Alguns posts demonstram memória muito curta. Já se esquecerem que este jogador no passado abdicou das suas férias para entrar a 100% na competição, já se esquecerem das inúmeras vezes que jogou limitado fisicamente, já se esqueceram que recusou uma proposta de outro clube onde iria ganhar muito mais e também já se esqueceram disto:
Izmailov saiu do hospital para caçar o dragão
Quem viu Izmailov correr até cansar no clássico em que o Sporting atirou o FC Porto ao tapete, terá dificuldade em acreditar que a utilização do russo esteve em risco quase até à última hora devido a problemas gástricos causados por um vírus. Mas é verdade. A cerca de 24 horas do início do embate, o jogador estava a receber alta no British Hospital, onde foi “socorrido” pelo médico leonino Gomes Pereira. O “pequeno milagre”, conseguido em registo de contra-relógio e só possível pelo enorme espírito de sacrifício do atleta e pela eficácia da terapia, impressionou o próprio treinador, que antes de a bola começar a rolar em Alvalade flexibilizara a exigência a uma das unidades de maior carburação.
“Entras de início e jogas o tempo que puderes”, transmitiu Carlos Carvalhal a Izma. E fiel a um estilo de empenho técnico e táctico que levou os adeptos a pedirem-lhe que renunciasse ao chamamento do Lokomotiv, ele deu o litro como se estivesse na plenitude da capacidade física e durou os 90’ - cedeu o lugar (a João Pereira) nos descontos para ser novamente banhado pelos aplausos. Mesmo adoentado, foi o melhor em campo, na avaliação de O JOGO, e ainda aquele que percorreu mais quilómetros: uma dezena, arredondando.
A meio da tarde de sábado, véspera do clássico, o plano de jogo gizado por Carvalhal ameaçava ruir parcialmente. Izmailov, uma das peças-chave do 4x2x3x1 trabalhado para surpreender os tetracampeões, sentia arrepios e estava com vómitos e diarreias, apresentando um conjunto de sintomas que indiciavam ter sido acometido de uma gastrenterite de origem viral. Involuntariamente, criava dificuldades ao treinador. Mas queria jogar, como sempre. E foi protagonista de um episódio de superação, ou melhor, mais um, em que pôs o nós à frente do eu. “Sacrifica-se como poucos”, resumia há dias a velha glória Carlos Xavier, um dos muitos fãs conquistados no universo leonino. É por esta e por outras que é visto como um “jogador à Sporting”, que encarna na perfeição os elementos “Esforço, Dedicação e Devoção” do lema do clube. E ainda há a “Glória”, sim. Embora o título nacional escape aos leões há oito anos, pode-se dizer que Izma já conhece o quarto pilar da divisa, pois foi importante e esteve presente nos últimos três troféus conquistados: duas Supertaças e uma Taça de Portugal.
Soro para não desidratar e teste a horas do clássico
A obstinação e a vontade de contribuir com o seu quinhão no ressurgimento da equipa fizeram com que o russo, na contagem regressiva para o clássico, se concentrasse num só objectivo: recuperar. Pensando na causa e na missão, pegou no telefone e, em busca de auxílio, ligou a Gomes Pereira, o médico em quem confia: “Doutor, tenho um problema!” Depois de dar o alerta, dirigiu-se prontamente para o British Hospital, onde foi medicado e tratado com soro até ao fim do dia, sempre sob a supervisão do director clínico dos leões. A intervenção médica visava controlar a febre e evitar a desidratação, objectivos que foram alcançados ainda antes das oito da noite, hora a que o russo teve ordem para se juntar aos colegas na Academia, para onde seguiu à boleia de Gomes Pereira.
Meio recomposto do distúrbio que punha em causa a entrada no onze titular projectado para o confronto com o FC Porto, Izmailov manteve-se sob vigilância, mas, aliviando as preocupações do treinador, teve uma noite santa - dormiu nove horas seguidas. Já se gritava vitória antes de os dragões serem derretidos em Alvalade, mas, por via das dúvidas, o camisola sete teve de se sujeitar a um teste na manhã de domingo. E o resultado foi inequívoco: a condição física tinha diminuído, mas a desidratação estava controlada - o russo tinha luz verde para alinhar no clássico. E fez mossa, cotando-se como o leão mais valioso à flor da relva. Por tudo o que passou, não admira que tenha festejado de forma vibrante o 2-0, golo em que pôs as suas impressões digitais.
quem nem há muito tempo se passou.
Quero ver que sacrifícios no futuro o Costinha vai fazer pelo Sporting.