Do nascimento à morte o que mais conta é a classe social?

Quem não quiser ler o artigo d’O Publico sobre o estudo feito por Sir Michael Marmot, poder ver o vídeo de cinco minutos que está no final do post.

[center][size=14pt][b]Do nascimento à morte o que mais conta é a classe social[/b][/size][/center] [i] O Publico,04-03-2012[/i]

Já não soa a surpreendente dizer que a esperança média de vida de uma mulher no Zimbabwe é de 42 anos e a de uma japonesa é de 80 anos, uma diferença de 38 anos, portanto. Ou que um queniano morre em média aos 47 anos e um sueco pode chegar contar aos 82, enuncia Michael Marmot, professor catedrático em Epidemiologia e Saúde Pública e director do Instituto Internacional para a Sociedade e Saúde na University College de Londres.

Mas e se o universo de que falamos for antes uma das zonas mais ricas de Londres, Westminster? Isso mesmo, o sítio onde fica o Parlamento britânico “e onde vivem muitos políticos e pessoas ricas”. Pois nesta área geográfica, a diferença entre o mais rico e o mais pobre dos habitantes é de 17 anos. Não é preciso, por isso, apanhar um avião para África. “Eu faço este percurso de bicicleta em cerca de 25 minutos”, disse o inglês Michael Marmot, na semana passada, perante uma plateia de profissionais de saúde no Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, em Lisboa.

“É um mito pensar que a Europa é uma região rica e não tem estes problemas. Há grandes desigualdades entre as pessoas, dentro dos países”. E esta não é uma particularidade de Inglaterra, é possível encontrar o mesmo fenómeno, por exemplo, numa simples viagem de metro na capital norte americana, continua. Em Washington D.C. entre o mais rico dos seus habitantes e o mais pobre distam 18 anos de diferença em esperança média de vida, explicita o académico. Este tipo de desigualdades sociais que se reflectem na mortalidade e no estado de saúde das pessoas são tão transversais e tão permanentes que “até na igualitária Suécia há um estudo que mostra que há diferenças entre um detentor de um doutoramento e o de um mestrado, o doutorado tem maior esperança de vida”.

A ideia de que o grupo social a que se pertence é determinante em termos de saúde é uma verdade que Michael Marmot foi encontrar no mais insuspeito dos grupos: os funcionários públicos britânicos, numa investigação que ficou famosa em Inglaterra, publicada na revista científica Lancet em 1991. Falando ao PÚBLICO após a conferência, disse que “não estamos aqui a falar de pobreza, todos eles têm emprego, casa, uma vida com alguma dignidade”. Mas ainda assim encontrou maiores taxas de mortalidade entre os funcionários públicos do final da escala comparados com os do topo.

O que este estudo veio desmentir foi a ideia de senso comum de que as funções de maior responsabilidade trazem consigo mais stress e por isso mais doença cardiovascular, por exemplo, explicou. Pelo contrário, o que se constata é que é determinante o grau de autonomia que se tem no trabalho.

Nas investigações deste tipo chega-se à conclusão de que "o exemplo típico do trabalho com os níveis mais altos de stress é aquele em que a pessoa tem que fazer sempre as mesmas coisas da mesma forma e não tem qualquer controlo sobre o que faz, só tem que o fazer", ou seja, há mais stress, por exemplo num operário de uma fábrica, “que tem que pedir para ir à casa de banho, só tem que se fazer o que lhe é dito, não tem qualquer controlo sobre o seu trabalho”, do que num administrador público de topo. Este “sabe que o que está a fazer é importante, há realização profissional. É um trabalho exigente mas tem mais controlo sobre o seu trabalho”.

Marmot, que também esteve na Universidade do Algarve, tem dedicado o seu trabalho de pesquisa dos últimos 35 anos ao tema das desigualdades em saúde. E o que fez perante este auditório cheio de pessoas ligadas à saúde foi transportá-los ao longo de uma espécie de viagem ao mundo das desigualdades na saúde, que começa desde o nascimento e só termina até na morte. Com muito humor negro à mistura.

O pobre burro fica burro

Comece-se então nos primeiros anos de vida. Um estudo britânico de 2003 avaliou o desenvolvimento cognitivo de crianças dos 22 meses aos 10 anos, acompanhando o percurso de quatro tipos de crianças. Imaginemos que estamos a falar apenas de quatro crianças, para que se perceba: há duas que aos 22 meses pontuaram baixo na escala de desenvolvimento cognitivo, uma destas era originária de uma família de baixo estatuto socioeconómico e outra de um alto; e outras duas crianças que, no início de vida, estão nos valores mais altos do desenvolvimento cognitivo, mas uma é de um baixo estrato social e outra de alto. O que acontece a estas quatro crianças quando crescem? A criança com baixo desenvolvimento cognitivo de uma família rica recupera esse atraso, já aquela que tinha tido o mesmo baixo ponto de partida mantém-se ao mesmo nível. Nos dois meninos a quem foi identificado alto nível cognitivo, o da família pobre desce de desempenho intelectual à medida que avança na idade, o que cresceu num lar rico mantém o seu desempenho alto. O professor resume da seguinte forma este estudo: “Se se for pobre e burro fica-se burro, se se for burro e rico recupera-se. É a prova de que os genes não definem o destino e que a envolvência social é determinante e que o social potencia o biológico”.Tomando depois como referência apenas dois elementos que afectam o desenvolvimento infantil sai reforçada a ideia da desigualdade social, continuou o académico. Logo à nascença, as crianças que nascem em famílias mais desfavorecidas têm maior probabilidade de terem mães com depressão pós-parto (cerca de 20%), número que não chega aos 10% no caso de famílias de estrato social mais elevado, revelam dados britânicos oficiais do Departamento da Criança, Escolas e Famílias de 2003-04 que citou. Um pouco mais velhinhos, aos três anos, cerca de 75% dos pais de famílias com estatuto socioeconómico mais alto lêem aos seus filhos todos os dias, uma prática que as estimula em termos cognitivos, número que desce para os cerca de 40% nos lares mais desfavorecidos.

E se estivermos a falar já da vida activa? E aqui Marmot mostrou um gráfico com uma escala que relaciona o grau de saúde mental com o tipo de vínculo laboral que se tem - dos que trabalhavam sem contrato, aos que têm trabalho temporário, aos que têm contrato e termo e os que estão integrados nos quadros. O estado de saúde mental é muito pior entre os que têm formas de trabalho mais precárias e alcança os melhores níveis entre os trabalhadores com estabilidade laboral. A leitura óbvia será a de que a precariedade laboral é causa de piores níveis de saúde mental, verdade?. “Sabem como é que um grupo de economistas a quem mostrei este gráfico o leram? Disseram que era prova que as pessoas com pior saúde mental estavam a entrar para trabalhos mais precários”. E neste momento, como em tantos outros, arrancou gargalhadas à plateia.

Ao Portugal em crise, Marmot veio relembrar que “está provado que o aumento em 1% da taxa de desemprego faz subir em 0,8% a taxa de suicídios e 0,8% a de homicídios. O desemprego leva ao suicídio e a matar outras pessoas”. Mas, também é verdade, continuou, que as mortes por acidentes de viação descem 1,4%," circula-se menos porque há menos dinheiro para a gasolina", ironizou. “Se fizermos as contas e quisermos ser cínicos podemos chegar à conclusão que a coisa fica quase ela por ela”, concluiu Marmot.

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Fumar mata
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O professor não se limita a trazer números. O seu tom vai além do académico, assume na sua conferência o papel de porta-voz da uma mensagem que quer fazer passar: “Ouve-se os ministros das finanças dizerem que este é o preço para manter a inflação baixa”. "E se a frase fosse antes “o preço de manter a inflação baixa é matar pessoas”- “isto devia ser o mais importante do debate, não é só olhar para alguns números”. Para Michael Marmot “devíamos avaliar todas as políticas pelo impacto que estas terão na saúde” porque, ao fim ao cabo,“o que é que pode ser mais importante do que a vida que se pode ter?”.E na saúde tudo tem a ver com expectativas, disse ao PÚBLICO. Tomemos como exemplo os fumadores. As maiores taxas de fumadores encontram-se entre os mais pobres e esta é uma causa objectiva que está na origem de maior doença, o cancro do pulmão, por exemplo. “Temos que lidar não apenas com as causas da doença, mas com as causas das causas”. Por que é que quanto menos educação mais se tende a fumar"? As razões dá-as em forma de um estudo que pensa ser exemplar. “Houve um estudo britânico que foi estudar mães solteiras, viviam em situações de pobreza e quase todas fumavam”. A conclusão subjacente ao estudo era a de que “fumar era a única coisa que faziam para si mesmas. Os miúdos gritavam, faziam barulho, o que é que elas faziam? Acendiam um cigarro, era uma estratégia de lidar com a situação”.

Pobres e ricos em Glasgow

Marmot fala de outro estudo que diz que na saúde tudo tem a ver com a forma como se olha para o futuro. “Quem valoriza está disposto a fazer sacrifícios para ganhos futuros. Se não se acha que se tem futuro há menos incentivo a fazer sacrifícios hoje para um futuro que não se sabe se tem”. Querem outro exemplo? Michael Marmot providencia. Na parte mais pobre da cidade escocesa de Glasgow há uma diferença de esperança de vida de 28 anos entre os homens, comparando os habitantes das partes mais ricas em relação às mais pobres, “a esperança média de vida entre os homens mais pobres é de 54 anos, é menos oito anos do que a média indiana para homens, que é 62”.

“Num encontro onde apresentei estes dados veio uma pessoa ter comigo e disse que vivia na parte mais rica de Glasgow mas que tinha um amigo que vivia na parte pobre que lhe tinha dito que não fez absolutamente nada para vir a ter reforma”. Porquê? “Porque achava que não ia chegar lá. Porque as pessoas perceberam que vão ter vidas duras por que é que hão-de se chatear com a ideia de deixar de fumar? As expectativas que temos na vida têm impacto na saúde”.

Agora que já sabemos tudo isto, que pesam na balança da saúde e da morte as circunstâncias em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem, que temos provas científicas que dão conta destas diferenças por que falta “vontade política”? Em 2008, no relatório encomendado pelo Governo Trabalhista que ficou conhecido como Marmot Review, deixou as áreas principais que podem e devem ser objecto de acção política tendentes a esbater estas diferenças: o desenvolvimento infantil; a educação e formação ao longo da vida; as condições de emprego; o rendimento; a existência de locais saudáveis e sustentáveis na comunidade; e factores como o tabagismo, o consumo de álcool, a obesidade ou o exercício físico. Em Lisboa, Marmot foi ouvido por um auditório cheio de pessoas ligadas à saúde que o aplaudiram de pé. E a sua mensagem foi: “O que é que pode ser mais importante do que a saúde das pessoas?”

Artigo publicado aqui

Este estudo não é uma novidade para mim, pois já tinha a certeza de tudo isto a muito tempo. Mesmo assim, fico com curiosidade de saber as vossas opiniões.

Concordam ou não que a classe social em que nascemos é determinante e relevante, tanto no grau de desenvolvimento que iremos atingir, como na esperança de vida de que dispomos.

Quero só alertar para o seguinte facto: casos individuais não provam absolutamente nada, portanto não usem as vossas famílias como exemplo…Tipo “o meu tio trabalhava de sol a sol na lavoura mas o meu primo agora é engenheiro”
Sublinho que apenas estou a fazer uma recomendação, sendo cada um livre de escrever aquilo que entenda, apenas o faço com a intenção de proporcionar um bom ambiente, e onde, de preferência, se possa ter uma discussão agradável e educada.

Agora que já cheguei do meu trabalho repetitivo, vou jantar umas saborosas gorduras acompanhadas de qualquer coisa com alto teor de açúcar, regado com vinho a martelo e depois de fumar um cigarrinho e já cá volto aparecer mais logo! :wink:

Sir Michael Marmot How Social, Political Economic Policies Affect Health

Mais um “estudo” sociológico a debitar senso comum e fazer generalizações? Boring.

Acho uma tremenda falta de respeito debitar “boring” no fim de uma abertura deste género. Se não tens nada a comentar não comentavas. Será devido à tua classe social? :think:
Quanto ao tema já tinha a mesma sensação sobre os assuntos que aqui são retratados. Infelizmente não tenho ainda base de comparação, falta-me ser rico :stuck_out_tongue:

Como é que se pode chamar “generalizações” a um estudo que saiu no The Lancet?

Já agora, se quiseres indicar onde estão as generalizações do estudo que colocas entre aspas, ficaria muito contente em tirar-te qualquer duvida que tenha surgido.

A não ser, é claro, que o governo britânico, estando melhor informado do que eu, tenha-te encarregado a ti de fazer um estudo semelhante…

Talvez sejas um conhecido sociólogo ou médico de renome internacional. Talvez fosse o teu extraordinário domínio do idioma inglês, reflectido no uso da palavra boring, quando todos sabemos que não há palavra com tão complexo significado no nosso idioma. Ou talvez seja tudo isso que referi anteriormente acompanhado pelo respeito que o establishment britânico te reconheceu ao atribuir-te uma knighthood que por fim te conseguiu a tarefa de escrever algo parecido. Será?

Ou serão as tuas preconcebidas ideias políticas que levaram um valente abanão de um estudo médico (e não sociológico, como tu lhe chamas) encomendado por o governo de Sua Majestade, A Vermelha. Terá sido em consequência do dito abanão (teórico e figurado, é claro) que resolveste assim passar ao ataque e em trinta segundos tentar diminuir esta insignificância, que por mera casualidade podes comprar na amazon, certamente entre outras obras tuas e todas elas com nível cientifico bastante superior, cremos nós os pobres e pouco céleres no que toca a poderes cognitivos.

Sabes que o senso comum é bastante importante, mas não prova nada, porque tu podes achar que X é senso comum, e um natural do Japão pode achar que X é mais insensato que um adolescente bêbado na sua festa de maior idade (ah! as belas memórias).

Infelizmente para ti, o governo britânico gosta de pretender que toma medidas baseadas em provas concretas e não generalizações que levaram trinta segundos a conceber. Por essa mesma razão, de vez enquanto lá vão desencantar um destes eggheads nas universidades locais, para que depois possam ignorar o resultado do respectivo estudo. Nao quer dizer que tu, eu e o governo português tenhamos que fazer o mesmo.

Espero que não leves a mal esta minha prosa, concedo que foi escrita de maneira irreverente e sarcástica mas nunca com qualquer intenção de magoar, excepto pelo abanão teórico e figurado.

[center] O meu sincero obrigado pela tua participação!

:beer:[/center]

[hr]

@ Stunner

É verdade, eu também sempre fui desta mesma opinião, embora não fosse capaz de por o dedo na ferida de maneira tão contundente com faz Sir Michael Marmot (Shor Miguel Marmota p’rós amigalhaços)

Nunca me ocorreu que, “pequenos” pormenores, como o dos pais que lêem todos os dias aos seus filhos pequenos, pudesse ter resultados tão duradoiros e significantes.

Sempre pensei que tivesse mais a ver com as escolas que se frequenta ou mesmo as roupas que se usa quando se frequenta essas mesmas escolas, algo que por sua vez daria origem a todas as outras vicissitudes que as crianças sentem na nossa sociedade de consumo, tipo, aquele miúdo tem uns ténis melhor que os meus etc etc etc. Fiquei com a impressão de que estava enganado, pois o problema parece ser bem mais grave.

[center] O meu sincero obrigado pela tua participação e sentido de humor!

:beer:[/center]

Honestamente já tinha a mesma sensação descrita no artigo.

Vou dar um exemplo de fácil descrição. O socioleto, para quem não sabe, é o conjunto de traços linguísticos que caracterizam determinado estrato social. Este está relacionado com factores socioeconómicos, socioculturais e, obviamente, sociolinguísticos. Deste modo, são comummente designadas três níveis de socioleto: alto, médio e baixo.

Eu tenho a felicidade de diariamente contactar com pessoas que se enquadram nestes três níveis. Digo felicidade porque, no meu entender, creio que é saudável contactares com realidades relativamente diferente da tua. E no dia-a-dia, onde é que se notam essas diferenças? Especialmente no seu comportamento, na sua maneira de estar, em determinadas situações. E é aí que se nota o background familiar de cada um. Não creio que isso seja totalmente linear, mas também não duvido que há um certo padrão.

Atenção: não quero passar uma dia de pessoa elitista, porque se há coisa que não sou é snob.

E e pura verdade. Gracas aos ultimos aumentos do preco da comida, esta tudo a cortar nos produtos frescos (vegetais e fruta) porque sao os que mais aumentaram.

Por aqui, e tao caro comprar uma embalagem de 250g de morangos ‘made in uk’, como o e comprar 6 latas de cerveja, ou 4 garrafas de fortified wine.

Se fores ao farmfoods compras comida para uma semana, pelo mesmo preco que te custam so os vegetais num outro supermercado (e nao e preciso que seja o waitrose).

A vitoria deve estar satisfeita.

Este estudo não faz sentido nenhum… o meu pai trabalhava de sol a sol na lavoura mas eu agora sou engenheiro! Por acaso é verdade, mas claro que estou a brincar…

Não li o artigo, mas concordo plenamente e ainda há bem pouco tempo tive uma grande discussão sobre este assunto, mas na altura falávamos sobre pretos e ciganos. Na altura a discussão era mais sobre racismo, mas no fundo os pretos e ciganos de que se falavam são os de classes sociais baixas, logo tipicamente menos civilizados (sim, há excepções, bla bla bla…) e que por causa do extracto social em que vivem têm tendência a serem criminosos, marginais… o que lhe quiserem chamar.

Ponto um, não sou grande fã do determinismo.

O mundo está cheio de exemplos de pessoas que nasceram no seio de famílias pobres que agora são ricas e de pessoas que nasceram em berço de ouro, com sangue azul, e que agora vivem pelas ruas da amargura.

Por outro lado, acredito numa sociedade sem classes. Não, não sou socialista nem comunista nem anarquista.

Esforço-me apenas por simplesmente seguir aquilo que foi escrito por homens iguais a nós, humildes mas muito sábios e que está compilado num manual escrito há muitos anos e que continua a ser tão actual e muito mais prático do que o jornal da manhã.

Posto isto, acho que o que é importante é a pessoa, quando chega à hora da morte, sentir, não que chegou onde chegou por ser rico ou por ser pobre, por ter sangue azul ou por ser descamisado, mas que conseguiu conseguiu chegar à sua última etapa e conquistar um bom nome, o respeito dos seus pares, da sua família, transmitir valores éticos e morais aos seus filhos, daqueles valores que, infelismente, agora são apodados de desatualizados, anacrónicos, quadrados.

É olhar para a sua vida e ver que se esforçou por respeitar o seu próximo fosse ele qual fosse, independentemente da sua origem social, raça, crença.

É olhar para ao seu redor e ver a mulher (o marido) que o (a) ama, ao longo dos anos em que estiveram juntos, ver os seus filhos (quando os há) e sentir que são ou que serão excelentes adultos, bem resolvidos, ver amigos e amigas que o respeitam ou respeitarão sempre.

E ser reconhecido por isso. Ser falado não porque foi um grande cientista, um grande pintor, um grande desportista, um grande político, um grande pensador, mas porque foi simplesmente um Bom Homem ou Boa Mulher.

Para mim, isso é, ao fim e ao cabo, a felicidade; o sentir-me realizado pessoalmente.

A verdade é que hoje em dia a realização das pessoas passa essencialmente por terem uma boa carreira, terem bens materiais que lhes permitem acesso ao que de “melhor” esta sociedade de consumo.

É por isso que a nossa sociedade vive na agonia em que vive. Se as pessoas prezassem mais valores como a honra, a honestidade, o respeito pelos outros, principalmente dentro das famílias, se as pessoas fossem menos egocêntricas e pensassem menos no seu umbigo e mais no umbigo dos outros, estariamos certamente melhor.

O problema é que aqueles que têm mais responsabilidades, os que deveriam estar conscientes do papel importante que poderiam desempenhar como exemplos para todos, simplesmente se demitem dessas responsabilidades. Estou a falar de (alguns) governantes, políticos, líderes religiosos, empresários, cujas vozes e exemplos, se bem direcionados, poderiam fazer milagres.

Do meu ponto de vista, para sermos felizes precisamos de muito mais do que o que é material. Quando nascemos, não trouxemos nada ao mundo, e quando partirmos, também não levaremos nada connosco.

Isso é um facto. Então o que importa a classe social em que nascemos se como o morre o pobre, assim morre o rico?

Não, da vida tem que haver algo mais importante do que simplesmente viver o dia-a-dia, pensando apenas no nosso conforto pessoal. Temos que ter um objectivo na vida que vá para além do vil metal.

Por isso, é bom que meditemos onde é que estão as nossas prioridades. É no dinheiro? É na carreira? É na fama? Se for assim, estamos bem enganados.

Qual Vitória? A Beckham?

Passemos a coisas sérias… :wink:
É por todas essas mesmas razoes que eu, quando penso em deixar de fumar, pergunto a mim mesmo para que? Desde adolescente que me apercebi que teria sorte se chegasse aos quarenta, hoje em dia, sinto-me um felizardo, mas devido aos estilo de vida e aos trabalhos que já fiz (e terei que vir a fazer), sei perfeitamente que serei um sortudo se chegar aos sessenta.

Querem um exemplo? Embora isto não seja nenhum estudo cientifico, aqui vai. Numa vintena de amigos mais chegados lá do meu bairro, quatro morreram antes dos vinte anos, e dois outros morreram aos trinta e poucos. Todas elas foram mortes relacionadas com o estilo de vida, desde acidentes de mota a ir para o trabalho, ataques de coração antes dos quarenta (coitado, foi o único que tinha a mania que era empresário), até toxicodependência…

Aqui pelo meu lado podes estar descansado, aliás eu acho que só faz é bem ter amigos e contactos em todas as classes sociais, pois será mais uma maneira de melhorares a tua pessoa e de aprender e conhecer outras culturas.

Aliás, até te queria agradecer, pois já aprendi algo novo neste tópico, já que não tinha a mínima ideia que existisse esse conceito.
Nao consegui foi perceber como tinham chegado a essa palavra, foi apenas depois de ir ver a wikipedia, versão inglesa, que compreendi que sociolect= social + dialect…Já me arranjaste algo com que me entreter. Obrigado!

Nao leste o artigo nem o meu texto, pois não? Casos pontuais não provam absolutamente nada.

Tenho a certeza que és uma boa pessoa, honesta educada e tudo mais, por isso não leves a mal o que te vou dizer.
Espero que compreendas que não faz diferença nenhuma aquilo em que tu acreditas, pois não são as tuas (ou as minhas) crenças que vão mudar a sociedade que temos. O que conta são os estudos cientifica feitos com base empírica. É dai que deveremos sacar os dados que vamos utilizar para construir um futuro melhor para todos. Acreditar nisto ou naquilo, tanto faz que seja a bíblia, o liberalismo ou o marxismo, não serve para nada.

Então?!? Pensei que não eras fã do determinismo, que é que se passou em tão poucas linhas? ;D

Embora tenhas razão nesta parte, não é isso que está em causa. Se tivesses lido o texto todo (ou assistido ao vídeo) tinhas compreendido que, independentemente de nascermos ricos ou pobres, é possível fazer com que todos tenhamos a mesma esperança de vida (diz o autor do estudo, Sir Michael Marmot) demorando apenas uma geração para que essa transformação tenha lugar. Ou seja, é somente uma questão de vontade política.

Pois, mas é difícil sentires-te realizado pessoalmente se trabalhas a colocar os mesmos produtos na mesma prateleira, no mesmo supermercado e ainda por cima vives menos 17 ou 18 anos que o teu gerente, o tal que passa as tardes a jogar golf.
E como se ainda não bastasse, ainda tens que morrer mais cedo. É disso que se trata o artigo.

Quanto a honra não sei, mas de resto, 100% de acordo.

É exactamente a isso que se refere o autor do estudo que deu origem ao artigo quando diz que só falta vontade politica.

Sem duvida, era bom que os ricos e demais elites percebessem isso.

É melhor leres o texto, já que importa uma média de 17 anos a menos na esperança de vida entre um pobre e um rico na Europa e 18 nos EUA.

Absolutamente de acordo mas aconselho-te mais uma vez a leres o artigo que saiu ontem n’O Publico e que eu aqui reproduzi.

nestas coisas não há deteminismos, mas a estatística vale o que vale: um burro rico tem mais chances de se tornar menos burro do que um burro pobre, segundo esse estudo.

Eu conheço de perto a realidade de duas associações de pais de duas escolas diferentes. Uma apanha uma zona tradicional e pobre do centro de Lisboa - 2/3 dos alunos têm SASE; ou seja, apoio por terem rendimentos muto baixos, a outra apanha uma zona tradicional e rica do centro de Lisboa - os pais são procuradores gerais da república, advogados, médicos, engenheiros, lá andaram muitos dos nossos políticos.

Nas reuniões de pais da escola rica, vêm todos, não há espaço no auditório. E fora das reuniões, os pais são interventivos, presentes, ajudam os filhos (nem que seja com explicações).

Na escola pobre, na última reunião geral de pais apareceram 30 e tal, num universo de dois mil alunos - e todos os pais receberam uma carta a convocá-los. Os pais só aparecem quando são coisas que os tocam directamente, e aí sim são capazes de se mobilizar… mas só mesmo nas grandes ocasiões. No dia a dia estão ausentes.

Sendo assim, a estatística não me surpreende. Os ricos têm uma estrutura por trás que os ajuda.

Isto, claro está, estatisticamente falando. Há pais muito presentes e interventivos na escola pobre, e pais ausentes e que se estão nas tintas na escola rica. E claro, a realidade que conheço é muito limitada, portanto não generalizo, nem sequer nestas duas escolas onde há de tudo um pouco.

E acima de tudo, conhecendo as pessoas, avalio-as não por serem pobres ou ricas, burras ou espertas, mas pelo que valem como seres humanos, e conheço muitos pais e mães com dificuldades que são simplesmente extraordinários naquilo que fazem pelos seus filhos e pelos filhos dos outros. E isto é o mais importante… vale mais que qualquer estatística.

Ui, tao ofendidos que eles ficaram… Falta de respeito? Perante a transcricao de uma noticia? Haja integridade intelectual. Num forum explanamos a nossa opiniao e a minha ficou bem patente. A maioria dos actuais estudos sociologicos, este incluido, sao uma mera reciclagem de conceitos factuais ja conhecidos.

Por isso, sim. Em bom portugues, chato! Vao dizer, que descobriram algo novo durante a leitura?

[admin]Só para avisar que a persistência nessa postura de troll, com o único intuito de provocar e suscitar reacções emocionais por parte dos outros, levará à aplicação de sanções.[/admin]

Devo estar cegueta. Li o artigo todo e não vi onde é que é possível mudar tudo numa geração. Antes pelo contrário, o que o artigo mostra é que isso é completamente impossível.

Vejamos, uma das causas mais importantes apontada era o grau de controlo sobre o próprio de trabalho. Isso só existe em muito poucas profissões. Na maioria das profissões há pouco controlo.

Daqui a uma geração vamos continuar a precisar dessas profissões, e as pessoas vão continuar a precisar desses empregos. Sendo assim os factores que levam às consequências mostradas pelo estudo vão-se manter, e inevitavelmente as consequências também se vão manter.

O que não há dúvida é que se podia (já se fez) fazer muito mais! MAS TÁ QUIETO.
Bem dito (pelo) Sir Marmot.

Obrigado @Yazalde.

@ Yazalde70

Em primeiro lugar, não levo nada a mal a tua contestação e considerações ao que escrevi.

Fico é chateado de pensares que não li o texto que postaste e que me limitei a a debitar ideias que tenho e que podes pensar que são preconcebidas… isso é algo que temos que resolver sentados a beber umas jolas e a dar umas estaladas numas gambas ou a partir a cara a uma sapateira… :mrgreen:

Evidentemente que muito do que o investigador diz faz todo o sentido… isto se limitarmos a apreciação (a meu ver, redutora) de que os pobres têm menos hipóteses do que os ricos em tudo…

Ora tudo isso faz sentido quando olhamos para a forma como o sistema em que vivemos está organizado. Tudo gira à volta do vil metal, da ganância, da ambição.

Vou-te contar uma história que aprendi no meu livro da 3ª classe (é verdade que é uma história que vinha num livro publicado na altura do estado novo e, digamos, que havia todo o interesse em que o povinho estivesse contente com as migalhas que lhe davam) mas agora, à distância de 4 décadas, tendo vivido o que vivo e experimentado o que experimentei, acho que faz mais sentido:

Havia um princípe que tinha tudo, poder, riquezas, tudo o que se poderia desejar… mas não era feliz. E definhava. Tinha um ar macilento, uma cor parda, não tinha apetite, nem vontade de viver.

Os pais, preocupados, consultaram todos os físicos e médicos do reino. Todos contribuiram com os seus dez reis de conversa. Escreveram tratados sobre o assunto, até que houve um, bem velhinho que chegou à brilhante conclusão: o princípe era infeliz.

O princípe é infeliz, bradaram os reis. Como é que isso é possível? O que se pode fazer.

O velho médico disse: Ele só tem que vestir a camisa de um homem que seja feliz e isso passa-lhe.

Os reis enviaram emissários por todo o reino e arredores. Nada, não encontravam ninguém. Até que um belo dia, um dos emissários chegou junto ao mar e viu um casebre de pescador.

Havia lá 2 crianças, descalças, ranhosas. Uma mulher estendia uns farrapos no estendal improvisado. Enfim, muita pobreza.

De repente, os miúdos começaram a correr para a margem do mar pois aproximava-se um pequeno barco de pesca.

Era o pai que chegava duma noite de faina no mar.

O emissário aproximou-se da casa, e espreitou pela janela e o que viu deixou-o intrigado.

Viu o homem, robusto, alegre, com os seus filhos ao colo, agarrados a ele. A mulher começava a preparar a refeição, mas o seu marido levantou-se dum pequeno banco, com os miúdos pendurados ao pescoço, e beijou-a e disse-lhe que a amava. Que se considerava o homem mais feliz do mundo.

Quando ouviu isto, o emissário entrou de rompante, sem pedir licença. A família ficou assustada sem saber o que se passava.

O emissário, de forma arrogante, explicou ao que vinha e que suas Majestades estavam dispostas a pagar bem por uma camisa do homem mais feliz do mundo. E perguntou ao pescador se ele era o homem mais feliz do mundo.

O homem disse que sim, que era. O emissário estranhou e perguntou-lhe como é que isso era possível, se ele vivia num casebre, sem condições, sem água canalizada, sem nenhuma comodidade.

O homem disse que era verdade. Mas que tinha saúde, tinha uma família saudável que amava e que o amava, tinha sol, tinha o mar próximo que lhe dava uma sensação de paz, tirava do mar o seu sustento, o que é que podia pedir mais da vida? Sim era o homem mais feliz do mundo.

E o emissário pediu-lhe a camisa.

O homem respondeu: Desculpe, mas eu não uso camisa…

Por favor, não te rias nem se riam. Não estou a dizer que acredito piamente nesta história, quero é dizer que afirmar que um pobre tem menos hipóteses na vida do que um rico é redutor.

Uma pessoa pode morrer aos 40 anos, satisfeita com a vida que levou e outra pode morrer com 82 anos, é verdade, ligada a uma máquina, num hospital, abandonada pela família e enterrada incognitamente.

Qual é que morreu mais feliz?

Neste momento, confunde-se felicidade com ter qualidade de vida, porque estamos formatados para isso, porque desde os bancos da escola nos ensinarem que nada se faz sem dinheiro. E pensem um pouco… Estamos mundialmente no estado em que estamos por causa do dinheiro, ao fim e ao cabo, o que faz andar o mundo…

No dia em que isso deixar de acontecer (e esta crise poderia ser uma ocasião única para a sociedade humana se refundar e reinventar), no dia em que falar em ricos e pobres não faça sentido, veremos que as coisas serão mais fáceis.

Dirás tu (ou outros de vós) que o que eu defendo aqui é utópico… Poderá ser. Mas têm de reconhecer que era bom que as coisas se passassem assim. Eu pelo menos gostava. E acredito que isso será possível, um dia.

Quanto a esse tipo de estudos, valem o que valem. Pegando em artigos publicados no jornal, na semana passada, li um artigo publicado no JN, em que especialistas de ética que colaboram com a Universidade de Oxford, chegaram à conclusão que matar um recém-nascido não devia ser punido e devia ser equivalente a um aborto. Segundo eles, o recém-nascido é uma potencial pessoa mas ainda não é uma pessoa, não tem conceitos éticos ou morais nem raciocinio que é, ao fim e ao cabo, o que define o que é uma pessoa.

Poderia assim legitimar-se o direito dos pais de decidirem matar um filho seu recém-nascido se ele nascesse com problemas, nomeadamente, trissomia 21.

Quando investigadores conceituados chegam a conclusões destas, estamos conversados sobre o que valem muitos dos seus estudos e trabalhos, não concordam?

Qualquer dia, começam-se a matar pessoas doentes ou idosas porque são um encargo para o estado, porque sobrecarregam as urgências, porque estão a levar a Segurança Social à falência.

Mas onde é que já vimos isto?

A história é ciclica e se continuamos neste caminho, isto não vai (outra vez) acabar bem, ai, não vai, não.

GBM, estás a confundir reflexões de índole filosófica com estudos científicos. Os ensaios ou reflexões não se baseiam em dados empíricos e não são mais do que exercícios mentais, enquanto que a ciência se baseia na observação directa da realidade através de um método.

Além disso, este estudo só reforça a ideia de que o mérito é uma falácia, porque a partir do momento em que nascemos as condições envolventes condicionam a nossa própria inteligência. Isto tem um impacto brutal e deveria servir para muita gente reformular uma série de ideias acerca do movimento interclasses.

Não, não estou, @ Winston

Quando se fazem estudos desse género, ou consegues distanciar-te completamente do objecto do estudo ou então, quer queiras quer não, o resultado final é sempre influenciado por aquilo que pensas ou por aquilo que queres provar.

Mesmo a matemática não é uma ciência exacta. Às vezes, 1 + 1 não são = 2, principalmente quando o objecto de estudo são pessoas.

GBM, 1+1 são dois! :mrgreen:
Textos científicos baseados em factos sociológicos, etc, fora do rigor dos números, existirá sempre uma grande possibilidade de enviesamento, nem que seja pela educação e percepção de quem escreve. É inevitável.

GMB, o objectivo da ciência é justamente esse: através da aplicação do método científico criar uma estratégia empírica de estudo que minimize ao máximo a intervenção humana. Claro que é impossível o cientista não influenciar o objecto de estudo, mas para discutir isto até podíamos usar a física quântica que diz que um cientista influencia a própria disposição atómica do material em estudo. Lembro-me de ver um documentário sobre isto, mas não sei explicar como ao certo, mas a ideia fulcral é que existe sempre influência humana em tudo.

Depois, esse não é um mero estudo sociológico . Ele partiu de estudos médicos/psicológicos, como os seguintes:

  • Estudo da inteligência em diferentes grupos sócio-económicos.

  • Estudo das influências da mal nutrição no desenvolvimento da inteligência.

  • Comportamentos tabagistas em diferentes classes sociais.

  • Esperança média de vida em diferentes classes.

Ora, isto são dados objectivos e com dificuldade em existir enviesamento se o estudo for bem executado. Claro que não sabemos se o foi, mas normalmente os estudos que saem em revistas e afins passam por um processo de triagem bastante rigoroso antes de serem publicados.

E outro pormenor: foi através de estudos deste género que se permitiu concluir que não existe diferença nenhuma de inteligência entre etnias. O método aplicado é exactamente o mesmo: escolhem-se sujeitos de um determinado grupo étnico e aplicam-se testes para medir a inteligência. O único problema que existe é a escolha do grupo: terá que ser aleatória ou significativa (de preferência aleatória) de forma a que não exista influência de variáveis externas.

Por isso é que acredito piamente nesses resultados. Aliás, o método usado (seleccionar grupos para estudar variáveis) é exactamente o mesmo que se aplica em testes farmacológicos para perceber o efeito de medicamentos.

Meu caro @ Winston

Não quero que fiques com a ideia que eu sou um troglodita, um céptico fundamentalista para com a ciência e os métodos que utiliza.

Nada disso. O que eu quero dizer é que não podemos (e pelas tuas palavras vejo que concordas) confiar cegamente em todos os estudos.

Evidentemente que para sair o estudo na revsita “Lancet”, uma das revistas médicas mais famosas e credíveis a nível mundial, o mesmo deve ter passado por um julgamento bem apertado.

O que eu quero dizer é que, com pessoas, não se pode generalizar. Mesmo que haja um estudo que apresente resultados aplicáveis a um grande grupo de pessoas dificilmente se poderá extrapolar que se aplicará a todas as pessoas.

Às vezes, há estudos, sejam eles médicos, sociológicos, ou de quaiquer outra natureza que parecem ter tudo para se constituirem em lei e mais tarde vêm-se a revelar errados.

Mas, evidentemente, percebo e aceito quer os teus argumentos quer os do Yazalde70.

No entanto, encarando a coisa numa perspectiva mais metafísica, concluo com esta ideia: ´

Há estudos científicos que, segundo os seus defensores, “provam” que o Universo e tudo o que nele existe simplesmente apareceu.

Como tudo o que existe é efeito que resulta de algo que o causou (princípio científico da causa/efeito), então por trás do aparecimento do Universo teve que haver uma causa. Essa causa, segundo alguns cientistas, não precisa de ter sido comandada ou controlada por alguém.

Tudo simples e claro.

Assim, desde 10 de Setembro de 2008, como certamente saberás, na fronteira franco-suiça, foi construído e encontra-se em funcionamento o acelererador de partículas, o Grande Colisionador de Hadrões (LHC) com o objectivo primordial de tentar explicar a origem da massa das partículas elementares e encontrar outras dimensões do espaço, entre outras coisas. Em 2009, a National Geographic Magazine chamou-lhe muito simplesmente “A Máquina de Deus”.

Estão perto de o conseguir e ao mesmo tempo ainda estão muito longe.

Então porque é que não se pode pegar no mesmo princípio e transpô-lo para uma realidade bem mais prosaica, concretamente, porque é que não se pode aplicar a um conjunto de pequenas rodas dentadas, quartzo, cristais, metal precioso ou aço inox, tudo num monte e esperar que caia um raio em cima disso tudo e saia de lá um equipamento de precisão como é um relógio?
Tenho quase a certeza que nem um acelerador de partículas conseguiria fazer isso.

Ou seja, sobre uma mesma coisa, existirão sempre pelo menos tantas interpretações quantas pessoas a encararem de ângulos diferentes.

Estas questões são demasiado complexas e fracturantes para terem apenas uma leitura, é a minha opinião. Mas estas discussões só comprovam uma coisa: este Fórum é mesmo impar.