Quando comecei a ter consciência do mundo que me rodeava, tomei uma decisão da qual vou-me orgulhar até ao fim dos meus dias: ser do Sporting Clube de Portugal.
Apreendi a gostar deste clube de forma incondicional, independentemente de resultados desportivos, presidentes, treinadores, jogadores. Revejo-me no seu lema, Esforço, Dedicação, Devoção e Glória e nos valores que representa na sociedade portuguesa.
Acontece que os tempos mudaram, a sociedade tem trilhado caminhos, que por vezes, pelo menos para mim são difíceis de entender, por outro lado as novas tecnologias ganharam força e é graças a elas que existem espaços como este e outros que dão voz ao mais anónimo dos adeptos. Tenho como principio respeitar todas as opiniões, o que não significa que as aceite todas.
Quero dizer, tenho dificuldade em descortinar em que momento da vida do Sporting os jogadores passaram a ser mais importantes que este clube, centenário, com um palmares vastíssimo em dezenas de modalidades. Pelo que oiço nas rádios, ou leio nas caixas de comentários de blogs e fóruns, chego à conclusão que existe um novo tipo de adepto no nosso clube, primeiro são do Liedson FC, Moutinho FC, Izmailov FC, Veloso FC, Vukcevic FC, Stojkovic FC, etc… e só depois, por vezes muito depois é que são do Sporting Clube de Portugal.
Para estes adeptos, os errados são sempre os treinadores ou dirigentes, os jogadores são uns tipos com uma vida difícil, tão difícil que até se sacrificam e jogam com dores, por vezes, vejam lá, até aceitam jogar em posições de que não são do seu agrado. Chega-se ao estádio e assobia-se quem joga com dedicação e aplaude-se que já nem está no clube. Somo de facto um clube diferente.
Confesso que não sei como chegamos a isto. Será que foi quando um jogador, ao ser substituído mandou o treinador ir tomar num sítio e este fingiu que não ouviu para na semana seguinte jogar como se nada fosse? Ou será que foi quando um outro jogador fez uma birra e prolongou as férias por mais um par de semanas, chegou, treinou dois dias e foi titular? Ou terá sido quando um jogador recusou participar numa final europeia quando soube que não ia ser titular e meses depois renovaram-lhe o contrato e deram-lhe a braçadeira de capitão? Não sei quando passámos a dar mais valor aos jogadores que às regras básicas e sãs que predominam em qualquer organização de sucesso, mas sei que houve momentos onde quem comandou também contribuiu para isto e enviou a mensagem errada para o exterior. À custa dos 3 pontos, tudo vale, tudo pode ser perdoado e esquecido.
Chegamos assim ao ponto em que o Sporting tudo deve aos jogadores. Os jogadores nada devem ao Sporting. Em que o Sporting não pode falhar nas suas obrigações para com os jogadores. Mas os jogadores só cumprem as suas obrigações para com o clube… quando entendem achar conveniente.
Os sinais que o clube transmite para o exterior são preocupantes, porque demonstram uma organização minada, onde a pirâmide está invertida. Quem devia mandar sujeita-se a caprichos e quem devia obedecer é que impõem as regras. Não vou cair na tentação de aderir ao clube do Izmailov ou do Costinha, mas tenho a minha opinião, sempre fui um defensor de organizações coesas e justas e na minha concepção a anarquia é um regime para fracos e de quem tem medo de tomar decisões. Sempre que liderei equipas foi por estas máximas que me regi. E julgo que não me saí mal.
Nos ultimosde 4 ou 5 meses, na ressaca de bons momentos desportivos, o responsável máximo pelo futebol vê-se confrontado com posturas, no mínimo estranhas para não dizer outra coisa, por parte de atletas com peso no seio da equipa. Não acredito em coincidências. Isto deve-se à falta de cultura de responsabilidade e coesão existentes no Sporting. Onde os comandados testam quem manda, porque as fronteiras há muito que deixaram de existir. E nós adeptos também somos responsáveis porque fechamos os olhos às atitudes e pomos à frente os nomes. Se for o Ricardo Batista, não há crise. Mas se for o Liedson temos um problema e o errado é sempre quem impõem regras, disciplina e valores. Enquanto assim for, pode o Sporting contratar o Cristiano Ronaldo que não existe espaço para vencer.
Hoje o meu clube, o nosso clube, passa mais de metade do seu tempo a desgastar-se e a apagar fogos originados internamente, quando devia estar já a trabalhar no futuro. Assim quem precisa de inimigos ou adversários se é dentro de casa que nos flagelamos?
Termino com a minha opinião sobre um tema que deverá voltar às primeiras páginas nas próximas semanas. Carlos Carvalhal deve ou não ser o treinador na próxima época? Não e explico sucintamente.
A ideia que tenho sobre o Carlos Carvalhal é muito simples, teríamos no Sporting um José Peseiro II, alguém que tem bons métodos de treino, interessado pelo jogo e com a capacidade de colocar as equipas a jogar um futebol agradável. Mas minha opinião, e admito que possa estar a ser injusto, falta-lhe algo muito importante, pulso forte, liderança.
Entendo que para treinar o Sporting, é necessário aliar as qualidades intrínsecas a qualquer treinador de topo (bons métodos de treino, leitura de jogo, conhecimentos tácticos e capacidade para ser um estratega no banco) com as de líder, capaz de criar um grupo fechado, focado, coeso e motivado. Alguém que não deixe duvidas dentro do balneário sobre quem manda e decide. Precisa de ser culto e capaz de expor o seu raciocínio perante a comunicação social. Tenho duvidas que Carvalhal seja este homem.