Breve história do campeonato de Itália: o campeonato de Itália começou a disputar-se em 1898, ano em que o campeão foi o Génova. O primeiro campeonato disputou-se em Turim e durou um dia, com duas meias-finais de manhã e a final à tarde. Além do Génova, participaram Internazionale de Turim (finalista vencido), FC Torinese e Ginnastica de Turim. Como campeão, o Génova ficou directamente apurado para a final de 1899, em que voltou a derrotar o Internazionale de Turim, ficando uma vez mais apurado para a final do ano seguinte, em que derrotou o FC Torinese. 1900 foi também o ano em que a Juventus e o Milan disputaram pela primeira vez o campeonato. Ou seja, o Génova precisou de quatro jogos para conquistar os seus três primeiros títulos de campeão.
Em 1901 o Milan bateu o Génova, apurando-se para a final do ano seguinte, que teve os mesmos intervenientes e foi ganha pelos genoveses. O Génova ganhou também em 1903 e 1904, ano em que a vitória deixou de dar o direito a disputar a final do ano sucessivo. A Juventus venceu o seu primeiro título em 1905 e o Inter em 1910. Nessa altura a melhor equipa italiana era a Pro Vercelli, vencedora de sete títulos entre 1908 e 1922 (e em 1915/16, 1916/17 e 1917/18 não houve campeonato por causa da Guerra) e o Inter não tinha grandes esperanças de derrotar os “brancos”. No entanto, a Pro Vercelli entrou em conflito com a federação acerca da data da final e, derrotada nessa disputa, fez alinhar os juvenis, que levaram 10-3 dos “nerazzurri”. O Génova ganhou o seu nono e até agora último título em 1924, ano em que de certo modo se fechou a época “primitiva” do campeonato italiano, dominada pelo Génova e pela Pro Vercelli. Nesta altura disputavam-se campeonatos “Norte” e “Sul”, a que se seguia uma final, sempre ganha pelo clube nortenho.
A Série A, ou o campeonato “com um só grupo” começou na época 1929/30 e o primeiro título foi ganho pelo Inter, sob o nome de Ambrosiana por ordem de Mussolini, para quem “Internazionale” soava demasiado a “Internacional Comunista” (os adeptos do Inter obtiveram do ditador a alteração do novo nome do clube para Ambrosiana-Inter e logo a seguir à Guerra voltou-se ao nome antigo). Os clubes deixaram de se chamar “Football Club” e passaram a chamar-se “Associazione di Calcio”, o Milan passou a Milano, o Genoa a Genova 1893, alterações desfeitas depois da queda do ditador.
As grandes equipas dos anos trinta foram a Juventus (ganhou cinco títulos consecutivos a partir de 1930/31) e o Bolonha, vencedor de três campeonatos e duas Taças “Mitropa”, competição internacional disputada por clubes da Europa Central e que o Bolonha foi o único clube italiano a vencer, interrompendo a habitual hegemonia de austríacos e húngaros.
Em 1943/44 e 1944/45 não houve campeonato, por causa da Guerra, e a equipa dos anos quarenta foi o mítico “Grande Torino”, pentacampeão (1941/42, 1945/46, 1946/47, 1947/48 e 1948/49), liderado pela dupla Mazzola (pai) e Loik, uma equipa que bateu todos os recordes (vitórias, pontos, distância do segundo classificado, etc.). Toda a equipa morreria no trágico acidente de Superga, em 4 de Maio de 1949, quando o avião onde viajava, regressando dum amigável com o Benfica no Estádio Nacional, embateu contra a colina de Superga, já próximo do aeroporto de Turim. Morreram todas as pessoas que se encontravam a bordo e o Torino foi declarado campeão, apesar de só ter quatro pontos de vantagem sobre o Inter e ainda faltarem quatro jogos para o fim do campeonato. Nas últimas jornadas a equipa jogou com os juniores, tal como os adversários. Ainda hoje o “Grande Torino” é considerado pelos mais românticos (e por muitas outras pessoas) como a maior equipa italiana de todos os tempos, tendo chegado a fornecer 10 jogadores à Selecção.
A década de 50 daria uma ideia do que o futuro reservava para a Série A, com Juventus, Inter e Milan a dividirem os títulos entre si (em 1951 o Milan pôs fim a 44 anos de jejum, pois já não ganhava desde 1907), com a Fiorentina a intrometer-se em 1956. Os anos 60 foram a época de ouro do futebol milanês, com o “Grande Inter” orientado por Helenio Herrara e com Luis Suarez, Burgnich, Fachetti, Mazzola (filho), etc. e o Milan de Trapattoni, Maldini (pai) e do treinador Nereo Rocco a vencerem duas Taças dos Campeões cada um. A Fiorentina venceu o seu segundo título em 1969 e o Bolonha o seu sétimo e até agora último título em 1964, o único ano em que o campeonato foi decidido por uma finalíssima, um “spareggio”, tendo derrotado o Inter por 2-0 na final, após uma época em que teve que lutar afincadamente para se livrar dum castigo (perda de pontos) que lhe tinha sido aplicado devido a um escândalo de doping. Entretanto, depois da humilhação contra a Coreia do Norte em 1966, foi proibida a contratação de estrangeiros (podendo permanecer em Itália os que já lá jogassem), proibição que se manteve até à primeira metade da década de 80.
Os anos 70 começaram com o único campeonato do Cagliari, liderado pelo avançado-centro Luigi Riva, que recusou ofertas dos maiores clubes de Itália, preferindo ficar na Sardenha até ao final da sua carreira. A década foi dominada pela Juventus (5 títulos), que todavia não conseguiu conquistar a Taça dos Campeões, tendo que se contentar com a Taça UEFA (em 1977, salvo erro). A década viu ainda o primeiro campeonato da Lazio (1974), uma grande equipa sob a orientação de Maestrelli (que morreu de doença pouco depois) e que contava com o famoso avançado-centro Chinaglia. Em 1976 o Torino treinado por Luigi Radice venceu o seu único campeonato pós-Superga, alinhando com, entre outros, Claudio Sala, o “poeta do golo” e Pulici e Graziani, os “gémeos do golo”.
A década de oitenta viu títulos de Inter, Juventus, Roma, Verona, Nápoles e Milan. Também viu grandes polémicas relativas à arbitragem, com a Roma a queixar-se de, pelo menos, um título roubado em benefício da Juve. O Nápoles venceu o campeonato pela primeira vez, graças a Maradona, em boa hora contratado pelo presidente Corrado Ferlaino. O trio “Ma-Gi-Ca” (Maradona, Giordano e Careca) ofereceu à cidade do Vesúvio o título tanto esperado (foi nessa altura que Zola se começou a notabilizar, ao serviço do Nápoles), mas a época de ouro durou pouco. O evento mais importante da época talvez acabe por ser o surgimento do Milan “de Berlusconi”, ou melhor, de Van Basten, Gullit, Rijkaard, Donadoni, Maldini, Costacurta, etc. etc. etc. Este Milan dominaria a década de 90 com cinco títulos, contra três da renascida Juventus após o jejum de 9 anos entre 1985/86 e 1994/95, mas sobretudo com os seus vários títulos europeus. A Sampdoria (de Vialli, Mancini, Lombardo…) conseguiu fazer voltar o troféu de campeão à cidade de Génova 67 anos depois do último triunfo dos seus rivais.
Em 2000 e 2001 Roma tornou-se a quinta cidade (após Génova, Vercelli, Turim e Milão) a fornecer o campeão em dois anos consecutivos - 2000 Lazio, 2001 Roma. Seguiu-se um breve domínio da Juventus, um título do Milan, o “calciocaos” e o actual domínio Interista.
OS CAMPEÕES:
Juventus (27), Milan (17), Inter (16), Génova (9), Pro Vercelli (7), Bolonha (7), Torino (7), Roma (3), Fiorentina (2), Lazio (2), Nápoles (2), Casale (1), Novese (1), Cagliari (1), Verona (1), Sampdoria (1).
Os títulos de 1926/27 (Torino) e 2004/05 (Juventus) foram retirados aos vencedores e não foram atribuídos a qualquer outra equipa, devido a escândalos de corrupção. Em 26/27 foi considerado que um adepto do Torino tentara corromper Gigi Alemandi da Juve, mas que o jogador não aceitara o suborno. Uma vez que nunca se provou o envolvimento do clube e o suborno não se concretizou, ainda hoje os “granata” tentam convencer a Federação a restituir-lhes o troféu. Em 2005/06 o título foi retirado à Juve e entregue ao Inter.
Em 1921/22 houve dois campeões, Pro Vercelli e Novese. Os “grandes” entraram em conflito com a Federação e organizaram um campeonato à parte, vencido pela Pro Vercelli. O campeonato da Federação foi ganho pela Novese e disputado por clubes de segunda linha. As duas facções reconciliaram-se antes do início da época de 1922/23 e ambos os títulos são oficialmente reconhecidos.