Os Hawks conseguiram contrariar o favoritismo do Geelong e transformar uma derrota anunciada numa vitória incontestável. Uma soberba exibição defensiva garantiu ao Hawthorn a conquista do seu décimo campeonato. A equipa castanha e dourada soube manietar os jogadores dos Cats, nunca os deixando praticar o futebol australiano rápido e fluido que lhes tinha garantido, durante as duas últimas épocas, o domínio incontestado da AFL.
Após um primeiro e um segundo quarto claramente equilibrados, que terminaram com 5.3(33)-5.2(32) para os Cats e 8.3(51)-6.12(48) para os Hawks, respectivamente, os novos campeões arrancaram para a vitória num espantoso terceiro quarto, durante o qual chegaram a atingir 30 pontos de vantagem, marcando cinco golos e um behind sem permitirem qualquer réplica ao Geelong. Dois golos dos Cats nos últimos dois minutos daquela parte reduziram porém a vantagem dos Hawks para 14.5(89)-9.18(63) e fizeram acreditar que os campeões em título iriam começar a última parte do encontro a toda a velocidade, encostando o Hawthorn às cordas.
Porém, não foi o que sucedeu. Os Hawks aguentaram o embate, conseguiram jogar nas suas condições, sem permitir veleidades ao Geelong e baixando o ritmo da partida. Depois, saíam em rápidos contra-ataques que terminavam com grande precisão, ao contrário dos Cats, sobretudo Mooney, que falharam oportunidades douradas e irrepetíveis, para seu crescente desespero.
Quando, a meio desse período, os Hawks marcaram o primeiro golo da quarta parte, o jogo já estava decidido e foi uma questão de esperar a sirene final, que confirmou a surpreendente e histórica vitória dos “Gold and Brown”: 18.7(115)-11.23(89), terminando para o Hawthorn um jejum de 17 anos e repetindo-se a vitória sobre o Geelong que já acontecera na incomparável final de 1989.
O extraordinário número de behinds marcado pelo Geelong (23, contra 11 golos), não se deve apenas à falta de pontaria dos seus jogadores. A estratégia do Hawthorn incluiu marcar “rushed behinds” (atirar a bola para a própria baliza, o que conta sempre um ponto para o adversário, não havendo auto-golos) cada vez que a pressão atacante do Geelong se intensificava. E assim os Cats, teoricamente a melhor equipa, não conseguiram impor a sua superioridade no relvado do MCG, que acolheu 100.012 espectadores que testemunharam uma das maiores surpresas em 111 anos da VFL/AFL. A época que marcou o 150.º aniversário do futebol australiano não podia ter terminado de melhor forma, com a vitória do “underdog”, bem ao gosto da Austrália.
Quanto a jogadores, destacamos o veterano Stuart Due, do Hawthorn, que chegou a estar “reformado” por uma época, mas que saltou do banco no terceiro período a tempo de ser um dos grandes impulsionadores da arrancada dos Hawks, marcando golos (2, mais um behind) e dando-os a marcar. A estrela dos Hawks, “Buddy” Franklin (2 golos e um behind) também se revelou determinante para a vitória da sua equipa, pela forma como orientou os companheiros e soube sempre impor a sua presença.
Aliás, os Hawks conseguiram superar os Cats em “dureza” e determinação, o que foi meio caminho andado para a vitória. O “rookie” Cyril Rioli (2 golos), último produto de uma grande dinastia aborígene que inclui jogadores de renome como Maurice Rioli, Michael Long e Dean Rioli, foi outro dos elementos em destaque, sendo quase impossível de acreditar que disputa a sua primeira época como profissional. Mark Williams (3 golos, 2 behinds) foi outro jogador que garantiu que os Cats pagassem bem caro cada um dos seus erros.
Quanto aos agora destronados campeões, Gary Ablett, Jr. (2 golos, 1 behind e filho do lendário Gary “God” Ablett, Sr., que na final de 1989 marcou 9 golos ao Hawthorn pelo Geelong e ainda assim viu a sua equipa perder), soube honrar a sua reputação, sobretudo ao ser o motor da mini recuperação no final do terceiro quarto, mas o seu esforço foi em vão. Cameron Mooney esteve irreconhecível, indo ao ponto de, na última jogada do segundo período, ter falhado um golo a menos de dez metros da baliza. A pálida exibição dos “gatos” encontrou símbolo no seu jogador Harry Taylor, que, durante o período do terceiro quarto em que os Hawks construíram a sua vantagem, ofereceu um golo ao adversário ao deixar cair a bola, sem ser pressionado, dentro dos 50 metros defensivos do Geelong. Um desastre, um duma série deles que transformaram o campeão em ex-campeão.
Finalmente, o maior destaque individual vai para Luke Hodge, do Hawthorn, que venceu a “Norm Smith Medal”, atribuída ao melhor em campo. Com 20 pontapés, 6 passes à mão, 9 “marks”, 3 livres conquistados, 5 placagens e 1 golo, o médio fez jus às suas qualidades de organizador de jogo.
Parabéns ao Hawthorn, novos e merecidos “premiers”, e uma palavra de consolo para o Geelong, que nos últimos dois anos deliciou os amantes do futebol australiano com a qualidade do seu jogo. Nesta época sofreram duas derrotas em vinte e cinco jogos, o que é obra. Pena foi que uma fosse na Grand Final.
Para os Hawks, é tempo de festa, como demonstram Chance Bateman e Cyril Rioli.