Tenho tentado participar o menos possível no fórum no que respeita às eleições, mas não gostaria de deixar aqui (quanto mais não seja para memória futura) a minha visão do acto eleitoral antes da data das eleições, pedindo, desde já, desculpa pelo “testamento”.
Antes de me pronunciar sobre os candidatos, uma palavra para o presidente cessante. Discordo em absoluto do modelo que FSF defende para o Sporting, quer seja na relação entre o clube e a SAD, quer seja no relacionamento com os sócios e entendo que é o principal responsável pela, por si qualificada, “crise de militância”, por causa do seu discurso pessimista e da sua visão excessivamente economicista para o clube, tendo uma grande quota-parte de responsabilidade para a presente “cisão” que vivemos no clube – no momento temos uma facção claramente defensora de uma ruptura e outra que se revê na continuidade.
Reconheço, todavia, a FSF a frontalidade de, abertamente, dizer qual é a sua visão do clube e sujeitá-la ao escrutínio dos sócios e à (também por si qualificada) “minoria de bloqueio” e, em termos pessoais pelo contacto que tive com ele, nada tenho a dizer em seu desabono.
Em relação aos candidatos, devo dizer que, não só pela personalidade dos candidatos e pelas visões que defendem, as candidaturas são completamente opostas até pela forma como nasceram.
PPC apareceu, in extremis, como rosto de um programa que foi sendo desenvolvido, com muito suor e muito trabalho, ao longo de cerca de um ano, pelo Movimento Leão de Verdade, nascido aqui neste fórum e encabeçado pelo Frede.
No que respeita à candidatura de JEB sucedeu o inverso. Primeiro (e depois de muita “filtragem”) escolheram um rosto e, mais tarde, compôs-se um programa que suportasse o nome escolhido.
Esta foi, quanto a mim, uma das virtudes da candidatura Ser Sporting – fazer surgir do lado da chamada “continuidade” um dos mais fortes rostos para encabeçar o “projecto”. Com efeito, a candidatura da dita “oposição” obrigou a linha da “continuidade” a inúmeros esforços para encontrar alguém que encabeçasse a sua candidatura.
Já PPC surgiu porque, na hora de alguém assumir o programa criado, todos os nomes conotados, nestes últimos tempos, com a oposição não tiveram a coragem que PPC teve de dar um passo em frente e assumir um projecto que partia, nitidamente, em desvantagem, mesmo sem se saber qual era o adversário. Compreendo, por isso, perfeitamente a menção à “depuração de nomes” que PPC efectuou na entrevista do “Dia Seguinte”, pois chegou-se a uma altura neste processo em que alguém teria de dar um passo em frente e, quando se toma decisões dessas, há sempre quem dê um passo atrás…ou ao lado.
Também aqui a outra candidatura à direcção efectuou o percurso completamente inverso. Paulo Abreu, Menezes Rodrigues, Carlos Barbosa da Cruz, Carlos Barbosa, Dias Ferreira, Rogério Alves ou mais uma “inflexão” de FSF estiveram na ordem do dia, mas, na «hora H», JEB “enganou” tudo e todos e voltou atrás com o que tinha dito no fim-de-semana do Congresso Leonino.
Entrando na semana das eleições e na recta final da campanha, temos um cenário em que poucos apostariam há umas semanas atrás.
PPC vai conseguindo transmitir o programa da sua candidatura. Mesmo tendo que lutar contra o “establishment” e uns golpes mais baixos de alguma comunicação social, PPC vai propagando uma mensagem de ruptura, demarcando-se da “continuidade” e da sua linha de pensamento, apelando ao “coração” dos sócios, ao regresso do “bom futebol” e à construção de um pavilhão, anseio de grande parte dos sportinguistas. Tem corporizado cada vez melhor o ânimo que esteve na base da construção do programa Ser Sporting e, apesar de se notar que está pouco à vontade em relação a alguns assuntos, tem sabido contornar algumas dessas fraquezas à medida que o tempo vai passando.
Lamento todavia que PPC só, há pouco tempo, tenha “apanhado este barco” e que apenas agora comece a tomar conhecimento da realidade do Sporting. Mas se a falta de passado no dirigismo desportivo por parte de PPC e da sua equipa poderá ser, para uns, um ponto fraco, por outro lado, também poderá ser uma mais-valia, se pensarmos que trazem uma visão nova e diferente.
A mudança traz sempre alguma incerteza, mas não deverá ser feita por quem não contribuiu para o estado de coisas que pretendemos alterar?
Já a candidatura de JEB traz-nos um paradigma diferente. Um modelo assente numa figura mais consensual, mais bem vista pelos diversos quadrantes do clube, que inspira índices de confiança e de “sportinguismo” mais elevados e um conhecimento mais profundo da realidade futebolística nacional e do clube. O seu percurso, discreto mas bem visto, como dirigente do clube nas anteriores passagens pelo mesmo confere-lhe um índice de credibilidade que PPC, obviamente, não possui.
Todavia, apesar de não se assumir, frontalmente, como a candidatura da “continuidade”, JEB reúne o consenso e o apoio de todos os ex-presidentes (incluindo Dias da Cunha) e das figuras (ditas) “notáveis” do clube. Na sua candidatura gravitam muitos dos nomes que “habitaram” Alvalade nos últimos anos. Mesmo aqueles que apelidavam a candidatura de JEB como sendo a “terceira via” acabaram por constatar, da pior maneira, que assim não é. E este, penso, é o maior defeito da candidatura de JEB. Todo o capital de confiança que a sua pessoa possa ter fica diminuído pela presença daqueles que o acompanham. E se, vendo a composição da sua lista ao Conselho Directivo, verificamos a tentativa que fez para cortar com algum passado, facilmente verificamos, se olharmos para a composição do Conselho Fiscal e para as (velhas) novidades da Assembleia Geral, o comprometimento que existiu na sua elaboração e a tentativa de agradar a todas as sensibilidades reinantes na ala da “continuidade”.
Porém, a campanha de JEB tem sido, para mim, uma desilusão. Discurso demasiado vago e redondo, cheio de conceitos vagos e indeterminados. Recusa terminante ao debate com o outro candidato. Programa demasiado impreciso, superficial e vago. Tiradas infelizes como o «Paulo Bento forever», «vou-vos sair caro mas faço um desconto de 50%», etc.
É certo que a mudança também se poderá fazer de forma gradual, mas será que a lista de JEB “muda” efectivamente o suficiente?
A terminar deixo mais dois pontos.
Entristece-me constatar que a linha da “dita” oposição não aproveitou este tempo todo para, de uma forma minimamente concertada, apresentar-se agora a eleições com um projecto mais sólido e estruturado. Os jovens, aqueles de quem se diz que não ter passado no dirigismo, é que fizeram movimentar a “minoria de bloqueio”, perante a inacção de muito boa gente com responsabilidade e com o dever de fazer mais e melhor pelo clube.
Por seu lado, a “continuidade” acomodou-se à inacção contrária. Alguém (com conhecimento da matéria) uma vez disse que o sentimento que passa a quem ganha as eleições é o de impunidade durante os 4 anos do mandato. Afinal, constata-se agora, que quem criticava, a plenos pulmões, a inexistência de um “projecto” contrário, na verdade, apenas tinha do seu lado o projecto financeiro de FSF e a imensa crença na sua continuidade.