Entrevista a André Patrão (Dar Rumo ao Sporting)
André Patrão e Miguel Paím são dois jovens que resolveram constituir este movimento para consultar os sócios relativamente ao futuro do Sporting Clube de Portugal. Tendo a possibilidade de entrevistar um deles - neste caso André Patrão - não pensámos duas vezes dada a relevância deste movimento na actualidade leonina. De forma gentil, cordial e disponível, o André acedeu ao nosso pedido. Aqui está a entrevista que fizemos:
Pergunta: Como é que surgiu o movimento Dar Rumo ao Sporting?
Resposta: É difícil olhar para o Dar Rumo ao Sporting hoje e acreditar na forma como começou! Ainda há semanas não passava de um pequeno grupo de Facebook a lutar por se fazer credível, e hoje é a imagem de esperança para tantas centenas de Sócios de Adeptos! O movimento não nasceu de alguma circunstância singular, mas sim de um contexto simples, comum, reconhecível por qualquer Sportinguista. De dois Sócios assistindo desoladamente ao desmoronar de um Clube centenário, dia após dia. Com cada jogo a reafirmar do desalento, com cada notícia a acentuar o desapontamento, com cada afirmação por parte da Direcção a apagar qualquer esperança. Partilhávamos, à semelhança de todos, o desejo de fazer parte de uma grande mudança, agir pelo Sporting e resgatá-lo da decadência para o recolocar na glória! Mas como? Esperávamos, passivos, pela resposta.
O que fez a diferença, e despoletou o movimento, foi termos ganho consciência de que podíamos ser nós essa mudança, nós Sportinguistas. Não necessitávamos de esperar por alguém, nós éramos esse alguém! Depois de eu e o Miguel termos dado o primeiro passo, mais e mais Sportinguistas tomaram consciência do mesmo. Compreenderam quanto sentido faz dizer que “o Sporting somos nós”, e passaram das palavras às acções.
Foi disto que surgiu, foi disto que cresceu, e é disto que deve viver o futuro do Sporting!
P: Qual foi o momento chave por detrás dos últimos resultados do Sporting - desportivos e financeiros - para esta iniciativa?
R: Pode-se dizer que todos os eventos, precedentes e consequentes, associados ao despedimento do ídolo Sportinguista Sá Pinto foram a última gota de água num grande balde de paciência. Não me quero alongar nessa situação em específico, é apenas uma da vasta lista. Mas na altura foi uma para além do razoável.
P: Quais são os principais aspectos da presidência de Godinho Lopes com os quais não concordam e que estão na base do vosso grupo?
R: Os detalhes estão descritos no nosso manifesto, apesar dos últimos dois meses darem matéria para mais algumas páginas. Mas o resultado de meio mandato fala por si: o Sporting enterrou-se no pior estado financeiro e desportivo da sua história centenária. É preciso mais que isto para destituir a Direcção? Ou, particularmente importante, para dar voz aos Sócios?
P: Já têm uma ideia do valor a pagar e de como o vão obter?
R: Os custos variam entre os 50.000 e os 60.000 €, apesar de continuarmos a procurar alternativas mais baratas – com a assistência da MAG. Tencionamos recolher este valor com uma conta anónima aberta a contributos, na qual qualquer Sportinguista poderá dar o que entender possível e devido. Aliás, desde hoje (sexta-feira) que o NIB para as contribuições se encontra disponível! Parece-me também interessante ressalvar que devolveremos o dinheiro em excesso por ordem dos primeiros a enviarem o donativo.
P: Acham que estão preparados para as exigências adicionais colocadas pelos Corpos Sociais, como por exemplo o Vice-Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Daniel Sampaio, que afirma que a acção não se pode limitar a reunir as assinaturas e o montante necessário para a realização do acto eleitoral? Que preparação está a ser feita nesse sentido?
R: O propósito do requerimento deve ser devidamente justificado, naturalmente. Mas há algo na situação do Clube que levante dúvidas quanto à legitimidade deste nosso pedido? E perdoem-me por não explorar muito esta questão, mas correria o risco de criar um problema no que não o é. A própria Mesa da Assembleia Geral reconheceu publicamente a inevitabilidade e inexorabilidade da Assembleia Geral proposta, por via do seu Presidente. Já se estabeleceu claramente que a aceitação do requerimento é indiscutível!
P: Segundo os estatutos, tem de haver uma percentagem de sócios participantes numa Assembleia Geral para destituir a Direcção. Acham que a vontade dos Sócios passará da assinatura para a acção e que haverá gente suficiente presente?
R: Agradeço que tenha levantado esta questão, dá-me a oportunidade de corrigir uma dúvida comum: a realização da Assembleia Geral não depende de uma percentagem de signatários, mas sim do valor fixo de 750 votos dos subscritores. Significa então que, independentemente do número de assinaturas recolhidas, e independentemente da sua proveniência, o valor mínimo de 750 votos subscritores obrigados a comparecer mantém-se inalterado.
P: Vocês são muito jovens e a maioria dos sócios que assinaram o manifesto também. O manifesto foi divulgado essencialmente pela internet, que chega preferencialmente também aos mais jovens. Acham que vão conseguir convencer os sócios com mais votos a participar numa possível AG?
R: Tem razão quando aponta que a divulgação passou em grande parte pela internet, logo tendo mais impacto nos Sportinguistas jovens. Mas, felizmente, a força do movimento não se esgotou aí: destes jovens partiu a iniciativa de espalharem a palavra a quem nós não podíamos chegar directa e pessoalmente, como gostaríamos. A novidade passou do “digital para o real”, foi falada, discutida, e aos poucos conquistou espaço para além da internet. Para isto há que agradecer também à Comunicação Social, que nos deu o devido tempo e espaço para divulgar a nossa acção.
A prova do que digo surgiu na última actualização da contagem de votos, desmistificando também ideia comum de só jovens aderirem ao Dar Rumo ao Sporting. Tanto recolhemos votos de Sócios com um ano de inscrição, como de cinquentenários, numa distribuição relativamente equilibrada entre todas as faixas etárias. Os problemas enfrentados pelo Sporting hoje não se apresentam apenas a uns ou a outros, mas a todos. A gravidade da situação é clara para qualquer geração, e a vontade de a mudar também.
P: Vocês são apenas um movimento de associativismo com o objectivo de dar voz aos sócios nesta fase conturbada do Sporting ou assumem claramente que querem destituir a actual direcção? Como se irão posicionar se os sócios decidirem que o futuro do Sporting passa pelo actual presidente?
R: Bom, não existiriam argumentos para esta Assembleia Geral se não existissem também argumentos para a destituição da Direcção! Mas tem razão ao fazer uma distinção entre os dois aspectos. De facto, o Dar Rumo ao Sporting avança pelo procedimento estatutário da convocação da Assembleia Geral com a intenção de destituir a Direcção; mas não se considere a Assembleia Geral como um mero meio! É uma ocasião fulcral para os Sócios terem voz e acção consequentes nos destinos do Clube, quando este mais precisa. A força de uma Assembleia Geral é tal que independentemente do seu desfecho, concretiza-se algo benéfico para o Clube: se a Direcção for destituída, abre-se espaço para um novo rumo; se a Direcção se mantiver, legitima-se e conquista a tão desejada estabilidade até ao final do mandato. Mas é crucial que a questão passe pelos Sócios.
P: Caso o futuro passe por eleições, têm vontade de constituir uma lista, vão apoiar algum candidato ou vão colocar-se à parte do processo.
R: A missão do Dar Rumo ao Sporting acaba com a Assembleia Geral. Aí esgota-se o objectivo a que se propôs, e o foco passa a eventuais candidatos eleitorais. A partir desse momento compete-nos ouvir, reflectir, e votar como todos os outros Sócios.
P: Como respondem às acusações que têm sido alvo, concretamente as relacionadas com serem um movimento do bota-abaixismo que pretende destituir os orgãos sociais sem apresentar soluções?
R: Por princípio, colocar-me-ia ao lado dessas mesmas vozes. Pedir o fim de um projecto só é responsável quando apresentado outro alternativo, que se prove melhor. Mas os princípios não podem ser aplicados cegamente, devem ser colocados em contexto para que se comprove a sua validade. E a situação excepcional que o Clube vive hoje invalida a aplicação incondicional desse princípio: porque não é o fim de um projecto que está em causa, é a ausência do mesmo. Não é a substituição de um projecto por outro que se pede, é a substituição de nada por algo.
Tendo isto em mente, o movimento cumpre na verdade um papel construtivo, abrindo espaço para que surjam projectos e se estabeleça (lá está) um rumo para o Sporting.
P: Como respondem, também, à ideia de que a convocação de eleições antecipadas é mais um factor de instabilidade num clube que segundo alguns sportinguistas precisa de união?
R: Há alguma confusão nestes comentários recorrentes, e espero clarificá-la. Primeiro, quem olha para o Dar Rumo ao Sporting encontra a união, a acção, a esperança renovada, o sacrifício à volta do Sporting. Encontram Sócios e Adeptos em trabalho conjunto por todo o Mundo, empenhando-se em dar o que podem pelo Clube que lhes faz parte da alma. Não há dúvida, este movimento é uma união de Sportinguistas de todo o lado, de todas as idades, à volta do Sporting!.. mas não à volta do Sr. Eng. Godinho Lopes. E a diferença entre demarca-se cada vez mais.
Segundo, mistura-se o que é a origem de instabilidade com o que são as consequências da mesma. A Direcção tem quatro treinadores em meio mandato, um deles interino durante um período absurdamente longo, perde dois vice-presidentes, afasta as duas cabeças do futebol, centra o futebol apenas no Presidente para semanas depois alterar mais uma vez a estratégia e contratar um manager, que afinal deve passar a treinador… enfim, isto e tanto mais em meio mandato! Pergunto então, pedem estabilidade a quem?
A contestação não é a fonte de instabilidade, é consequência da mesma: a fonte de instabilidade é a Direcção. No momento em que a Direcção deixar de produzir motivos para que os adeptos contestem, os adeptos deixarão de contestar. No momento em que a Direcção dê motivos para que os adeptos festejem e se orgulhem, fá-lo-ão.
P: Quais foram as conclusões que chegaram depois da reunião com o presidente Godinho Lopes?
R: Reafirmou-se a urgência de cumprir o desígnio do movimento. Em geral, o Sr. Eng. Godinho Lopes transmitiu-nos o que dias depois viria a comunicar a todos, sobre os seus planos para o futuro do Clube. Não vimos nisso nada de dissuasor, antes pelo contrário.
Mas há outro aspecto que nos parece digno de nota, mesmo que normalmente não tenha destaque. A forma como de correu a audiência, entre três Sportinguistas, como tal, a discutir o passado, presente e futuro do Clube. Há nisto um carácter humano para além do “Presidente-Sócio” que nos impede de esquecer, somos todos Sportinguistas, e todos queremos a grandeza do Clube, mesmo que vejamos para isso caminhos opostos. Faço esta referência por parece-me importante manter um nível semelhante nas discussões acesas que se aproximam, esta consciência de que convergimos todos nalgo maior do que as nossas divergências: o Sporting. É por este grande Clube que todos fazemos o que fazemos.
P: Há quanto tempo seguem o FórumSCP? E qual é a vossa opinião relativamente a este espaço virtual?
R: Já seguimos, mesmo de longe, há vários anos. O tempo não nos permite uma participação activa regular, mas é frequente espreitarmos o que é dito. Todavia sem dúvida que depois desta experiência ganhámos uma noção muito maior do que é este fórum, e o que aqui se passa. A discussão constante e espírito de iniciativa dos foristas é um grande exemplo de uma comunidade Sportinguista activa!
Mais digo, no início desta nossa caminhada muitos momentos e pessoas fizeram-se decisivas na sobrevivência do movimento. Os foristas do FórumSCP foram um desses pilares fundamentais… e continuam a sê-lo! Obrigado!
P: Por fim, queria agradecer em nome do FórumSCP a vossa gentileza e disponibilidade para esta entrevista.
R: Agradeço eu a possibilidade dada! E já agora um grande abraço aos foristas que tanto têm feito pelo Sporting! Saudações Leoninas
@FórumSCP 2012