Domingos merece toda a nossa Paciência

A menos de uma semana do início dos trabalhos, gostaria de fazer algumas reflexões, relativamente à época passada e ao trabalho difícil que espera o nosso novo treinador.

A herança que Domingos Paciência recebe é, de facto, das mais pesadas da história do nosso clube.

Dentro de campo, herda um clube com manifestas dificuldades em marcar golos, em sistematizar um futebol ofensivo agradável e digno da história do nosso grandioso clube e com muitas lacunas organizativas, que resulta numa quantidade anormal de golos sofridos.

O Ataque
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Analisando, primeiramente, os aspectos ofensivos, para que tenhamos algumas hipóteses de lutar pelo título, prevejo que sejam necessários (pelo menos) mais 20 golos que na época passada, na qual apenas se marcou 41 golos! Relembro que, desde a época 2004/2005, onde fomos orientados por José Peseiro, que o Sporting não atinge os 60 golos, na liga. E onde podemos melhorar este registo?

1 - Lances de Bola Parada:
a) Livres: Nas últimas 2 épocas, o Sporting tem o extraordinário registo de 0 (zero? sim, ZERO!) golos de livre. Aqui, Domingos tem muito trabalho a fazer. É completamente inadmissível um clube com as pretensões do Sporting, não consiga facturar de livre. Só a título de curiosidades, nas últimas 2 épocas, o Braga de Domingos marcou de livre, por 7 vezes (4 na 1ª época e 3 na 2ª). Isto demonstra trabalho feito e deixa-me, naturalmente confiante em que se verifique uma mudança radical. A forte aposta em Matias Fernandez e a aquisição de Stjn Schaars poderá fazer melhorar este importante aspecto de jogo.
b) Cantos: Aqui, também entendo que há muito trabalho a fazer. Nas duas últimas temporadas, o Sporting apenas foi capaz de marcar por 4 vezes, na sequência da marcação de pontapés de canto (2 golos em cada uma das épocas). O Braga de Domingos, nas duas temporadas, foi capaz de marcar 13 golos de pontapé de canto, demonstrando, igualmente, preocupação em utilizar os lances de bola parada, para melhorar os índices de finalização da equipa.

Por este facto, entendo serem necessários, pelo menos, mais 10 golos, em lances de livres e cantos, do que temos conseguido nas últimas épocas.

2 - Jogo Aéreo:
São manifestas as dificuldades que o Sporting tem tido, nos últimos anos, no jogo aéreo, não só em termos defensivos, mas principalmente, no aspecto ofensivo, que me interessa agora explicitar. Nas últimas duas épocas, o Sporting apenas foi capaz de marcar 10 golos de cabeça, dos mais, apenas 3, foram obtidos na última temporada. Este aspecto terá que ser, radicalmente, alterado. Precisamos, claramente de muito trabalho neste aspecto da finalização e talvez, da contratação de um jogador que tenha estas características. Também aqui, Domingos parece ter trabalho feito. Nas últimas 2 temporadas, o Braga conseguiu marcar de cabeça por 22 vezes.

Também aqui temos muito que melhorar. Estimo que sejam necessários marcar, pelo menos mais 10 golos de cabeça, do que na época que findou, para que tenhamos hipóteses reais de lutar pelo título. Van Wolfswinkel, pelas suas características, não me parece ser o jogador ideal para fazer subir o número de golos obtidos de cabeça. Postiga, já sabemos o que nos pode oferecer. Claramente, penso que falta aqui um jogador, mais finalizador, mais objectivo.

Um outro factor que temos claramente que melhorar é a eficácia de remate. Desde a época 2006/2007 que tem vindo a aumentar o número de remates necessários para que consigamos um golo:

2006/2007: 7 remates/golo
2007/2008: 8 remates/golo
2008/2009: 8 remates/golo
2009/2010: 9 remates/golo
2010/2011: 11 remates/golo

Mas há um dado estatístico aparentemente positivo que gostava de referir: os golos obtidos em contra-ataque: 24% dos golos obtidos na última época pelo Sporting, foram obtidos em contra-ataque, sendo esta a percentagem mais elevada entre todas as equipas da liga, neste dado específico. E porque é que eu digo aparentemente positivo? Porque o número de golos obtidos nas outras situações de jogo, no caso do Sporting, são manifestamente baixas, fazendo disparar a percentagem de golos obtidos em contra-ataque para números que são, efectivamente, muito bons. No entanto, objectivamente, a esta percentagem correspondem 9 golos. Este número, a meu ver, pode subir, não em termos percentuais, mas em termos numéricos.

A Defesa
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Relativamente aos aspectos defensivos da nossa equipa, a herança não poderia ser mais preocupante: dos preocupantes 26 golos sofridos em 2009/2010, passamos para uns inacreditáveis e inadmissíveis 31 golos!, na época transacta. Posto isto, o que mudar? Eu diria TUDO. Domingos terá que construir de raiz, todo o sistema defensivo. Não refiro apenas o quarteto mais recuado, mas sim, todo o mecanismo defensivo da equipa. É preciso uma mudança de filosofia total, maior qualidade no jogo aéreo, mais intensidade defensiva no meio campo, mais e melhores compensações, principalmente nas diagonais. Ou seja, há que construir, através da base, toda uma equipa que se quer ganhadora. E Domingos sabe fazê-lo. Em 2009/2010, numa época onde esteve quase a 100% concentrado na luta pelo título, o Braga apenas sofreu 20 golos, com um plantel manifestamente curto.

Posto isto, em termos conclusivos, quero dar todo o crédito a Domingos, pois entendo que ele já demonstrou ter capacidade em fazer bem, com poucos recursos.

Para alem disto, gostaria de mencionar ainda a força que Domingos parece ter junto da estrutura do futebol do Sporting. Não se limita a ser um técnico que treina os jogadores que lhe são dados. Quer-me parecer que tem sido ele uma das peças mais importantes na escolha dos jogadores. Dou um exemplo: era clara a intenção, por parte da estrutura de futebol do Sporting, a contratação de um jogador que entrasse de caras para a titularidade no lado esquerdo da defesa. No entanto, Domingos parece confiar grandemente nas capacidades de Evaldo. Posto isto, preferiu apostar num jogador jovem (Atila Turan), para desenvolver para um futuro próximo, muito à semelhança do que acontece no lado direito da defesa.

Um outro exemplo é o caso do Salomão. Claramente, Domingos sente que este precisa de minutos, preferindo empresta-lo, a te-lo no final das opções do plantel, com poucas oportunidades para jogar. Para finalizar, deixo também o exemplo do Torsiglieri. A meu ver, a possibilidade de um empréstimo parte do Domingos, que parece confiar bem mais em Rodriguez, jogador que muito bem conhece.

Muitos podem não gostar destes empréstimos. Mas com uma coisa deveremos estar satisfeitos. Temos um técnico com pulso forte, que sabe o que quer, que parece ter um projecto claro e ideia bem estruturadas. Há muito tempo que não tínhamos um técnico assim.

Por tudo isto e muito mais, penso que Domingos merece toda a nossa Paciência, pois certamente, nos levará a muitas glórias.

Assim esperamos…

SL

@ ZeQueira 2011

Concordo que a falta de golos é uma das nossas maiores pechas, marcamos pouco, basta ver que só a dupla de avançados do porco marcou tanto como nós!

O caso das bolas paradas é algo a rever mas sinceramente não me lembro qual o último ano em marcámos muitos golos de livre. Talvez no tempo do André Cruz mas daí para cá pouco produtividade é fraca.

Gostei de ler a tua reflexão, Caro ZeQueira. Concordo com a generalidade dos pontos que referes…

De facto, nestas 2 ultimas épocas, as jogadas de bolas parada tem sido sinónimo de … grande tremideira, quando estamos a defender, ou mais um jogada perdida, quando estamos ao ataque. Não fui ver estatísticas, mas tenho ideia que temos sido a espaços das equipas que mais jogadas de ataque produz, para depois no momento da verdade não conseguir finalizar com sucesso - arrisco dizer que na ultima época tivemos uma das piores linhas ofensivas da 1ª divisão , relativamente à qualidade dos avançados.

Dos novos jogadores, julgo que como a maioria de todos aqui , tenho esperanças na nova temporada, temos reforços que esperamos sejam verdadeiros up-grades em relação aos planteis anteriores. Mas… a verdade é que falta algo para sentir que esta época será nossa… não sei, há um certo dejávu em contratar jogadores que por esta ou aquela razão falharam nos anteriores clubes… este ou aquele jogador que é aparentemente tão bom , mas que nunca deu o salto. Ou seja, será necessário que se conjuguem ainda muitos factores para ser uma equipa à altura do nosso historial. O novo treinador, poderá (terá) de ser muito importante para o sucesso da época.

Na minha opinião, as aquisições tem sido positivas, mas revelam uma grande preocupação de contenção financeira… facto com o qual até estaria de acordo caso não tivesse havido a promessa de muito dinheiro para contratações. O que já todos sabíamos, essas verbas muito dificilmente irão aparecer, e será difícil ir buscar aquele jogador que faria a diferença (caso contrário, provavelmente já cá estava), e o que vamos assistir é à aquisição de mais 2 ou 3 jogadores em que o grande critério de escolha será o preço baixo. Se isso acontecer, acho que alguém terá de dar algumas explicações aos sócios…

Grande análise ZeQueira!

O índice de golos em contra ataque também pode querer dizer que sofremos mais ataques do que os desejados. Isto é, passamos a controlar menos os jogos e a depender de situações de descompensação do adversário para criar oportunidades.
Que também pode levar à ideia que faltaram, não só os tais abre latas, como também o fio de jogo que nos permitisse controlar o jogo quando estivemos em vantagem…

A questão dos cantos, será mais facilmente resolvida com o aumento da média de alturas da equipa. A defender já devemos ter mais cabedal (nem que seja só para atrapalhar!), a atacar é esperar que tragam um gajo com instinto que só as encoste.

Acho que já temos alguns ovos…
Que se façam, pelo menos, uns bons ovos mexidos que a malta já come!

@ ZeQueira

Grande análise, rapaz! :clap: :clap: :clap:

Sem dúvida que “varreste” todas as áreas da equipa e identificaste com provas quais as maiores dificuldades que o Domingos vai encontrar.

Para mim, a zona central da defesa é uma das áreas da equipa que é urgente pôr a funcionar. E precisamos urgentemente dum matador de área. O Postiga tanto pode marcar como pode não marcar. Não há dúvida que ele cabeceia bem, direi mesmo, cabeceia bem de mais (os ferros que o digam), mas a gente não quer um gajo com pontaria aos ferros, queremos um gajo com pontaria às zonas interiores das redes… :stuck_out_tongue:

Relativamente aos empréstimos de que falas, por acaso não tinha pensado na coisa nesses termos… Às vezes, a ideia que o empréstimo transmite é um bocado negativa mas olhando as coisas pelo teu prisma, não há dúvida que faz sentido.

Dá gosto ler comentários assim. :great:

Pessoalmente, terei a mesma paciência com Domingos, que tive para com os restantes treinadores.

Mais do que ganhar campeonato, peço-lhe que ponha a equipa a jogar bom futebol. Quero a equipa a jogar um futebol que me dê confiança para um futuro mais risonho.

Quanto à análise de Rodriguez vs Torsi, acho que estás errado. Um não substitui o outro, complementa. Em condições normais, o Rodriguez discutirá o lugar com o Carriço e o Torsi discutiria com Polga.

Concordo em absoluto com a análise do nosso ataque e é por ela mesma, que afirmo que neste momento, não temos equipa para ganhar nada. Esses 20 golos, a que deveremos adcionar os que Liedson marcou na época passada, são quase 30 golos que RvW e Schaars não conseguem garantir. Falta mais um PL e um extremo que faça uns 5golos/época.

De resto, bom texto e obrigado pelo trabalho que te deve ter dado essa pesquisa :wink:

Bela análise.

Penso que em termos gerais a estrutura da equipa está feita, à partida a defesa está fechada (em termos de entradas), e com a confirmação do Rinaudo o meio campo também. O grande trabalho que o Domingos vai ter vai ser para desenvolver uma defesa equilibrada com os jogadores que chegaram e os que já cá estavam. Na minha opinião vejo potencial para termos uma defesa com mais qualidade, tendo em conta as características de jogadores com o Rinaudo ou o Oneywu, mas o factor decisivo vai ser mesmo o Domingos.

Em relação ao ataque faltam claramente um avançado e um extremo para colmatar as falhas que foram identificadas, especialmente no jogo aéreo.

O Schaars é um box-to-box, não um avançado. Contratámos o Ricky, o Carrillo, e ainda deve vir mais um, que esperemos que seja de grande qualidade.

Gostei bastante da tua análise, ZeQueira. É imperial que melhoremos em termos de bolas paradas, tanto ofensivas, como defensivas, e que o modelo de Domingos consiga ser bem implementado, assente numa estrutura estável, e que lhe garanta tranquilidade.

Uma vez que este tópico é também em parte sobre o Domingos e visto não querer atulhar o outro tópico com esta matéria (até porque depois facilmente cai no esquecimento), aqui fica…

Uma entrevista que Domingos deu quando treinava o Leiria há cerca de 4 anos atrás sobre o tema “Rotatividade” onde expõe muitos dos seus pontos de vista enquanto treinador. Acredito que algumas das suas ideias já tenham evoluído ao longo do tempo, até porque treinou mais clubes e com diferentes aspirações, mas sempre dá para perceber qualquer coisinha sobre o modo de pensar do treinador Domingos Paciência.

Aqui fica:

[center]“ROTATIVIDADE DE JOGADORES” no Futebol.
Uma relação «umbilical» do como treinar com o
como «jogar».

[b]http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/14526/2/5844.pdf[/b][/center]

PARTE I

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Sérgio Alves (S.A.) - Na sua opinião, quais as características que uma equipa de top evidencia para ser de top?
Domingos Paciência (Domingos) - Acima de tudo, a qualidade que compõe o plantel, porque para se ter uma equipa os jogadores também têm de ser de top. É evidente que os jogadores, para estarem no top é porque reúnem qualidades que outros não reúnem. Tecnicamente são melhores, tacticamente são melhores. Acho que para ser um jogador de top, quanto a mim, tem de ser um líder em todos os aspectos, quer técnicos, quer tácticos, quer físicos…

S.A. - Quando constrói um plantel, os jogadores escolhidos estão de acordo com o número de competições que a equipa se encontra a disputar? Ou pensa que existe um número de jogadores que a equipa deve ter para ser mais fácil a gestão?
Domingos - A minha preocupação quando formo um plantel é ter dois jogadores por cada posição. Também devemos ter a preocupação de haver um ou dois jogadores que realmente possam fazer mais do que duas e três posições. Em cada princípio de época, tenho uma reunião com cada jogador, onde, inicialmente, lhes pergunto qual é a posição onde sentem que mais podem render. Depois, de acordo com isso também, é evidente que lhes pergunto a sua primeira posição e uma segunda posição, de maneira a que possa compor o plantel. Mas também de maneira a que em qualquer eventualidade ou problema que tenha com qualquer outro jogador, outro jogador me possa também cumprir essa posição.

S.A. - Desta forma, tem jogadores com polivalência, para, no caso de rodar, em caso de lesão, ou mesmo em termos de opções possa resolver esse problema?
Domingos - Sim.

S.A. - Acha fundamental ter jogadores com polivalência?
Domingos - Sim… sim…

S.A. - No que se refere à interpretação das suas ideias, filosofia de jogo, considera que todos os jogadores apresentam a mesma capacidade de percepção, interpretação, compreensão dos princípios de jogo ou cada um apresenta alguma dificuldade algum aspecto? Quase todos têm a mesma capacidade?
Domingos - Não, todos. Acho que todos compreendem aquilo que eu pretendo, e ainda há pouco quando lhe dizia que este jogador era para determinada posição, no entanto, também sabe que noutra determinada posição quais são as funções que estão a desempenhar. Portanto, em momentos do jogo, em que há determinados espaços que têm de ser ocupados por… que era do jogador A e que tem de ser, que é ocupado naquele momento pelo jogador B, ele sabe que naquelas funções, o que é que tem que desempenhar, qual é a forma de jogar naquela posição.

S.A. - Nos treinos também tem essa preocupação, de rodar os jogadores pelas diferentes posições…
Domingos - Sim, sim, sim, sim…

S.A. - Para, quando na sua função… por exemplo, no caso da polivalência; um jogador joga numa posição, além dessa posição também pode treinar na segunda posição que poderá vir a ocupar?
Domingos - O jogador sabe perfeitamente, mesmo durante o treino, que acontece várias vezes isso. Em determinadas altura do jogo, numa recuperação rápida, sabe que o seu colega está na sua posição e que ele automaticamente está a ocupar a posição do seu colega, conhece as funções que estão a ser estabelecidas. Isso treina-se durante a semana, e durante a semana acontece muito isso.

S.A. - Nesse sentido, na operacionalização do treino tem a preocupação de criar hábitos e rotinas de jogo? Ou seja, repetir mais do que uma vez os mesmos exercícios para que seja mais fácil a assimilação dos comportamentos, aquisição dos princípios de jogo?
Domingos - Eu não procuro repetir os mesmos exercícios…

S.A. - Os princípios em si?
Domingos - Os princípios em si, com vários exercícios sempre com o mesmo objectivo, para concluir também um certo cansaço em termos semanal, um certo cansaço naquilo que se faz. Portanto, o exercício é diferente, mas o objectivo é o mesmo. desde então

PARTE II

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S.A. - Considera fundamental o treino para a organização e gestão do grupo, ou a gestão funciona à parte do treino? Se é no treino em que trabalha os princípios que define quais os jogadores a utilizar? A organização da equipa acontece só do trabalho realizado no treino, ou conversa com os jogadores extra treino, por exemplo. Tem tudo a ver com os princípios de jogo, com o trabalho no terreno em si?
Domingos - Claro. Eu quando aqui cheguei, passei a minha forma de pensar, a minha forma de querer, o meu modelo de jogo, a forma como quero que os meus jogadores pensem e é evidente que depois passo isso tudo para o campo. Na prática, a minha informação é sempre no sentido da forma que quero que a equipa jogue. Isso, depois complementa também o trabalho, depois da prática complemento, até mesmo nos próprios jogos. Antes dos jogos a minha informação é sempre no mesmo sentido, como eu quero que a minha equipa jogue, alterando um ou outro determinado aspecto em função do adversário, mas os princípios de jogo estão sempre lá. Portanto, não mudo porque acho que a minha equipa e a minha forma de pensar, como quero que a minha equipa jogue é… prefiro que seja o adversário a jogar em função da minha equipa do que a minha equipa a jogar em função do adversário.

S.A. - Em relação à gestão e preparação do grupo de trabalho é efectuada tendo em consideração, o jogo, o jogo seguinte, o adversário, ou o tipo de competição? Por exemplo, na taça de Portugal existe uma preocupação diferente em termos de trabalho, ou é sempre um processo contínuo…
Domingos - É um processo contínuo… é um processo contínuo…

S.A. - Mantém sempre a mesma linha de pensamento?
Domingos - É um processo contínuo porque não mudo em nada a minha forma de trabalhar e acredito sempre no trabalho que faço. Agora não é por ser uma competição diferente que vou mudar. É como lhe dizia, há determinados aspectos em que vai haver uma preocupação maior, se jogamos com uma equipa…

S.A. - É o lado estratégico do jogo…
Domingos - O lado mais estratégico, por isso é que eu digo, só mesmo nesse sentido é que poderá haver uma preocupação, de resto é tudo igual.

S.A. - Pensa existir jogadores dos quais não pode prescindir a não ser por lesões, castigos devido à sua importância na equipa? Jogadores fundamentais que, mesmo estando “cansados”, que vão acumulando muitos jogos, jogadores fundamentais…
Domingos - Sim, sim, sim… Eu acho que em qualquer equipa há sempre, quatro, cinco jogadores que é a estrutura, que são a base. Realmente são aqueles jogadores que transmitem desde uma concentração… são jogadores que há partida habituam-nos a uma forma de trabalho, mesmo durante a semana, que não têm oscilações, e mesmo no próprio jogo também não. Portanto, esses jogadores são sempre influentes numa equipa. No fundo acabam por ser aqueles jogadores mais regulares. Nota-se quando um jogador é regular, quando consegue eventualmente manter uma regularidade tão grande que temos muito mais facilidade… vamos mexendo numa ou noutra pedra, mas nunca mexe naqueles. Agora, a gestão é de quatro, cinco jogadores, quatro, cinco jogadores, nunca mais do que isso.

S.A. - Sendo assim, pensa que, em termos de recuperação, devemos ter uma maior preocupação com esses jogadores no processo de treino?
Domingos - Há sempre um certo cuidado. Por exemplo, a este nível não há tanta preocupação porque se joga domingo a domingo. Em termos de recuperação não existem maiores preocupações, é normal para todos, é dentro do mesmo padrão. Agora quando é uma equipa, ou melhor, como aconteceu quando jogador, em que realmente havia jogos domingo/quarta, domingo/quarta, é natural que haja um certo cuidado, porque há jogadores que não podem treinar e recuperar para jogar.

S.A. - Esse tipo de treino considera importante fazê-lo por grupos, incluindo os jogadores em grupos? Ou então deverá acontecer individualmente, estando separados dos restantes colegas?
Domingos - Em grupos. Ou seja, há determinados exercícios onde vai ser… por exemplo, um exercício de força técnica, em que a bola… ele está numa situação de trocar a bola, de apoio do que mais propriamente em esforço. Portanto está sempre inserido num grupo. Num exercício em que há quatro séries ele faz duas, por exemplo faz metade, há sempre essa preocupação.

S.A. - (Mais pela experiência como jogador) Quando existiam jogos pela selecção, no caso de jogar na selecção, o trabalho a realizar no treino deveria ser diferente do restante grupo? Ou estar integrado no grupo, mas gerindo o esforço de forma diferente?
Domingos - Sempre integrado no grupo e fazer a gestão dele a partir daí. É como dizia, acho que não se deve desintegrar de forma nenhuma na minha forma de pensar porque é assim… (Pequena interrupção na entrevista para o treinador Domingos Paciência ir falar com dois dos seus jogadores)

S.A. - Em relação aos dias de descanso, pensa que existe um número ideal de dias? Ou três dias, como refere Bangsbo “três dias de descanso é o mínimo mas também existem jogadores que não recuperam em três dias”.
Domingos - Depende, depende… eu acho que dia e meio o suficiente. Agora depende muito do trabalho que se faz. Porque é assim, a minha forma de trabalhar é: por exemplo, treino logo a seguir ao jogo de maneira a que recupere. Realizo uma recuperação activa daqueles que jogaram e depois é também preciso tentar equilibrar os que não jogaram. Porque, os que não jogaram treinam para não terem um período tão largo de descanso. Desta forma treinam, para poderem estar mais ou menos quanto possível, ao nível dos outros, dando-lhe também algum ritmo competitivo como quero que aconteça, o mais rápido possível. Na terça-feira faz-se a folga para toda a gente. Na quarta-feira já se volta, e é o treino mais exigente, onde se faz um trabalho mais exigente. Depois na quinta já se faz um trabalho mais em termos de resistência. Na sexta um trabalho à base de velocidade, onde o volume também comece a baixar. Portanto, de forma a quando chegar o dia principal, o domingo, que é o jogo. Acho que se deve treinar de maneira a que se chegue ao jogo com os jogadores no máximo da sua recuperação. Portanto, o jogo é o dia principal, e como tal há que trabalhar durante a semana de maneira a que cheguem ao dia do jogo e que se sintam bem. No fundo o meu trabalho é mesmo esse, é fazer com que durante a semana haja um pico onde realmente atinjam o máximo e depois a partir daí desce até chegarem ao jogo, estando ai totalmente recuperados para o mesmo.

S.A. - Também tem em consideração a recuperação da “fadiga psicológica”?
Domingos - Sim…

S.A. - Nos exercícios em si? Tem a preocupação de recuperar a fadiga psicológica só nos exercícios ou também conversa com os jogadores para saber se eles estão bem ou não?
Domingos - É assim, o aspecto psicológico é muito importante e nos meus treinos está sempre inserido, é uma preocupação constante. Os meus treinos começam sempre de uma forma onde é preciso que os jogadores se levantem e tenham prazer em vir fazer aquilo que fazem. Portanto, logo no início do treino vejo como é que eles estão, e procuro colocá-los no primeiro exercício com um nível máximo de concentração. Isto acontece para que eles consigam estar motivados para treinar, logo no primeiro exercício vê-se quem é que está motivado e quem não está. E depois, ai há uma gestão, há uma conversa individual, “o que é que se passa contigo? O que é que tens?”, para lhe chamar a atenção, porque não estava inserido no trabalho. Isso é uma preocupação que a gente vê logo. Pouco a pouco, vamos conhecendo os jogadores, para que o treinador fique a conhecer a forma de pensar daquele jogador, como é a sua forma de trabalhar. Portanto, há uma preocupação individual também, funcionando aí o aspecto psicológico de maneira a que recupere o mais rápido e se faça ver que algo está mal.

S.A. - (Uma vez mais, na sua experiência como jogador) Tendo em consideração as equipas com que normalmente vai jogar, desgaste da competição anterior ponderava ser importante utilizar a rotatividade como meio de recuperação? No caso de ter jogo domingo/quarta, a rotatividade era importante ser vista como uma forma de recuperação?
Domingos - Não… eu acho que não. Porque, primeiro, penso que um jogador tem de estar preparado para jogar domingo/quarta. É evidente que durante o ano não acontece sempre domingo/quarta, domingo/quarta, só uma vez ou outra, como me aconteceu como jogador. Aí só vejo que não se treina, recupera-se para jogar. A rotatividade… é evidente que pode haver situações em que acho que exista jogadores que estão em sobretreino, aí sim tem-se que ter esse cuidado. Pessoalmente, há situações em que podemos pensar numa rotatividade, agora não sou muito de alterar, dar oportunidades, tirar um jogador, um elemento, que neste momento até está bem e por outro para dar oportunidades. Não sou muito a favor dessas alterações. Sou daqueles que penso que uma boa gestão em termos de trabalho, em termos de treino consegue ter os jogadores sempre 100% disponíveis para jogar, e é assim que penso.

S.A. - Nas equipas de rendimento superior, nas equipas que querem alcançar todos os títulos. Equipas que estão na UEFA, estão na liga dos campeões, no campeonato, que querem ganhar as três competições. Considera ser fundamental durante o ano utilizar rotatividade nessas equipas?
Domingos - Ai considero. Tive a felicidade de poder estar numa equipa de top e saber que isso acontecia. Mas ai estamos a falar de equipas que têm 24 jogadores todos ao mesmo nível, ai já não diria que é a rotatividade…

S.A. - Então a qualidade de jogadores é muito importante nessas equipas?
Domingos - É evidente que a qualidade de jogadores numa equipa dessas é muito importante. Numa equipa que tenha outros objectivos, como é o caso do Leiria, é evidente que há uns melhores que outro. É natural que a rotatividade não possa ser feita.

S.A. - Mas, mesmo assim não concorda que no Leiria a rotatividade aconteça? Apesar de ter um jogo por semana, a rotatividade é importante nem que seja para manter os jogadores motivados? Como é que transmite essa necessidade aos jogadores? Alguns deles, se calhar, assumem que têm menos qualidades que os outros, ou conseguem perceber…
Domingos - Perceber… e têm essa leitura, reconhecem…

S.A. - Há que conseguir mantê-los motivados na mesma e conseguir transmitir-lhes essa vontade de melhorar para conseguirem jogar. Como é que transmite essa necessidade? É no treino em si? Por exemplo, há equipas que na taça de Portugal costumam rodar, utilizar os jogadores menos utilizados. Faz essa gestão de que forma?
Domingos - É assim, esses jogadores, é evidente que temos de ter sempre alguma atenção. Realmente são jogadores que durante a semana estão sempre com um empenhamento enorme, como grandes profissionais que são. É evidente que esses jogadores têm de ser recompensados, tem de haver também uma sensibilidade do treinador para que realmente lhes possa dar oportunidades para jogarem. E isso é feito, e acontece. Agora também não posso nunca por em risco a rentabilidade de uma equipa. Se estivermos a falar, por exemplo, de um jogo da taça com uma equipa de um escalão inferior, em que podemos realmente fazer com que isso aconteça, muito bem, não há qualquer tipo de problema. Também depende do grau de dificuldade que às vezes temos. Não quer dizer que aqueles que estão aqui são piores ou melhores. Depende por vezes do rendimento de cada um, porque se houver um jogador que tem um rendimento muito superior e se houver um jogador que está de fora, que o seu rendimento não chega nem de perto nem de longe àquele jogador que está na posição dele, poderá afectar o rendimento da equipa.

S.A. - No caso de utilizar a rotatividade considera importante que a mesma faça parte do modelo de jogo, da cultura de jogo, da filosofia, da forma de pensar do treinador? Ou deverá começar a pensar na rotatividade somente quando os jogadores já aparentam algum cansaço? Existe um momento ou deve ser pensada desde o início da época?
Domingos - Não… desde o inicio… Porque quando faço um plantel procuro fazer com que tenha dois jogadores por posição, um melhor que outro, como é natural. Durante o campeonato vou ter de optar, e para mim vai ser a primeira solução e a segunda solução. No entanto, a qualquer momento aquele jogador, o da primeira solução se não estiver com o rendimento, no momento não seja bom a segunda solução entra. A rotatividade comigo, e falo por este ano que estou aqui, tem acontecido. Em 24 jogadores só quatro, um deles é guarda redes, é que nunca iniciaram o jogo como titular. Todos eles já tiveram a oportunidade de jogar como titular. Portanto, a rotatividade no fundo é feita desde o início até ao fim.

S.A. - Neste sentido, não existe um momento para que ela aconteça? Na sua opinião tanto faz ser no início da época, no meio…
Domingos - Não, não…

S.A. - Não existe um período ideal, quando achar que deve fazer rotatividade faz.
Domingos - Eu não utilizaria na minha forma de pensar rotatividade. Essa palavra para mim não existe, não entra no meu vocabulário na minha forma de pensar. A minha forma de pensar é a seguinte: eu não gosto de dizer ao jogador que é ele que vai jogar. Os meus jogadores, todos eles têm de estar preparados para jogar, a qualquer momento saltam lá para dentro. Podem estar às vezes oito jogos sem jogar e de um momento para o outro estão a jogar, porque acho que estão num bom momento e entram. Numa ou outra ocasião, tentando numa de estratégia passo-lhes a equipa no dia anterior, ou dou a entender a equipa no dia anterior. Contudo, normalmente, quase sempre os meus jogadores só sabem que vão jogar no próprio dia de jogo. Todos eles têm de estar preparados para jogar. A partir do momento que fazem parte do meu grupo, do meu plantel, todos eles tem de estar preparados para jogar. Por isso é que digo que a rotatividade não é uma palavra que encaixe na minha forma de pensar como treinador. Porque o meu jogador sabe que se aquele determinado jogador naquela determinada função não estiver com um rendimento bom que ele pode jogar. Isso não é rotatividade, isso é a forma de pensar do treinador. É esta a minha forma de pensar, e foi transmitida aos jogadores no primeiro dia que cheguei aqui.

S.A. - No caso de utilizar rotação de jogadores existe um número aconselhável a rodar, de forma a não interferir com a dinâmica que a equipa apresenta no momento?
Domingos - Mas é isso mesmo. Quando eu faço essas alterações, no fundo tenho sempre preocupação com o rendimento da equipa e como é que a equipa vai funcionar com determinado elemento lá dentro. Portanto, eu sei que se mudar o meu médio defensivo por onde passa o jogo, qual é a velocidade de jogo que vou ter neste jogo. Eu sei que se jogar com dois pontas de lança, mais homens de segurar a bola, se calhar não vou ter tanta profundidade. É preciso ver até que ponto é que se vai mexer com a forma de jogar da equipa.

S.A. - E os próprios exercícios. Existe alguma relação entre o exercício e a rotatividade? A rotatividade parte do treino… por exemplo, ao existirem no plantel dois jogadores por posição, quando está a realizar um trabalho sectorial, intersectorial, efectua rotação dos jogadores pelas posições, ou trabalham sempre em conjunto?
Domingos - É assim, mesmo a trabalhar por sectores… por exemplo, a trabalhar o sector do meio-campo, o sector intermédio, ao ter seis homens, dois por cada posição, todos eles trabalham nessas três posições. Se o meu médio defensivo por qualquer momento do jogo teve de sair com a bola jogável, a recuperação deste jogador… o médio direito, que joga sobre o lado direito, ocupa a posição desse homem, recuperando depois pelo espaço mais curto e ocupando a posição. Isso, todos eles trabalham nas três posições. Depois há outra certeza também, não tenho preocupação em pôr os três homens que vão jogar no domingo. Todos eles trabalham misturados e daqueles seis vão sair três que vão jogar no domingo, todos eles estão a trabalhar nas três posições. Um com uma função mais específica, em que realmente assume o jogo, ou em que joga naquela posição. Portanto, quero que ele trabalhe constantemente naquela posição, mas liberdade a partir do momento em que temos a bola, liberdade para poder…

S.A. - Para dar criatividade ao jogo?
Domingos - Para dar criatividade ao jogo, para criar desequilíbrios. E passa-se a mesma coisa no sector ofensivo. Eu não estou preocupado que o meu ponta de lança, esteja sempre na função de ponta de lança, no homem do centro. O meu ponta de lança tanto pode estar na direita como na esquerda, mas sei que o meu ala direito está na função do meu ponta de lança.

S.A. - O que interessa é, por exemplo, manter as posições ocupadas…
Domingos - Posição A, posição B, posição C. Jogador 1, jogador 2, jogador 3. Sei que o jogador 3 neste momento está na posição A, o jogador 2 na posição B e a qualquer momento é o contrário, e não há problema nenhum.

S.A. - Sendo assim, é mais importante a compreensão pelo jogador, dos objectivos do exercício do que o exercício em si, ou devemos considerar as duas possibilidades em simultâneo?
Domingos - Claro.

S.A. - As duas possibilidades em conjunto, é fundamental para…
Domingos - Claro, porque também faço isso. Neste momento estamos a fazer um trabalho à zona, é assim que funciona, é isto, esta é a zona, este é o teu raio de acção. É aqui que eu quero, quando a bola aqui entrar, onde tu tens de estar no máximo de todas as tuas capacidades, e é aqui que tu trabalhas. Esta é a função, esta é a zona A. Se estiver lá um ponta de lança, esse jogador sabe o que é que tem de fazer nessa determinada função.

[b]http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/14526/2/5844.pdf[/b]

PARTE III

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S.A. - Qual a importância, na sua perspectiva, da intervenção do treinador como regulador do processo de treino, durante os exercícios? Explica o exercício no início e durante a execução, em termos de posicionamento, deixa o jogador tentar ajustar, tentar descobrir por si próprio ou vai “guiando” para chegar a esse objectivo? Existe algum espaço para os jogadores, para existir criatividade no jogo, sem esquecer que os princípios devam ser respeitados?
Domingos - É evidente que procuro corrigir determinados aspectos que às vezes estão mal. Chamo a atenção para o jogador que poderá estar a sair demasiado da sua zona, estar a pisar terrenos que não são dele. Agora também é assim, divido o campo em três, divido primeiro terço onde é uma zona de zero risco, em que não há risco nenhum em termos de construção de jogo, não posso correr qualquer risco. O segundo terço, que é uma fase de construção, onde eles sabem em que locais a bola deve de andar, onde é que a bola deve circular e quais são todas as suas funções. Depois o último terço, onde existe a velocidade, a criatividade, a inspiração, essas coisas todas. Os jogadores têm liberdade para fazer aquilo que muito bem entenderem, só que nunca pondo em risco a organização da equipa, nunca pondo em risco, toda a estrutura da equipa. Sabem perfeitamente que ali há liberdade, mas é uma liberdade que a qualquer momento é uma responsabilidade muito grande. Numa situação de perda de bola, temos de ter jogadores sempre próximos… portanto, já se trabalha o aspecto das basculações, o aspecto da zona de pressão. Os meus jogadores já sabem como é que as coisas funcionam.

S.A. - No que diz respeito ao jogo em si, desde o início põe a jogar os jogadores que lhe dão garantias de ganharem o jogo ou “guarda” alguns destes para o caso dos titulares não estarem a conseguir resolver os problemas do jogo?
Domingos - A composição do banco é sempre no sentido de que se as coisas não estiverem a funcionar de acordo com aquilo como eu pensava, alterar e tentar incutir outra forma de jogar, outra estratégia. A composição do banco é nesse sentido. Agora, dependendo do que sei sobre a forma de jogar do adversário, procuro numa questão de estratégia, nunca numa alteração de comportamentos a nível da equipa, colocar determinados jogadores no banco. Numa de estratégia perante o adversário, e se a qualquer momento sofra um golo, ou tenho que mudar, vejo que esta equipa não está realmente a cumprir aquilo que estava mais ou menos previsto que acontecesse, então aí tenho de alterar, tenho que colocar outros jogadores.

S.A. - Ao realizar essas substituições, prevê as mesmas durante a semana ou é no instante, na gestão do instante que realiza a alteração?
Domingos - Acho que é no momento do jogo. Nós preparamo-nos, só que depois acontece que o jogo tomou outro rumo, e nós sabemos dos jogadores que estão no banco, das características deles, e sabemos que a equipa está a necessitar, se calhar de determinado jogador que esteja lá dentro e aí altero.

S.A. - Na sua perspectiva quais são as principais vantagens e desvantagens, nos clubes onde passou, que encontrou na utilização da rotatividade?
Domingos - Na perspectiva de jogador?

S.A. - Na perspectiva de jogador, “viveu” a rotatividade, se os treinadores que teve tinham essa preocupação, em rodar jogadores?
Domingos - Não… vivi. Aí havia sempre um cuidado do treinador também em falar com os jogadores, e tentar dizer, numa questão de gestão… já são muitos jogos… para evitar lesões, aconteceu ter de fazer a rotação e vivi momentos como esse.

S.A. - Mas, concordava?
Domingos - O jogador não concorda…

S.A. - Na sua perspectiva era necessário face ao elevado número de jogos que tinha jogado? Para estar sempre no máximo das capacidades, ter concentração é necessária, porque jogar sempre domingo/quarta também poderá existir um desgaste em termos psicológicos. Muitos jogos, muitas deslocações. Nesse sentido não deve acontecer rotação de jogadores?
Domingos - Sim… eu concordo…

S.A. - Nessa rotação de jogadores encontra mais vantagens ou desvantagens?
Domingos - Tem vantagens e tem desvantagens. Se o atleta estiver até num bom momento, acho que ele próprio gere o seu esforço. Quando as coisas não estiverem tão bem… se já está em sobretreino é natural que haja uma gestão. Mas para o atleta é sempre complicado, para o jogador é sempre complicado aceitar uma situação dessas, porque quer jogar. Mesmo estando, mesmo sabendo que está cansado, quer jogar e é complicado por vezes aceitar isso. Pode acontecer que àquele jogador que o foi substituir que as coisas lhe corram bem e nesse caso o treinador começar a pensar já de outra forma, acabando esse jogador por ser prejudicado com a rotatividade.

S.A. - Nesse caso não terá o treinador um papel fundamental…
Domingos - Muito…

S.A. - Para conseguir levar os jogadores a acreditarem que realmente é uma necessidade?
Domingos - Pode ser uma necessidade e o treinador aí é muito importante… Depende da sua forma de pensar e a forma como comunica ao atleta o que vai fazer e o que pretende fazer. Porque se um treinador diz a um jogador que o vai fazer descansar, e depois o outro jogador que entrou para o seu lugar cumpriu, marcou e ganharam se depois no jogo seguinte não joga, depois no outro jogo já joga, o treinador acaba por ser uma pessoa sem credibilidade perante esse jogador. Normalmente o jogador não guarda para si aquilo que o treinador lhe disse perante uma situação negativa que está a passar naquele momento. Portanto, acaba por ser um caso por resolver dentro do grupo. Há situações em que é preciso ter cuidado.

S.A. - Talvez os resultados ajudem à utilização da rotatividade. Se aparecerem resultados os jogadores começam a acreditar que é fundamental.
Domingos - Sim, sim… o futebol gira tudo à volta do resultado, a rotatividade é boa se o resultado for bom, se o resultado for mau a rotatividade é sempre posta em causa. Temos um caso recente, o Braga onde aconteceu isso.

[b]http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/14526/2/5844.pdf[/b]

Dados interessantes. Mas ao ler o post, dei por mim a pensar na tua escolha para termo de comparação com o nosso (miserável) desempenho nas últimas épocas. Isto por duas razões: porque acho perigoso usar o Braga como exemplo; e porque a minha principal reserva com o Domingos tem a ver com o tipo de futebol praticado pelo Braga.

Esclareço desde já não tenho qualquer problema em apoiar a nomeação de Domingos para o cargo de treinador do Sporting. Um treinador que passou com distinção todos os “testes de admissão” – um 2º lugar e uma final europeia num clube médio - era uma escolha óbvia. E, se não o tivéssemos ido buscar, a sua ida para um rival seria uma questão de tempo - face a saída de Villas-Boas, muito pouco tempo. De certa forma, também enfraquecemos o Porto, que assim ficou preso a uma escolha de recurso.

No entanto, há uma coisa que é preciso não esquecer. Um 2º lugar atrás do Benfica, um 3º lugar perdido na última jornada e uma final europeia perdida com o Porto dificilmente seriam considerados sucessos no Sporting. Digo isto não para menorizar os feitos de Domingos – que obviamente são brilhantes face a matéria-prima que tinha disposição e ao estatuto do clube onde os conseguiu – mas para sublinhar que treinar um grande significa sempre um “salto”: a matéria-prima no Sporting e, sobretudo, as expectativas e a pressão são incomparavelmente maiores – e mal seria se não fosse assim.

Isto preocupa-me porque o Braga conseguiu os resultados que conseguiu com um futebol de contenção e de contra-ataque - que aliás, foi tendo menores resultados à medida que o seu estatuto crescia (compare-se o desempenho no campeonato na 1ª e 2ª épocas de Domingos) e que as outras equipas começavam a olhar para o Braga como uma espécie de “semi-grande”. De resto, uma das coisas que observei nos jogos deles contra nós nesta época foi a tremenda dificuldade que tiveram em virar um jogo quando se encontraram a perder – e isto contra uma das piores equipas do Sporting de que há memória.

Ora a contenção e o contra-ataque só são admissíveis no Sporting em 2 ou 3 jogos por época (jogos no Porto e na Luz e talvez frente a um “tubarão” que apareça transviado na Liga Europa). Nos restantes, a equipa vai tem de assumir o jogo, contra adversários que jogam fechados e que olham para a obtenção de um ponto como um feito histórico ou, no caso dos nossos dois rivais quando jogam em Alvalade, como um resultado positivo.

Com isto quero dizer que o modelo de jogo do Braga não é suficiente para o Sporting e que Domingos vai ter de mudar a forma como joga. Ou seja, para ser bem sucedido, não pode ficar agarrado à experiência no Braga mas vai ter de inovar e adaptar-se a outro nível.

Finalmente, uma nota sobre a paciência. Ao contrário do que é sugerido no post, não estou minimamente preocupado com a eventual impaciência por parte dos sócios. Por um lado, há uma direcção eleita recentemente, o que amortece sempre os impulsos mais contestatários; por outro, os últimos quatro anos foram tão maus, que bastará um pouco de competência para se fazer melhor e para essas melhorias serem imediatamente visíveis.

Aliás, o meu medo é precisamente o oposto: é a complacência no final da próxima época. Explico: não tenho a mais pequena dúvida de que vamos melhorar face à calamidade das últimas quatro épocas. Só que, conhecendo como conheço o Sporting, há o risco de se achar, lá para Maio ou Junho de 2012, que essa melhoria já é suficiente – mesmo que ainda estejamos longe do 1º lugar.
Ainda por cima, isto é agravado pelo facto de o 2º lugar voltar a dar acesso directo à Liga dos Campeões. Receio bem que, caso o Sporting consiga um 2º lugar, haja lugar novamente a celebrações (sobretudo se for o Benfica a ficar em 3º) e que se ache que já é brilhante o que se faz e que (na melhor lógica oliveira-e-costeana) o investimento para chegar ao 1º lugar não compense. Ou então que a única coisa que é necessária são “mais uns treinos e um pouco de certo” e continuar a apostar cegamente num treinador “forever”. E todos vimos no que é que essa mentalidade resulta.

Grande análise Zé! :clap:

Muito boa análise ZeQueira parabéns!

Quanto ao titulo se Domingos merece toda a nossa Paciência?!

Escrevo somente o que penso e espero não ser mais uma vez criticado por ninguém, por dar a minha opinião que é a seguinte. Não ZeQueira! Merece a mesma Paciência que os outros, quanto a mim não é melhor que os outros em nada, aliás nem sei por que deva ser diferente, mas desculpa esta minha última frase é que ser honesto por vezes não é muito bom.

Grande Abraço

Saudações Leoninas!

@ Petrovich:

Parece-me que dizer que o Domingos em Braga jogou em contra-ataque, ou algo semelhante, é extremamente falacioso. Fê-lo, quase sempre, na Liga Europa, e algumas vezes na Liga, mas o seu belíssimo percurso no campeonato português (especialmente no primeiro ano) conseguiu-o pelos resultados que conseguiu em casa, perante o seu público, jogando, na maioria dos jogos, com alguma pressão e alguma responsabilidade perante os adversários.

Se me disseres que o Braga com Domingos não ataca, de forma continuada, de uma forma particularmente boa e cativante, dou-te toda a razão (e isso também preocupa). Mas não me parece que, na larga maioria dos jogos que jogou estas últimas duas temporadas, o tenha feito em contra-ataque ou em contenção. Se não atacou bem, é um coisa, mas não concordo que tenha atacado pouco, especialmente tendo em conta o estatuto do Braga…

@ ZeQueira:

É uma interessante análise, focada em pormenores interessantes. Eu, pessoalmente, não veja que seja por aí que tenhamos de melhorar mais (jogo aéreo, bolas paradas, etc). Apenas uma pequena parte dos 90 minutos de um jogo é composta por momentos de lances de bolas paradas. Se são importantes? Absolutamente, ainda mais no futebol moderno. Mas mais importante é a forma como a equipa ataca de forma continuada, e a forma como a equipa defende de forma concentrada. Isso, para mim, é que é o absolutamente fundamental! E é aí que, se o Sporting quiser realmente ter sucesso no Campeonato, terá necessariamente de melhorar, e muito.

@ Paracelsus:

Muito obrigado pela entrevista. Está muito interessante, sem dúvida, e, sinceramente, deu-me mais algumas garantias da “estaleca” de Domingos para um grande. Se assim pensava na Académica, e acreditando que terá evoluido em termos de “grandeza” - passando a expressão - fico mais confiante para o seu trabalho técnico no Sporting.

Primeiro que tudo, muitos parabéns pelo excelente comentário!

41 golos marcados

31 sofridos

48 pontos

53% dos pontos em disputa ganhos ( nunca fizemos pior. Fizemos igual, na época anterior e na casa dos 50% só em 1966/1967, 1968/1969, 1997/1998 e 2002/2003 ).

São marcas que nos envergonham.

Ressalvo que essa foi a penúltima época com 34 jornadas. De qualquer das formas, um candidato ao título não pode andar longe dos 2 golos por jogo.

Equipas

Parâmetro			Equipa			Total			Média	
Mais Alta			V. Setúbal			4948 cm			183 cm	

Mais Baixa			Sporting			4824 cm			179 cm	

Mais Pesada			V. Setúbal			2102 Kg			78 Kg	

Mais Leve			Sporting			1986 Kg			74 Kg	

Mais Velha			Sp. Braga			670 anos			27 anos	

Mais Nova			Beira Mar			613 anos			25 anos	

Dados relativos à época passada.

Este é um problema que tem que ser resolvido. Já debati várias vezes isto e fala-se muito em organização, ocupação de espaços, concentração, posse e gestão de bola, com que obviamente concordo… mas que os dados acima têm influência no jogo aereo ofensivo e defensivo, nas bolas divididas… tem. É a minha opinião.

A Domingos exigirei que no mínimo, obtenha do plantel rendimento igual à soma das partes ( valor de cada jogador )… é isto que no mínimo, os bons treinadores fazem e é isto que os adeptos devem exigir aos seus treinadores…. vejo uma certa euforia em torno das contratações e não vejo ( ainda ) fundamento para tal; a potencial desilusão terá um bode expiatório e o alvo mais fácil é sempre o treinador.

Eu não disse que Schaars é avançado. Só o meti na conversa porque é um jogador que deverá marcar golos. Todos os restantes da equipa garantem um determinado nº do golos. Por exemplo, não meti Carrillo porque ele não deverá ser titular, e se marcar quando jogar, deverá ser 2/3 como o Salomão.

SCP precisa que, ou os novos jogadores marquem 30golos no campeonato, e/ou que os que já cá estavam marquem mais do que marcavam.

De qualquer das formas, Domingos não é mágico…Ou vem outro avançado de grande qualidade e um extremo que marque pelo menos 5 golos, ou vamos continuar a ver os outros festejar.

@Petrovich,
:arrow:

:arrow:

Boa esta reflexão @ZeQueira
.
O Domingos como dizes herda uma tarefa pesada no sentido de duas épocas paupérrimas. Mas paradoxalmente isto também lhe tornará ( só aparentemente) o grau de responsabilidade mais “leve”: caramba, pior não fará.

Só que não se pode tomar por bitola o SCP destes tempos mais próximos: exigir-lhe-emos sempre a luta pelo 1º lugar, nunca a miséria do estrebuchar do P.Bento, Carvalhais e forcados.

Não basta fazer melhor: é preciso revolucionar o futebol praticado quer a nível exibicional de ofensividade e agressividade e como muito bem dizes os níveis confrangedores de eficácia, quer ofensiva quer defensiva.

Quanto ao aspecto da concretização, como todos os amigos que já se pronunciaram, é este o aspecto que mais me preocupa: não bastam os reforços que se foram até agora buscar pare que se atinjam números consentâneos a quem quer GANHAR.
É urgente um grande ponta de lança com bom porte técnico e atlético e mais um ou dois bons abre-latas!

Será que dos tão propalados existentes 30 milhões a existirem se INVESTE a SÉRIO para suprir aquelas lacunas?
EXIGE-SE que SIM. Nem poderá ser de outro modo,

Ando tão distraído com os tópicos dos devaneios e da inside info que este me ia escapando
Magnífico post, ZeQueira. No mínimo, brilhante :great:

Ninguém duvida do muito trabalho que Domingos tem pela frente, em aspectos básicos (defesa, bolas paradas ofensivas e defensivas, ) onde Domingos já teve, como demonstras, algum sucesso com plantéis médios, na composição e na ambição, como foi o caso do Braga.
Até nos jogos que vi das suas equipas anteriores (só com os grandes, porque não costumo ver os Leiria-Naval ou Académica-Rio Ave), a disciplina ou arrumação táctica já me pareciam características das equipas dele. Os 11 escalados pareciam saber de olhos fechados o que fazer ao longo dos 90’ em quaisquer circunstâncias. Talvez esteja a exagerar, mas lembro-me que não era muito fácil desmancharem-se. Não faziam hara-quiris por dá cá aquela palha, muito menos consecutivos
Como sou do tipo adepto-paciente, não será por mim que a impaciência se irá instalar
Mas tenho 2 reservas relativamente ao Domingos

Posto isto as reservas são:
1ª Já foi referida e consiste na novidade de montar equipas para ganhar, fazendo-o com segurança (muitas vezes sem espinhas ou, pelo menos, sem ser a ferros ou sempre com o credo na boca até aos 90+5).
E eu acrescento: fazê-lo em qualquer competição ou em várias ao mesmo tempo
Pegando no Braga, temos:
2010: brilharete no campeonato+fiasco na Uefa
2011: brilharete na champions/Uefa+fiasco no campeonato
Nem fui ver a carreira nas taças internas, mas não me lembro de grandes aventuras, pelo que as eliminações terão sido precoces.
O que eu quero dizer é simples.
Até agora Domingos pôs as fichas todas e teve êxito (ajustado ao Braga) numa só competição de cada vez. Nunca nas 2 maiores em simultâneo. Muito menos teve longas carreiras em 3 ou mais.
Problema do plantel, porque escasso, curto? Não sei, mas receio bem que em 2012 não tenha propriamente um maquinão nas mãos.
Se repetir a dose (sempre a sonhar, mas ou só no campeonato ou só na Uefa, porque completamente afastado de uma muito cedo), como será no SCP?

2- Em relação com a anterior, Domingos vai ter, agora, de lidar com a pressão dos adeptos e da imprensa.
O SCP estar completamente arredado da luta pelo título à 7ª jornada dá direito a muita coluna de opinião, a muito editorial, a muita painelreice (Dias Seguintes e quejandos), a muita manchete, parangona, etc.
No Braga não era assim. Em 2011 o Braga ganhou na liga o 1º jogo fora no fim da 1ª volta. Uma seca dessa dimensão (uma volta inteira sem vitórias fora) no SCP seria dramática
A bancada e a imprensa influenciam-se no momento de endeusar e de liquidar. A paciência do próprio Domingos com os Shreks desta vida tb. vai ser posta à prova.
É muito fácil instalar a crise (1 empate na uefa à 5ª+1 empate na liga ao domingo e eliminação da taça de Portugal na 4ª é, obviamente, muito mau em Alvalade, mas, em Braga, era igual ao litro). Difícil é lidar com ela e ainda mais complexo é sair dela.
O próprio Domingos terá de ter algo mais do que Paciência: ser convincente e reagir à velocidade da luz

Boa análise

Keep Going