O fenómeno desportivo não é hoje muito diferente do que foi no passado. Cresceram as receitas e sobretudo as despesas, mas na sua génese pouco mudou. Continuamos a assistir a uma incessante vontade de ganhar e a um desejo ardente por bons espectáculos.
Manchester United, Barcelona e Real Madrid marcam o virar de uma Era.
Em 2007/08 acompanhámos com interesse a carreira brilhante do United, com conquistas individuais e colectivas que encheram de orgulho os adeptos e proprietários do clube inglês. Foi o exemplo perfeito de que um clube/empresa cotado em Bolsa, quando gerido de forma organizada e criativa, se torna financeiramente poderoso e imbatível na vertente desportiva.
No entanto, chegou o ano seguinte, 2009, escrito a grená e azul: O ano do FC Barcelona.
Os blaugrana, para além de também eles vencerem tudo a nível pessoal e colectivo, provaram que um clube popular e conservador que se recusa sequer a vestir patrocínios, preferindo pagar para vestir uma causa (Unicef), pode continuar a ser o mais vitorioso do mundo.
Na verdade, ficou provado que para um clube de futebol, moderno ou conservador, pouco importa para além da competência com que se faz a gestão desportiva.
Os mais recentes acontecimentos são demonstrativos disso mesmo.
O Real Madrid, praticamente tão conservador quanto o Barcelona, demonstra que pode ser desportiva e financeiramente mais poderoso que a maior das SAD, ao ponto de pulverizar os recordes de transferências de jogadores com a contratação do “melhor do mundo” ao Man Utd.
O interesse em comprar revelou-se tão poderoso quanto o interesse em vender. De um lado o espectáculo, os sócios, os resultados e as receitas desportivas, do outro, o lucro accionista e mercenário.
É com satisfação que assisto a um virar de página na gestão do Sporting Clube de Portugal.
Depois de um discurso financeiro miserabilista que deteriorou a militância dos adeptos, eis que surge uma nova abordagem, que privilegia a vertente desportiva do clube em detrimento da vertente financeira da SAD.
É e sempre será esse o caminho das SADs e dos clubes.
Interessa perceber o que está por trás do desporto, os praticantes e os aficionados, e dotar o clube de competências e ferramentas que aproveitem a imensidão de oportunidades para nos tornarmos mais fortes.
Convém aproveitar o que de melhor existe numa e noutra geração de gestores.
É necessário organizar devidamente a gestão dos eventos e das instalações desportivas e espremer os recursos humanos através de uma forma de liderança democrática focada nos adeptos e nas suas expectativas, utilizando para isso uma rede de provedores. A morfologia do marketing e da gestão desportiva deve ser esboçada em equipa, por uma enorme família que começa no sócio 1 e acaba no 100.000. Todos somos interessados em operacionalizar, de forma sustentada e racional, a qualidade dos recursos.
A gestão desportiva, por ser única em matéria de emotividade e proveitos, deve ser tão criteriosa quanto fiel às suas origens.
© Gabriel Alves 2009