[Análise] Aproveitamento do Futebol do Sporting no Campeonato

Aqui há umas semanas apareceu um tópico aqui no fórum relativo a uma rubrica de um site desportivo que dá conta do “Campeonato dos Campeonatos”, no qual se contabilizam todas as participações do Sporting relativas ao campeonato de futebol, somando todos os pontos, vitórias, empates, derrotas, números esses que são comparados a outros clubes. A ideia, apesar de interessante, tem muitas falhas (já escrutinizadas no tópico).

Inspirado por essa tal ideia, pensei que seria bem mais interessante saber o Aproveitamento que o Sporting tem tido ao longo das épocas no campeonato de futebol. Para definir aproveitamento, o que fiz foi pegar no número de pontos obtido pelo Sporting ao longo das épocas e compará-lo com o número de pontos que estavam em jogo

E assim podem observar este primeiro gráfico, que nos mostra a percentagem de pontos aproveitados pelo Sporting ao longo das épocas em 100% possíveis. A amarelo estão os valores mais baixos (<60%). De relevante temos o melhor aproveitamento na época de 1946/47 com 90,4% de aproveitamento, ao passo que o pior aproveitamento data da época recente de 1997/98 com 54,9%. É também possível verificar, apesar de ser pouco notório, que tem existido uma tendência para a diminuição no aproveitamento ao longo dos tempos, mas há que realçar que, nos últimos 10-15 anos, em virtude do sistema ter passado de 2 para 3P / vitória e mantido em apenas 1P / empate, pode existir um menor aproveitamento apesar do número de vitórias e empates ser semelhante a épocas passadas.

Contudo, todos sabemos que, por vezes, um elevado aproveitamento não significa um bom desempenho, uma vez que pode dar-se o caso de existirem equipas cujo aproveitamento numa mesma época seja superior ao do Sporting. E assim surge este segundo gráfico, que contém os mesmos dados do anterior, só que desta vez é possível comparar o aproveitamento do Sporting com o aproveitamento da equipa que foi campeã em determinada época - essa diferença está assinalada a azul. A amarelo assinalei os anos em que a diferença é nula, ou seja, em que o Sporting foi campeão.

Ainda assim, apesar do gráfico anterior conter muita informação, seria interessante ver o aproveitamento do Sporting comparado com o do campeão dessa época mas tendo em conta as diferentes fases do futebol Sporting ao longo da sua história. E é por isso que surgem os gráficos abaixo. Estão por ordem cronológica e permitem diferenciar o aproveitamento médio para cada uma das fases - os tempos áureos e dos 5 violinos, o do domínio do Benfica, o do jejum e o pós-jejum que se confunde com o período Projecto. Podemos conlcuir facilmente que o aproveitamento médio do Sporting tem vindo a baixar progressivamente tend atingido o seu ponto mais baixo na última década, mas também o aproveitamento médio do campeão baixou consideravelmente neste período, algo que indicia um maior equilíbrio do Campeonato de futebol português (apesar de sermos forçados a considerar o efeito da nova contagem pontual, como já referi anteriormente).

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Nota Final: A ideia com este texto era fazer uma pequena introdução à evolução da performance do futebol do Sporting ao longo das épocas no Campeonato Nacional. Apesar de muitos outros dados poderem ser acrescentados à posteriori, penso que a actual análise é suficiente para cada um de vós poder captar a “big picture”, e tem importância acrescentada para os mais novos que têm dificuldade em conceptualizar a realidade histórica do nosso grande clube através dos tempos.

© Paracelsus 2008

Excelente análise, Paracelsus!

O questão do aproveitamento ter baixado ao longo dos anos é natural e acontece com os 3 grandes, a que não é alheio o crescimento das equipas pequenas, para bem da competitividade do futebol nacional. Antigamente, dávamos 6-0 e 7-0 em casa do 6º classificado e hoje em dia nada garante que o 16º não venha ganhar por 2-0 a nossa casa. Por mim, ainda bem que este aproximar entre as equipas está a acontecer.
Por outro lado não deixo de notar que a época de 2006/2007, foi a melhor (ou pelo menos equiparada com a de 1999/2000) do Sporting dos últimos 13 anos a nível de aproveitamento.

P.S.: Tens uma gralha na época final do penúltimo gráfico e não colocaste o título no último. Se ainda conseguires trocar isso, ficará perfeito.

Tirei o título do último gráfico porque as percentagens ficavam em cima do título.

EDIT: Já corrigi a tal gralha no penúltimo gráfico. :wink:

Parabens por a ideia e trabalho efectuado.
Um topico que irá ser bastante util em termos de consulta e que demonstra o quanto a qualidade
tem vindo a subir na Redacção Porta 10-A.

Estou a estudar os graficos comparando com que jogadores havia no plantel nessa época mas ainda é cedo
para tirar ilaçoes de maior significado ou que nao sejam similares as já apontadas por voces os dois.

Como dizem os Ingleses, Theres food for thought neste topico.

Uma das coisas mais importantes em estatística é a amostragem.
Ao dividires os quadros (1954, 1982, 2000) estás a influenciar os resultados; Se estabeleceres as divisões um ano antes ou um ano depois os resultados poderão ser outros.
Embora haja uma lógica aceitável nas divisões, temos 28 anos Vs. 18 Vs. 8. Que coincidência.
Fico com curiosidade sobre quando terminará o último quadro…
Mas isto não significa que discorde da divisão, acho é curiosa a coincidência.
No entanto, se o que interessa é a estatística, os 28 anos iniciais deviam ser divididos, e , do mesmo modo, o primeiro quadro podia ser melhor explorado.
Mas como o que provavelmente mais interessa é o presente e o futuro, a base é excelente para análise.
Dava jeito era saber o orçamento de cada época!

Eu fiz a divisão por períodos históricos… o domínio do Sporting, o domínio do Benfica, o Jejum (domínio do Porto), e o período Projecto - permite comparar as médias de cada período histórico, o que me parece bastante aceitável (não estou bem a ver como é que propões fazer a divisão dos períodos). Um ano antes ou depois tem influência no período histórico em si… por exemplo, não é possível incluir a época 81/82 no período do jejum, porque nesse ano fomos campeões.

Quanto aos orcamentos, eles não só são impossíveis de obter em relacão a épocas muito distantes, como são algo irrelevantes, já que para tal era necessário saber os orcamentos de todas as outras equipas e fazer uma comparacão (uma vez que, como vemos no segundo gráfico, um aproveitamento superior pode ter menos impacto que um inferior consoante a prestacão das outras equipas)… Mas a comparacão entre os 3 grandes baseada nestes gráficos virá em breve :wink:

Discordo. Deves talvez querer usar outro termo que não “irrelevantes”. Pode só fazer sentido segundo a tua lógica tendo também os do campeão, mas repara nisto:
Vamos supor que isto é ficção, pois não quero ser processado…
Suponhamos que o clube estava completamente falido, e que não tinha sequer dinheiro para comprar jogadores e treinadores, nem para cumprir compromissos assumidos com jogadores em fim de contrato.
Para remediar, o clube teria oferecido a um jogador de saída um contrato como treinador de junióres. Depois, tendo-se agravado ainda mais a já gravíssima situação, promoveu esse treinador a treinador da equipa principal, e como não havia dinheiro para comprar jogadores, optou-se por promover jovens, que por coincidência o treinador até conhecia dos junióres.
Continuando a ficção, sendo os resultados fracos a dada altura, esse treinador não é despedido por não haver dinheiro nem para o indemnizar nem para contratar outro.
E por aí em diante…
Os resultados podem ter sido bons, mas também podem ter sido maus. Isto é apenas ficção…
Mas neste cenário, saber-se que o orçamento tinha sido próximo de zero ajudaria a interpretar melhor os resultados.

Eu não disse que não seria interessante saber o orcamento, o que disse é que é impossível fazê-lo para épocas muito lá para trás e, para essa análise da relacão entre orcamento e resultados ter algum significado, é necessário saber os orcamentos outros clubes, caso contrário não sabes se foi por causa do orcamento do Sporting que foi muito elevado ou por causa dos orcamentos dos outros que foram muito baixos. Ou seja, atingimos uma complexidade demasiado elevada para a informacão disponível. :wink:

No entanto, posso fazer mais tarde um tópico com a análise da performance e do orcamento dos últimos anos (apesar de achar que continua enviesada pelo tal factor que descrevi acima).

Em relação à última época havia bastante informação na imprensa escrita diária, e penso que isso já vinha da época anterior.
Pelo menos quanto aos 3 grandes, os dois principais jornais costumam ter uns quadros com o custo das contratações, não deve ser impossível obter ainda mais informações.
Mas é claro que dá bué trabalho, sem dúvida alguma.
É que segundo vi nos dois principais pasquins, os rivais do Sporting têm orçamentos muitíssimo superiores. Não se devia ter isso em conta, ao comparar as performances?
Por exemplo, perguntava-me o meu filho porque não corriam tanto os jogadores do Sporting como os do Real Madrid?
Tive que lhe explicar que a cenoura atrás da qual cada burro corre não é do mesmo tamanho. Mesmo num jogo a feijões, o prémio da vitória dos madrilenos deve ser incomparavelmente superior ao dos lisboetas. Imagine-se na fase de grupos da CL, quanto ganha de prémio um jogador do Sporting e um do Barcelona; um deles até deve ganhar asas…
Por tudo isso acho que é relevante associar o orçamento à análise da performance.

É possível conseguir esses dados, mas as diferencas de orcamentos têm logo um viés incontornável: o Sporting tem maior percentagem de jogadores “da casa” que os outros 2 rivais, pelo que, para uma mesma qualidade, dispende menos em ordenados (orcamento mais baixo)… aliás, este foi um dos principais argumentos para se fazer uma Academia, não foi propriamente por razões de orgulho em ver os nossos jovens a jogar no Man Utd ou Barcelona.

Há dois tipos de orçamentos, os de contratações e os dos orçamentos totais. Estes últimos contêm o que efectivamente se gasta com a equipa. Não se se não têm que ser comunicados à CMVM.
Além disso, a CMVM deve saber o valor dos activos de cada SAD. Isso também pode ser comparado.

Sim, existem os investimentos que não é bem os orcamentos (que respeitam a ordenados sobretudo). Mas até aqui há viés de todo o tamanho… o Sporting “contrata” os seus jovens a “custo zero” e além disso, o valor do activo Moutinho é zero, do Veloso zero, do Pereirinha zero e de qualquer jovem que venha da Academia… é assim que eles são contabilizados nos R&Cs e é pois assim que a CMVM os interpreta. :wink:

Os outros clubes fazem o mesmo. Se têm menos jovens a custo zero é porque no fundo têm mais dinheiro…

Sim, portanto a teoria dos orçamentos vai-se por água abaixo uma vez que a percentagem de jovens vindos dos escalões jovens no SCP é esmagadoramente superior à dos rivais, era isso que estava a tentar dizer.

Não concordo, deve-se ter isso em conta, o problema é dos rivais, que preferem estoirar dinheiro em estrangeiros. O caso do FCP é até escandaloso, pois já foi referência (a seguir ao Sporting, é claro). A forma como todos investem é diferente, e por isso a análise dos resultados deve ter isso em conta.

Paracelsus,

Estive a matutar sobre os teus números e lembrei-me dum pormenor.
Estava-me a fazer confusão poder ou não tirar-se conclusões a partir dos números.
Já aqui disse que acho que uma das coisas que ajuda a ganhar são os prémios; ou seja, quanto maior a cenoura mais o burro corre.
Não tendo acesso a essa informação concreta, chamei a atenção para a importância do orçamento em geral.
No entanto, permanece a questão, porque é que nuns anos ganhámos e noutros não?
É claro que há imensos factores, mas deve haver um padrão.
Já há uns tempos que tenho uma opinião a esse respeito. Não gosto muito dela em si, mas por algum motivo cheguei a ela.
Comparando o Sporting com o futebol português em geral, o que vemos? Tendo em conta o futebol internacional destaco:

  • Guarda-redes razoáveis. Podem não ser os melhores do mundo, mas escapam.
  • Defesas razoáveis. Podem não ser os melhores do mundo, mas safam-se.
  • Médios razoáveis. idem, idem.
  • Avançados claramente inferiores aos de outros países.
    Pintem-se, aqui não temos hipóteses.
    De tempos em tempos aparece um melhorzinho, mas basta ver o sucesso além fronteiras dos diversos jogadores portugueses para ver que há aqui um défice.
    Argumentarão com Cristiano e Quaresma, por exemplo, mas contra-ataco: Tudo bem, são bons, mas nem sequer são avançados-centro. Até podiam jogar mo meio campo. Ou seja, não conseguem alterar a dura realidade, é no ataque a maior deficiência do futebol nacional. Pauleta foi uma excepção. Rui Barros teve bastante sucesso, mas também não era um avançado puro. Etc.
    Porque são as coisas assim? Eu tenho a minha teoria, outros terão a deles, deixemos isso para outra altura.
    Mas no que toca aos clubes, nomeadamente ao Sporting, essa deficiência é superável graças ao recurso a jogadores estrangeiros. É uma questão de dinheiro (e sorte).
    Então que tem de especial o ataque, e que relação tem com as estatísticas?
    É evidente que quanto melhor for o ataque mais golos se marcarão, e mais títulos se ganhará. So far so good, parece uma verdade de La Palice (*).
    Mas se olharmos com atenção para os números do teu estudo, se calhar até há uma relação directa entre a qualidade dos avançados e os sucessos.
    Repare-se: na época de ouro o que em princípio não faltou foram avançados de qualidade, os números falam por si.
    No período seguinte, mesmo deixando de parte a importância de Eusébio e seus parceiros no ataque do SLB, sempre que ganhámos alguma coisa tínhamos um ataque eficiente.
    Depois veio o declínio, e à medida que os míticos Manuel Fernandes e Jordão (e não só) foram terminando as suas carreiras foi o que se viu.
    E depois que notamos? Tivemos avançados em forma, Acosta e Jardel (fora os seus servidores), e ganhámos títulos.
    Não tendo avançados eficientes, não ganhámos títulos.
    É imaginação minha?
    Dá para comparar os quadros da tua análise com os golos marcados pelo melhor marcador da equipa, em relação ou ao total de golos da época, ou a outro referencial qualquer?
    É que se se concluir que há uma relação directa entre os sucessos e um sucesso excepcional do ataque, então a discussão do porquê da lacuna de avançados de qualidade em Portugal ganha actualidade. É quanto a avançados estrangeiros é simples, é uma questão de dinheiro. Avançados baratos terão que provir da formação interna… Mas isso é uma long story.

(*) Off-topic: Nunca é demais saber que La Palice não teve nadinha a ver com bacoradas. O seu nome é vulgarmente associado a elas porque na sequência da sua morte surgiram na imprensa uma série de bacoradas, e a ligação perdurou. Os interessados poderão encontrar a história na Wikipedia.

Isso já é possível, embora tenha de dizer que é “normal” que um melhor aproveitamento seja consequência de mais golos marcados / menos golos sofridos. :stuck_out_tongue: Mas pode ser de facto possível ver de que modo é que a defesa e o ataque variaram consoante a época e ver se foi o ataque que teve mais influência ou a defesa. Terei é de usar um referencial do tipo “média de golos marcados e golos sofridos por jogo”.

Achei que não valia a pena abrir outro tópico para isto, e pois então cá vai, tal como prometido… O quadro é o mesmo que anteriormente, só que desta vez está na horizontal. As linhas correspondem à relação de golos marcados e sofridos por jogo.

É notório que há 2 anos foi a época com a Melhor Defesa de Sempre do Sporting (que mesmo assim não chegou para vencer o Campeonato :(). Também me parece que muitas das vezes em que fomos campeões, isso deveu-se sobretudo a um excelente ratio de golos por jogo e não propriamente a termos defesas com poucos golos sofridos, mas essas conclusões podem vocês tirar. :wink:

Excelente trabalho Paracelsus.
Pessoalmente, ajudou a clarificar imensas coisas que me andam a intrigar há imenso tempo. Espero que seja igualmente útil aos restantes.
O que tinha mais em mente era a importância do melhor marcador, não da equipa toda, pois a performance desta, como disseste, tem um impacto óbvio no resultado final.
Outros prefeririam talvez analisar o trabalho do guarda-redes, mas esse é praticamente impossível de separar do resto da defesa.
O melhor marcador também não é independente da qualidade de quem lhe fez as assistências, é evidente, mas estou convencido que os nosso sucessos têm passado quase sempre por um certo “sebastianismo”, ou seja, ou bem que há nessa época um “salvador da pátria” a marcar muitos golos, ou estamos tramados. Mas posso estar enganado, é só uma impressão.
Olhando para os teus gráficos, sobressai não a importância do número de golos marcados, mas sim a da diferença entre marcados e sofridos (o que também é lógico). Houve épocas no mínimo curiosas…
A minha impressão da importância do melhor marcador tem a ver com o destaque que Malcolm Allison dava a marcar bastantes mais golos que o adversário (o que não tem a ver apenas com o melhor marcador, mas com todos os marcadores, eu sei…). Ora, ao que parece, nunca fomos campeões com simultaneamente muitos golos marcados e muitos sofridos.
Não há duvidas que tínhamos, décadas a fio, a tradição duma boa defesa. Mesmo sem “os números da oposição”, a regularidade do número de golos sofridos é simplesmente impressionante (desde 1950!).
Deixemo-nos de histórias, em termos estatísticos, a defesa, guarda-redes incluído, não tem sido o problema.
Acho que a minha opinião desde há uma eternidade é perfeitamente fundamentada: O problema (crónico) do Sporting é marcar golos. Quando isso corre bem somos campeões.
Esquecendo as épocas mais distantes, reparem que com a única excepção de 1999/2000 (uma época especial, em todos os aspectos), o gráfico mostra sempre um pico nos golos marcados, nas épocas em que fomos campeões (e nem sempre o mesmo acontece com os golos sofridos).
Como analista eu aqui diria “I rest my case”, e como dirigente apontaria as baterias para o ataque.
E também tenho umas ideias sobre isso…

Não posso de me deixar de sentir triste por essa análise. Realmente deveriamos ter feito muito mais!

Mas para mim o mais grave disto tudo, é reparar que quando não somos campeões ficamos sempre a uma grande distânciado 1º classificado. E para mim não podemos justificar todos os insucessos com as arbitragens. :arrow:

Mas parabéns Celsus, belo apanhado. Muito bom.