As televisões praticam acção concertada de doutrinação?

Todos os anos reparo nas diversas notícias encomendadas para todos os canais de comunicação, nas agendas comuns, demasiado coincidentes para descartarmos a hipótese de conclave, de acção concertada.

No desporto ainda há pouco tivemos o exemplo desta notícia do clube oficial do Estado nos 3 jornais:

Já na cultura de repente as TVs informam-nos sobre um dos mais importantes vultos da cultura, ainda que seja um gajo banal que passou toda a vida no anonimato, que é um artista absolutamente igual a todos os outros, mas de repente esse Zé von Smith ( como é que ninguém conhecia o Zé von Smith? ), afamado acordeonista de Jazz Rural Semi-Progressivo vai actuar na Culturgest, no CCB, na Casa da Música e toda a gente paga dezenas de euros para ir ver um artista fabricado por um super-agente do dia para a noite que até aí, confessem, não conheciam.

Se no desporto e cultura parece que os agentes estão mais ou menos identificados e sabemos porque o fazem, na política o tema é mais obscuro.

A inserção de agendas políticas conchavadas é tão obscura quanto óbvia. Independentemente das opções políticas de cada um, o PCTP-MRPP tem uma das figuras mais carismáticas da política nacional. Mas ao contrário do seu ex-camarada Durão Barroso (agora José Barroso), há 40 anos que Garcia Pereira é coincidente e cirurgicamente bloqueado do circuito televisivo em todas as campanhas eleitorais.

Como é possível que o Bloco de Esquerda tenha chegado a mais de 10% de representação com dirigentes absolutamente incarismáticos e de discurso ofensivo e desagradável? A resposta aqui parece óbvio que todas as TVs convidavam os seus agentes para programas de opinião política, introduzindo-os assim na confiança e imaginário públicos. A origem e o porquê, desconheço.

Ao mesmo tempo Garcia Pereira foi e é deferido para aquelas entrevistas especiais, como se se tratasse do Presidente da Associação de Coleccionadores de Penas de Papagaio ou da Liga dos Amigos dos Doentes de Acne. Um sujeito simpático que anda por aí e diz umas coisas acertadas, mas que “não aparece na TV”, por isso é melhor não votarem nele.

É verdade que no caso do acordo ortográfico, apesar de ter sido uma iniciativa parlamentar maquiavélica que não foi proposta ou revista por qualquer órgão académico mas sim pelo lobby livreiro brasileiro do Grupo Houaïss, houve um decreto-lei que impõs a adopção do protocolo nas instituições públicas portuguesas. Independentemente da lamentável origem, houve uma imposição que é conhecida.

Mas muitos outros casos não são assim claros e públicos.

Recentemente, temos um acaso que não foi oriundo de decreto-lei e que parece obviamente combinado e de origem obscura. Porque é que desde há cerca de 2 meses, todas as televisões adoptaram em simultâneo a palavra “Migrante” para substituir toda e qualquer referência a “Imigrante”? Além da mudança pela força bruta, repetem o termo 3 vezes em cada frase, propositadamente e não usando o comum sujeito omisso. Repetem a palavra Migrante como se fosse uma oração para decorar.

Porquê todas e em simultâneo? Foi uma directiva? com origem em Bruxelas ou noutro grupo qualquer?

Digam de vossa justiça mas, por favor, sem fanatismos para que o tópico não caia no absurdo.

São sem dúvida acções concertadas em os vários meios de comunicação social para “marcar” a opinião pública, isto é, controlar as massas, para toda a gente seguir o rebanho.

Não é só nas TV’s ou outros meios de comunicação. De forma camuflada existem redes sociais que fazem estudos de opinião sem que grande parte das pessoas dêem conta disso.

O último caso que me lembro foi a situação da legalização do casamento homossexual nos EUA. Milhões de pessoas mudaram as fotos dos seus perfis para aquele formato arco-íris. Isso por exemplo ajudou a fazer um estudo sobre qual é a reacção do público a um determinado tema, como foi este do casamento gay. Involuntáriamente foi como que um sistema de voto via facebook.

Relativamente ao que abordaste, há um texto excelente de Chomsky sobre as dez estratégias para a manipulação pública que espero que não se importem de deixar aqui. (está em português do Brasil)

AS DEZ ESTRATÉGIAS PARA A MANIPULAÇÃO E O CONTROLE DA OPINIÃO PÚBLICA

1 – DISTRAÇÃO
Um dos principais componentes do controle da opinião pública é a estratégia da distração fundamentada em duas frentes:
Primeiro, desviar a atenção do público daquilo que é realmente importante oferecendo uma avalanche de informações secundárias e inócuas, que como uma cortina de fumaça esconde os reais focos de incêndio.
Em segundo, distrair o público dos temas significativos e impactantes tanto na área da economia quanto da ciência e tecnologia (tais como psicologia, neurobiologia, cibernética, entre outras).
Quando mais distraído estiver o público menos tempo ele terá para aprender sobre a vida e/ou para pensar.

2 – MÉTODO PROBLEMA-REAÇÃO-SOLUÇÃO.
Cria-se um problema ou uma situação de emergência (ou aproveita-se de uma situação já criada) cuja abordagem dada pela mídia visa despertar uma determinada reação da opinião pública.
Tal reação demanda a adoção de medidas imediatas para a solução da crise.
Usualmente tais medidas já estão praticamente prontas e são aplicadas antes que a população se dê conta de que essa sempre fora a meta primordial.
Por exemplo:
Valer-se de atentados terroristas para sequestrar da população seus direitos civis. (Depois de 11 de setembro qualquer cidadão em solo norte-americano pode ser “detido para averiguações” fora ou dentro de sua residência, sem direito a advogado, ou defesa, exatamente como o que ocorria no Brasil durante a ditadura militar – basta que se acione a tal lei da Segurança Nacional).
Valer-se do crescimento da violência urbana para aprovar leis de desarmamento completo da população civil.
Valer-se de crises econômicas para fazer retroceder os avanços conquistados nas leis trabalhistas e promover o desmantelamento dos serviços públicos de assistência aos mais pobres.

3 – GRADAÇÃO
É uma estratégia de aplicação de medidas impopulares de forma gradativa e quase imperceptível.
Por exemplo, entre 1980 e 1990 foram aplicadas medidas governamentais que desembocaram no perfil de estado mínimo, privatizações dos serviços públicos, precariedade da ação do estado (principalmente na segurança, saúde e educação), flexibilidade das leis trabalhistas, desemprego em massa, achatamento salarial, etc.

4 – SACRIFÍCIO FUTURO
Apresentar com muita antecedência uma medida impopular que será adotada no futuro sempre de forma condicional, porém com contornos nefastos.
Primeiro para dar tempo para que o público se acostume com a ideia e depois aceitá-la com resignação quando o momento de sua aplicação chegar.
É mais fácil aceitar um sacrifício no futuro do que um sacrifício imediato tendo-se em conta que existe sempre uma esperança, mesmo que tênue, de que o sacrifício exigido poderá ser evitado ou que os danos poderão ser minimizados.
Por exemplo:
Antes da aplicação de um aumento de 10% na tarifa de energia elétrica:
Se o clima não mudar teremos aumento de 25% no preço da tarifa de energia.
Na aplicação do aumento da tarifa:
Devido a um esforço coletivo do governo federal e estadual o aumento acabou se concretizando em apenas 10%.

5 – DISCURSO PARA CRIANÇAS
Emprego de um discurso infantilizado, valendo-se de argumentos, personagens, linguagens, estratégias, etc. como que dirigido a um público formado exclusivamente por crianças ou por pessoas muito ingênuas.
Quando um adulto é tratado de forma afetuosa como se ele ainda fosse criança observa-se uma tendência de uma resposta igualmente infantil.

6 – SENTIMENTALISMO E TEMOR
Apelar para o emocional de forma ou sentimentalista ou atemorizante com intuito de promover um atraso tanto na resposta racional quanto do uso do senso crítico. Geralmente tal estratégia é aplicada de forma combinada com a número 4 e/ou número 5.
A utilização do registro emocional permite o acesso ao inconsciente e promove um aumento da suscetibilidade ao enxerto de ideias, desejos, medos e temores, compulsões, etc. e à indução de novos comportamentos.
Exemplo:
Para prevenirmos a ação de terroristas todos os passageiros serão submetidos a uma rigorosa revista antes de embarcar. Colaborem!

7 – VALORIZAR A IGNORÂNCIA E A MEDIOCRIDADE
Manter em alta a popularidade de pessoas medíocres e ignorantes aumentando sua visibilidade na mídia, para que o estúpido, o vulgar e o inculto seja o exemplo a ser seguido principalmente pelos mais jovens.

8- DESPRESTIGIAR A INTELIGÊNCIA
Apresentar o cientista como vilão e o intelectual como pedante ao mesmo tempo em que populariza a caricatura do “nerd” ou “CDF” como pessoas ineptas do ponto de vista social e um exemplo a não ser seguido pelos mais jovens — estimulando, por um lado, a negação da ciência e, por outro, o desprestígio do uso da racionalidade e do senso crítico.
Geralmente tal realidade se coaduna com a oferta de uma educação de menor qualidade para a população mais pobre – que não se queixa disso por que é moda ser ignorante.

9- INCENTIVAR E INCUTIR A CULPA
Incutir, incentivar e reforçar a culpa do indivíduo quando do seu fracasso, dividindo assim a sociedade em duas categorias: a de vencedores e a de perdedores.
O “perdedor” (ou loser em inglês) é o indivíduo que não possui habilidades ou competências para alcançar o sucesso que o outro tem.
Daí a grande visibilidade que a mídia oferece a modelos minoritários de beleza e sucesso.
Recordando que apenas alguns poucos seres humanos podem ser enquadrados nesse modelo tão rigoroso que categoriza, discrimina e impõe o que é belo, jovem, célebre e bem sucedido.
O restante da humanidade deve se conformar com sua condição de perdedor e carregar com resignação esse seu status.
Ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo resigna-se e conforma-se com sua situação pessoal, social e econômica, atribuindo seu “fracasso” à sua completa incompetência. Culpar-se constantemente por isso, atua na formação de um desejado estado depressivo, do qual, origina-se a apatia.

10- MONITORAÇÃO
Por meio do uso de técnicas de pesquisa de opinião, mineração de dados em redes sociais e também dos avanços nas áreas de psicologia e neurobiologia, os donos do poder tem conseguido conhecer melhor o comportamento do indivíduo comum muito mais do que ele mesmo.
A monitoração deste comportamento além de alimentar os dados que aperfeiçoam seu modelo psicossocial, oferecem informações que facilitam o controle e a manipulação da opinião pública.

Excelente texto! Já tenho visto vídeos do Chomsky. No princípio desconfiava um bocado dele, pensava que fosse mais um fenómeno da elite intelectual, hoje reconheço que o gajo é genial.

Eu tive de o gramar na Faculdade e admito que com os meus 18/20 anos eu acabava por não interiorizar ou ligar os textos dele com a realidade à minha volta. Hoje com 30 anos acabo por ter uma maior percepção de como as coisas funcionam e acabo por perceber o sentido que textos como os de Chomsky fazem. É uma área que acaba por me fascinar a manipulação de massas e como os media conseguem fazer.

Wilson Bryan Key tem um livro “A Era da Manipulação” que também é muito bom para perceber este fenómeno. O que achei incrível foi tratar-se de um livro de 1993 que já antecipava a rapidez com que a informação era transmitida e/ou manipulada. Também recomendo :great:

Resta saber se a manipulação parte de fora ou de dentro. Se eles são pressionados ou se simplesmente faz parte da sua rgânica e a comunicação social é mesmo um dos braços da situação. Estou mais inclinado para a segunda. O modus operandi do jornalismo é demasiado descarado para pôr de parte que são uma 5ª coluna bem organizada.

Se os jornalistas e repórteres do fundo da pirâmide fazem aquilo que lhes ensinam nas escolas de comunicação, já os do topo parecem-me autênticos agentes políticos com interesses diversos, dos quais em Portugal é pioneiro o Balsemão (sem querer entrar no campo conspirativo, Balsemão há muitos anos que é membro assíduo de certos meetings).

Eu vejo o jornalismo, nomeadamente o nacional, como o braço direito do poder politico. Há sem dúvida uma pirâmide no mundo jornalistico, e que está no topo da pirâmide chegou a esse topo acertando agulhas com quem lhes convém. A situação que referes do Garcia Pereira é uma das situações estranhas, porque há sempre uma tentativa de descredibilizar tudo o que ele diz e fazer dele um pouco um bôbo da corte. Se fosse feito um inquérito de opinião sobre ele, muita gente iria ou nem sequer se lembrar dele, ou quem se lembrasse iria apelidar de “coitadinho”.

E como ele há mais casos.

O caso do BE… bem, talvez por isso a saída do Louçã há uns tempos, acho que ultimamente tem aparecido muita gente de várias áreas associados ao BE. Eu vejo o BE como um partido da moda, como um partido que tenta passar a imagem de inconformados mas que para mim não passa disso mesmo, uma imagem. E atenção que não quero ferir susceptibilidades politicas de ninguém, pois eu não tenho partido político, aliás faço sempre questão de dizer em conversas com amigos que o meu partido/religião é apenas e um só, o Sporting :lol:

Apagar, era para editar e não citar :wall: