No futebol o conceito de “justiça” é uma coisa muito sui generis. A bola que não entra quando a equipa domina o encontro, a falta mal assinalada que dá origem a um golo, o falhanço do Rogério a meio metro da linha de golo e o golo no contra-ataque. Mas faz parte do jogo. Não entremos na discussão das novas tecnologias no futebol (lá chegaremos, noutro dia), mas é esta imprevisibilidade que nos faz gostar deste desporto. É o saber que não é o valor do passe, os 5 milhões de euros mensais em salários do 11 que entra em campo em Stamford Bridge, os campeões de Inverno inventados na imprensa (curioso como este ano, ao contrário de 2009, não se ter falado no “Campeão de Inverno” à 13ª ou 14ª jornada. Não devia ser conveniente, pode ser que o Braga escorregue antes da 15ª…). O que vale mesmo são aqueles 11 de cada lado, aqueles 90 minutos e as bolas que entram na baliza.
E, no entanto, há aquelas injustiças memoráveis. Aquelas que ficam. As que mexem connosco cá dentro. Lembro-me de 3. O primeiro, no jogo entre a Alemanha e Portugal, de qualificação para o Mundial de 98, se não estou em erro. A expulsão do Rui Costa pelo francês Marc Batta abriu-me os olhos para este fenómeno das estranhas decisões dos árbitros, da falta de bom senso e fez-me pensar “será que haverá algo por trás disto?”. Era mais novo, na altura, e acreditava que não devia haver, porque afinal a humanidade é séria e justa, certo?
Avançando no tempo, chegamos a 2002. Ao Mundial da Coreia e do Japão. Refeito do soco do João Pinto e das noitadas em Macau, continuei a assistir aos jogos com aquela paixão genuína do melhor mês do Mundo para qualquer adepto de futebol. Até que veio o Coreia-Itália. Nunca me senti tão revoltado, tão enjoado com uma arbitragem como naquele jogo. Nunca me senti tão Italiano, nem nunca desejei tanto que uma equipa que não me diz nada vencesse o jogo. Em South Korea fixed games 2002 World cup Spain Italy ficamos com um gostinho do que foi aquele jogo. Da vergonha que foi o arranjo cozinhado para a Coreia seguir em frente na competição. Em directo, aqueles golos foram anulados a mim. Aquelas entradas a pés juntos senti-as nas minhas pernas e se estivesse lá a jogar provavelmente teria colocado um ponto final na minha carreira, só para poder vingar no árbitro aquilo que sentia cá dentro.
E voltamos a Portugal. À festa da Taça! A um derby! Ao melhor golo que o Paíto alguma vez irá marcar na vida, num dos melhores jogos de futebol da década. Manchado pela decisão mais idiota da história das Taças de Portugal (a Carlsberg era na altura apenas uma cerveja com nome esquisito). A bola algures no meio campo, com o Benfica a atacar. No círculo central, mais atrasados, João Pereira e Hugo Viana correm para acompanhar o lance, lado a lado. Até que João Pereira tem o que parece ser um AVC, agarra-se à cara e cai no chão. Hugo Viana olha para ele com aquela expressão “o que é que deu a este?”. O árbitro olha para trás (estava de costas), vê o João Pereira no chão e…expulsa o Hugo Viana! Assim, salomónico. Sem hesitar, deixando preplexos o Hugo Viana e a totalidade dos espectadores. Sem ver a jogada, sem perceber que o Hugo Viana nem sequer tocou no João Pereira. Que, qual criança mimada, viu aquele vermelho para o adversário como uma loja de doces aberta só para ele.
Escusado será dizer que desde esse dia fiquei com muito pouco apreço pelo moço. Nem sabia – até há pouco tempo – daquele festejo idiota em frente ao Tello noutro derby alfacinha. Que não me surpreendeu, dada a falta de carácter de que percebi que ele padece.
Não foi, portanto, a melhor das surpresas quando vi que pagámos um balúrdio por este jogador, que passará a envergar a nossa camisola. Seria provavelmente o último jogador que contrataria para o clube. Mas acima dos meus gostos e das minhas preferências está a minha paixão pelo Sporting. Por isso, não será por preferir outro lateral que vou deixar de apoiar aquela camisola verde-e-branca. E é por isso que lhe desejo a melhor carreira, porque o sucesso dele será o nosso. E apenas peço: João, honra este clube que representas e faz por merecer envergar o símbolo que ostentas na camisola.