Primeiro que tudo há que ter sentido (auto-)crítico.
Em relação ao jogo e ao resultado de ontem, geraram-se algumas manifestações póstumas sobre a desilusão com o resultado e a redução das hipóteses de o Sporting se sagrar campeão esta época, e a partir daí algumas considerações se teceram sobre os diversos intervenientes, responsáveis directivos, técnicos e jogadores da estrutura de futebol profissional. É sobre essas que vou começar.
Quando no princípio da época se fez a aposta que se fez em determinados jogadores, muitas opiniões se deram, e com o evoluir da construção da equipa, dos seus desempenhos e o avançar do calendário competitivo, muitas discussões se geraram. No meu caso, estou de consciência tranquila porque na devida altura, para lá das questões directivas mais abrangentes, me cingi à análise do potencial futebolístico da estrutura, e fiz considerações que foram desvalorizadas e atacadas por muito boa gente, nomeadamente, e focando este ponto em particular, porque mais existem e as questões são complexas e interligadas, a questão do centro da frente atacante do Sporting:
a) a necessidade de (pelo menos) um ponta-de-lança experiente, de créditos firmados
b) a avaliação de que Wolfswinkel não era esse tipo de ponta-de-lança, antes um jovem promissor com necessidade de evoluir mas que não podia ser o responsável por assegurar golos ao longo de toda a época em todos os momentos, especialmente os mais cruciais
c) dado esse facto(r) Wolfswinkel, a necessidade de soluções alternativas e complementares ao mesmo, nomeadamente a contratação de um avançado-centro válido (que duvidei desde cedo que pudesse ser Bozhinov, a curto/médio prazo, e que apesar do potencial, e considerando também a inexperiência de Rubio, este, principalmente não jogando, não pode ser essa solução)
d) após a abertura do mercado de Inverno, eis que surge Sebastián Ribas na equipa. Veremos se é a tal solução complementar e se pode funcionar como alternativa a Wolfswinkel dentro do mesmo esquema de 4-3-3 e se pode ser adaptado a um sistema de dois avançados-centro, que defendi como táctica a implementar para disfarçar as carências no sector e aumentar a sua presença, influência e produtividade
Claro que nestes pontos, o que mais se viu foi a desvalorização das minhas observações. E quando falo em auto-crítica, faço-o dirigindo-me a todos os associados, adeptos e responsáveis técnicos e directivos. Porque por exemplo o VaL30 surge agora aqui a criticar acidamente a direcção, mas lembro-me de ter escrito que van Wolfswinkel era suficiente para atacar o título, daria resposta às necessidades ofensivas da equipa e que Rubio seria o complemento ou a alternativa ao mesmo (e o próprio VaL30 não valorizava Bozhinov, depreendendo-se que tinha tal fé nos dois miúdos que mesmo não contando com o avançado búlgaro o Sporting estava mais do que bem servido). O próprio Lion73 chamou a atenção, eu também o questionei quanto a essas afirmações, mas ele reforçou a sua confiança quer no avançado holandês, quer na alternativa chilena.
E serve este ponto para todos nós fazermos uma auto-crítica, em relação àquilo que escrevemos num dia, e depois reescrevemos noutro. Há pessoas que estão mais atentas, outras são mais voláteis, outras procuram manter uma certa coerência e equilíbrio, outras estão sempre à procura de novas rupturas e pontos para atacar. Mas temos que ser todos auto-críticos, se queremos ter a veleidade de poder criticar com justiça e equilíbrio.
Falei do VaL30, como podia dar inúmeros exemplos. O que não faltou por aqui foi gente a dizer que o Sporting não precisava de um ponta-de-lança de créditos firmados, que isso era secundário. Ontem, em Alvalade, Wolfswinkel podia ter jogado melhor e feito a diferença, causou problemas e assustou a defesa adversária, mas não marcou. Querem agora exigir ao Wolfswinkel aquilo que alguns, avisadamente, referiram à meses? Aquilo que quiseram que ele fosse e ainda não é? Se alguém tem moral para criticar toda esta situação, neste ponto em concreto, modéstia à parte, tenho mais do que argumentos para o fazer. Mas não o faço. Porque já tinha chegado a essa conclusão muito lá para trás.
Ou seja, quando o VaL30 faz as críticas que faz à direcção, postumamente ao jogo de ontem, não pode esquecer que ele próprio, com diferenças pontuais e circunstanciais, defendeu aquilo que Domingos apresentou ontem sobre o campo, e que, justiça lhes seja feita, não foi inferior à equipa defrontada, tendo até oportunidades para marcar e vencer o jogo (não aproveitadas). Há que haver equilíbrio e contenção, temperança, nas críticas. Não é que se deixe de criticar, a questão é que tem de procurar-se criticar com ponderação, com calma, com rigor, com coerência, para não desvalorizar o sentido e o alcance daquilo que se critica e se escreve aqui.
Ontem o Sporting desiludiu, eu próprio acreditei na vitória e ela era possível, mas não foi alcançada. Porém, foi a equipa que esta estrutura técnica e directiva montou, com as limitações que tem, isto apesar de um investimento desmesurado. A equipa ontem em vez de atacar e impor a sua lei em Alvalade, atacava timidamente, sem pujança, sem fervor, sem voracidade, e esse é um reflexo, primeiramente, do que foi planeado, construído e apresentado pela direcção e equipa técnica no início da época, e que foi aplaudido quase de forma cega por grande maioria do Fórum.
E se alguém criticava pontualmente as opções, era atacado ou lhe diziam, “cala-te pá, porque no te callas, porque não vês que é “normal” em 16 aquisições, 2 ou 3 darem buraco? Deixa-nos lá divertimos-nos aqui no tópico do Bohinov a falar da Nikoleta, who cares if the man is a flop?” O problema é que o Sporting não se pode permitir a incompetências, nem que sejam 2 ou 3 em 16, 17 ou 18. O problema é que o Sporting não se pode dar ao luxo de inventar margens de manobra e tolerâncias que não pode assumir, sob pena de comprometer todo o trabalho desenvolvido. As brincadeiras, as leviandades, as graçolas, por vezes, saem caras. E depois, quando alguns compreendem a realidade, ou a vislumbram repentinamente, a bílis aparece, a azia, a verborreia (com todo o respeito, estou só a enfatizar as coisas).
E entra aqui a questão da construção do plantel (por mim abordada na altura devida), porque em primeiro lugar a culpa não foi do van Wolfswinkel por ontem não ter conseguido marcar, ou por ter jogado muito isolado no esquema de Domingos, ou por os extremos, ao interpretarem este sistema de 4-3-3 ontem não terem conseguido desequilibrar e ter influência, mesmo sabendo que a nível geral a equipa equivaleu-se ao adversário. Nem sequer a culpa é de Domingos pelas opções que tomou ontem, que estavam condicionadas por as que ele tomara antes e principalmente quando o plantel foi construído (e reformulado). O problema é que onde muitos desvalorizavam os avisos feitos à navegação, criticavam quem apontava alternativas, exigia mais soluções, e dizia o que tinha de ser feito, a maioria preferiu o ignorar, atacar ou desvalorizar.
E que tal serenarmos um pouco, esperarmos pelo próximo jogo e exigir um vitória clara e expressiva? Porque independentemente de tudo o resto, venham agora os críticos que vierem a este meu último parágrafo e à sua frase inicial, é disto que se tem que tratar o Sporting: exigência máxima, em todos os momentos, seja no jogo x, seja no acto de gestão y, seja na pré-época, seja no Natal, seja na Páscoa, seja quando for, sem desculpabilizações, sem tolerância “às margens de erro e de manobra”, “aos malabarismos tecnocráticos e numéricos”, “às cambalhotas argumentativas” e “às sinuosidades e incoerências da crítica apaixonada”. De forma coerente e objectiva, auto-crítica, sem deixar de ser mordaz e audaz nas críticas e nas opiniões. O que se trata aqui é de exigir vitórias, SEMPRE, seja nos bons, seja nos maus momentos, e não repetir de forma esgotante as ladaínhas e queixumes do costume. É isso que temos de meter na cabeça. NÓS SOMOS O SPORTING, E O SPORTING SOMOS NÓS!!!