Estado Novo

Tópico para discutir e aprofundar dentro do possível , o período histórico de aproximadamente 50 anos (1926-1974) que engloba o Estado Novo.

Para a discussão não degenerar numa confusão , dado tantos factos terem ocorridos nesses anos todos , como já referi noutro tópico , é preferível tratar aqui este período por factos ou cortes temporais e analisar esse facto e o contexto envolvente , e estando esse facto discutido , passar-se-á ao seguinte , que poderá ser lançado e escolhido por qualquer participante no tópico.

Apesar de o ponto central neste tópico ser discutir este período é obvio que ao analisar alguns factos e o seu contexto , vão surgir necessariamente comparações com outros períodos , porque as coisas estão ligadas , por exemplo ao discutir-se a ditadura de Salazar , não se poderá deixar de falar de numa tradição sebastianista portuguesa e a acontecimentos ou períodos históricos parecidos e relativamente próximos no tempo como a “ditadura” de João Franco no final da Monarquia , ou o Sidonismo na 1ª República , é normal tambem quando por exemplo se discutir a censura e a liberdade de expressão , haja comparações com a 3ª República ou seja o período democrático actual pós 25 de Abril e até a alguns casos da actualidade.
Quer dizer que apesar da discussão se centrar no período do Estado Novo , principalmente estes três períodos , o último período da Monarquia , a 1ª República , e o regime democrático pós 25 de Abril baseado na Constituição de 1976 , tambem serão chamados dependendo dos factos à colecção.

Tudo o que envolva o período será potencial motivo de discussão , nem só como é obvio o regime , mas tambem a oposição , onde por exemplo as lutas internas do PCP nos anos 30 e 40 tambem terão lugar , tudo o que envolva o período pode ser discutido.

Tambem será normal e natural falar-se da acção de actores internacionais , quando os mesmos estejam envolvidos nos factos , provavelmente aqui e noutros pontos ficarão interrogações no ar , por exemplo alguem sabe da motivação para a França e a Alemanha apoiarem militarmente Portugal na Guerra Colonial , quando ao mesmo tempo os EUA não o faziam , por ventura , estas questões que fiquem abertas poderão ser alvo de especulação e interpretação pelos participantes neste tópico , o que ficar por responder ficará em aberto até novas informações saírem ou forem reveladas aqui por alguem , como é obvio os participantes deste tópico , não terão acesso aos arquivos mas vão sempre saindo livros , documentários sobre este período.

Peço é que sejam objectivos no lançamento dos factos , e nas suposições ou interrogações que fizerem a seguir , a seguir a isso , então comentem e especulem à vontade.

Apesar de o objectivo deste tópico ser o de analisar este período por factos como cortes temporais , porque acho que é a melhor forma de ele funcionar e de ser analisado profundamente , tambem se aceita quem queira dar uma análise global pontual sobre o período , acho que é inevitável isso acontecer , procurem é não envolver-se em discussões muito longas quando for esse o caso , que é para não desviar o foco deste tópico que é uma analise factual.

Estando dito isto , vamos lá desmistificar este período e colocá-lo onde ele deve estar , arrumado na história , mas que as pessoas no presente conheçam bem este período para até tirarem ilações e quem sabem serem tambem mais exigentes em relação ao actual regime democrático.

Só conhecendo bem os erros do passado , é que se pode evitá-los no futuro , e ser ao mesmo tempo mais exigente com quem nos governa , em suma só conhecendo bem o passado é que se pode enfrentar verdadeiramente o futuro com confiança , desafio e competência.

Vamos a isto :

1º Facto - Intervenção Pró-Activa de Portugal na Guerra Civil de Espanha (1936-1939)

A - Que leva Salazar a arriscar-se tanto e a fazer Portugal intervir ao lado de um dos lados , revoltosos , enfrentando o governo legítimo existente em Madrid , o Governo Republicano , arriscando a independência nacional , principalmente no início caso o lado que apoiou tivesse perdido a guerra?

Mais tarde desenvolverei a minha interpretação deste assunto.

Simples os republicanos nunca tiveram pretensões de invadir Portugal , mas si de dar liberdade às populações , basta ver os processos de grande autonomia ( a caminhar para a independência ) da Galiza , do Pais Basco e da Catalunha. Por outro lado os nacionalistas tinham e têm uma grande pretensão de criar o “Império Espanhol” e juntando esse factor à ligação entre o governo republicano com a URSS , acho que foi uma tentativa de evitar uma operação felix ( se tivesse ajudado os republicanos não havia ideias imperialistas :inde: ) e de evitar a divulgação em massa de ideias de esquerda em Portugal

So uma correccao: so se pode falar de Estado Novo a partir da Constituicao de 1933. Entre 1926 e 1928 existiu uma ditadura militar, nao sei se ha uma designacao precisa para o periodo entre a chegada de Salazar as Financas e a Constituicao.

Faco votos para que a discussao no topico se processe com elevacao.

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Parabéns pelo tópico Green Lion, boa iniciativa.
Podes contar com o meu esforço para manter o tópico dentro dos parâmetros que mencionaste.

Quanto a frase, discordo que seja um facto e discordo que Salazar tenha arriscado a independência nacional, visto que até naquela altura era óbvio que nenhuma das potencias Europeias se iria envolver na Guerra Civil Espanhola de uma maneira aberta e frontal, quanto mais gastar homens, armas e tempo admoestando com uma punição colectiva o traseiro da Europa, que naquele tempo então era ainda mais atrasado que hoje em dia.

Os fascistas Espanhóis e do Axis sabiam bem que podiam contar com o Merceeiro de Santa Comba Dão, ao mesmo tempo que os aliados sabiam bem que podiam fazer o Merceeiro dar fiado sempre que necessário, portanto julgo que nunca houve perigo de perder a Independência Nacional.

Podias era numerar ou matricular as perguntas, senão daqui a pouco ninguém se entende com todas as respostas e contra respostas.

@Alvalade
Concordo com a tua resposta, se fosse de apostar diria que o Merceeiro pensou algo nesses termos e previu que nada nos iria acontecer enquanto continuasse a dar tudo aquilo que os Aliados/Axis de nós pedissem.
Chama-se fazer jogo duplo. A única coisa em que o Salazar teve mérito e que estaria ao alcance de qualquer patrão de uma republica das bananas.

Olha que não sei ,[url]http://www.areamilitar.net/analise/analise.aspx?NrMateria=38[/url] , basta ver que chegaram a ser enviadas divisões espanholas para a frente oriental

[mod]Comecar o topico apelidando o Salazar de Merceeiro de Santa Comba e um primeiro passo para que a elevacao na discussao nao exista. Agradeco que pratiquem a auto moderacao.[/mod]

Tens razão nesse aspecto , o Estado Novo só aparece a partir da Constituição de 1933 , mas quando fala-se de Estado Novo , geralmente toda a gente engloba esse período , mas se quizerem estão à vontade para mudar o título do tópico para ser mais correcto.

Por exemplo , Período Pós-Golpe de 1926 e Estado Novo.

Nada melhor para o Estado Novo do que fazer fronteira com um país que partilhasse o mesmo tipo de ideologia fascista/conservadora/qualquer que seja a taxonomia…

A Espanha Franquista era uma aliada geopolítica importante para Salazar, até pela posição neutral (que, obviamente, nunca foi assim tão neutral…) que viria a assumir durante a II Guerra.

Acima de tudo, é importante realçar que a Europa vivia tempos conturbadíssimos. A Revolução de 1917 estava ainda a tentar estender a sua esfera de influência - inclusive na República de Weimar, com o KPD de Rosa Luxemburgo a ver as percentagens reforçadas perto de 1933 -, enquanto as forças opositoras de extrema-direita tentavam implementar uma ideologia capaz de suster o avanço comunista.

Nesta dualidade de forças, Salazar sabia perfeitamente qual o terreno que deveria pisar e quem deveria apoiar. Era um calculista, por natureza. Não costumava dar ponto sem nó. Se se aliou às forças de Franco na Guerra Civil é porque tinha consciência de que elas iriam acabar por tomar o poder, nem que Guernica se tivesse de repetir noutras localidades onde o tumulto estava ao virar da esquina.

Profundamente católicos, conservadores e imperialistas (os espanhóis mais virados para o imperialismo interno, Portugal para o imperialismo do “Minho a Timor”), ambos os regimes subsistiram devido à sua proximidade. Imagine-se o que seria se a Espanha tivesse enveredado por uma esfera marxista ou somente republicana… Será que o Estado Novo teria subsistido até 1974?

Quanto ao funcionamento do tópico:

O facto está numerado já , acho que não discordarás que Portugal têve uma intervenção pró-activa na Guerra Civil de Espanha , acho que é objectivo o que eu coloquei.

O que eu escrevo a seguir é uma interrogação ou pergunta que deixo no ar , não é facto , se acharem que as perguntas poderão vir a ser muitas e tambem por isso devem ser numeradas , por mim podem ser , mas por enquanto acho que ainda não é preciso , mas se começar a haver muitas e a criar confusão será feito.

Para evitar alguma confusão sublinhei o facto para o diferenciar da interrogação que lanço.

Como os factos já são numerados , se facilitar usem letras para codificar as interrogações / perguntas. :great:

O Estado Novo, infelizmente, teria subsistido para lá de 1974 caso a Guerra Colonial tivesse sido terminada mais cedo. O levantamento militar, maioritariamente composto por militares insatisfeitos com a política militar, nomeadamente com a substituição das chefias, tinha pouco ou nenhum interesse no derrube da ditadura Salazarista. O povo, bem, juntou-se, o que forçou o MFA a politizar-se, defendendo uma agenda política. A verdade é que os iniciais movimentos de rebeldia militar tinham origem em motivos puramente militares, não em matéria política.

Na 2ª Guerra Mundial, Portugal de forma alguma adoptou a postura política de Franco. Espanha era, digamos assim, o aliado neutro do Eixo, e Portugal era o aliado neutro dos Aliados. Paradoxo o facto do “aliado neutro”, mas é uma realidade. Aliás, Espanha permitiu, ao contrário de Salazar, o envio de simpatizantes fascistas (Espanha era realmente um país fascista, ao contrário de Portugal, que viveu sempre numa miscigenação de conceitos políticos, culminando sempre numa ditadura de índole nacionalista e imperialista) para teatros de guerra, como a Invasão da URSS e, em maior número, para a defesa de Berlim. Lisboa, essa, teve participação activa na II GM, tendo sido a cidade europeia que maior número de espiões albergava, sendo um local de plena contra-informação.

:arrow:

O Movimento dos Capitães iniciou-se devido a uma lei que possibilitava aos quadros milicianos passarem para os quadros oficiais mediante a frequência de um curso intensivo de dois semestres na Academia Militar.

Os Capitães da “velha guarda” revoltaram-se contra esta medida, já que os desvalorizava imenso, tendo iniciado, em 73, os primeiros contactos para formar um lobby. Depois, ao contrário do que era preconizado pela maioria dos Capitães no início, o MFA decidiu avançar com o derrube do Estado Novo, já que muitos viam a alternativa de “fazer pressão” bem mais válida do que via do golpe de Estado.

É um período vasto, e só tenho conhecimentos sobre a arquitectura do estado novo, que mudou radicalmente muitas das cidades em que habitamos actualmente.

Se quiserem saber um pouco mais sobre arquitectura do estado novo avisem! ;D

Exactamente a minha opinião. A ditadura caiu apenas por motivos sindicais. Tivesse o antigo regime sido capaz de acabar a Guerra Colonial de forma airosa e sabido manter satisfeitos os militares, ainda hoje seriamos uma espécie de Coreia do Norte. Quando muito teríamos aproveitado os ares de liberdade da altura do fim dos regimes comunistas para obter um pouco mais de liberdade…

Ora vamos por partes:

Primeiro quero pedir desculpa ao Angel Lion e restantes participantes por ter chamado Merceeiro de Santa Comba Dão ao Salazar.

Na verdade a minha intenção era aqui colocar o vídeo dos Contemporâneos, A Vida Badalhoca de Salazar, passando-lhe a chamar Azeiteiro de Santa Comba Dão, mas reconheço que se o tivesse feito estaria errado, porque quando abri o tópico vi que o Green Lion estava realmente a iniciar uma tentativa de uma discussão seria, pela qual lhe renovo os meus cumprimentos.
Da mesma maneira que acabei por reconhecer que o Angel Lion está correcto naquilo que disse, e passarei daqui para frente a referir-me a Salazar como Salazar.
Pode ser assim?

Estes dois posts contem informação importante que passo a tentar explicar:

Ao concordarmos com a opinião de que tivesse Salazar terminado a Guerra Colonial mais cedo, e tivesse o Estado fascista Português sobrevivido até a queda dos regimes totalitários de leste, chamado erradamente comunistas, ainda hoje seriamos uma espécie de Coreia do Norte. Coreia do Norte Cristã, fascista mas com melhores futebolistas, acrescento eu.

As ilações tiradas desta opinião são importantíssimas e reveladoras do state of denial em que vive uma razoável parte do Mundo Ocidental, que apenas reconhece os crimes cometidos pelos nossos supostos inimigos, tendo este formidável dom de ignorar de uma forma clínica tudo aquilo que sejam os crimes cometidos pelos regimes teoricamente democráticos e a quem atribuímos imensas qualidades, mas que na realidade são responsáveis por mais mortes que os regimes dos nossos “inimigos”:

Primeira conclusão e a mais simples de expor, é o facto de o Alemid e Daniel terem muito pouca esperança colocada no espírito de luta, rebeldia e fervor verdadeiramente democrático da população Portuguesa.
Nao acredito que o regime fascista tivesse ultrapassado 1975/76, quanto mais subsistir até a implosão dos estados pseudo comunistas de leste, em 1989/1991

Segunda conclusão é a mais grave e relativamente mais complicada mas é também a mais importante por ser menos relativa e poder ser confirmada contra factos históricos.

Portugal nunca poderia ser um estado como a Coreia do Norte devido a não possuir armas nucleares (a única razão porque a Coreia do Norte ainda subsiste, e a mesma razão porque o Irão seria louco se não tentasse tudo ao seu alcance para conseguir uma arma nuclear, não para ataque mas para defesa, chamando-se a isso Deterrence Theory). Sempre fomos e sempre seremos um estado cliente dos EUA e Reino Unido.

É fácil de imaginar que para além das tentativas de democratização vindas do interior do país, haveria também muita pressão do estrangeiro, conseguida por “imigrantes forçados” como o Mario Soares e outros “ilustres”.
Torna-se obvio para qualquer observador isento, que o regime fascista Português não seria capaz de resistir a toda essa pressão sem a ajuda dos EUA e resto da NATO, que como todos sabemos mas nem todos reconhecemos sem ser encostados a parede (filosoficamente falando, está claro), apoiaram varias ditaduras, tanto no Continente Europeu, como Americano, todas elas brutais e causadoras de milhões de mortos em actos de selvajaria para chegar ao poder e mesmo depois de lá estarem instalados ao impor as varias medidas neo liberais do Padrinho sentado em Washington nesse momento.

Portanto quando dizemos que tivesse o Estado fascista Português sobrevivido até a queda dos regimes totalitários de leste, chamado erradamente comunistas, ainda hoje seriamos uma espécie de Coreia do Norte. Estamos inconscientemente admitir que tal só seria possível com ajuda dos EUA, os mesmo que de momento andam a “democratizar” o Afeganistão, Paquistão e Iraque, enquanto ajudam os Israelitas a “democratizar” os Palestinianos.
Estamos portanto a reconhecer, talvez sem querer, que os EUA são responsáveis por a subsistência de variadíssimas ditaduras espalhadas por esse mundo fora.

E mais, a queda dos regimes totalitários de leste, só iria apressar ainda mais a queda do regime totalitário Português, visto que seria ainda mais difícil para a NATO mostrar que apoiava democracias na Roménia, Polónia etc etc mas para os pobres do tugas, nada. Quanto a mim, nada disto teria sido possível. O governo fascista tinha os dias contados desde pelo menos 1968.
Mesmo com o apoio dos imperialistas Norte Americanos (que o tiveram) os fascistas Portugueses teriam caído no meio dos anos setenta, disso não tenho duvidas.

Já agora, amigo Alemid, dizer que a ditadura caiu por “motivos meramente sindicais” é, mais uma vez, tirar muito mérito aos Portugueses das mais variadas cores politicas (tudo que seja a direita do CDS-PP não conta) e profissões que lutaram incessantemente para o derrube dos maiores assassinos que já pisaram o solo Português.

Se até mesmo dentro da Igreja Católica já havia altas patentes a movimentarem-se contra o regime totalitário Salazarista, imagina por esse país fora.

Para o amigo Daniel, que afirma que o Estado Novo não era fascista.
A foto foi sacada de um vídeo do youtube por mim, sendo o documentário original da SIC. Portanto posso garantir-te que não há aqui photoshops. Só nazis, fascistas, tugas e um autocarro da Carris fornecido pelos Ingleses, ironicamente.

Há mais perguntas? Quando chega a minha vez de colocar uma questão? Terei todo gosto em responder as perguntas que me coloquem…Disparem, camaradas ;D

Eu refiro que o Estado Novo não era inteiramente fascista porque falhava em manter uma das premissas fundamentais do fascismo: o denominado state worship. O fascismo preza a identidade do Estado, o Estado Novo prezava a identidade da nação. Um Estado Fascista adopta uma política externa expansionista, o Estado Novo prezou a política de manutenção dos territórios da época. Muitos mitos, a maioria deles elogiosos, continuam a pairar sob Salazar, infelizmente. Nada que uma humilde e factual lição de história não desmistifique. Yazalde, li que tinhas comprado uns livros em Portugal. Deixa-me adivinhar: Históricas Rocambolescas? :smiley:

Governo nacionalista, economia corporativista, para mim as melhores definições do Estado Novo.

Encontrarás certamente similaridades entre o Estado Novo e o regime de Mussolini, esse quasi-fascista a todos os níveis, mas tal facto não comprova nada. Desse modo, como saberás, nenhuma definição ideológica está correcta. Nunca existiu um Estado Comunista (paradoxo), nunca existiu um Estado Capitalista, nunca existiu um Estado Liberal, etc., mas, sim, princípios políticos e económicos maioritariamente respeitados e seguidos.

É verdade que apelidar as ditaduras de Leste como Comunistas é errado, sem dúvida. Autoritarismo de cariz socialista, correcto?

Este tópico é pantanoso, devo dizer, porque transmite a ideia de que um, neste caso sou eu, está comprometido a defender o Estado Novo. Já o disse: Ditaduras de todo o tipo, sejam de Direita de Esquerda, são por mim repudiadas a todos os níveis. A Revolução de Abril foi um momento belo, não haja dúvidas, pena ter sido mal aproveitado. Socialismo, Fascismo, Nacionalismo, Nazismo, tudo bizarro e repudiado por mim. Aqui debato o Estado Novo, ali debaterei o Terceiro Reich, o Reino Unido de Margaret Thatcher, os Estados Unidos da América de Roosevelt ou de Truman, a China de Mao, e por aí fora.

Eu festejo o 25 de Abril com orgulho e admiração pelo resultado do mesmo, Liberdade para o povo e o fim da Ditadura, não pela ideologia que a conduzia.

O 25 de Abril foi um evento tão profundo e dinâmico que episódios diminutos seriam capazes de produzir livros de ensaio histórico de excelente qualidade. Livros decentes e inovadores sobre a Revolução? Quase nenhuns, mas tal não me admira!

Salazar, o Político, nasceu sob as mais perfeitas circunstâncias políticas: na altura, não prevendo que o regime culminaria numa ditadura, ele era, na óptica do povo, o homem perfeito (o político, atenção, não as ideias), o tal que acabaria com a “desbunda” política em que o país vivia, com governos a sobreviver menos de 3 meses, numa troca de cadeiras constante. A verdade é que ele chegou, não sendo inicialmente a figura de maior poder, e cumpriu aquilo a que se propôs: consolidar um Governo, administrar o país com firmeza (necessidade imperativa dada o estado de Portugal) e providenciar uma visão para o futuro - que se revelou ditatorial. Aliás, a política educativa do Estado Novo é uma prova a favor da teoria da valorização da história da nação, indo contra a ideia do Estado Fascista, que sempre procurou construir uma história alternativa, apagando se necessário a mesma.

Eu tenho uma opinião muito sucinta acerca disto. O que aconteceu em 1926 foi necessário. Portugal estava até aí entregue aos bichos. O período entre 1933 e 1945 foi decisivo para aguentar o país e livrar-nos da 2ª Grande Tragédia Europeia. Infelizmente as mentalidades que se perpetuaram no Estado Novo não evoluíram, dado o seu background “ultra-montano” (verificar este termo). Por tal, o país foi ficando envolto numa sombra de Estado Teocrático enquanto os outros se modernizavam e adaptavam a novas realidades socio-políticas.

O caminho para o abismo do retrogadismo total começa a afigurar-se em 1955 quando a Índia declara que vai esperar para ver a atitude de um Portugal a acusar senilidade que não conseguiu aprender com a devolução da Índia pela parte do Reino Unido aos indianos. Tivemos 6 anos para evitar uma derrota óbvia e bem aplicada em Dezembro de 1961.

Mas mesmo assim não aprendemos, e o caminho continua na resistência contra tudo e todos, para perpetuar o Estado Cinzento, pseudo-imperial, que se alimentou de centenas de milhares de jovens, mortos por uma causa alheia. É isto.

@Viridis
Como libertário que sou não concordo que o país precisasse de uma ditadura em 1926 ou outra data qualquer, mas de resto a analise do Viridis, parece-me bastante correcta e sucinta.
Reconheço no entanto que no principio do século o país passou por momentos muito tumultuosos e que algo tinha que ser feito, mas la está, estou entre os do reviralho e os anarco-sindicalistas, portanto nao defendo a instauração de regimes autoritários, mas neste caso, até percebo o raciocínio que levou a ditadura, ditadura essa que foi bastante peculiar, única até em muitos aspectos.

Parabens pela criação da palavra ultra montano, lá me fartei de rir quando li da primeira vez, bom trocadilho que assenta que nem uma luva aquela leva de fascistas e governantes das Beiras e Transmontanos que ainda hoje assola o país…Nao é Sr Sócrates?

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@Daniel
Desculpa mas estás a fazer algumas afirmações menos correctas, quanto a mim.

Primeiro não concordo que a União Soviética fosse um regime autoritáriode cariz socialista. É o mesmo da Israel Defence Force. São contradições.
Era um regime autoritário que usava propaganda com motivos e alegorias socialistas, quanto muito, mas na verdade não passava de um regime fascista que fazia ruídos anti capitalistas, para nao me demorar muito no off topic.

A seguir chamas quasi fascita ao Mussolini quando foram os Italianos quem criou o fascismo , na altura da Primeira Guerra Mundial, portanto não podiam ser quasi, não é? Sei que é uma technicality, mas pareceu-me digna de menção, já que muitos crêem que o fascismo origina da Alemanha Nazi, o que não é o caso.
O Salazar não inventou nada.

Também não percebo esses elogios a maneira como o Estado Novo se apropriou de partes da historia de Portugal (muitas delas criminosas pelos parâmetros de hoje em dia) mas sem criar uma versão alternativa, dizes tu? Eu duvido, aliás tenho a certeza que nisso seriam tal e qual como todos os outros fascistazóides que assolaram a humanidade nos dois ultimos séculos.
Parece-me naíve pensar que não houve um manejar dos acontecimentos históricos por parte da ditadura, afinal sabemos que manipularam tudo o resto.

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Os livros que comprei foram estes:

O Movimento dos Capitães e o 25 de Abril
Por Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso

Anarquistas, Republicanos e Socialistas em Portugal
Por António Ventura

Biografia de Um Inspector da PIDE
Fernando Gouveia e o Partido Comunista Português
Por Irene Flunser Pimentel.

Yazalde, na prática acabaste por concordar com o que eu disse. Depois da queda dos regimes de leste, a política mundial mudou, a guerra fria acabou e Portugal seria um incómodo diplomático para UK e USA, que fariam enormes pressões para que houvesse uma mudança em direcção a uma democracia. Seria uma mudança imposta de fora para dentro.

Não desprezo o enorme esforço de muitos resistentes, que perderam a liberdade e alguns a vida a lutar contra o regime. Aí coloco por exemplo Álvaro Cunhal como um verdadeiro herói da resistência. Mas esses lutadores eram poucos, fracos, sem apoio. Nunca o regime teria caído numa revolução popular. Como hoje vês o nosso conformismo, aceitação de qualquer imposiçao, isso já vem de trás, aliás se calhar é mesmo uma consequência desse regime.

Portanto restavam apenas 2 soluções: ou o exército se revoltava, ou havia uma invasão. A 2ª opção era pouco provável, militarmente éramos/somo fracos, não somos ameaça para ninguém. A revolta do exército era tão óbvia que até parece que era o que o regime queria. Agora analisa bem: foi uma revolta a todos os níveis, comandada por um General ou conjunto de generais? Não. Foi uma revolta dos quartéis, de soldados fartos de guerras e falta de liberdade? Não. Foi apenas um conjunto limitado de capitães, chateados porque iam perder alguns privilégios e pela nosso costumada inveja (“então os milicianos terão os mesmos direitos que nós!?!”). Triste, cru, mas factual.

Daniel: estás apenas a brincar com as palavras. Que diferença do ponto de vista de propaganda política, entre “Estado” e “Nação”? Nenhuma. Qual a diferença entre “expansionismo” e “manter o império”? Apenas uma, Portugal não tinha chances de militarmente se expandir, portanto restava apenas a luta ingloria por manter o império. Por isso a derrota na Índia, e a derrota que iria surgir nas restantes colónias.