Apanha-bolas goleador confessa «Meti a bola e fugi»

"Meti a bola lá dentro e pirei-me para trás do bandeirinha"

Muitos ainda escrevem que o golo foi «limpo», alguns acreditam nisso. Quase 35 anos depois, o verdadeiro autor do golo do nevoeiro, num célebre FC Porto-Sporting, José Maria Ferreira de Matos, explicou ao jornal Sporting como tudo aconteceu naquela tarde de nevoeiro. Actualmente a trabalhar em Lisboa, o ex-apanha-bolas da formação «azul e branca» e árbitro amador, mostrou-se arrependido pelo seu acto irreflectido.

JORNAL SPORTING – De que se lembra desse dia?
JOSÉ MARIA FERREIRA DE MATOS – Lembro-me do intenso nevoeiro que estava. Antes do jogo, o «chefe» dos apanha-bolas, o Valter Leitão, distribuiu-nos pelo campo e mandou-me para trás da baliza. Recordo-me que o Sporting começou a ganhar. Na segunda parte, a vantagem continuava do Sporting, mas nunca pensei em fazer o que acabaria por fazer. Eu era conhecido pelas asneiras que fazia, mas também nunca ninguém pensou que fizesse o que fiz.

– Como foi o lance?
– Não sei bem como a bola chegou a mim, mas sei que ela veio ter comigo e vi o Gomes a pôr as mãos na cabeça. Sem pensar, dei uns passos e fui até ao canto da baliza, meti a bola lá dentro e fugi para o mais longe possível. Então, vejo o Damas a ralhar comigo, mas eu pirei-me para trás do ‘bandeirinha’; ele já tinha a bandeirola no ar a assinalar o golo. Foi quando os jogadores do Sporting correram para o árbitro, a reclamar. Aí o juiz, que julgo não ter visto bem o lance, começou a mostrar cartões.

– Porque razão meteu a bola na baliza?
– Foi tudo muito rápido. O FC Porto estava a perder, a bola estava na minha mão e então pensei: vou metê-la lá para dentro e vou-me pirar. Foi um daqueles momentos em que se faz, ou não se faz; optei por fazer e já não dava para voltar atrás. Aconteceu numa fracção de segundo.

– Depois de meter o golo, o que pensou?
– Eu só queria que não me «topassem». Felizmente, ou infelizmente, o árbitro marcou e eu saí impune. Tenho pena do Damas, que não teve culpa nenhuma e sofreu um golo ilegal.

– E se visse o árbitro desse encontro?
– Não sei… Gostava de estar com ele para lhe confessar que fui mesmo eu a marcar o golo e não o Gomes. Eu tenho quase a certeza de que ele não conseguiu ver o lance como realmente aconteceu, pois estava um nevoeiro muito intenso. Também gostava de falar com o fiscal de linha; foi ele quem assinalou o golo e foi para trás dele que eu «fugi» depois de fazer o que fiz.

– Acha mesmo que o árbitro não viu nada?
– Julgo que não. Tenho ideia de ver o fiscal de linha levantar a bandeirola e validar o golo do FC Porto. Depois, lembro-me de ver o Damas e outros jogadores a correrem para o árbitro e sei que houve cartões mostrados. Nessa altura, já eu estava «escondido» atrás do fiscal. Só aí é que percebi o que tinha feito, mas pensei,“já está, já está!” Não havia nada que eu pudesse fazer.

“O Gomes disse-me que tinha marcado o golo”

– Alguma vez falou com o Fernando Gomes sobre a autoria do golo?
– Sim, uns anos depois encontrei-o num Centro Comercial do Porto. Perguntei-lhe, sem ele saber quem eu era, se tinha sido ele a marcar o golo; ele disse que sim e cada um seguiu o seu caminho. Mas acontece a mesma coisa quando o jogador mete a bola com a mão; se lhe perguntarem, ele dirá, quase sempre, que foi com a cabeça. Neste caso, eu sei que não foi o Gomes que a meteu. Digo-lhe isso nos olhos dele, ou nos olhos de quem quer que seja.

“Muito aliviado”

– Como se sente, agora que «confessou» o seu «feito» ao nosso jornal?
– Muito aliviado. Muito mesmo. Era uma coisa que eu tinha de contar mais cedo ou mais tarde. Queria ter falado com o Damas, mas não consegui. Agora, fica a faltar falar com o sr. Alder Dante e com o presidente do Sporting. Quero agradecer ainda a oportunidade que o jornal ‘Sporting’ me deu, ao poder de ter entrado no Estádio José Alvalade. Quando pisei o relvado, senti um calafrio; as minhas mãos e as minhas pernas tremeram como há muito não tremiam.
– Não tem receio de ter contado a história desse golo?
– Não. Eu sou um homem correcto. Quando as pessoas quiserem, que me procurem. A falar é que as pessoas se entendem.

“Gostava de ter pedido desculpa ao Damas”

– Nunca pensou falar com Victor Damas?
– Sempre tive o desejo de ir ter com ele. Tentei, várias vezes, mas nunca o consegui apanhar. Na altura, cheguei a vir do Porto a Alvalade, mas nunca tive a oportunidade de o encontrar. Não era fácil falar com ele, pois um humilde apanha-bolas não chega facilmente à fala com um jogador, para mais sem conhecer ninguém do Sporting. É das coisas que me dá mais pena. Era um sonho falar com ele. Nunca me esquecerei do Damas; pelo guarda-redes que foi e por nunca ter conseguido falar com ele. Sempre que via jogos do Sporting, em que o Damas participava, pensava sempre na malfeita bola do nevoeiro.

– O que lhe diria se o tivesse chegado a encontrar?
– Dizia o que lhe disse hoje e, com toda a certeza, pedir-lhe-ia muitas desculpas.

Leia a entrevista na íntegra, na edição de jornal ‘Sporting’

Texto: Francisco Sá

«Meti a bola e fugi»

A menos de três semanas da deslocação do Sporting ao Estádio do Dragão para disputar o primeiro clássico da temporada, o jornal do clube descobriu o “apanha-bolas” que, na já longínqua época de 1975/76, apontou um golo, o segundo dos dragões, que foi validado, mas serviu de pouco à equipa da casa. Os leões acabariam por vencer (3-2), devido a um golo de Baltazar.

“Sei que ela veio ter comigo. Vi o Gomes a pôr as mãos na cabeça. Sem pensar, dei uns passos e fui até ao canto da baliza, meti a bola lá dentro e fugi para o mais longe possível”, conta José Maria Ferreira de Matos, que aceitou ser entrevistado pelo órgão oficial do clube leonino no dia em que viu a baliza do topo sul de Alvalade ser batizada com o nome de Vítor Damas.

Leia a história completa na edição impressa de hoje do Record.

Apanha-bolas goleador confessa

A edição desta semana do jornal oficial do clube apresenta uma entrevista com José Maria Ferreira de Matos, o apanha-bolas que há quase 35 anos colocou, à mão, a bola dentro da baliza de Damas, num célebre FC Porto-Sporting de 18 de Outubro de 1975. O autor do famoso golo-fantasma, sancionado como legal pelo juiz da partida, Alder Dante, confessa ter cometido uma ilegalidade “irreflectida” e o seu arrependimento pelo sucedido.

Alder Dante lembra como apanha-bolas marcou pelo FC Porto

“Fui levado sem perceber”

Alder Dante validou um golo marcado por um apanha-bolas num FC Porto-Sporting de há quase 34 anos, numa “falcatrua” cometida por José Maria Ferreira de Matos, assumida ontem ao jornal ‘Sporting’. “Meti a bola lá dentro e pirei-me para trás do bandeirinha.”

Mas o antigo árbitro não foi apanhado de surpresa com a confissão. “Fui levado sem perceber, mas dei–me conta após o jogo de que tinha sido enganado. Na altura, lembro–me perfeitamente de ter perguntado e o Fernando Gomes disse-me que tinha sido ele [Gomes] a marcar o golo. O António Oliveira disse-me o mesmo. É pena que os dois só tivessem reconhecido a ilegalidade quando ambos jogaram no Sporting”, disse Alder Dante ao CM.

O antigo árbitro tentou no próprio dia do jogo retractar-se. “Escrevi logo uma carta ao Conselho de Arbitragem, pois percebi que tinha colocado a pata na poça. Levei uma repreensão, a única que tive na carreira, mas felizmente que nesse jogo acabei por não ter influência no resultado, pois o Sporting acabou mesmo por ganhar, por 3-2”, recorda Dante.

Alder Dante recorda que o nevoeiro o induziu em erro, mas algo houve que não poderia ser desmentido. “A bola estava dentro da baliza. Estava muito nevoeiro e nem dava para ver o meu fiscal-de-linha. Fui eu que assumi a decisão.”

Dante explicou a razão para não ter suspendido o encontro. “Era complicado acabar um jogo nas Antas com a equipa da casa a perder.”

Não sei se era adequado ter colocado aqui, ou se é mesmo relevante uma vez que já faz parte da história (nem era nascido),mas é sempre bom ter presente as falcatruas que fizeram (e fazem) a este Clube.

Tinha a ideia que o jogo tinha acabado em 1-1 e não 3-2 para o Sporting. Tive a ver os resultados no Zero Zero e realmente num ano o resultado foi de 1-1 e no ano seguinte foi 2-3.

Uma pergunta: mas havia alguma dúvida em relação a isto? Isto é novo? Alguém ficou surpreendido?

confessou-se. mais vale tarde do que nunca. lol

“eu sou um homem correcto”

Claro, fazer o que fez, é de pessoa correcta, sem dúvida…

qual de nós nao faria o mesmo num classico se pudesse introduzir a bola de surra na baliza de um quim ou de um helton :stuck_out_tongue: ? é apetecivel .

Eu leio o artigo e ainda consigo esbocar um sorisso mas se calhar daqui a 30 anos estou a ouvir os Lucilios e Soares Dias a confessarem e nao vou achar piada nenhuma. E isto para falar em arbitros actuais , pois se forem os meninos dos anos 80-90 , se calhar só tenho de esperar 10-12 anos (quando o pc for para a cova…)

Mas o Alder Dante, o árbitro que validou esse golo, não me parece comparável a Lucílios, Soares Dias, etc. :naughty:

Neste caso o arbitro nao tinha culpa nenhuma nem era isso que queria dizer. Mas isto de assumir culpas 20 anos depois sabendo que nao existem consequencias é a coisa mais facil de fazer…o pior é quando se precisa de assumir responsabilidades pelos actos , a maioria mete a cauda entre o rabinho…

Mas não chega o Coroado com azia e o Lucílio insatisfeito por ter influenciado um resultado?

Dante explicou a razão para não ter suspendido o encontro. “Era complicado acabar um jogo nas Antas com a equipa da casa a perder.”

Quem diria, olhando para a História das últimas décadas?..

Para mim é, não conhecia a história :slight_smile:

O que vale é que pelos vistos não teve influência directa no resultado, aí sim seria um caso complicado.
Não sei a idade do sujeito nessa altura mas presumo que fosse miudo e assim sendo acaba por ser “aceitável”.

A única coisa que não concordo é quando ele diz que já estava feito não podia desfazer, obviamente que se ele quisesse poderia ter falado logo com o árbitro e confessado o acontecimento, embora provavelmente isso lhe fosse causar alguns “stresses”…

André, tal como escreveste, provavelmente ele era puto, logo assim que sentiu esses potenciais stresses, deve-se ter escondido logo a assobiar para o ar! A consciência pesou-lhe mais tarde :slight_smile:

Sempre ouvi esta história, mas sempre pensei que fosse uma calimerice de dirigentes dos tempos modernos que não se davam ao respeito.

Esta é antológica e resume tudo

Alder Dante lembra como apanha-bolas marcou pelo FC Porto Dante explicou a razão para não ter suspendido o encontro. "Era complicado acabar um jogo nas Antas com a equipa da casa a perder."
Acabar jogos, mostrar cartões, marcar faltas, assinalar foras-de-jogo aos homens da casa E também validar golos, não inventar, faltas, foras-de-jogo aos adversários, etc. Já tínhamos percebido Só é pena que essa "complicação"/medo tenha feito escola e seja aplicada nas Antas, no Dragão e noutros estádios. Lembram-se do Pratas a fugir a sete pés de uma equipa do porco?

Cá para mim este também quer é escrever um livro para ver se ganha algum …

É moda agora.

Nota: Em relação ao que se passou, foi mais uma de muitas situações caricatas neste futebol português ao longo dos anos.

O meu pai contou-me esta historia varias vezes, embora me custasse acreditar que tal coisa pudesse acontecer (eu era jovem e ainda só estávamos no inicio dos 80) mas agora ficou realmente provado que o meu velhote tinha razão e o ingénuo era eu.

Consigo perdoar o ex apanha bolas, visto que teve a coragem de vir a publico contar a historia, só é pena que não conte tudo, já que não acredito por um segundo que um puto tivesse tomates para fazer tal coisa sem ser com ordem do Bimbo da Costa, Pedroto (era ele o treinador ? ) ou outro mafioso qualquer do FC Porco.

Ó Farinha! Essa é que me surpreende mais!

Então toda a gente, depois do jogo acabar (é preciso lembrar que não havia coberturas televisivas como há hoje) sabia o que tinha acontecido, inclusive o Dante, foi comentado e mais que comentado na época e tu achavas que era calimerice?

E o teu avatar até jogou e tudo…

Mas há mais! Só para contar tudo, até porque havia quem não soubesse deste gamanço…

Na sequência do “golo-fantasma”, o Valter foi expulso (vermelho directo) por causa dos protestos e o Baltazar fez o 2-3 quando estávamos reduzidos a 10!

Foi em 1975/76, época de má memória, pois terminámos em 5º (atrás de Carnide, Boavista, Belenenses e tripeiros, o que nos valeu a nossa única não qualificação para as competições europeias. Foi também a época de uma invasão de campo na Tapadinha (que motivou a nossa derrota por 3-0) e o célebre episódio de Vítor Damas no jogo contra a Académica que motivou a sua saída do clube.

Relembro a formação desse jogo: Damas; Inácio, Zezinho, José Mendes e Da Costa; Valter, Nelson e Fraguito; Marinho, Manuel Fernandes e Chico Faria.

O Sporting aos 15 minutos já ganhava por 2-0 (golos de Chico Faria aos 9 e M.Fernandes aos 15). O Porto reduziu aos 18 por Murça. Aos 57, Gomes (por intermédio do apanha-bolas) empatou e aos 74 Baltazar, que entrara para o lugar de M.Fernandes na sequência da expulsão de Valter, fez o resultado final.

Eu acho é que a lição a tirar é: o Sporting tem que ser mais forte que o adversário, que o árbitro e até que os apanha-bolas!