Vou ser honesto: quando olhei para o plantel no início da época, achei que o melhor cenário possível era uma luta acesa com o Braga pelo play-off da Liga dos Campeões.
Por isso, estou agradavelmente surpreendido com o desempenho da equipa. Muito mesmo. Ao fim de três meses, já ninguém se lembra do Braga (que, já agora, está a oito pontos de nós e sofreu uma eliminação humilhante na Liga Europa, tudo com o treinador que muitos diziam ser o único do mundo e arredores com qualidade para treinar o Sporting…). Melhor ainda, continuamos agarrados aos nossos verdadeiros rivais: estamos apenas a 3 pontos do primeiro lugar ao fim de 9 jogos. Fizemos a primeira exibição não humilhante no Porto em quatro anos e fomos à Luz jogar de igual para igual com o Benfica - duas equipas com muito mais qualidade no plantel do que nós. Vê-se que o XI está estabilizado e há capacidade de variar tacticamente o jogo para responder a circunstâncias adversas.
É difícil não ficar impressionado, quando se olha para o ponto de partida - a pior época da história do clube - e, sobretudo, para a qualidade da matéria-prima à disposição de Jardim. Temos três jogadores com nível para jogar numa equipa que luta pelo título: Patrício, Capel e Montero. Talvez quatro, se metermos o irregular Adrien. O resto são jogadores que é Jardim que está a “inventar”. Alguns são autênticos achados com potencial e optimo ver o treinador a contribuir para o seu desenvolvimento, como é William. Mas muitos outros - se calhar a maioria - são jogadores medianos (atenção, não maus mas apenas medianos) a quem Jardim está a pôr nos 110%, como Maurício, Wilson Eduardo, André Martins ou Rojo.
É isto que se pede a um treinador: que consiga que o seu colectivo seja mais do que a soma do talento dos seus jogadores. Parece trivial, mas qualquer sportinguista, depois do longo calvário porque passamos - e que atingiu o seu nadir com o inenarrável Sá Pinto ao leme - sabe que não é proeza desprezável.
Dito isto, é preciso não entrar em euforias. Tivemos um primeiro terço de época claramente acima das expectativas. Por isso, uma queda mais ou menos acentuada é estisticamente quase certa. Não temos, nem de longe, a profundidade no plantel dos nossos adversários, pelo que será natural a quebra de rendimento à medida que lesões e castigos se forem acumulando. Com os campos pesados do Inverno - incluindo, o nosso malfadado relvado de Alvalade - será cada vez mais difícil compensar os erros do nosso sector mais fraco, a defesa. Além disso, é muito possível que um jogador importante - Capel - saia em Janeiro, o que nos deixa as alas entregues a jogadores demasiado inconstantes (Carrillo) ou medianos (W.Eduardo, A.Martins).
O mais provável continua a ser que se venha cavar um fosso face a Benfica e Porto, mais cedo ou mais tarde. Ou seja, quanto mais tempo nos mantivermos no grupo da frente, melhor. Mas temos de estar preparados para não entrar em parafuso com os empates e derrotas que aí vêm E é aqui que também entra a direcção. Bruno de Carvalho mostrou sagacidade e ideias próprias, tanto por não ir na cantiga de Jesualdo-como-a-última-Coca-Cola-no-deserto como numa aposta num nome que não era óbvio - incluindo para mim. Quando as coisas se complicarem, deve apoiar sem reservas o seu treinador.
Mais do que uma “espinha dorsal” - até porque a grande maioria destes jogadores não terá qualidade para se manter na equipa quando subirmos ao próximo patamar - vejo uma identidade a nascer, fruto do trabalho do treinador. Por isso, estou muito curioso em ver até onde podemos ir com Jardim. Para já, parece uma aposta ganha.