Futebol Australiano

Carlton Blues 126 - 98 Western Bulldogs

Eu não costumo ver este desporto, mas que filha da puta de jogo (!!). Quem olha para o resultado [22 pontos de vantagem] deve pensar que a vitória nunca esteve em causa mas não foi nada disso que se passou. Carlton esteve quase sempre a perder e recuperou de uma desvantagem de 37 pontos no último período. Só para terem uma ideia, os Bulldogs não fizeram nenhum golo [6 pontos] e só tiveram 2 “behind” [1 ponto], logo só somaram 2 pontos em 20 minutos (!!).

Foi uma recuperação absolutamente fantástica, com os adeptos ao rubro e com destaque para o Brendan Fevola [6 golos] que dominou o último período de uma maneira avassaladora [agarrava tudo]. Ao que parece, somou a sua 150ª presença em jogos na AFL. Não sei onde é que posso encontrar a tabela classificativa [já encontrei, chama-se “ladder” mas estou habituado a “standings” como na NBA]. Pelos vistos, os Blues nem são muito fortes [11º] e os Bulldogs [2º] ficam agora a 10 pontos dos Geelong [1º]. De resto, aqui está o que dizem do jogo lá “fora”.

A mesmerising fourth-quarter performance from full forward Brendan Fevola lifted the Blues to an astonishing come-from-behind 18.18 (126) to 15.8 (98) win over the second-placed Bulldogs
The chemistry between Brendan Fevola and his football club has always been a dangerous thing, either for those who encounter them when their passion is raging, or for themselves when their union has hit rocky ground.

When both happen in the one game, it can move the Earth, and so it was last night.

It was another stunning performance by the game's most enigmatic player.


(Brendan Fevola acaba por ser o responsável deste pequeno milagre para os Carlton Blues)

De facto foi um grande jogo e uma grande recuperação dos Blues, que ainda não desistiram de um lugar entre os oito classificados para a fase final - estão 4 pontos (uma vitória) abaixo do oitavo lugar. O Fevola fez uma grande exibição, ao seu melhor nível, tal como já tinha feito no jogo comemorativo dos 150 anos do futebol australiano, em que foi decisivo, garantindo o triunfo da selecção do Estado de Victoria sobre o “Resto da Austrália” (Dream Team). Foi de facto uma óptima propaganda para esta modalidade.

Por outro lado, como adepto dos “Dogs”, foi um jogo deprimente… Já na semana passada os Bulldogs se foram abaixo no último período, sofrendo a 2ª derrota da época contra os Cats de Geelong, que parecem destinados a revalidar o título. Esta semana perderam outra vez e como o Barbosa muito bem disse foram totalmente dominados no último período, marcando a miséria de dois “behinds”. Esta vinha sendo possivelmente a melhor época de sempre dos “Dogs” em termos de “home and away season” (o equivalente à “regular season” da NBA, NFL, etc.), mas estas duas semanas negras deixaram toda a gente com medo duma implosão como a que houve no ano passado, com 7 derrotas e 1 empate nos últimos jogos.

Faltam 5 jogos para o fim da “home and away season” e Geelong, os Bulldogs e Hawthorn já têm o apuramento praticamente garantido. Na primeira semana da fase final jogarão o 1.º contra o 4.º, o 2.º contra o 3.º (as duas “qualifying finals”), o 5.º contra o 8.º e o 6.º contra o 7.º (as duas “elimination finals”). Os vencedores das qualifying finals ficam directamente apurados para a terceira semana das “finals” e os derrotados jogam contra os vencedores das elimination finals na segunda semana (“semi finals”). Na terceira semana os vencedores das “qualifying finals” defrontam os das “semi finals” nas “preliminary finals” e os vencedores destas passam à Grand Final, que, como é tradição, se disputará no último Sábado de Setembro.

Quem quiser ver a Grand Final (e sofrer de insónias), dá no Eurosport 2, neste Sábado às 5h15 (da manhã). Esta semana foi a “Grand Final Week”, durante a qual não se fala em mais nada em Melbourne. Toda a semana é preenchida com festas e actividades ligadas ao jogo, incluindo a “Grand Final Parade”, um desfile das duas equipas pelo centro de Melbourne.

Os finalistas são Geelong Cats, que procuram revalidar o título e são favoritos, e Hawthorn Hawks, que querem ganhar o seu primeiro campeonato desde 1991. Os Cats só perderam um jogo este ano e têm jogadores como Ablett, Mooney e Bartel, se perderem será uma surpresa. Em 1989 estas duas equipas disputaram uma das melhores finais da história do campeonato, com a vitória dos Hawks por 6 pontos (1 golo). Seguramente que os “castanhos e dourados” ou, como dizem os adeptos adversários, “cocó e xixi” devem por estas horas estar a ansiar por repetir os feitos de há dezanove anos atrás.

A constituição das equipas (os followers são jogadores que não têm posição fixa, pelo que os seus nomes estão no topo da imagem, fora do diagrama do campo):

Os Hawks conseguiram contrariar o favoritismo do Geelong e transformar uma derrota anunciada numa vitória incontestável. Uma soberba exibição defensiva garantiu ao Hawthorn a conquista do seu décimo campeonato. A equipa castanha e dourada soube manietar os jogadores dos Cats, nunca os deixando praticar o futebol australiano rápido e fluido que lhes tinha garantido, durante as duas últimas épocas, o domínio incontestado da AFL.

Após um primeiro e um segundo quarto claramente equilibrados, que terminaram com 5.3(33)-5.2(32) para os Cats e 8.3(51)-6.12(48) para os Hawks, respectivamente, os novos campeões arrancaram para a vitória num espantoso terceiro quarto, durante o qual chegaram a atingir 30 pontos de vantagem, marcando cinco golos e um behind sem permitirem qualquer réplica ao Geelong. Dois golos dos Cats nos últimos dois minutos daquela parte reduziram porém a vantagem dos Hawks para 14.5(89)-9.18(63) e fizeram acreditar que os campeões em título iriam começar a última parte do encontro a toda a velocidade, encostando o Hawthorn às cordas.

Porém, não foi o que sucedeu. Os Hawks aguentaram o embate, conseguiram jogar nas suas condições, sem permitir veleidades ao Geelong e baixando o ritmo da partida. Depois, saíam em rápidos contra-ataques que terminavam com grande precisão, ao contrário dos Cats, sobretudo Mooney, que falharam oportunidades douradas e irrepetíveis, para seu crescente desespero.

Quando, a meio desse período, os Hawks marcaram o primeiro golo da quarta parte, o jogo já estava decidido e foi uma questão de esperar a sirene final, que confirmou a surpreendente e histórica vitória dos “Gold and Brown”: 18.7(115)-11.23(89), terminando para o Hawthorn um jejum de 17 anos e repetindo-se a vitória sobre o Geelong que já acontecera na incomparável final de 1989.

O extraordinário número de behinds marcado pelo Geelong (23, contra 11 golos), não se deve apenas à falta de pontaria dos seus jogadores. A estratégia do Hawthorn incluiu marcar “rushed behinds” (atirar a bola para a própria baliza, o que conta sempre um ponto para o adversário, não havendo auto-golos) cada vez que a pressão atacante do Geelong se intensificava. E assim os Cats, teoricamente a melhor equipa, não conseguiram impor a sua superioridade no relvado do MCG, que acolheu 100.012 espectadores que testemunharam uma das maiores surpresas em 111 anos da VFL/AFL. A época que marcou o 150.º aniversário do futebol australiano não podia ter terminado de melhor forma, com a vitória do “underdog”, bem ao gosto da Austrália.

Quanto a jogadores, destacamos o veterano Stuart Due, do Hawthorn, que chegou a estar “reformado” por uma época, mas que saltou do banco no terceiro período a tempo de ser um dos grandes impulsionadores da arrancada dos Hawks, marcando golos (2, mais um behind) e dando-os a marcar. A estrela dos Hawks, “Buddy” Franklin (2 golos e um behind) também se revelou determinante para a vitória da sua equipa, pela forma como orientou os companheiros e soube sempre impor a sua presença.

Aliás, os Hawks conseguiram superar os Cats em “dureza” e determinação, o que foi meio caminho andado para a vitória. O “rookie” Cyril Rioli (2 golos), último produto de uma grande dinastia aborígene que inclui jogadores de renome como Maurice Rioli, Michael Long e Dean Rioli, foi outro dos elementos em destaque, sendo quase impossível de acreditar que disputa a sua primeira época como profissional. Mark Williams (3 golos, 2 behinds) foi outro jogador que garantiu que os Cats pagassem bem caro cada um dos seus erros.

Quanto aos agora destronados campeões, Gary Ablett, Jr. (2 golos, 1 behind e filho do lendário Gary “God” Ablett, Sr., que na final de 1989 marcou 9 golos ao Hawthorn pelo Geelong e ainda assim viu a sua equipa perder), soube honrar a sua reputação, sobretudo ao ser o motor da mini recuperação no final do terceiro quarto, mas o seu esforço foi em vão. Cameron Mooney esteve irreconhecível, indo ao ponto de, na última jogada do segundo período, ter falhado um golo a menos de dez metros da baliza. A pálida exibição dos “gatos” encontrou símbolo no seu jogador Harry Taylor, que, durante o período do terceiro quarto em que os Hawks construíram a sua vantagem, ofereceu um golo ao adversário ao deixar cair a bola, sem ser pressionado, dentro dos 50 metros defensivos do Geelong. Um desastre, um duma série deles que transformaram o campeão em ex-campeão.

Finalmente, o maior destaque individual vai para Luke Hodge, do Hawthorn, que venceu a “Norm Smith Medal”, atribuída ao melhor em campo. Com 20 pontapés, 6 passes à mão, 9 “marks”, 3 livres conquistados, 5 placagens e 1 golo, o médio fez jus às suas qualidades de organizador de jogo.

Parabéns ao Hawthorn, novos e merecidos “premiers”, e uma palavra de consolo para o Geelong, que nos últimos dois anos deliciou os amantes do futebol australiano com a qualidade do seu jogo. Nesta época sofreram duas derrotas em vinte e cinco jogos, o que é obra. Pena foi que uma fosse na Grand Final.

Para os Hawks, é tempo de festa, como demonstram Chance Bateman e Cyril Rioli.

É um jogo completamente atrofiado :lol: mas que sempre despertou a minha curiosidade, quando era mais novo estive em Melbourne 3 meses e estive mesmo quase a ir ver um jogo destes depois infelizmente não se proporcionou, nunca percebi as regras deste jogo, agora thanks to Pireza já tenho uma ideia mais clara :mrgreen:

Nos meses que estive na Austrália, este era sem dúvida o desporto que mais via, ainda que infelizmente sempre na televisão. O nível do soccer deles é péssimo, e os outros desportos mais populares - Rugby League, Rugby Union e críquete - não me dizem nada. O futebol australiano é o desporto de eleição no estado de Victoria, que fica cá bem em baixo no mapa; eu, estando em Sydney, sentia-me por um lado na obrigação de apoiar os Swans, mas como não gosto da cor da equipa ( :sick: ), engracei antes com uma das primeiras equipas que vi em acção: a “instituição” Collingwood, que pelos vistos também já não tem o fulgor de antigamente. :twisted: É curioso (ou talvez não) que tendo o mesmo equipamento que o Newcastle (da EPL), também têm a mesma alcunha, magpies.

A única memória mais ao vivo que tenho da AFL é estar em Melbourne num Domingo de manhã e ver imensos adeptos armados de bandeiras e cachecóis (os últimos bem que são necessários, tendo em conta o clima europeu do sítio). Pelas cores, amarelo e bordeaux, seriam adeptos de Hawthorn, provavelmente em “digressão”, já que a zona em que me encontrava era bem no centro da cidade.

Antigamente cada equipa tinha o seu estádio, alguns deles (como o do Hawthorn) eram “caixas de fósforos”, outros (como o do Collingwood) tinham uma reputação temível para os adeptos adversários, que iam lá por sua conta e risco e sempre a olhar para todos os lados, não fosse o diabo tecê-las. Hoje só se usam dois estádios (enormes, com óptimas condições) em Melbourne, em vez dos seis ou sete de há dez, quinze anos atrás- o Melbourne Cricket Ground e o Telstra Dome, cada um dos quais serve de “casa” a quatro ou cinco equipas. Perdeu-se diversidade e tradição, ter-se-á ganho comodidade, para além dos clubes, jogando num estádio maior, poderem vender mais bilhetes. Na verdade, das nove equipas de Melbourne da AFL só o Melbourne FC ainda joga na sua casa de sempre, o Melbourne Cricket Ground. Não lhes adiantou de muito em 2008, ficaram em último, ainda por cima no ano do 150º aniversário do clube.

Uma das coisas de que gosto na AFL é a semelhança da “cultura” dos adeptos com a do futebol. Até os cachecóis tradicionais são parecidos, às riscas. Como muitos dos clubes têm mais de 100 anos, ser-se adepto da equipa x ou y muitas vezes já é uma tradição familiar que dura há gerações (como em Inglaterra), os clubes representam comunidades distintas, católicos ou protestantes, classe operária ou classe média (como em Glasgow ou no Brasil), há jogos que são autênticos dérbis, que despertam grandes paixões, (Carlton-Collingwood, Collingwood-Richmond, Carlton-Essendon e, claro, Adelaide-Port Adelaide e West Coast-Fremantle), outros que nem por isso. Gostava de, como o Turco e o Romagnoli, ir um dia à Austrália, no meu caso para ver um jogo da AFL, dos “meus” Bulldogs de preferência. Se calhar ficava desapontado, mas penso que não.

That explains it then. :slight_smile: Também concordo com essa da cultura ser mais semelhante à do futebol; apesar de não ter estado propriamente imerso na realidade do futebol australiano, é uma sensação que fica mesmo para quem se limita a observar os jogos na televisão.

Em relação a uma visita à Austrália, mesmo que fiques desapontado com a AFL ao vivo, muito dificilmente ficarás com o país. O único senão é ficar lá nos antípodas (só estar fechado em aviões durante vinte e tal horas é uma aventura em si), mas é sem dúvida um dos mais fantásticos países do mundo, quer em beleza natural, qualidade de vida e até mesmo na afabilidade das pessoas.

Não esquecer que a época 2009 da AFL começa na quinta-feira com o “clássico” Carlton - Richmond, seguindo-se, na sexta, o Hawthorn - Geelong, que mantém a tradição da primeira jornada incluir a “desforra” da final do ano anterior.

Deixo aqui o “link” para o anúncio alusivo à nova época que está a passar na TV australiana - [url]http://www.afl.com.au/video/inaleagueofitsown/tabid/14032/Default.aspx[/url].

Desta vez tenho que começar a seguir a AFL desde o início. A última vez que vi um jogo foi quando o Eurosport ainda transmitia essa modalidade. Aos anos que isso já foi. O anúncio está espectacular. Os jogadores do “aussie rules” são mais ágeis que os de basquetebol, mas fortes que os de futebol americano, mais rápidos que os carros de rali, mais corajosos que os toureiros, etc. :wink: Muito original esta maneira de promover o desporto nacional da Austrália. ;D

Podes ver este ano no Eurosport 2, o campeonato começa na quinta-feira a primeira transmissão de um jogo é domingo às 20, depois repetem várias vezes um resumo alargado (1 hora, mais ou menos) ao longo da semana e ainda há um magazine com resumos de toda a jornada. Os horários variam de semana a semana, mas podes ver quando é que dá no site do Eurosport 2 ou no site que eu andei a montar (que continua rústico como dantes).

Já que agora está na moda as petições façam uma para o Lucilio começar a praticar futebol australiano…eu cá jogava com ele :twisted:

Já ando a tirar apontamentos :shifty: :

[youtube=425,350][/youtube]

:lol: e o melhor é que, pelo menos na AFL, os jogadores não podem ser expulsos e só são punidos depois dos jogos, com suspensões, pelo que o Lucílio poderia ver-se em grandes apuros…

Entretanto o Carlton venceu o 1º jogo da época contra o Richmond, perante cerca de 87.000 espectadores. Depois de um longo Verão (no hemisfério sul) o pessoal de Melbourne estava mesmo sedento de “footy”.