clássico do hip hop nacional de uns sócios do Vale da Amoreira, belos tempos a ouvir isto quando ia para a escola com a mochila monte campo ás costas com o meu diskman da Denver o único que deixava ler cds com musicas em MP3, no outro estava o telemóvel Alcatel com o qual se mandava toques para as miudas, com a sweat da CIRCA e os calções da Station quando ainda só tinham 2 lojas a nível nacional uma no Barreiro e outra em Lx e com o cap Flexfit que usávamos à 12 ou 13 anos atrás e agora voltou a estar na moda (Alguma nostalgia só para os da minha geração.) ;D

[youtube=640,360]/watch?v=uzXsob5vrVc[/youtube]

[youtube=640,360]http://www.youtube.com/watch?v=y3s7YC0tjUw[/youtube]

[youtube=640,360]http://www.youtube.com/watch?v=maNGEtPvfU0[/youtube]

[youtube=640,360]http://www.youtube.com/watch?v=XA_0wyVKvR0[/youtube]
Só acho que as dois juntos (no refrão) não fica bem. De resto, nada mal.

[youtube=640,360]http://www.youtube.com/watch?v=Vv0-VtM9Hzo[/youtube]

Qual a vossa opinião sobre a junção 5-30?