Não faz sentido estar a comparar desportos porque cada um é distinto do outro e tem abordagens diferentes. Ciclistas preparam-se durante meses para uma / duas grandes competições de três semanas, futebolistas preparam-se para nova a dez meses de competição. São preparações e esforços diferentes. O mesmo se aplica às lesões, que no caso do futebol pode originar problemas mais graves, fruto essa lesão.
O Van Persie no Mundial reconheceu que joga com dores há nove anos. Temos o exemplo do Cristiano. Há outros exemplos, o Salvio jogou ainda com o braço partido, o Ribéry com uma lesão nas costas até que disse que chega.
Como o Nuno Lapa disse, as épocas de futebol são preparadas por micro-ciclos. Nesta fase temos volumes altos de treino, tanto físico, como o técnico, com as intensidades também elas a subir. Isto para preparar o atleta para a desgastante época que terá pela frente. Depois obviamente que se diminui o volume, passando a trabalhar com a intensidade, consoante o número de jogos nesse mês, como a distância de jogo para jogo. Se há jogo de três em três dias, não dá para ter intensidade alta, tem que gerir com percentagens de 60% a 70% do esforço máximo, quando há um jogo por semana, faz-se dois dias de fraca intensidade (recuperação), deixando o pico para quase o fim da semana (fase mais activa), preparando assim o jogo. Os treinadores aproveitam para trabalhar os jogos com o treino físico, um 2 em 1, e colocam a intensidade nesses treinos. A tal periodização que tanto se fala, aqui aplica-se a nível do treino físico.
Depois, cada jogador pode ter a sua própria abordagem. Há jogadores que respondem bem a volumes altos de treino com boas intensidades, outros respondem melhor a menos volume, mas com intensidade alta. Dentro desta preparação individual, agenda-se o trabalho semanal, sempre com o colectivo em primeiro lugar. Por isso há jogadores que começam a semana no ginásio, até mesmo durante a semana ficam por lá, tem haver exactamente com isto. Atletas que recuperam bem, outros não conseguem recuperar tão rápido.
Não há verdadeiramente um pico de forma nas equipas de futebol. Obviamente que no início e meio os jogadores estão mais frescos, mental e fisicamente, mas vemos equipas que acabam a época com jogos intensos e a responder bem às exigências físicas. Isto porque a época foi bem planeada, os treinos foram bem estruturados e as lesões foram alvo de boas recuperações e o trabalho de prevenção bem feito. Em Abril, Maio, tenta-se quase apenas trabalhar na recuperação e trabalho táctico, é a fase mais importante da época, o desgaste está alto e não faz sentido treinar com intensidades altas porque isso só vai aumentar o desgaste. É treinar apenas para manter o ritmo e recuperar, nada de especial. O trabalho muscular aqui é essencial, os jogadores adquirem desequilíbrios musculares, consequência da época, e precisam de corrigir essas falhas para não provocar lesões.
Início de época, começa tudo desde quase o zero. Hoje, temos atletas que voltam aos clubes já em boa forma, aproveitam as férias para recuperar das lesões e colocam treinos físicos ligeiros, principalmente de correcção muscular, para chegarem à pré-época em boa forma. As primeiras semanas são importantes porque é preciso corrigir falhas musculares consequentes da prática de futebol e reforçar outras zonas. Há também a capacidade aerobica para preparar toda uma época, colocar os jogadores com ritmo alto e regular.
É difícil então falar em picos de forma em determinado mês. Depende imenso da calendarização de jogos, em que competições estão as equipas, o plantel se tem boas alternativas ou não, tudo isto conta e por isso, cada caso é um caso. A época passada tivemos um Liverpool, por exemplo, sempre fresco, com o Chelsea a apresentar cansaço acumulado, em virtude do grande acumulado de jogos e as poucas alternativas. O Liverpool acabou a época com frescura física, o Chelsea nem por isso. Isto para mostrar que cada caso é um caso. Por isso, não faz muito sentido em falar em picos de forma calendarizados. Vimos que um mês de paragem na Alemanha fez maravilhas físicas ao Bayern, mas a nível de intensidade de jogo e a nível mental, não tiveram nada bem e a equipa ressentiu-se; mesmo com jogos amigáveis, a nível mental e intensidade vão ser sempre diferentes da competição. Isto provocou uma baixa de forma porque não se conseguiu manter a equipa com os índices físicos e mentais no pico. Isto para dar outro exemplo, agora distinto do de Liverpool.