Geração TuTuTu

Um artigo que me enviaram e que acho brilhante. Espelha o Portugal democrático.
Veio publicado no Expresso desta semana.

[size=14pt][b]A Geração TuTuTu[/b][/size]

[size=11pt]Tivemos, no futebol português, a designada ‘Geração de Ouro’, da qual faziam parte nomes como Figo, Rui Costa, Pauleta, Paulo Sousa, Abel Xavier, Sérgio Conceição, Fernando Couto ou Baía. Mas Portugal teve melhor: a ‘Geração TuTuTu’.

Em 1974, um grupo de quadros médios, apoiado nas classes inferiores das organizações, e acusando de “fascistas” a elite dos quadros da superstrutura da sociedade política e empresarial, varreu da sua frente esses escolhos e sentou-se nas suas cadeiras.

Democraticamente, diziam muitas vezes “pá” e tratavam-se por “tu”.

Cedo, essa geração chegou ao poder, alguns nem com 30 anos de idade. Ainda o alargou através da nacionalização de centenas de empresas, numa correria tal a que nem escapou uma barbearia da Baixa. Meia dúzia de comícios, umas manifs, uma passagem pela sede de um partido e a coisa resultava.

Quando foi preciso, mudaram de partido (para a direita) para manter o pezinho na pista de dança.

Receberam um país com um saldo líquido de activos sobre o exterior (posição de investimento internacional) acima de um terço do PIB (cálculo de Vítor Bento), venderam as empresas que entretanto nacionalizaram, receberam milhões da Europa, consumiram o que tinham e não tinham e reformaram-se, deixando como legado um saldo líquido de passivos sobre o exterior de quase 100% do PIB.

Isto é, receberam uma herança, juntaram-lhe outra vinda da Europa, nacionalizaram uma terceira, sumiram as três e deixaram uma dívida de um ano de trabalho. É obra para 35 anos!

Empurraram os outros da cadeira onde se sentaram, cuidaram-se bem na vida activa, e reformaram-se, alguns antes da idade dos agora impostos 65 anos, com reformas a 100% calculadas sobre os melhores anos das suas vidas contributivas.

Antes de saírem, para que os seus direitos adquiridos (reformas) se mantivessem, ainda foram a tempo de impor às gerações do futuro a reforma do sistema que lhes dará reformas muito menores.

Foi uma geração de ouro, a ‘Geração TuTuTu’: tudo quiseram, tudo tiveram, tudo… A esta geração juntaram-se-lhe as outras que a têm ajudado na rambóia.

Como membro de outra geração, quero agradecer à ‘Geração TuTuTu’ a Liberdade e a Democracia de onde escrevo o meu reconhecimento pelo vosso e nosso trabalho.

Mas a Democracia também pode ser competente.

João Duque , Professor Catedrático do ISEG[/size]

Excelente artigo.

Até fazem aí uma referência ao meu patrão ehehe

Muito acertado esse texto , tipica geração de chicos espertos , que continua com as reformas douradas.

Tudo começou com o 25 de Abril , o que eles mereciam agora era levarem tambem com um golpe em cima , mas esta juventude , coitadita , por isso é que este país está assim.

Grande artigo…é por muito do que se diz aí que eu me recuso a festejar o 25 de abril.

Fizeste bem Cilha,em partilhares connosco este artigo.

De facto e,embora seja uma pequena amostra é este o Portugal pós-25 de Abril.
Oportunistas,gatunos,vigaristas,corruptos,malandros.

E claro,com o regime que permite tudo isto e muito mais. A Democracia. Foi feito à medida.
É o fartar vilanagem,sempre sem se apurarem responsabilidades,sempre com impunidade total.

Eles são sempre os mesmos,fazem a tal alternância democrática,falam em direitos,tolerância e solidariedade e roubam à tripa forra e até vir a mulher da fava rica. Sempre democráticamente,claro.

Quanto mais conheço a Democracia,mais gosto da Ditadura.

Normal. O facto de se viver num sistema e de se conviver com os seus defeitos, pode levar-nos a olhar para o outro lado e levar-nos a pensar que seria melhor. O problema é que isso não significa que seja verdade

Eu nem por sombras defendo a ditadura. Gosto muito de poder gozar a minha liberdade e dizer o que bem me apetece (ou quase tudo 8)). O problema da democracia em Portugal é que quando ela chegou, as pessoas não estavam preparadas para a receber. É o sistema menos mau, mas também é aquele que exige mais responsabilidade dos cidadãos em geral. Não nos esqueçamos que na altura da ditadura a maioria população sabia ler, escrever e pouco mais. Estava formatada para receber as ordens e acatar sem questionar “porquê”, sem pensar. Ora de repente, estão colocadas numa situação em que “podiam” decidir o que queriam para o país, poder escolher pessoas e ideias. Face à falta de preparação da população para poder e escolher de acordo com os seus reais juízos, apareceram também os “chicos espertos” em maior número, aqueles que fazendo o papel de carreiristas arranjaram maneira no seu estilo bem falante de fazerem trafulhice e de se protegerem face a esses actos. Em terra de cegos, quem tem olho é rei… :arrow:

Realmente demonstrou-se que se estava mal preparado e que quem estava posicionado para tomar o poder era de uma indole péssima (para ser simpático).

Mas acho que se imputa uma coisa falsa à Ditadura, a protelação do analfabetismo que existia (a níveis muito superiores aos dos paises desenvolvidos) dos tempos da primeira republica. Os dados mostram que ouve uma evolução no alfabetismo incrivel com a Ditadura (paradoxal mas assim demonstram os dados) e quem conhece pessoas que viveram antes do 25 de Abril sabe que o sistema de ensino era mais bem estruturado e mais adaptado à realidade do país que actualmente.
O ensino superior é um caso excelente, estava organizado baseado no modelo britanico (que voltou agora com bolonha), era infinitamente mais barato e não dava azo a cenas ridiculas como as que se passam com as vagas em medicina.

Se calhar as coisas não se fazem com revoluções mas gradualmente.

O sistema político mudou, a mentalidade manteve-se.

Eu não afirmei que a população era analfabeta, nem que não houve uma evolução nesse aspecto. O problema é que as pessoas estudavam até à quarta classe e pouco mais. Continuar a estudar era só para quem podia, para uma pequena minoria social que dispunha de dinheiro e que podia investir mais na formação. Acabavam por ser sempre das mesmas famílias aqueles que tinham hipóteses de ter êxito na vida porque aos outros simplesmente cortavam-se as asas logo à nascença. Nesse aspecto acho que se evoluiu muito com a democracia, embora depois se tenham criado também outros problemas com isso no extremo oposto…

É pá, não culpem o 25 de Abril pela situação actual. Leiam a História de Portugal e verão que fomos sempre ao longo da nossa história um povo medíocre, com governantes medíocres, que se fartou de perder oportunidades, dar tiros nos pés, desperdiçar recursos e envolver-se em mesquinhices. O que somos hoje é só o corolário da porcaria que fomos ao longo de 8 séculos; exceptuando 2 ou 3 governantes de grande gabarito, o resto foi bosta do pior, mas não culpem os governantes, porque o povinho é da mesma farinha.

:smiley:
:boohoo:
:wall:

Não há que esconder, nem vir com paninhos quentes, somos uma insignificância, para não dizer uma merda, nos panoramas social, económico, tecnológico e científico a nível mundial. E já mandámos em metade disto tudo. :inde:
E agora que se vire a nação toda contra mim que eu aguento bem.

João Duque, meu professor quando estava no ISEG (transferi-me para a Católica). Excelente professor!