A próxima época do futebol profissional do Sporting vai ser deveras importante. Isto porque se vai esclarecer qual o futuro próximo do projecto iniciado por Jorge Jesus quando tomou conta da equipa. Vamos ter um Sporting como o da primeira época ou teremos a versão pálida da segunda temporada?
As evidencias são inegáveis: desde que tomou conta dos destinos do futebol do Sporting, Jorge Jesus tem dois anos de absoluto contraste. No primeiro ano apresenta uma equipa com níveis de competitividade notáveis no que diz respeito ao campeonato nacional. Neste aspecto, cumpriu aquilo que prometeu: o Sporting foi candidato ao titulo até ao ultimo jogo da liga. Em termos de resultados o balanço global foi, no entanto, fraco.
Na segunda temporada, com um reforço significativo no investimento feito, a equipa passa a maior parte da época como uma sombra de si própria. Parte dos reforços fracassa, as exibições são fracas e a competitividade desvaneceu-se. Em termos de resultados, o segundo ano de Jorge Jesus é um verdadeiro desastre.
É legitimo portanto que se vislumbre a nova temporada como aquela que vai esclarecer de uma vez por todas a real capacidade de Jorge Jesus em trazer títulos para a vitrina do museu leonino. A margem de manobra é curta porque os efeitos e as duvidas criadas pela época anterior vão permanecer na memoria dos adeptos até que a equipa se encarregue de dissipá-las.
A margem de manobra também é mínima porque o presidente prometeu mudanças na forma como esta nova época seria preparada. Faltou foi dizer especificamente o que correu mal e aquilo que vai ser feito de diferente para que o sucesso seja alcançado. Nesta altura, o projecto do futebol do Sporting passa pela manutenção de Jorge Jesus como treinador principal e… pouco mais. Até pode ser que exista um plano detalhado e fundamentado sobre o que se pretende para o futuro próximo, mas pouco se sabe em que ele consiste.
Outro factor sobre o qual é legitimo colocar um ponto de interrogação: o presidente mantém toda a convicção de que é com este treinador que vai ser campeão? Por outro lado, Jorge Jesus mantém o mesmo empenho e determinação que tinha quando veio para o Sporting? Se a resposta for sim para ambas as perguntas, então faz todo o sentido manter a aposta e corrigir o que tiver de ser corrigido. Se existirem duvidas, em qualquer uma das partes, as probabilidades de o projecto fracassar são maiores do que o recomendável.
Um dos efeitos visíveis do mau desempenho da época anterior são as duvidas que quase automaticamente são colocadas a cada sugestão de possíveis futuros reforços do Sporting. Jorge Jesus criou a imagem de que consegue recuperar jogadores e/ou exponenciar as suas virtudes. Pouco ou nada disso se viu num passado recente e por esse motivo diminuiu-se substancialmente o beneficio da duvida que as novas caras merecem. Estaleca psicológica exige-se em todos os envolvidos para que este estigma não venha a afectar a integração e performance dos reforços que serão anunciados.
Está longe de ser ideal começar uma nova temporada caminhando sobre gelo fino. A própria configuração da mesma indica que teremos uns meses iniciais complicados. Por isso, toda a concentração e empenho serão necessários desde o primeiro momento. É importante que o foco esteja na forma como serão ultrapassadas as dificuldades e não na possível desculpabilização que as mesmas oferecem. O pior cenário possível é o de que a questão da continuidade do treinador se coloque quando a época ainda estiver numa fase embrionária. Daí o carácter crucial das primeiras partidas oficiais.
Já foi referido anteriormente: Jorge Jesus pode, metaforicamente, ser uma encruzilhada decisiva no percurso de Bruno de Carvalho como presidente do Sporting. Tanto pode ser a bóia salva-vidas (futebolística) que lhe vai garantir o sucesso e os títulos tão almejados por todos os Sportinguistas como também se pode tornar na ancora que o vai arrastar para as profundezas de uma crise, não apenas de resultados, mas também de liderança.
Os próximos meses tudo vão clarificar.